Reprodução parcial da página 11 da obra
Primeira Parte
Se o tempo é o grande fator da destruição
do passado, e a avalanche do que se chama progresso completa a obra destruidora do tempo, uma coisa porém não se destrói: tudo o que fica escrito.
Este é o motivo do presente trabalho, para
que os dois fatores citados não consigam fazer apagar o nobre passado ainda e sempre glorioso desta grande e hospitaleira Santos, para o que ficam
as Reminiscências de Santos.
Nota do Autor.
Santos
1543
Fundação de Santos
Fundada por Braz Cubas, loco-tenente do donatário em 1543 na latitude austral de 23º
36' 15 "e longitude de 331º 39 e 30" da Ilha do Ferro, fica distante da Capital 12 léguas.
Tem duas barras: uma denominada Barra Grande, por onde entram os navios de grande
calado; e outra da Bertioga que dá entrada somente a pequenas embarcações.
Cubatão anexado a Santos
O terreno em que está situado é baixo e úmido. Distante de Santos está a povoação do
Cubatão que lhe foi anexada por lei de 1º de março de 1841, e que comunica-se por terra pela Estrada de Ferro, e por mar pelo rio do mesmo
nome, que traz às suas origens da face marítima da Serra Paranapiacaba.
Rios de Santos
O Rio das Pedras de Cima, que corre através da serra, e por esta se despenha, formando
várias catadupas, é o tributário mais setentrional; a sua direção mais geral, depois que desembaraça da serra, é de Oeste a Leste, e lança-se na
extremidade Norte do lagamar de Santos, por quatro bocas com o nome de Furados.
O Rio Cubatão é navegável para embarcações de cinco a seis palmos, e mais na preamar,
desde sua embocadura até a confluência do Rio das Pedras, meia légua acima da povoação.
Navegação pelos rios
Existe também o Furado do Saboó, que é um pequeno esteiro que comunica os municípios
da Conceição de Itanhaém e São Vicente com o de Santos, e por ele são transportados os produtos agrícolas daquele município para o mercado de
Santos. A sua navegação é feita por canoas pequenas e restritamente às horas de preamar.
Edifícios que existiram em Santos
A população de Santos até 1870 era calculada em 10.527 pessoas; tinha a cidade trinta
ruas e possuía os edifícios seguintes:
Cadeia - até 1870 - No lugar onde hoje é a Praça da República.
Quartel - até 1870 - No lugar onde hoje é a Praça Telles.
Arsenal - No lugar onde hoje é a Praça Barão do Rio Branco.
Alfândega - até 1650 - No lugar onde hoje está a Recebedoria de Rendas do
Estado, um edifício que foi Colégio de São Miguel dos Padres da Companhia de Jesus.
Colégio de São Miguel - Fundado em 1550 - No lugar onde hoje está a Recebedoria
de Rendas do Estado, servindo de Alfândega durante muito tempo até a construção da Alfândega Velha, agora em demolição.
Santos elevado de categoria de vila a cidade
Nenhum historiador conseguiu precisar a data em que foi elevada à categoria de vila,
porém, pelo que consta de duas escrituras pelo tabelião Pedro Fernandes e assinado por Braz Cubas, se deduz que foi entre 14 de agosto de 1546 e 3
de janeiro de 1547, sendo elevada à categoria de cidade em 1836 (N.E.: a lei é na verdade de
1839) por lei provincial daquele ano, sendo presidente o dr. Venâncio José Lisboa.
Lei, elevando Santos à categoria de cidade 1836
(N.E.: correto é 1839)
Diz a lei:
"Fica elevada à categoria de cidade de Santos a vila do mesmo nome, pátria do
conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva".
Era Santos o principal porto da província, por onde se exportava a maior parte dos
seus produtos, e que caminhava a rápidos progressos, cujo futuro era já prometedor, pelo seu desenvolvimento e prosperidade.
Foi na cidade de Santos que nasceram alguns brasileiros ilustres nas letras, como
sejam: Alexandre Bartholomeu de Gusmão, os três irmãos Andradas, o visconde de São Leopoldo e outros tantos.
Nas suas praias aportou o primeiro colono português que veio plantar as quinas no solo
virgem da América.
Foi Martim Afonso de Souza o primeiro donatário da Capitania da Província.
Igrejas e capelas
Possuía a cidade de Santos as seguintes igrejas:
Matriz - Nossa Senhora do Rosário Aparecida (Padroeira)
Rosário - Com a mesma invocação, e que ainda existe, reformada quase
completamente.
