Reprodução parcial da matéria publicada em 26/1/1939
Administração policial de Santos
AS PRIMEIRAS AUTORIDADES - FATOS DE RELEVO OCORRIDOS EM VÁRIAS GESTÕES DE DELEGADOS
REGIONAIS
De 1920 a 1939 - Do dr. Bias Bueno, primeiro delegado de Polícia de Santos, ao
dr. Pedro de Alcantara, atual delegado regional - Avultam, pela sua grandiosidade, os trabalhos policiais da cidade, na data do seu 1º centenário
Em 1900, época recente, relativamente, os departamentos
policiais de Santos estavam agrupados num prédio da Rua do Rosário, justamente onde se acha uma parte do
Coliseu Santista. Nesse mesmo local também se achava instalado o quartel de polícia, o qual, na mesma época, passou para a
Rua Visconde de São Leopoldo, no mesmo anti-higiênico e acanhado onde ainda hoje se encontra aquartelada a Força Pública do Estado, destacada em
nossa cidade.
No dia de hoje, em que a cidade se rejubila e engalanada, comemora o primeiro
centenário de sua elevação de cidade, rememorando-se tantos outros fatos, oportuno é também destacar-se alguns capítulos à parte para a história
policial de Santos, principalmente no referente desde quando foi a polícia local elevada para a categoria de Delegacia Regional de Polícia e desde
quando, então, de ano para ano, começaram a avultar os trabalhos policiais em Santos, até que os mesmos apresentam o formidável surto de nossos
dias, quando a Delegacia Regional de Polícia, à cuja frente se encontra o dr. Pedro de Alcântara Carvalho de Oliveira, pode comparecer como um
poderoso contingente de serviços e de alta contribuição financeira para o Estado. A Delegacia Regional de Polícia de Santos reúne e apresenta maior
soma de serviços e de contribuição financeira (em selos do Estado) que todas as outras reunidas.
No entanto, ainda hoje, quando a cidade comemora seu 1º centenário, a Delegacia
Regional de Polícia funciona num velho prédio, num pardieiro que os cupins dia a dia vão devastando e destruindo...
Nesse mesmo casarão de há muitos anos, quando a polícia ainda se
fazia reger pelos métodos bárbaros e abrutalhados de outras eras.
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Viria de longa data encontrar-se o início exato das atividades
policiais santistas. Nos arquivos da Regional ainda se encontram livros rubricados de 1865. Livros de registros de entradas e saídas na cadeia
local. Escravos que fugiam. Escravos que furtavam... Desordens, crimes, roubos... mais ou menos, os mesmos de hoje. Escrituração, meios de
identificação, registros, tudo rudimentar, longe, muito longe do que hoje se faz. É natural. Veio, pouco a pouco, a transmutação. De ano para ano
foi a polícia ficando dotada de outros meios e de recursos, até atingir o que se vê e observa em nossos dias, quando é a polícia aparelhada de todos
os requisitos necessários para a repressão geral ao crime.
Teve a polícia santista fases de extraordinária agitação. Em todos os sentidos. Em 1899, por
exemplo, a nossa cidade se viu a braços com uma epidemia tremenda - a de peste bubônica - quando era delegado o dr. Herculano Chrispim de Carvalho.
Veio para Santos essa autoridade em comissão, substituindo o advogado, dr. José André Sacramento. Foi curta sua passagem pela polícia santista.
Qualquer cidadão que desejasse, porventura, ir até a capital, tinha que passar pelo "Expurgo", na Imigração, fato esse
que sempre dava imenso trabalho à polícia. Mais tarde, substituindo aquela autoridade, veio o major José Evangelista de Almeida Júnior, tendo este
como substituto o sr. Rodolpho de Lassala Freire.
Quando o dr. Rodrigues Alves subiu ao poder, novos surtos foram dados à polícia em
geral e a de Santos também disso se ressentiu. O saudoso dr. Manoel Galeão Carvalhal foi o primeiro ocupante do novo posto policial em seguida
àquela transmutação. Antes, o dr. Carvalhal exercia na comarca o cargo de promotor público.
