15 DE NOVEMBRO - Espaços públicos de
Santos evocam um dos momentos mais importantes da história brasileira. Como a Praça da República, ponto de referência de milhares de santistas
Foto: Fernanda Luiz, publicada com a matéria
HISTÓRIA
Santos também faz parte da proclamação da República
O fim da Monarquia no Brasil se deu em 15 de novembro
de 1889, há 118 anos
Thiago Macedo
Da Redação
República declarada. Deodoro proclamado presidente.
Por volta da 10 horas de 15 de novembro de 1889, uma sexta-feira, um banco de Santos recebia um telegrama com esse conteúdo. Já não havia dúvidas na
cidade sobre a proclamação da República pelo marechal Deodoro da Fonseca.
Dom Pedro II não tinha mais poderes sobre o Império, que passara a se chamar Estados Unidos do Brasil.
Hoje, 118 anos depois, os personagens que fizeram parte desse episódio e do seu desenrolar viraram
nomes de ruas, avenidas, praças, monumentos. E por tais lugares, agora, transitam, moram e trabalham outros personagens; os que compõem a história
do cotidiano brasileiro.
Na Praça da República, quem lá está eternizado em forma de estátua
nunca chegou a conhecer Deodoro da Fonseca, Benjamim Constant, Quintino Bocaiúva ou Silva Jardim, alguns dos principais
articuladores da derrubada do Império. O homem esculpido em forma imponente é Braz Cubas,
fundador de Santos, morto no século 16. Quem também não conhece muito a história dessas pessoas é o taxista Astrogildo de Souza.
Aos 70 anos, para o trabalhador, a Praça da República serve apenas como ponto de referência para
as corridas que realiza diariamente. "Não ligo muito para a história". Se Astrogildo não liga muito para história, a autônoma Antônia da Silva
Celeste sabe o que o nome da praça onde vende lanches e doces há 10 anos significa. "Mas não sei os detalhes, preciso olhar no livro".
Os detalhes da proclamação estavam bem perto da autônoma, aproximadamente a 30 metros, no sebo de
Samuel Moliterne. "Tenho alguns livros sobre a História do Brasil, mas não sei se a História que eles contam foi o que realmente aconteceu",
pondera.
Quando veio de Campina Grande, na Paraíba, com a sua "família ambulante" (todos os seus irmãos
trabalham no mercado informal), Antônia não sabia que ganharia a vida vendendo fast-food, comida típica dos Estados Unidos da América (EUA),
bem diferente da consumida no final do século 18 pelos adeptos do Positivismo, principais responsáveis pela criação da República.
Em sua maioria, de acordo com o coordenador do curso de História da
Universidade Católica de Santos (UniSantos) e também professor da Universidade Metropolitana de
Santos (Unimes), Carlos Eduardo Finóchio, aqueles homens carregavam consigo a influência neoclássica do resgate da
arte antiga, principalmente a greco-romana, não por acaso o berço do sistema republicano.
Antônia pode não saber, mas a efígie impressa nas notas do dinheiro (o rosto feminino impresso em
forma de escultura) que recebe dos clientes de sua barraca tem inspiração do período neoclássico e representa a liberdade do povo brasileiro, de
acordo com o historiador Waldir Rueda. "Antes, nossas moedas tinham impressas o rosto de dom Pedro II".
Conforme Carlos Finóchio, os republicanos eram uma facção radical dos liberais. Os mesmos que
participaram do processo de independência do Brasil. Os radicais eram contra o regime onde o poder fica concentrado na mão de apenas uma pessoa,
como ocorre em uma monarquia.
Mas, apesar da mudança de regime - de Monarquia para República -, o professor explica que as
políticas tomadas pelos presidentes republicanos não se diferenciaram muito das da época do Império. "Dom Pedro II privilegiava a elite, que naquela
época era formada basicamente por cafeicultores, e essa política continuou".
De acordo com o professor, a Bolsa de Café, na Rua
XV de Novembro, inaugurada em 1922, é um marco dessa política. "A Bolsa foi erguida durante a República e representa claramente o poder dos
cafeicultores naquela época".
Atualmente, o café não é a principal economia brasileira. Muito menos a Bolsa de Café é o
principal centro financeiro do País, mas, como hoje é feriado, pode ser visitada. Foi o que fez, ontem, Augusto Marcos Moreira, morador de Santa
Bárbara d'Oeste (interior de São Paulo), que aproveitou a folga para passear com a família em Santos e tomar um cafezinho no prédio histórico.
Antonia Celeste trabalha na Praça da
República,
onde o monumento homenageia o fundador da
cidade
Foto: Fernanda Luiz, publicada com a matéria
Silva Jardim foi apóstolo do regime
Um homem com grande ligação com Santos teve papel importante na Proclamação da República. Ele é o
advogado Antônio Silva Jardim, nascido no Rio de Janeiro e formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Na edição de 15 de novembro de 1939, A Tribuna publicou um especial
sobre os 50 anos de República. Em um artigo veiculado naquela edição, o pesquisador Durwal Ferreira afirma que Silva Jardim foi um apóstolo da
República, que manteve um escritório na Cidade, cujo endereço, de acordo com o historiador Waldir Rueda, era na Rua Vasconcelos Tavares, 57, no
Centro Histórico.
Conforme Durwal Ferreira, Silva Jardim, "com a perfeição de um sacerdote", saiu pelo País pregando
os benefícios de um regime republicano. O advogado era um dos promotores dos encontros de republicanos que ocorriam no Teatro
Guarany, onde proferia discursos inflamados em defesa da República.
Porém, Ferreira afirma que, injustamente, Silva Jardim foi esquecido e a sua importância não foi
levada em conta pelos autores dos livros de História.
Outros nomes como Hyppolito da Silva, Victorino Porchat, Sacramento Macuco
e Alexandre Martins fizeram parte do processo que levou à Proclamação da República.
A Rua XV de Novembro, emoldurada pela
Bolsa de Café,
homenageia o gesto de marechal Deodoro
Foto: Fernanda Luiz, publicada com a matéria |