Jesus Maria José - Sagrada família como o nome indica.
Capelas
N. S. Monte Serrat.
Ordem Terceira do Carmo que ainda é a mesma.
São Francisco de Paula - da Santa Casa
São Francisco das Chagas com claustro e noviciado da Ordem Terceira da Penitência que ainda
existe.
Da Graça.
Conventos de Santos - Conventos
Santo Antonio que hoje existe somente a igreja, pois o velho convento foi demolido em 1860.
N. S. do Carmo, e de S. Bento.
Fora da cidade as capelas de: Santo Amaro da Fortaleza da Barra; São João Baptista, na Bertioga; N.
S. das Neves, no sítio das Neves, antigo vínculo da família Cardozo de Menezes.
Sobre os conventos, igrejas e capelas, adiante em resumo, procurei historiá-los em base nos dados
que consegui, alguns documentados e outro em uma publicação anônima em 1870, e também baseado na tradição, sendo que com referência ao Convento de
Santo Antonio e Ordem Terceira da Penitência, serei mais prolixo em virtude de ter em mão o velho arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência,
reorganizado com muito trabalho em 1926.
Demarcação de limites de Santos 1868
Demarcação de limites da cidade de Santos, em 6 de julho de 1868. Decreto n. 4126 de 28 de março de
1868. Art. 2º, § 2º.
Do riacho do Caldeireiro, conhecido pelo dos Soldados, à ponta do morro da Penha, fraldeando o
morro de uma extremidade à outra até o mar, ficando compreendido o Mosteiro de São Bento, Santa Casa de Misericórdia, chácara de d. Angelina Martins
Rodrigues e estabelecimento de curtume de Henrique Porchat.
Foram demarcadores o tenente-coronel Candido Annunciado Dias e Albuquerque, major Francisco Martins
dos Santos e capitão Antonio Martins Fontes, servindo este último de escrivão.
Pontes e trapiches
Pontes ou trapiches - até 1870
Rua da Alfândega - Herança Ignacio Antonio Lisbôa.
Beco do Arsenal - Antonio Tiburcio Rodrigues.
Onze de Junho - João Antonio Fernandes Gabizo.
Praia - Alexandre Geremias da Silva.
Consulado - Mesa Provincial - isenta.
Capela - C. Budick & C.
Sal - Souza Queiroz & Vergueiro.
Estrada de Ferro - (inter-muros) Cia. Estrada de Ferro de Santos.
Banca - Lebre & Irmão e Fidellis - Nepomuceno Prates.
Eram estes os pontões que serviam até o ano de 1870 para o embarque e desembarque de mercadorias em
toda a extensão da praia. Muitos desses trapiches ainda existiam até ao início das obras do porto levadas a efeito pela Companhia Docas de Santos.
Homens ilustres filhos de Santos
Tendo em mira sempre assunto exclusivamente local, direi em rápidas linhas algumas palavras sobre
alguns homens ilustres filhos de Santos, para depois externar-me mais quando me referir às suas igrejas e capelas e conventos da antiguidade.
Registro aqui apenas algumas datas sobre seus filhos ilustres, pois as biografias de cada um deles
certamente já existirão e seria supérfluo reproduzi-las aqui.
José Bonifácio de Andrada e Silva -
Nasceu em Santos em 13 de junho de 1763. Por engano, alguns biógrafos dão o seu nascimento em 13 de junho de 1765, porém a isto se opõe a certidão
de batismo que atesta a veracidade da primeira data:
"No ato do batismo celebrado em 18 de junho de 1763, pelo vigário Domingos Moreira da Silva,
recebeu o nome de José Antonio, porém mais tarde substituiu por Bonifácio."
Faleceu em São Domingos no Rio de Janeiro, aos 6 de abril de 1838, e sendo seu corpo embalsamado,
por disposição testamentária, foi transportado para o Convento do Carmo em Santos, sua terra natal onde descansa.
Martim Francisco Ribeiro de Andrada - Nasceu em Santos em 1775, sendo batizado em 27 de
junho do dito ano. Faleceu em Santos, em 25 de fevereiro de 1844.
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva - Nasceu em Santos em 1º de novembro de
1773, e faleceu em 5 de dezembro de 1845.
José Feliciano Fernandes Pinheiro (visconde de São Leopoldo) - Nasceu em Santos a 9 de maio
de 1774, e faleceu em 6 de julho de 1847, na cidade de Porto Alegre.
