II – Generalidades
a) Constituição geológica
No que tange à constituição geológica, a única informação
obtida foi a de Unti [14],
que ao estudar o pH dos solos em zonas malarígenas do Estado de São Paulo, assim se manifesta, com relação ao litoral: "todas essas localidades
repousam em solo de constituição geológica arqueana, representada por detritos de rochas cristalinas contendo areias de praia, tipo de
solo das planícies litorâneas".
b) Clima
É do consenso geral dos malariologistas que a chuva, a
umidade, a temperatura e o vento exercem influências decisivas no entretenimento e exacerbação da endemia malárica, fatos que levaram os autores a
focalizar, embora de passagem, o aspecto climatológico de Santos.
Santos está situada na latitude 23º56'4 S e longitude
46º19'5 S-W de Greenwich, com altura de 3 m.
De acordo com a classificação "Morize-Delgado", esta
cidade está situada na região brasileira de clima sub-tropical "tipo semi-úmido marítimo".
São transcritos abaixo trechos do trabalho de Morize
[15]
referentes ao clima de Santos.
"Toda
zona do litoral de São Paulo, de que Santos pode servir de tipo, é quente e de clima marítimo, e portanto isenta de variações de temperatura..."
"Situada a Sudoeste do Rio, era
de esperar que a temperatura média da cidade de Santos fosse apenas um pouco menor do que a da Capital Federal, tanto mais quanto a estação se acha
no meio da cidade em lugar onde a temperatura deve ser exagerada; entretanto, a diferença para com o Rio alcança quase 1º (um grau) (21,9º em vez de
22,7º)."
"Se a variação de temperatura
entre o mês mais quente e o mais frio é mais ou menos a mesma do Rio, a excursão das temperaturas absolutas, máxima e mínima, é consideravelmente
maior em Santos".
"Registrou-se no Rio, em
quase 70 anos, apenas uma vez a temperatura máxima de 39º, enquanto que em Santos se teve 41,8 a 28 de janeiro de 1915 e diversas vezes valores
superiores a 39º. Em compensação, a temperatura mais baixa observada em Santos foi 5,0º a 18 de junho de 1889, não tendo sido nunca observadas no
Rio temperaturas inferiores a 10,2º. Assim, embora pouco menor a média de Santos, tem-se ali algumas vezes temperaturas superiores às do Rio de
Janeiro".
"A chuva é muito forte, devido à
vizinhança da Serra do Mar, recolhendo-se anualmente 2.184 mm, quase o duplo do Rio. O mês em que mais chove é o de março, com 301 mm, e o mais seco
junho, com 60,4 mm. É difícil nessas condições distinguir as estações seca e chuvosa, pois a primeira se reduz a um mês. Apesar de ser Santos muito
chuvoso, a nebulosidade é relativamente fraca – 5,9, e pequeno o número de dias de chuva no ano, indicando esse fato que a água cai por aguaceiros
pesados e não por chuva miúda e prolongada, como tantas vezes acontece no Rio de Janeiro, durante o inverno".
"Quanto ao vento, pode-se
dizer que é sempre fraco, pois as calmas foram observadas maior número de vezes que os ventos de qualquer rumo. Entre estes, predomina o de S e de
NW durante todo o ano".
Faz parte deste capítulo um quadro contendo dados
climatológicos da Estação de Santos, referentes aos anos de 1895 a 1915, retirados do trabalho de Morize
[15]
e dados referentes aos anos de 1940 a 1946 fornecidos por nímia gentileza do sr. diretor do Serviço Meteorológico de São Paulo – do Ministério da
Agricultura (quadro nº 1):
Quadro nº 1 - Ministério da Agricultura - Serviço de Meteorologia
Estação Meteorológica de Santos (Ponta da Praia) Est.