Durante sua gestão policial houve um fato grave - o destacamento de polícia, então sob
o comando do tenente Lopes, revoltou-se. Intrigas e complicações políticas de então fizeram com que, certa noite, fossem recolhidas todas as praças
que davam serviço na polícia, ao passo que um grupo de soldados saía em busca do delegado, para levá-lo, vivo ou morto, à presença daquele militar.
O sr. Isidoro de Campos, então chefe político, e em cuja casa se
encontrava a autoridade policial, conseguiu comunicar-se com o chefe da esquadra que se achava no porto e, pela madrugada, um contingente de
marinheiros vinha para a cidade para restabelecer a ordem. O governo, por seu lado, sabedor da situação, determinou viesse para Santos uma nova
companhia, sendo os componentes da outra, presos, levados para a capital, inclusive o tenente chefe do motim.
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Dr. Eduardo Tavares Carmo,
1º delegado de Polícia
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Dr. Manoel Ribeiro da Cruz,
2º delegado de Polícia
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Fotos publicadas com a matéria
Além das referidas, passaram pela polícia de Santos as seguintes autoridades, até que
se atingisse o ano de 1930: dr. Paulo Américo Passalacqua, José André Sacramento Macuco, dr. Herculano Chrispim de Carvalho, dr. Álvaro da Motta e
Silva, coronel Benedicto Ernesto Guimarães, dr. Pereira das Neves, dr. Antenor de Campos Moura, coronel Pedro Arbues (delegado militar), Augusto
Filgueiras, dr. Raul Vicente de Azevedo, dr. João Baptista de Sousa.
Como delegado regional, a nossa primeira autoridade foi o dr. Antonio Bias da Costa
Bueno, que esteve durante mais de 10 anos à frente de nossa polícia. Esta foi uma das administrações mais longas. Inúmeras foram as agitações
operárias ocorridas, todas elas provocadas por elementos estranhos ao meio, geralmente pacato e bom.
Foi na gestão do dr. Bias Bueno que se deflagrou a "Grande Guerra"
(N.E.: Primeira Guerra Mundial, 1914-1918). Impossível dizer, num simples relato, o que foi a
administração do dr. Bias Bueno, tendo este que deixar o cargo logo depois de deflagrada a guerra, por motivo de enfermidade, sendo seu substituto o
dr. Manoel Vieira de Campos, que era então o 2º delegado. Nesses dias, graves fatos ocorreram em Santos, até que, para delegado regional de Santos,
foi então nomeado o dr. Ibrahim Nobre, assim o 2º delegado regional de Santos.
Foi a gestão do dr. Ibrahim Nobre caracterizada por um período de trabalho intenso.
Era então subdelegado o major José Baccarat. Sendo o dr. Ibrahim Nobre delegado regional, também teve essa brilhante autoridade que se haver e
precaver com os graves fatos ocorridos na cidade, principalmente no ciclo dos operários, podendo-se destacar a grande greve da
Cia. Docas, que durou mais de três meses. Nesse período policial também ocorreu um dos crimes mais celebres da
cidade, o assassínio de Acelino Dantas, fato que emocionou toda a cidade, cuja população tão bem conhece todos esses detalhes, até o julgamento dos
réus, todos eles condenados.
Em 1922, ano em que se festejou o centenário de nossa emancipação política, o dr.
Ibrahim Nobre deixava o cargo de delegado regional, para o qual então foi nomeado o dr. Armando Ferreira da Rosa, que era, em São Paulo, delegado de
Vigilância e Capturas e que havia, interinamente, com brilho exercido aquele cargo.
O dr. Ferreira da Rosa foi uma autoridade que se impôs à consideração de toda a
cidade, tendo conseguido remodelar o velho casarão da praça dos Andradas, dando-lhe outra feitura e disposição, de resto a
mesma de hoje.