Padre Bartholomeu Lourenço de Gusmão (o voador) - Natural de Santos, faleceu em 19 de
novembro de 1724, na sua Casa de Misericórdia de Toledo - Espanha. Foi o primeiro inventor dos balões aerostáticos, e obtendo o privilégio por
alvará de 19 de abril de 1709, fez a primeira experiência de sua máquina em Lisboa aos 8 de agosto do mesmo ano, em presença de el-rei e fidalgos no
pátio da Casa da Índia.
O maior diplomata do tempo
Alexandre de Gusmão - Nasceu em Santos em 1695, irmão mais moço do padre Bartholomeu
Lourenço de Gusmão, cursou com ele as aulas dos jesuítas que passavam pelas mais bem regidas e severas da Colônia, estabelecidas no edifício que
possuía em Santos a companhia, o qual - depois da expulsão dos filhos de Santo Ignacio em 1640 - serviu de hospital do exército e onde foi a
Alfândega, situado no lugar onde hoje está edificada a Recebedoria de Rendas do Estado.
Não obstante os grandes serviços que prestou em Roma por espaço de 7 anos na diplomacia, conseguiu
o desideratum de el-rei d. João V, contudo este rei soberano não consentiu que ele aceitasse a dignidade de Príncipe Romano que lhe ofereceu
o papa Benedicto XIII, e não obstante continuou a servi-lo com o mesmo zelo e dedicação.
Foi Alexandre de Gusmão quem lembrou el-rei a criação dos bispados de São Paulo, Pará e Minas.
Em 1750, depois da morte de d. João V, em que decaiu da graça do novo rei José 1º, vivera
tristemente. Casou com uma donzela de Trás-os-Montes e teve dois filhos, que os perdeu em um incêndio que lhe levou em 1751 a casa e os bens que
possuía, embora poucos.
Não sobreviveu muito a estas domésticas dores, ainda que exteriormente parecesse resisti-las,
falecendo no dia 31 de dezembro de 1773, em Lisboa, e foi sepultado na igreja dos Remédios dos Carmelitas Descalços.
Igreja Matriz
Igreja Matriz - 1543
Até o ano de 1909, quando foi demolida a velha igreja, passaram-se 366 anos. No início de 1543 era
São Vicente cabeça da Capitania; eram poucos os moradores de Santos, então freguesia de S. Vicente, e coincidindo a freqüentar este porto e tendo já
povo bastante, concedeu-lhe Sua Majestade faculdade para se fazer uma igreja com o título de Misericórdia, na qual assistia um capelão sujeito ao
vigário de São Vicente, de licença do qual batizava e administrava os Santíssimos Sacramentos, e era o dito capelão Senhor da Capela maior e nela
governada pelos Irmãos da Misericórdia.
Tendo dúvidas com ele os ditos Irmãos da Misericórdia sobre a igreja, recorreram a Sua Majestade,
que resolveu que a dita igreja servisse de matriz e que os Irmãos da Misericórdia alargassem e fizessem outra Igreja da Misericórdia, que com efeito
assim o executaram e fizeram a Igreja da Misericórdia, trazendo para ela os ornamentos e alfaias que lhes pertenciam, e que mandaram fazer outra
igreja e assim ficaram divididas uma da outra. Este foi o princípio que tiveram a igreja Matriz e os Irmãos da Misericórdia.
Altares e Irmandades na Matriz
Tinha a Igreja Matriz sete altares, a saber:
Altar Maior - Invocação de N. S. do Rosário dos brancos.
Altar de S. Miguel - Do lado do Evangelho, sendo também das Almas.
Confrarias e Irmandades
São Miguel, Almas, com compromisso com a obrigação de dizerem dez missas a cada dos irmãos
que faleciam.
N. S. da Piedade - Do lado da Epístola, sem compromisso, e era composta de militares da
Praça, com a obrigação de se dizerem cinco missas pela alma de cada irmão falecido, e além desta obrigação também tinha obrigação de dizer uma missa
todas as sextas-feiras pelos irmãos vivos e defuntos, assim também o Altar das Almas acima referido, ou, para melhor dizer: a dita irmandade no
Altar das Almas tinha a obrigação de mandar dizer todas as segundas-feiras com procissão pelo adro da igreja, pelas Almas.
Existia ainda, além destes altares laterais, no corpo da Igreja, na parte do Evangelho, a capela do
S.S. Sacramento - Altar onde estava o sacrário da dita igreja. Tinha Confraria com compromisso com a obrigação de mandar dizer quarenta
missas a cada irmão que falecia, e além desta obrigação, tinha mais uma missa semanal que se dizia na capela dos irmãos vivos e defuntos, todas as
quintas-feiras.
