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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (11)

No tempo da máquina de escrever e do teletipo, ainda não havia telefax, computador, Internet, foto digital... e o telefone muitas vezes não dava linha
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O cotidiano de um jornal foi relatado por A Tribuna, em sua edição comemorativa do 75º aniversário de fundação, em 26 de março de 1969 (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP):
 


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A notícia nossa, de cada dia

Quando o leitor abre tranquilamente o seu jornal e vai correndo os olhos, entre um e outro gole de café, pelas manchetes do dia, mal sabe o que custou essa edição em esforço de equipe. Bem poucos conhecem de perto como funcionam a redação, as oficinas, a impressora. Aqui vai um breve relato de um dia comum, em plena rotina, acompanhando o trabalho dos repórteres, fotógrafos, diagramadores, revisores e do complexo gráfico.

É uma atividade anônima de gente que se especializou em notícia, apanhada de todas as formas por uma vasta rede de pessoal, auxiliada pelos telefones, teletipos e outros processos de comunicação. Feito um jornal, começa o outro. Assim é a imprensa. Assim tem sido A Tribuna nos últimos 75 anos.


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Na parte da manhã, a redação é sossegada. Há poucos repórteres e alguns fotógrafos. O pauteiro, isto é, o encarregado de ordenar a agenda de reportagens diárias, dá os últimos toques para o trabalho do dia, e depois passa a examinar os demais jornais, em busca de "furos" e "barrigas". Depois, elabora uma lista do noticiário dos jornais e envia cópias para a secretaria e chefia de reportagem. Em determinado dia, A Tribuna deu 10 notícias numa só página que não foram publicadas em outros jornais.

Volta e meia o telefone toca. Pode ser um pedido de informações ou um presidente de sindicato lembrando da realização de uma assembléia à noite.

A redação começa a se agitar à tarde. Nesse período, os repórteres em serviço às 14 horas, e rapidamente o chefe da reportagem, Oscar Barbosa, com seu jeito agitado, vai distribuindo o trabalho.

Uma missão da FAO está visitando o Entreposto de Pesca para elaborar um relatório sobre financiamento para a construção de um porto pesqueiro na Cidade. Uma repórter ruma para o Entreposto, acompanhada de fotógrafo. Volta só à noite.

Outra repórter começa a entrevistar dois ciclistas franceses que andam pelas Américas. Os dois falam em espanhol misturado com inglês e francês, e ela apela para o "portunhol", confusão entre português e espanhol. A entrevista é difícil, por causa do mau entendimento, mas depois de muita conversa, a notícia acaba saindo. Os ciclistas vieram da França para ver as Olimpíadas do México e acabaram descendo pela América do Sul para conhecê-la e agora voltam de Santos para seu país.

Dois estudantes de Direito entram na redação, no meio da tarde, para pedir cobertura jornalística. Um trote nos calouros, marcado para o próximo sábado.

Ao cair da tarde, o ritmo da redação fica mais intenso. Os repórteres retornam da rua e os assuntos se transformam em laudas datilografadas. O chefe do setor informa-se das matérias, perguntando de mesa em mesa, para calcular o espaço reservado ao noticiário local.

Entre o chefe da reportagem e a Secretaria da Redação há o copidesque, que analisa as matérias sob o ponto de vista da linguagem jornalística, escoimando-as, também, dos pequenos senões. É um guardião paciente e severo. Com s ou com z? Quem sabe de tudo é o copidesque.


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A Editoria da Cidade, responsável pelo noticiário de clubes, associações, galerias de arte, Tribuna do Leitor e coisas locais, dá por terminada sua tarefa. Evêncio Martins da Quinta Filho considera que ganhou bem o seu dia.

Azáfama no laboratório fotográfico. É preciso fornecer à Secretaria as chamadas cópias diretas. São as provas das muitas dezenas de fotografias que ocuparam a equipe especializada chefiada por Evaristo Pereira de Carvalho. A escolha do melhor negativo, do ângulo mais sugestivo, da foto mais expressiva - este é um trabalho de arte.