O dr. Ferreira da Rosa, entretanto, deixava a administração policial santista, para ir
ocupar a mais alta administração policial do Estado, pois que fora chamado para ir ocupar o alto cargo de chefe de polícia, cargo em que se manteve
até 1930.
Antes, fora também delegado regional o dr. Coriolano de Araújo Goes, autoridade que se
achava nesse cargo quando explodiu, em S. Paulo, o surto revolucionário de 1924, chefiado pelo general Isidoro.
Mais tarde, deixando esse posto, o dr. Coriolano era chamado para a alta administração
federal, como chefe de polícia do Distrito Federal.
Em seguida, como delegado regional em Santos, tivemos o dr. Aguinaldo Góes, que se
achava à frente desse departamento, quando explodiu a revolução de 30, e, por coincidência, era ele delegado regional em Santos, tendo o irmão como
chefe de polícia do Distrito Federal quando do movimento revolucionário que triunfou em 1930 e que tão fundamentalmente alterou a marcha de todos os
acontecimentos nacionais.
De 1930 a 1939 - Com o advento da revolução de 30, a polícia do Estado, como de
resto, todas as repartições públicas do país, sofreram alteração profunda, tendo a polícia, mais que outra, sentido essas alterações.
Tendo sido o dr. Aguinaldo Góes a última autoridade policial de Santos com o regime da
República Velha, a primeira, com a República Nova, foi o capitão Cyro Nele de Athayde, que ocupou o velho prédio da Praça dos Andradas na mesma
noite de 30 de novembro.
Pouco tempo esteve esse distinto militar à frente da Regional. Pouco depois, para esse
cargo era nomeado o dr. José de Almeida Amazonas, conhecido causídico local.
Em seguida, dois outros militares serviram em Santos, ocupando o cargo de delegado
regional, o tenente Hélio Christovão Pires e o coronel Cícero Costard. Substituindo a este, foi delegado regional o dr. Álvaro Parente, cuja gestão
também foi curta, pois logo ainda um outro militar, o capitão Heitor Bianco Pedroso, veio substituí-lo naquele cargo.
Com a instabilidade natural da situação, uma outra autoridade policial não demorou a
ser nomeada, o dr. Cysalpino de Sousa e Silva, que era delegado em São Paulo. Curtíssima foi sua gestão, e eis que, de novo como delegado regional,
retorna a Santos o capitão Heitor Bianco Pedroso, que foi, por sua vez, em seguida, substituído pelo dr. Augusto Gonzaga, sendo este, por sua vez,
logo substituído pelo dr. João Clímaco Pereira, e este pelo dr. Delduque Garcia. Um outro militar esteve, então, à frente da Regional de Santos, o
tenente Nascimento, cuja atuação, num período agitadíssimo como os fins de 32, foi brilhantíssima, serena e ponderada,
conseguindo evitar graves acontecimentos na cidade.
Quando o tenente Nascimento deixou a Regional, teve como substituto o dr. Vicente
Tramonte Garcia, o qual, pouco depois, deixava o posto, que passou a ser ocupado pelo dr. José Ulysses Luna. Quando esta saudosa autoridade deixou o
cargo, interinamente esteve a ocupá-lo o dr. Eduardo Tavares Carmo, atual 1º delegado.
O dr. Tavares Carmo, tendo que deixar a Regional, voltou para seu cargo efetivo e para
o de regional foi então nomeado o dr. Pedro de Alcântara Carvalho de Oliveira. Em 1935, essa autoridade, coadjuvada pelo dr. Ribeirão Cruz, teve que
se desdobrar com o advento do surto comunista de 1935, prestando ambos reais serviços à causa pública.
Em 1936, deixando o cargo, o dr. Pedro de Alcântara passou, com o
mesmo brilho, a servir a polícia na capital, de onde, entretanto, foi chamado a vir ocupar o cargo de delegado regional, que, efetivamente, era seu.