Em frente à referida capela, na parte da Epístola, estava o altar da irmandade de N. S. do
Rosário dos Pretos e no retábulo do dito altar também estava a Senhora do Terço. Tinha irmandade dos pretos, sem compromisso; serviam a
uma e outra Senhora, com a obrigação de mandarem dizer todos os domingos uma missa pelos irmãos vivos e defuntos da mesma irmandade.
Abaixo da parte do Evangelho, estava a capela de N. S. do Amparo, havendo também a Irmandade dos
homens pardos, sem compromisso com a obrigação de mandarem dizer uma missa semanal todos os sábados, o que se suspendeu por causa de se dever ter o
rendimento da irmandade para criação da capela defronte do qual estava o altar de N. S. das Mercês com agregação da dita Irmandade dos homens
pardos, os quais tratavam e paramentavam um e outro altar.
Capelas filiais da Matriz
Possuía esta Igreja Matriz pia batismal e em toda a freguesia cinco capelas filiais a saber:
S. João da Bertioga - N. S. da Apresentação.
N. S. das Neves - Em Corumaí, no sítio das Neves, pertencente à família Cardozo de Menezes.
São Sebastião - No sítio de João Baptista Saes, junto à Barra Grande.
Santo Amaro - Dentro da Fortaleza da Barra Grande.
Oratórios filiados à Matriz
Possuía também dois Oratórios no distrito da freguesia e um no sítio de Martinho de Oliveira com a
invocação de Santa Rita e Santa Quitéria, e outro no sítio de Francisco Vicente Ferreira, junto ao Rio Jurubatuba com a invocação de São José.
Tudo o que acima fica descrito consta do Livro da Paróquia, tomo 1º, aberto em 17 de novembro de
1746 pelo vigário da vara Francisco de Oliveira Leitão.
Bênção do adro da Matriz - 1754
No mesmo livro N. 1 da Paróquia, consta mais a bênção do adro da Igreja Matriz, conforme se lê o
seguinte:
"Bênção do adro
da Igreja Matriz,
em 1º de Junho
de 1754, sendo
vigário Faustino
Xavier do Prado.
"Ao primeiro dia do mês de junho de mil setecentos e cinqüenta e quatro anos, com faculdade do
exmo. revdmo. sr. bispo diocesano benzi na forma que manda o Ritual Romano o adro desta Igreja Matriz de todos os Santos e lhe fiz assentar marcos
de pedra para sua divisa por não haver notícias de estar bento, antes entendesse que provavelmente estará; e assim, para todo o tempo constar da
presente bênção, faço esta clareza por ordem do mesmo exmo. revdmo. senhor bispo, de minha letra e sinal. Santos, 1º de junho de 1754. O
vigário Faustino Xavier do Prado".
Para melhor esclarecimento sobre a fundação da Igreja Matriz, vejamos o documento mais antigo, o
testamento de Pedro Cubas feito em Santos aos 17 de setembro de 1628, consta ter sido a primeira Casa de Misericórdia desta cidade a Matriz onde se
enterrou Braz Cubas, tendo a sua sepultura o seguinte epitáfio:
"S. de Braz Cubas, cavaleiro Fidalgo da Casa d"El Rei fundou esta vila, sendo Capitão, e Casa de
Misericórdia no ano de 1543, descobriu ouro e metais em 60, fez Fortaleza por mandado de El Rei D. João III. Faleceu no ano de 1592".
A maior parte das Irmandades de Santos apareceram depois de 1700
Com estes dados aliás suficientes fica terminado o histórico da velha matriz que desapareceu em
1909, e por esse resumo se vê a origem que tiveram muitas irmandades, confrarias, assim como a origem da Santa Casa de Misericórdia de Santos.
Convém notar, como adiante se verá, que nem todas as irmandades mencionadas tiveram fundação nos
primeiros tempos da Matriz. Não. A maior parte delas apareceram depois do ano de 1700 na mesma Igreja, como consta do Livro da Paróquia, que foi
aberto em 17 de novembro de 1746. A Matriz foi a terceira edificada no lugar. Vide história da Santa Casa.
Capela do Monte Serrat - 1602
N. S. do Monte Serrat - 1602
Passamos agora a descrever a Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat.