de São Paulo
(Dados referentes aos anos de 1940 a 1946) e
(+) Dados climatológicos da estação de Santos referentes aos anos de
1895 a 1915 (H. Morize). |
|
Dez. |
Jan. |
Fev. |
Mar. |
Abr. |
Maio |
Jun. |
Jul. |
Ago. |
Set. |
Out. |
Nov. |
Ano |
Temperatura média (+) |
24,2
23,2 |
24,6
24,9 |
25,5
25,2 |
24,4
24,6 |
22,6
22,7 |
20,5
20,7 |
19,0
18,9 |
19,1
17,6 |
18,9
18,9 |
19,4
18,9 |
20,5
20,5 |
22,8
21,8 |
21,9
21,5 |
Temperatura média das máximas (+) |
27,7
27,3 |
28,6
29,4 |
31,2
29,9 |
27,8
29,0 |
26,8
27,5 |
24,8
25,9 |
23,9
24,3 |
23,3
22,7 |
23,0
23,8 |
23,7
22,8 |
23,8
24,2 |
25,7
25,7 |
25,9
26,0 |
Temperatura média das mínimas (+) |
21,2
20,1 |
22,0
21,5 |
24,1
22,0 |
21,4
21,1 |
19,9
18,9 |
17,7
16,9 |
16,4
15,0 |
15,7
13,7 |
15,8
15,3 |
17,1
15,7 |
18,1
17,7 |
19,7
18,8 |
19,1
18,0 |
Temperatura máxima absoluta (+) |
40,0
37,4 |
41,8
37,7 |
39,0
36,7 |
40,0
35,1 |
38,0
37,0 |
37,1
55,8 |
35,3
32,7 |
35,6
32,9 |
37,4
34,9 |
39,5
35,6 |
36,0
35,4 |
38,8
34,9 |
41,8
37,7 |
Temperatura mínima absoluta (+) |
15,6
14,5 |
14,9
16,2 |
16,5
15,9 |
15,8
17,6 |
13,2
10,4 |
10,2
8,7 |
5,0
6,9 |
6,5
5,4 |
6,7
8,5 |
8,6
8,4 |
10,5
12,0 |
11,9
14,7 |
5,0
5,4 |
Chuva (quantidade em mm) (+) |
181,4
196,1 |
270,5
244,7 |
216,2
409,1 |
301,4
258,6 |
179,8
206,5 |
157,0
131,5 |
60,4
140,0 |
114,2
78,4 |
118,2
68,5 |
140,5
129,2 |
156,8
164,0 |
196,1
138,7 |
2.083,5
2.163,3 |
Chuva (nº de dias) (+) |
17
16,5 |
13
18,5 |
12
15,5 |
15
13,3 |
12
12,5 |
11
9,3 |
10
9,0 |
9
8,5 |
10
7,3 |
11
10,5 |
14
15,3 |
13
12,8 |
147
149 |
Números de dias claros (+) |
5
1,6 |
3
1,3 |
3
1 |
4
1 |
6
2,9 |
9
5,1 |
7
5,1 |
9
7 |
6
6 |
3
3,1 |
3
1,1 |
3
0,5 |
61
34,1 |
Números de dias encobertos (+) |
12
18 |
11
15 |
7
15,4 |
9
15 |
6
11 |
6
10 |
9
9 |
10
12 |
11
12 |
7
15 |
12
19 |
10
16 |
110
167,4 |
Umidade relativa (+) |
74
83,8 |
78
82,9 |
76
84,1 |
78
84,0 |
78
83,0 |
76
83,6 |
80
84,4 |
75
84,7 |
78
84,1 |
82
84,4 |
79
85,7 |
77
83,6 |
77
84,0 |
N.E.: na última coluna, penúltima linha, o valor
indicado 167,5, além de estar em posição incorreta apresentava diferença de um décimo a mais em relação à soma do ano |
Fazendo um ligeiro estudo comparativo entre os dados
contidos no quadro, verificamos:
1)
que a temperatura média acusou um ligeiro decréscimo no segundo período observado;
2)
que a média das máximas quase se equilibrou;
3)
que houve uma diferença para menos de 1,1º na média das mínimas assinaladas no segundo período observado;
4)
que a temperatura máxima absoluta observada nos 7 anos do segundo período de observações atingiu a 37,7º no dia 16 de janeiro de 1942. Como
foi citada por Morize, era comum observar-se temperaturas em Santos com valores superiores a 39º, fato não observado nesses 7 anos, o que bem
demonstra o decréscimo da aspereza do clima desta cidade;
5)
A temperatura mínima ficou, apenas, 4 décimos de grau acima da menor temperatura observada em 25 anos, tendo o termômetro acusado no dia 12
de julho de 1942 5,4º;
6)
Quanto às chuvas, verificou-se um pequeno acréscimo na quantidade média dos 7 anos. Verificou-se, também, que, em geral, o mês de menos
chuvas é agosto. O mês que acusou maior precipitação atmosférica foi fevereiro de 1944, com 791 mm; e a menor, julho de 1940, com 14,5 mm. Os
dias de chuva apresentam quase a mesma média de dias;
7)
Houve decréscimo geral em todos os dados climatológicos observados no período de 1940/46 comparado com o período de 1895-1915, apenas a
umidade relativa acusou um aumento bastante apreciável, pois sua média subiu de 77 para 84.
c) Marés
As notícias referentes às oscilações da maré em Santos,
aqui insertas, foram fornecidas gentilmente pelo dr. Edgard Chermont, engenheiro do D.N.P.N. e chefe da Fiscalização do Posto de Santos.
"Maré
comum, em dia de lua cheia ou nos dois dias antes e até três dias depois, 2,30 m.
Maré comum, em dia de quarto crescente ou minguante, dois dias antes e até
dois dias depois, 1,60 m.
Maior preamar observada acima do zero hidrográfico, 2,70 m.
Baixamar comum, em dia de lua, 0,45 m.
Baixamar comum, em dia de quarto, 1,10 m.
Em geral as grandes baixamares comumente observadas não descem a menos de 0,33 m".
Considerando-se que a altitude de Santos é de 3,0 m,
segundo Morize [15],
compreende-se que as oscilações da maré favoreçam o represamento das águas pluviais, impedindo, sobremodo, o dessecamento do solo e aumentando as
possibilidades de procriação de anofelinos. |