Galeria dos engenheiros e economistas
Esta galeria nos apresenta, além dos dois notáveis biografados
drs. Roberto Simonsen e Lúcio Martins Rodrigues, mais dois vultos, cujas biografias deixamos de publicar. Valentim Bouças,
expoente das finanças nacionais, figura, hoje, de projeção internacional, por sua grande atuação no campo econômico brasileiro, e dr. Aristides
Bastos Machado, engenheiro-chefe do Saneamento de Santos, figura de projeção estadual, ex-prefeito de Santos, com notáveis obras realizadas;
ex-deputado estadual e ex-secretário do Estado, existindo, sem dúvida, outros especializados no mesmo campo, que, entretanto, não atingiram a
notoriedade.
Roberto Simonsen (dr. Roberto
Cochrane Simonsen) - Nasceu em Santos a 18 de fevereiro de 1889, é filho legítimo de Sidney M. Simonsen, inglês, e d. Robertina Cochrane
Simonsen, a notável educadora santista, fundadora do Lyceu Feminino, por vez filha do ilustre brasileiro dr. Ignácio Wallace da Gama Cochrane,
notabilizado por seus grandes serviços ao país, e particularmente a Santos e a São Paulo.
Fez seus primeiros estudos em sua terra, com o afamado educador Tarquínio Silva, passando
depois a freqüentar o colégio do eminente filólogo dr. Castro Lopes, também em Santos. Passou, depois, a S. Paulo, onde freqüentou o Colégio Anglo
Brasileiro e completou seus estudos secundários, cursando, por fim, a Escola Politécnica, onde se diplomou como engenheiro, em 1909.
Começou sua vida profissional em Santos, como engenheiro da Southern Brasil Railway,
de 1909 a 1910, passando a diretor geral da Prefeitura, de 1911 a 1912 e engenheiro-chefe da Comissão de Melhoramentos Municipais de Santos na mesma
época.
Em 1912 fundou a notável Companhia Construtora de Santos, com um grupo de interessados
e capitalistas, e aí, sua ação foi ampla, abrangendo uma rede imensa de construções, em todo o território nacional, sendo seu diretor principal
desde a fundação até hoje.
Foi presidente da Cia. Frigorífica de Santos, de 1916 a 1919, e presidente da
Companhia Theatro Casino de Santos, de 1920 a 1924, tendo construído aquele majestoso edifício do Gonzaga, como o novo Hotel Parque Balneário.
Em 1919 representou S. Paulo na Missão Comercial Brasileira, na Inglaterra, sendo no
mesmo ano representante único do Brasil no Congresso Internacional dos Industriais de Algodão, realizado em Paris. Foi ainda em 1919 eleito
representante das classes patronais na Conferência Internacional do Trabalho, realizada em Washington, tendo recusado a eleição, por coincidir com a
nomeação acima.
Presidente do Sindicato Nacional de Combustíveis Líquidos de 1923 a 1928, era eleito,
em 1926, diretor da Cia. Nacional de Artefatos de Cobre, onde ficou até 1929, e presidente da Cia. Nacional de Borracha de 1926 a 1927. De 1919 a
1924, foi também presidente da Cia. Frigorífica e Pastoril de Barretos.
Grande era, como se vê, a sua atividade, e em vários campos, e maior ainda devia ser
ela daí por diante.
Em 1930, às 23,30 horas, foi, de surpresa, preso com seu irmão, a mandado do
interventor João Alberto, e recolhido a um compartimento sem conforto e em precárias condições de higiene, de menos de 50 metros quadrados, no
Palácio das Indústrias, onde já se encontravam 14 outros detidos, incomunicáveis.
Inúteis foram seus protestos e inúteis os bilhetes que da prisão mandara ao então
governador, delegado do governo provisório da República. Jamais se positivaram, mesmo, os motivos da sua detenção, do que tivera aviso antes por
vários bilhetes anônimos que recebera e aos quais não dera a menor importância, por não haver cometido delito algum e ter a consciência
perfeitamente tranqüila.