Pequena capela ereta na colina do mesmo morro, sobranceiro à cidade, sujeita ao Mosteiro de São
Bento, e restaurada alguns anos após a sua edificação pela devoção dos fiéis e por intermédio do então presidente do mosteiro, frei Francisco das
Dores Maia. Diz uma publicação antiquíssima:
"A capela de N. S. do Monte Serrate, sita à frente desta vila (Santos ainda era vila), no Outeiro
da Vigia que mandou tombar o exmo. e revdmo. d. Bernardo Rodrigues Nogueira, primeiro bispo de São Paulo".
Ainda com referência à mesma capela, vejamos, com documentos antigos, a forma como ela passou para
o domínio dos monges de São Bento, pois antes era anexada à velha matriz de que já nos referimos.
D. Francisco de Souza, 7º Governador Geral do Brasil, mandou construir a capela do Monte Serrat,
1602
Antes porém, é bom que se diga que essa velha capela foi edificada no ano de 1602, conforme se lê
em História Seiscentista de São Paulo, de Affonso Taunay, tomo 1º, pág. 3. Esta dedução é cabível, porque d. Francisco de Souza foi o 7º
Governador Geral do Brasil e foi este quem mandou construir essa capela. Governou desde 1591 até 1602, tanto que em 9 de agosto a 1603 chegava esse
Governador do interior com sua gente e acompanhou os mineiros ao Monte Serrat, para mostrar sua última obra, conforme mesma História Seiscentista,
de Taunnay, tomo 1º, pág. 7.
D. Fernando de Souza, em 16 de maio de 1605, partiu do Brasil, retornando à Europa por Ordem Régia
transmitida por intermédio de Diogo Botelho, seu sucessor no Governo, conforme obra citada, pág. 7. Regressou novamente em 1607 e faleceu em 10 de
junho de 1611.
Frei Bernardo de Braga pede ao governador a capela para jurisdição dos
Beneditinos - 1652
Em 1652 o padre provincial de São Bento, frei Bernardo de Braga, endereçou ao governador a petição
seguinte:
"Ilmo. sr. Diz o padre provincial de São Bento, frei Bernardo de Braga, que d. Francisco de Souza
sendo governador deste Estado introduziu nele a devoção de Nossa Senhora do Monte Serrat na Bahia, em Tapagipe, fazendo uma capela que entregou ao
provincial de São Bento para administrar como hoje administra nesta cidade do Rio, sendo a invocação do Mosteiro Nossa Senhora da Conceição, o dito
senhor fez com que o abade e religiosos a trocassem Nossa Senhora do Monte Serrat, cuja imagem o dito governador deu e na capela, (digo) na Vila de
São Paulo fez uma ermida com a invocação da mesma Senhora, foi quem fez a ermida e pôs a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat na Vila de Santos,
e dava aos Provinciais de São Bento se na dita vila assistissem, e porque agora tem a Ordem casa na Vila de Santos, e podem servir à dita Senhora,
pede a Vossa Senhoria Ilustríssima lhe faça a mercê como a servir e administrar a capela de Nossa Senhora do Monte Serrat pertencente à Religião do
Patriarca São Bento, e assim lhe mande entregar a administração da dita capela, visto ser feita pelo governador do Estado, que lhe oferecia, e
estar-se arruinando e para cair; e não tendo o revdmo. padre vigário de Santos algum embargo à dita entrega, ele suplicante a tome a dita capela e
imagem e receberá mercê".
DESPACHO
"Em todas as partes as Igrejas de N. S. do Monte Serrat são administradas pelos religiosos de S.
Bento, e visto essa Ermida de que faz menção não ter padroeira, mando que seja administrada pelos monges de S. Bento não tendo o vigário de Santos a
isso embargos. Rio de Janeiro, quinze de abril de mil seiscentos e cinqüenta e dois".
Beneditinos tomam posse da capela
A POSSE - 1655
"A 27 de abril de 1655 o reverendo padre vigário ouvidor da Vara Eclesiástica, Fernão Rodrigues
Cardova, vigário da Matriz de Santos, deu posse a frei Bernardo de Braga, da Ermida de Nossa Senhora do Monte Serrat, sendo frei Bernardo provincial
da Ordem do Patriarca São Bento, e dita ermida situada no Outeiro da Vigia da Vila de Santos, desanexando-a da Matriz e unindo-a ao Mosteiro de S.
Bento sob a invocação de Nossa Senhora do Desterro. Foram testemunhas frei Bento da Victoria, Braz Lopes, frei Agostinho de Jesus, Antonio
Gonçalves, e era escrivão do Juízo Eclesiástico Amaro Rodrigues Sepúlveda, por quem se acha lavrado o auto de posse. As chaves da dita ermida foram
entregues em seguida pelo dito provincial a Antonio Gonçalves, que ficou sendo Ermitão da Ermida".
