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A notícia nossa, de cada dia
Quando o leitor abre tranquilamente o seu jornal e vai correndo os olhos, entre um
e outro gole de café, pelas manchetes do dia, mal sabe o que custou essa edição em esforço de equipe. Bem poucos conhecem de perto como funcionam a
redação, as oficinas, a impressora. Aqui vai um breve relato de um dia comum, em plena rotina, acompanhando o trabalho dos repórteres, fotógrafos,
diagramadores, revisores e do complexo gráfico.
É uma atividade anônima de gente que se especializou em notícia, apanhada de todas
as formas por uma vasta rede de pessoal, auxiliada pelos telefones, teletipos e outros processos de comunicação. Feito um jornal, começa o outro.
Assim é a imprensa. Assim tem sido A Tribuna nos últimos 75 anos.
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Na parte da manhã, a redação é sossegada. Há poucos repórteres e alguns fotógrafos. O
pauteiro, isto é, o encarregado de ordenar a agenda de reportagens diárias, dá os últimos toques para o trabalho do dia, e depois passa a examinar
os demais jornais, em busca de "furos" e "barrigas". Depois, elabora uma lista do noticiário dos jornais e envia cópias para a
secretaria e chefia de reportagem. Em determinado dia, A Tribuna deu 10 notícias numa só página que não foram publicadas em outros jornais.
Volta e meia o telefone toca. Pode ser um pedido de informações ou um presidente de
sindicato lembrando da realização de uma assembléia à noite.
A redação começa a se agitar à tarde. Nesse período, os repórteres em serviço às 14
horas, e rapidamente o chefe da reportagem, Oscar Barbosa, com seu jeito agitado, vai distribuindo o trabalho.
Uma missão da FAO está visitando o Entreposto de Pesca para elaborar um relatório
sobre financiamento para a construção de um porto pesqueiro na Cidade. Uma repórter ruma para o Entreposto, acompanhada de fotógrafo. Volta só à
noite.
Outra repórter começa a entrevistar dois ciclistas franceses que andam pelas Américas.
Os dois falam em espanhol misturado com inglês e francês, e ela apela para o "portunhol", confusão entre português e espanhol. A entrevista é
difícil, por causa do mau entendimento, mas depois de muita conversa, a notícia acaba saindo. Os ciclistas vieram da França para ver as Olimpíadas
do México e acabaram descendo pela América do Sul para conhecê-la e agora voltam de Santos para seu país.
Dois estudantes de Direito entram na redação, no meio da tarde, para pedir cobertura
jornalística. Um trote nos calouros, marcado para o próximo sábado.
Ao cair da tarde, o ritmo da redação fica mais intenso. Os repórteres retornam da rua
e os assuntos se transformam em laudas datilografadas. O chefe do setor informa-se das matérias, perguntando de mesa em mesa, para calcular o espaço
reservado ao noticiário local.
Entre o chefe da reportagem e a Secretaria da Redação há o copidesque, que analisa as
matérias sob o ponto de vista da linguagem jornalística, escoimando-as, também, dos pequenos senões. É um guardião paciente e severo. Com s
ou com z? Quem sabe de tudo é o copidesque.
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A Editoria da Cidade, responsável pelo noticiário de clubes, associações, galerias de
arte, Tribuna do Leitor e coisas locais, dá por terminada sua tarefa. Evêncio Martins da Quinta Filho considera que ganhou bem o seu dia.
Azáfama no laboratório fotográfico. É preciso fornecer à Secretaria as chamadas cópias
diretas. São as provas das muitas dezenas de fotografias que ocuparam a equipe especializada chefiada por Evaristo Pereira de Carvalho. A escolha do
melhor negativo, do ângulo mais sugestivo, da foto mais expressiva - este é um trabalho de arte.
Vinte horas. É o momento da rendição. Dispersam-se os repórteres, entra a turma da
noite, o pessoal da vigília. É tempo de coordenar. O diagramador-chefe, Nelson Kafouri, desdobra-se para dispor a matéria nas páginas, dividindo a
tarefa com uma auxiliar. Trabalho apressado mas perfeito.
A Secretaria da Redação torna-se mais ativa à noite. Num canto, Lauro Tubino, um dos
subsecretários, discute a colocação da matéria local na última página, em breve conferência com o chefe da reportagem e a diagramação. A manchete
será o seqüestro dos bens dos vereadores, cogitado pelo juiz da Vara dos Feitos da Fazenda.
O editor do Exterior vê o mundo inteiro à sua mesa. Entre um e outro charuto vai
coordenando a página dois. Por volta das 21 horas já tem a manchete: é o vôo da "Apolo-9".
Noutra mesa há um editor preocupado. Ainda não chegou o material de São Vicente.
Cubatão, Itanhaém, Guarujá, Mongaguá e Praia Grande já mandaram. O noticiário do ABC virá mais tarde.
O pessoal do Esporte, orientado por Gilberto Bezerra, cuida de treinos, mosaico,
ligas, competições. Além de tudo, o Santos está jogando. O jogo vai dar um "flash" na primeira página.
Indiferente, o teletipo, no andar superior, não cessa de transmitir telegramas do
Exterior, enquanto as cabinas telefônicas canalizam para a redação tudo o que ocorre em São Paulo, Rio e Brasília.
Trabalho importante é o da turma de rádioescuta. Hoje em dia, as emissoras capricham
nos jornais-falados, informando seu público em cima do fato. Esse noticiário, gravado, permite à Secretaria o conhecimento do panorama geral antes
da recepção pelas fontes regulares.
A diagramação não pára até o fechamento da última página, seja a que hora for. Mas é
preciso fechar o mais cedo possível, para não atrasar o trabalho gráfico. Quem visita a redação à noite estranha um detalhe: uma moça alegre que
diagrama com segurança. É auxiliar do Nelson, a única mulher que permanece na redação nas horas finais.
Volta e meia, o repórter de polícia recebe um telefonema noturno: é o "relações
públicas" do Esquadrão da Morte, avisando da execução de mais um elemento considerado criminoso. Ele sai acompanhado de um fotógrafo para um local
remoto na estrada Cubatão-Pedro Taques. Enquanto isso, o repórter sindical entrega a última notícia: uma assembléia dos empregados da Cosipa.
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Por volta das 22 horas, a Editoria Nacional já tem quase todo o noticiário. A página 5
está quase pronta. Resta escolher a manchete. Depois de alguma espera, fica decidido que a manchete será uma notícia do Ministério das Relações
Exteriores sobre o problema do café solúvel nas negociações de Londres.
Depois, o outro editor de Nacional reúne-se com o subsecretário Clóvis Galvão, para
escolher a manchete do jornal. Há uma dúvida entre duas notícias: o vôo do Módulo Lunar ou a briga da China com a União Soviética. Acaba sendo
escolhido o êxito espacial, e a China fica na primeira página um pouco mais abaixo.
Por volta da meia-noite, a Secretaria encerra o trabalho. Todas as matérias já foram
revistas pela subsecretaria e encaminhadas ao secretário Carlos Klein. Depois, vão para a oficina.
Cabe ao secretário a aprovação da manchete do jornal. Depois de ver as várias
manchetes preparadas, Klein faz sua escolha: "Mais um êxito no vôo da Apolo".
Duas horas da manhã. O repórter de polícia, o secretário e os subsecretários deixam a
redação. Não há mais nada a fazer, a não ser outra edição que vai começar a ser feita no mesmo dia. Horas depois virá primeiro o pauteiro, depois os
fotógrafos e alguns repórteres. E começa tudo de novo. Assim se faz um jornal.
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