No depoimento que então prestou perante as autoridades, dias após sua prisão, requereu
que fizesse parte integrante do mesmo documento uma declaração extensa, que era uma exposição completa de sua vida, demonstrando com fatos e sólidas
citações que ela só fora útil ao Estado e ao país, tendo sido legitimados e honestos todos os seus atos e operações comerciais, industriais ou
políticas.
Foi presidente e fundador da Cia. Santista de Habitações Econômicas e presidente da
Cia. Cerâmica de S. Caetano.
Em política só militou pouco mais de um ano, como membro do diretório político de
Santos, com Belmiro Ribeiro, Joaquim Bento Alves Lima, Martinho Camargo, Alberto Cintra e outros conservadores.
Entre as missões de responsabilidade que desempenhou antes de 1930, figuram como
principais aquelas já citadas, e entre as demonstrações pessoais que o honraram, constam uma carta de Luís Pereira Barreto, relativa a um seu
trabalho sobre Organização da Produção no Brasil, os convites de Simões Lopes para representar o Brasil no Congresso do Trabalho, em Washington e na
Europa, em defesa dos interesses do comércio de carnes brasileiras, e, por fim, o convite que recebeu de Calógeras para construir os quartéis para o
Exército, em vários pontos do Brasil.
Em 1933 foi eleito presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, cargo que
ocupou até 1934. Neste último ano foi eleito deputado federal, permanecendo na Câmara até 1937.
Sua ação naquela Câmara foi notável, figurando como membro da Comissão de Legislação
Social, de 1934 a 1935, membro da Comissão de Diplomacia e Tratados, em 1937, membro da Comissão de Organização do Código do Ar, de 1936 a 1937, e
membro da comissão de Código de Águas, em 1937, membro da Comissão dos Serviços Industrializados do Estado, de 1936 a 1937, e, finalmente, membro do
Conselho Federal do Comércio Exterior do Brasil, em 1937, entre os maiores especialistas brasileiros.
Roberto Simonsen é, sem dúvida alguma, e sem favor, um dos santistas intelectualmente
mais ilustres do século, e possui uma vasta série de títulos que demonstram o seu conceito como o seu círculo de ação. É membro do Instituto
Histórico e Geográfico de S. Paulo e Santos. Membro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e do de S. Paulo. Membro da American Society of Civil
Engineers de Nova York. Membro da Royal Geographical Society, de Londres, da National Geographic Society de Washington, do Brittish Institute of
Philosophy, de Londres; do Automóvel Clube de Londres, do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de Economia Política do Rio, da Comissão
Orientadora do Instituto de Organização Racional do Trabalho de S. Paulo, do Conselho Consultivo do Instituto Brasileiro de Pesquisas Econômicas do
Rio, vice-presidente do Conselho Superior da Escola Livre de Sociologia e Política de S. Paulo, da Sociedade Numismática de São Paulo, da Sociedade
Capistrano de Abreu, do Rio de Janeiro, da Academia Portuguesa de História, da Societá de Chimie Industrielle de Paris e de várias outras sociedades
esportivas, científicas, literárias etc.
Atualmente é presidente da Cia. Construtora de Santos, presidente da Cerâmica S.
Caetano S/A, presidente da Cia. Santista de Habitações Econômicas, sócio de Murray, Simonsen e Cia. Ltda., diretor da Cia. Brasileira de Crédito
Hipotecário, sócio da Sociedade Construtora Brasileira Ltd., presidente da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo, vice-presidente da
Confederação Industrial do Brasil, professor da cadeira de História Econômica na Escola Livre de Sociologia e Política de S. Paulo, vice-presidente
da Confederação Nacional de Indústrias do Brasil.
Roberto Simonsen é homem metódico e regido por princípios rígidos de moral social.
Habitualmente é um dos primeiros a entrar em seus escritórios e dos últimos a sair; é amigo dos que com ele trabalham, e sabe-se que já trabalharam
consigo mais de 100 engenheiros e acima de 50.000 operários e auxiliares diversos. Nunca maltratou um auxiliar nem desamparou, mesmo nos piores
tempos, um bom companheiro de trabalho, como nunca recusou receber em seu escritório um operário, por mais modesto que fosse, e sempre socorreu os
necessitados reais que a ele recorreram, jamais perseguindo ou executando judicialmente quem quer que lhe devesse, atitudes e qualidades raras hoje
em dia.