Capela do Desterro e Mosteiro de S. Bento - 1650-1755
MOSTEIRO DE S. BENTO - 1650
O lugar onde está fundado este Mosteiro foi-lhe doado em escritura pública no ano de 1650 por
Bartholomeu Fernandes Mourão, sua mulher Izabel Barbosa, seu filho Antonio Fernandes Mourão e sua mulher Maria Rabello.
Antes do atual mosteiro, foi edificada no lugar uma capela de Nossa Senhora do Desterro, depois
demolida para a edificação do mosteiro em 1755.
Nesta capela foi abrigado o padre pregador frei Manoel de Santa Maria, custódio da Província
Franciscana em Portugal, que veio fundar a Província Franciscana no Sul do Brasil, que adiante se vai ler quando descrever a história do Convento de
Santo Antonio. Esta capela já existia em 1639, muito antes da data da doação aos monges beneditinos, como se deduz da fundação do Convento de Santo
Antonio em 1639-1640, data essa que frei Manoel de Santa Maria estava hospedado na capela do Desterro. Parece no entanto que os monges beneditinos
já residiam nessa capela, porém não se pode afirmar com segurança pelo fato desse lugar ter sido doado somente em 1650.
Túmulo de frei Gaspar da Madre de Deus
O atual Mosteiro de São Bento consta ter sido edificado no ano de 1755, sendo ainda hoje o mesmo
desde a sua edificação; no entanto, frei Gaspar da Madre de Deus, em sua História da Capitania de São Vicente, na parte final quando conta a
entrada das religiões no Brasil e suas fundações, na página 372 deu a data de 1650, para o mosteiro de Santos, logo os monges residiam de fato na
capela do Desterro, antes da edificação do atual mosteiro. Neste mesmo mosteiro está sepultado o referido frei Gaspar da Madre de Deus, o nosso
melhor historiador que, sem favor, efetivamente foi.
JESUS-MARIA-JOSÉ
A capela de Jesus-Maria-José estava localizada em frente ao então chamado Porto do Bispo, antiga
Rua da Praia, correspondente hoje em frente aos armazéns ns. 2 e 3 da Docas.
Já existia desde os primeiros tempos da fundação de Santos, como vêem na história da Velha Matriz
que se refere à mesma capela ou igreja. Era sua proprietária d. Anna Zeferina Vaz Carvalhaes.
Faltam documentos para se fixar a data da fundação da igreja Jesus-Maria-José
Pelas raras fotografias que ainda existem quando essa capela já estava em ruínas, pode se conhecer
que teve seu tempo de grande devoção a Sagrada Família, onde certamente era muito concorrida pelos antepassados.
Santos também nesse tempo se resumia em uma pequena área, de modos que essa capela estava situada
quase no centro da então vila, como quase todas as igrejas e conventos, alguns ainda existentes.
A COMPANHIA DE JESUS - 1550
Foi incontestavelmente esta Ordem que mais trabalhou no Brasil para a formação da nossa
nacionalidade.
Com isto estão acordes todos os historiadores; no entanto, por diversos fatos ocorridos na vida
desses bons filhos de Santo Ignacio de Loyola, torna-se algo difícil dados seguros sobre datas, principalmente, de diversos fatos da sua história no
Brasil, com o desaparecimento de antigos documentos.
Quero referir-me apenas na parte local, pois não é outro o fito deste trabalho, isto e, no que se
refere a Santos exclusivamente.
Primeiramente ouçamos o abalizado historiador frei Gaspar da Madre de Deus nas Notas dos annos
em que se descobriu o Brasil, página 367:
"que os primeiros jesuítas partiram de Lisboa em 10 de fevereiro de 1549! chegando à Bahia em fins
de março ou princípio de abril do mesmo ano, com Thomé de Souza, que ao todo eram seis governava-os o padre Manoel da Nóbrega!"...
e mais adiante segue-se:
... "Até o ano de 1543! estavam sujeitos à Província de Portugal e Nóbrega os governava subordinado
com o título de Vice Provincial, etc...."
Aqui nota-se uma confusão de datas; como em 1549 chegando à Bahia e em 1543, por conseguinte muito
antes, eram governados por Nóbrega como Vice Provincial? e sujeitos à Província de Portugal? Forçosamente trata-se de engano de revisão e não podia
ter sido outro o motivo. Diz mais, na obra citada, página 367, que
"... em 1553 Santo Ignacio criou nova Província independente no Brasil".