O dr. Ernesto Jordão de Magalhães, que vinha exercendo o cargo de 1º delegado, quando o dr. Pedro de Alcântara foi removido para a capital, foi
nomeado para o cargo de delegado regional, em que se manteve com elevado critério até que, em maio de 1937, o dr. Pedro de Alcântara voltava a tomar
posse o cargo no qual se encontra, prestando, inquestionavelmente, relevantes e bons serviços à cidade e à polícia, de que é elemento de real
destaque.
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Dr. Mário do Rego Monteiro, delegado
adjunto à Delegacia Regional de Polícia
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Dr. Pedro Alcântara Carvalho de Oliveira, delegado regional de polícia de
Santos
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Fotos publicadas com a matéria
De 30 para cá, não se pode negar haver sido notável o melhoramento atingido pela
polícia local, se bem que alguns de seus departamentos ainda não possam dar o máximo que podem pela falta de pessoal, material e local apropriado.
A Polícia Técnica, à frente da qual se encontra o dr. Brito Alvarenga, o Posto Médico
Legal, dirigido pelo dr. Roberto Catunda, são dois departamentos de nossa polícia que se acham magnificamente instalados e que prestam, ambos,
grandes serviços.
O Serviço de Identificação, dirigido pelo sr. Perillo Prado, que até novembro de 1930
era uma simples dependência da Delegacia Regional, daquela data para cá passou a ser oficial, por força de lei e graças aos esforços então
despendidos pelo coronel Cicero Costard, sendo secretário da Segurança o general Miguel Costa. Outro departamento policial de Santos, que era,
também, uma outra dependência do Serviço de Identificação, era a Seção de Veículos, hoje Seção de Trânsito e que funciona em prédio à parte, à Rua
Senador Feijó n. 55 e dirigido pelo sr. Ormenidio Umbuzeiro.
O movimento de hoje da polícia santista oferece um grande contraste com os de anos
anteriores. É simplesmente espantoso. A 2ª Delegacia, agora dirigida pelo dr. Ribeiro Cruz, e à qual estão entregues os casos de incêndios, roubos,
furtos e acidentes de trânsito em geral, apresentou um relatório que é altamente sugestivo pelos dados e números que apresenta, o mesmo se podendo
dizer dos trabalhos da 1ª Delegacia, que está entregue ao dr. Eduardo Tavares Carmo.
Os trabalhos da Polícia Técnica, os do Posto Médico e os do Serviço de Identificação,
apresentam cifras que dizem, com alta eloqüência, o que, na atualidade, a Delegacia Regional de Polícia de Santos, cuja autoridade tem que,
realmente, desenvolver trabalho notável ante a expansão que dia a dia apresenta o nosso departamento policial, que conta, ainda, com a Inspetoria da
Polícia Marítima, entregue, em boa hora, à competência do sr. Júlio César de Toledo Murat, seu inspetor.
Ainda sob o controle da Regional estão a sub-delegacia do Guarujá, os postos policiais
e da Guarda Civil, a Guarda Noturna, além de todas as demais delegacias policiais da região, desde S. Vicente até Iguape, no litoral Sul, com
Ubatuba, Villa Bella (N.E.: atual Ilhabela) e S. Sebastião, no litoral Norte.
O trabalho da Delegacia Regional é simplesmente vultoso. Uma verdadeira chefatura de
polícia, rendendo a mesma quantia realmente eloqüente, em selos do Estado, e também em selos federais, não havendo mesmo, não no Estado, mas em todo
o País, outra que em sua situação a iguale.
Basta atentar-se para seus relatórios. Ver-se-á, com a exatidão dos números, o que é
esse departamento policial, tão mal instalado ainda hoje, quando se comemora o 1º centenário da cidade de Santos, que cresce, se avantaja e avulta,
assumindo cada vez mais todos os foros e todas as credenciais de uma cidade de surtos extraordinários que, se é hoje grande em todos seus detalhes,
em todos os sintomas de sua vida, será amanhã ainda maior e verdadeiramente gigantesca, por isso que seu departamento policial também lhe acompanha
a marcha miraculosa, avolumando-se de dia para dia seus trabalhos e seu já hoje grande e extraordinário movimento. |