Ao seu nome está ligada a Santa Casa da Misericórdia da capital, à qual doou, por
ocasião da morte de seu filhinho Fernando, a elevada importância de 400 contos de réis, tendo aquele hospital construído, então, a enfermaria para
crianças "Fernandinho Simonsen".
São as seguintes as suas obras já publicadas: O Município de Santos, 1911;
Os melhoramentos municipais de Santos, 1912; O Trabalho Moderno, 1919; O calçamento de São Paulo, 1923; A orientação industrial
brasileira, 1928; As finanças e as indústrias, 1931; A construção dos quartéis para o Exército, 1931; À margem da profissão,
1923; Rumo à verdade, 1933; Ordem econômica e padrão de vida, 1934; Aspectos da Economia Nacional, 1935; História Econômica
do Brasil, 1937; Aspectos da História Econômica do Café, 1938 (apresentada ao Congresso da História Comemorativa do 1º Centenário do
Instituto Histórico Brasileiro).
Em 1938, o governo da Holanda agraciou Roberto Simonsen com a comenda da Ordem de
Nassau e Orange.
Roberto Simonsen
Imagem publicada com a matéria
Dr. Lúcio Martins Rodrigues - O engenheiro
dr. Lúcio Martins Rodrigues, que pertence a antiga e numerosa família santista, nasceu nesta cidade a 8 de abril de 1876, do consórcio do dr.
Alexandre Augusto Martins Rodrigues, ilustre advogado e jornalista, também natural de Santos, e de dona Mariana Martins Rodrigues, que vive hoje,
ainda, com cerca de 90 anos de idade, na capital da República.
Iniciando seus estudos muito cedo, completou seu curso das primeiras letras no Colégio
Ribeiro Campos, desta cidade, onde se revelou precocemente dotado de notáveis qualidades da inteligência, o que se confirmou no prosseguimento de
seus estudos, no Colégio Morethzon, de S. Paulo, e, mais tarde, no reputado estabelecimento carioca, o Colégio S. Pedro de Alcântara. Matriculou-se
a seguir o jovem estudante na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, ali se formando no ano de 1894, com apenas 18 anos de idade.
Iniciando, assim, cedo a sua carreira profissional, esteve o dr. Lúcio Martins
Rodrigues trabalhando como fiscal, contratado pela Companhia Docas de Santos. A seguir, entre outros lugares que ocupou, o jovem engenheiro
trabalhou nas obras de construção da linha do centro da Estrada de Ferro Central do Brasil. Muito moço ainda, obteve, em concurso, a cadeira de
Mecânica e Astronomia, do Ginásio do Estado, em Campinas.
Por longos anos, o eng. Martins Rodrigues exerceu, também, as funções de engenheiro
chefe da Prefeitura de São Paulo.
No ano de 1902 nomeava-o, o governo do Estado, para professor substituto da cadeira de
Astronomia e Geodésia da Escola Politécnica, a cujo corpo de professores pertence até hoje, sendo um dos mais antigos mestres do acreditado
estabelecimento de ensino, e granjeando entre os engenheiros de São Paulo grande e justificado renome. Na Politécnica teve ainda o prof. Lúcio
Martins Rodrigues a regência das cadeiras de Mecânica Racional e Cálculo Vetorial. Como lente catedrático dessa casa de ensino superior, lecionou o
nosso biografado as cadeiras de Topografia e Mecânica, sendo atualmente catedrático da de Mecânica e Cálculo Vetorial.
Por eleição da Congregação, foi vice-diretor da Escola Politécnica e este ano, a
convite do atual governo do interventor dr. Adhemar de Barros, foi nomeado para ocupar o alto cargo de Reitor da Universidade de São Paulo,
sucedendo aí a outro ilustre filho de Santos, o eminente prof. Reynaldo Porchat.
Chefe de numerosa família, o prof. Lúcio Martins Rodrigues tem pautado a sua vida por
uma fidalga discrição de conduta, não procurando pôr em destaque os seus méritos e os seus trabalhos. São de sua autoria numerosas obras científicas
da especialidade.
Dr. Lúcio Martins Rodrigues
Imagem publicada com a matéria
|