Tendo sido o Colégio de S. Vicente o segundo fundado no Brasil em 1549, aqui nota-se outra
confusão, foi segundo o mesmo autor em 1549 chegaram à Bahia e logo diz que o Colégio de S. Vicente foi fundado nessa data. Em seguida diz:
"Depois de fundada a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, e nela um colégio em 1567,
extinguiu-o o padre Ignacio de Azevedo, visitador geral dos Jesuítas, o Colégio de S. Vicente, e por ser eternamente pobre, e as Religiões nelas
existentes, mandou-os para o Rio de Janeiro, conservando porém uma casa que sua Religião tinha na Vila de Santos o qual ao depois foi Colégio de São
Miguel..."
Logo se pode concluir que o Colégio de São Miguel em Santos foi construído em 1550, por ter sido o
de São Vicente edificado em 1549 e segundo no Brasil, pois quando foi extinto o de São Vicente já existia a casa de Santos!
COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
Este colégio de que nos ocupamos na história da Companhia de Jesus esteve no lugar onde hoje está
edificada a Recebedoria de Rendas do Estado.
Expulsão dos filhos de Santo Ignacio - 1640
Os jesuítas residiam nele até o ano de 1640 e, pelo que se lê nas Noticias dos annos em que se
descobriu o Brasil (pág. 369), frei Gaspar da Madre de Deus, como segue:
"Pelos anos de 1 611 excitaram-se grandes contendas entre os jesuítas e portugueses moradores nesta
Capitania, e as discórdias originadas da liberdade dos índios que os padres defendiam, talvez com zelo excessivo, vieram produzir o seguinte
atentado:
"Todas as vilas e suas Câmaras constituíram procuradores, que assistissem a um congresso celebrado
na capital de S. Vicente, onde resolveram expulsar os padres de toda a Capitania".
A cidade de S. Paulo executou esse acordo em 13 de junho de 1640, tendo feito o mesmo a de Santos.
Foram-se os jesuítas, tendo demorado 13 anos o extermínio.
Depois destes acontecimentos, Sua Majestade o Rei em 1643 e 1647 ordenou que voltassem para seus
colégios, que foram a eles restituídos em 1653, mas não ficaram novamente em suas casas.
No Colégio de São Miguel em Santos estudou o grande diplomata Alexandre de Gusmão, irmão do padre
Bartholomeu Lourenço de Gusmão. Esta é a história dos jesuítas em Santos, onde tantos bons serviços prestaram a esta cidade, preparando seus filhos
ilustres que foram dignos da grande Pátria, o nosso Brasil.
A seguir passo a referir-me aos Carmelitas em Santos, desde a sua origem na capela de Nossa Senhora
da Graça, que tem sua história ligada aos frades de Nossa Senhora do Carmo.
Os Carmelitas em Santos - 1589
Os Carmelitas - Capela de N. S. da Graça (lugar onde hoje é Rua José Ricardo, esquina da Rua
do Comércio).
Os Carmelitas em Santos datam do ano de 1589, e foi nesta capela a primeira residência dos frades
de N. S. do Carmo. Vejamos o documento histórico:
Tendo José Adorno e sua mulher Catharina Monteiro feito doação desta capela aos religiosos do Carmo
em 24 de abril de 1589, com a pensão de quatro missas rezadas nas festas do Nascimento, Purificação, Anunciação e Assunção, e uma cantada com suas
vésperas no dia do Orago na Igreja, tomou posse dela o revmo. frei Pedro Vianna em 1º de setembro do mesmo ano, em presença do administrador
Bartholomeu Simões Pereira, estando presente Braz Cubas.
Capela da Graça - 1562
A respeito da fundação desta capela, encontrei uma publicação do ano de 1870, que diz ter sido a
mesma fundada em 1562, sendo vigário comissário o mesmo frei Pedro da Ordem 3ª de N. S. do Carmo, e havendo desaparecido o primeiro traslado de
doação, entregue àquele comissário, o revdmo. frei Valentim Borges, prestante à mesma Ordem, requereu segundo, que se lhe deu por terem os ingleses
quando deram saque a esta vila roubando o primeiro, sendo o novo traslado de doação confirmado por José Adorno na escritura de 7 de junho de 1603,
quando vigário geral da Capitania desta cidade, então vila, Jorge Rodrigues.