Vinte horas. É o momento da rendição. Dispersam-se os repórteres, entra a turma da noite, o pessoal da vigília. É tempo de coordenar. O diagramador-chefe, Nelson Kafouri, desdobra-se para dispor a matéria nas páginas, dividindo a tarefa com uma auxiliar. Trabalho apressado mas perfeito.

A Secretaria da Redação torna-se mais ativa à noite. Num canto, Lauro Tubino, um dos subsecretários, discute a colocação da matéria local na última página, em breve conferência com o chefe da reportagem e a diagramação. A manchete será o seqüestro dos bens dos vereadores, cogitado pelo juiz da Vara dos Feitos da Fazenda.

O editor do Exterior vê o mundo inteiro à sua mesa. Entre um e outro charuto vai coordenando a página dois. Por volta das 21 horas já tem a manchete: é o vôo da "Apolo-9".

Noutra mesa há um editor preocupado. Ainda não chegou o material de São Vicente. Cubatão, Itanhaém, Guarujá, Mongaguá e Praia Grande já mandaram. O noticiário do ABC virá mais tarde.

O pessoal do Esporte, orientado por Gilberto Bezerra, cuida de treinos, mosaico, ligas, competições. Além de tudo, o Santos está jogando. O jogo vai dar um "flash" na primeira página.

Indiferente, o teletipo, no andar superior, não cessa de transmitir telegramas do Exterior, enquanto as cabinas telefônicas canalizam para a redação tudo o que ocorre em São Paulo, Rio e Brasília.

Trabalho importante é o da turma de rádioescuta. Hoje em dia, as emissoras capricham nos jornais-falados, informando seu público em cima do fato. Esse noticiário, gravado, permite à Secretaria o conhecimento do panorama geral antes da recepção pelas fontes regulares.

A diagramação não pára até o fechamento da última página, seja a que hora for. Mas é preciso fechar o mais cedo possível, para não atrasar o trabalho gráfico. Quem visita a redação à noite estranha um detalhe: uma moça alegre que diagrama com segurança. É auxiliar do Nelson, a única mulher que permanece na redação nas horas finais.

Volta e meia, o repórter de polícia recebe um telefonema noturno: é o "relações públicas" do Esquadrão da Morte, avisando da execução de mais um elemento considerado criminoso. Ele sai acompanhado de um fotógrafo para um local remoto na estrada Cubatão-Pedro Taques. Enquanto isso, o repórter sindical entrega a última notícia: uma assembléia dos empregados da Cosipa.


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Por volta das 22 horas, a Editoria Nacional já tem quase todo o noticiário. A página 5 está quase pronta. Resta escolher a manchete. Depois de alguma espera, fica decidido que a manchete será uma notícia do Ministério das Relações Exteriores sobre o problema do café solúvel nas negociações de Londres.

Depois, o outro editor de Nacional reúne-se com o subsecretário Clóvis Galvão, para escolher a manchete do jornal. Há uma dúvida entre duas notícias: o vôo do Módulo Lunar ou a briga da China com a União Soviética. Acaba sendo escolhido o êxito espacial, e a China fica na primeira página um pouco mais abaixo.

Por volta da meia-noite, a Secretaria encerra o trabalho. Todas as matérias já foram revistas pela subsecretaria e encaminhadas ao secretário Carlos Klein. Depois, vão para a oficina.

Cabe ao secretário a aprovação da manchete do jornal. Depois de ver as várias manchetes preparadas, Klein faz sua escolha: "Mais um êxito no vôo da Apolo".

Duas horas da manhã. O repórter de polícia, o secretário e os subsecretários deixam a redação. Não há mais nada a fazer, a não ser outra edição que vai começar a ser feita no mesmo dia. Horas depois virá primeiro o pauteiro, depois os fotógrafos e alguns repórteres. E começa tudo de novo. Assim se faz um jornal.


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