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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIOGRAFIAS
Galeria dos religiosos santistas

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Na sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade (exemplar no arquivo do historiador Waldir Rueda), o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 
Galeria dos religiosos ilustres

Além de Frei Gaspar, Bartholomeu de Gusmão e Frei Jesuíno do Monte Carmello, que figuram em outras galerias desta edição, outros que nos escapam ou não possuam dados biográficos reunidos, como o padre Patrício Manoel Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio, e o cônego João Ferreira Bueno, que fez parte do governo provisório de S. Paulo em 1821, possuiu Santos, nesta galeria, mais dois vultos, cujas pequenas biografias vão a seguir:


VENERÁVEL ANDRÉ DE ALMEIDA

André de Almeida foi o Anchieta santista, apóstolo da catequese e da primeira civilização brasileira, gravando-se o seu nome em letras de ouro na história jesuítica do Brasil inicial.

Nasceu André de Almeida na primitiva vila de Santos, no ano de 1573, como filho legítimo do fidalgo da Casa Real Antonio Rodrigues de Almeida, capitão-mor de S. Vicente, residente em Santos, e de d. Maria Castanho, de alta linhagem lusitana.

Tomou os primeiros ensinamentos no Colégio de Piratininga, onde também aprendeu o latim, tomando a roupeta de jesuíta no ano de 1589, com dezesseis anos de idade.

Homem de grande inteligência e virtudes extraordinárias, conta o padre Simão de Vasconcellos, o ilustre cronista, que foi provincial da Companhia no Brasil, no cap. IV do Liv. II, fls. 26v., da sua Chronica da Companhia de Jesus publicada em Lisboa em 1658, o seguinte, a seu respeito:

"Outro varão insigne foi o padre venerável André de Almeida, de mui saudosa memória em toda esta Província, de cujas exemplares virtudes fizera de boa vontade uma larga relação; porém, como é meu intuito somente dar breves notícias dos varões que nestas aldeias concorreram, de cujo exemplo o nosso irmão se aproveitou tanto, direi somente por ora, que foi em tal grau a santidade deste padre que o comparam ordinariamente ao mesmo padre João de Almeida, e não é pequeno abono de sua virtude.

"Foi extremado em todas as virtudes, mas entre elas floresceu muito particularmente uma caridade e zelo entranhável da conversão e salvação dos índios, com o qual 60 anos que esteve na Companhia, quase todos gastou entre eles, e destes mais de 20 nas aldeias do Espírito Santo.

"Gastava muitas horas do dia e da noite na contemplação de Deus. Era notavelmente austero para consigo mesmo e sobremaneira afável com os outros; dele se contam muitos sentimentos de Deus e casos proféticos. Acabo com dizer que tinha tal conceito de sua santidade o outro Almeida, que trazia um dente seu como relíquia nestes últimos anos de sua vida e que com ele obrou alguns casos maravilhosos de cura, aplicando-o a alguns doentes.

"De Almeida a Almeida pouca diferença vai, e se ambos se confundiram nos nomes, não é muito se não distingam nas virtudes. Faz porém muito naquele varão o conceito grande que o padre João de Almeida, quando já velho e tão experimentado em espírito, concebia dele, que chegou a dizer em seus escritos as palavras seguintes:

"O padre André de Almeida, única pedra preciosa e de muita estima de Deus, pelo qual o Senhor tem feito, faz e há de fazer muitos bens de muita glória sua e honra desta província e de toda a Companhia, como Deus Nosso Senhor irá descobrindo algum tempo"".

Onde Anchieta gastou os últimos dias de sua vida, foi consumir também o ilustre padre santista grande parte da sua existência, entregue aos sacrifícios da catequese, sofrendo as agruras daquela vida de devotamento e sacrifício em favor do país e da civilização, mais do que da própria Igreja.

O venerável André de Almeida faleceu na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de janeiro de 1649, aos 76 anos de idade, sendo sua morte extremamente sentida, ficando enterrado na capela do próprio Colégio local.


PADRE DR. GASPAR GONÇALVES DE ARAÚJO

Nasceu em Santos, a 4 de maio de 1661, como filho legítimo do capitão Gaspar Gonçalves de Araújo e de d. Mariana Bueno, sendo seu avô materno Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado.

Fez os seus primeiros estudos no colégio dos jesuítas em Santos, passando depois a Coimbra, onde ingressou na famosa Universidade, formando-se tempos depois em Ciências Jurídicas e Sociais.

Logo depois de formado, voltou ao Rio de Janeiro, onde abraçou o estado eclesiástico, sendo nomeado vigário da sua terra natal, para onde voltou então, após uma ausência de dez anos.

Por delegação do bispo d. Francisco de S. Jeronymo foi nomeado visitador geral das vilas do Sul, até o ano de 1706, em que se mudou para a Bahia, onde se dedicou à advocacia e soube granjear reputação entre os homens mais ilustrados do país, pelo que era freqüentemente consultado pelo arcebispo, desembargadores e funcionários públicos, tornando-se naturalmente o conselheiro geral de quantos possuíam qualquer dúvida a resolver.

Convidado pelo bispo do Rio de Janeiro para ocupar as varas de provisor e vigário-geral de seu bispado, deixou a Bahia e exerceu aqueles cargos conjuntamente com o de cônego tesoureiro-mor da Sé do Rio de Janeiro, para que foi nomeado a 26 de maio de 1748, servindo também com os bispos d. fr. Antonio de Guadelupe, d. fr. João da Cruz e d. fr. Antonio do Desterro, tendo sido dos dois primeiros o procurador que por eles tomou posse, e, por ausência de ambos ficou governando o bispado.

Suas virtudes, diz Azevedo Marques, bem como a reputação que soube grangear, de talento e erudição, mereceram-lhe honrosa menção na Brasilia Pontifícia, onde é tratado Cathedralis Suae Decano Dignissimo.

Com outros termos semelhantes, recomendou-o também à posteridade o magistral José Joaquim Pinheiro, na lembrança que escreveu ao bispo d. fr. Antonio de Guadelupe, onde, referindo o interesse deste prelado em conhecer por si a idoneidade dos párocos, disse:

"...Entre os quais foi o sapientíssimo dr. Gaspar Gonçalves de Araújo, varão certamente digno de século mais atento e de glória perdurável...".

O dr. Gaspar Gonçalves de Araújo é citado por todos os cronistas como um notável brasileiro, uma das grandes luzes intelectuais do século dezessete, parte eminente da época gusmoniana na cidade de Santos.

Faleceu este santista na cidade do Rio de Janeiro, a 25 de outubro de 1754, na idade de 93 anos.

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