Já estavam escritas estas linhas quando um amigo o sr. Affonso Mattos me ofertou um Discurso
de frei Maurício Lans, proferido na Igreja do Carmo atual, pela ocasião da inauguração das reformas introduzidas na mesma em 31 de março de
1925, onde deparei à página 5, em que diz que frei Pedro Vianna aportou a Santos em 1589; até aqui confere. Logo o documento em que me baseio dá a
fundação da capela em 1562, "sendo vigário comissário o mesmo frei Pedro", vejamos que há uma pequena discordância, mas pode-se mesmo supor que
houvesse duas pessoas com o mesmo nome, ou então engano de uma das partes ou mesmo erro de revisão, o que é mais provável.
Ataque de ingleses em S. Vicente e na mesma data em Santos - 1592
Frei Gaspar da Madre de Deus, nas suas Memórias para a História da Capitania de São Vicente,
fala na página 202 em um ataque de ingleses piratas em 1592 na cidade então cabeça da Capitania - São Vicente. É de supor-se que tivesse sido nessa
mesma ocasião o ataque feito a Santos, quando roubaram o documento original, de doação da capela de N. S. da Graça!
Um outro ponto que precisa ficar bem claro é o seguinte:
Já vimos como foi feita a doação da capela da Graça, agora vejamos no Discurso de frei
Maurício Lans, já citado, e na página 5 aparece Braz Cubas fazendo doação dos chãos em que se achava a capela da Graça, os quais constavam de
44 x 107 braças etc.
Parece então que houve doação de coisa já doada? Pensamos que não. O que decerto houve foi doação
de terrenos junto à capela para os frades construírem seu convento, visto a dita capela ser pequena para a sua residência.
Quanto à outra parte, onde eu disse que frei Valentim Borges requereu segundo traslado de doação,
parece que devia ser ao mesmo concedido, no entanto frei Maurício Lans, obra citada, diz - página 5 - que essa confirmação foi feita a frei Antonio
Carrasco, o que de fato confere, pois, pelo fato de um requerer, não quer dizer que, por motivos desconhecidos, não fosse feita a outro da mesma
Ordem do Carmo.
O atual convento do Carmo cujo terreno custou 62$400 em 1602
CARMO DE SANTOS
Estamos frente a frente com um edifício, aliás bem mais novo que a capela da Graça; no entanto, não
consegui um documento que declarasse exatamente a época certa da sua construção.
Recorri ao Discurso já citado de frei Maurício, mas mesmo assim não encontrei uma solução.
Diz ele na página 6: "...O convento tinha em 1602 uma extensão de 54 braças que custaram à Ordem a quantia de Rs. 62$400, pelo espaço de 10 anos os
frades ficaram residindo na capela da Graça, mas desejando dar maior expansão à sua fundação compraram em 2 de dezembro de 1599 o terreno em que
está o convento atual".
Como vemos, não há referências certas sobre sua edificação. Se eles saíram da capela da Graça em
15998, para onde foram? pois em 1602 é que as 54 braças custaram à Ordem 62$400 e, certamente nessa época, não podia estar concluído o convento;
além do mais, o atual convento tem na frente, em cima da porta da igreja, a data 1754!
Não receio em concluir que essa última data se refere à conclusão do convento ou alguma grande
reforma então feita nessa época.
ORDEM TERCEIRA DE N. S. DO CARMO
Com referência à história da Venerável Ordem não falam os documentos antigos, porém procurarei
adiantar um tanto na medida de meus recursos em dizer que ela é bem antiga em Santos.
Já no histórico da capela da Graça aparece frei Pedro Vianna como comissário da Ordem Terceira,
porém a dúvida continua, por ser sabido que a dita capela era de proporções acanhadas para a residência dos frades, como poderia abrigar uma Ordem
Terceira, mormente logo no começo da vida dos frades em Santos? Isto já em 1º de junho de 1589, apenas um mês e pouco depois da doação, pois,
achamos que esta data não pode prevalecer.
Fundação da Igreja da Ordem 3ª do Carmo - 1752
Em um compromisso da Ordem Terceira de 1911 tem um termo sobre o lançamento da pedra fundamental da
sua igreja e diz o seguinte:
"A 4 de setembro de 1752, dia de Santa Rosa de Viterbo, lançou-se a pedra fundamental da capela da
Ordem Terceira do Carmo, com a epígrafe: Ad Majorem Dei Gloriam no ano 2º Pontificado de Benedicto XIV, levando a pedra o prior da Ordem do
Carmo, Miguel das Águias Cordeiro, e o irmão desta Ordem, Manoel Jorge, e o ministro da Ordem de S. Francisco da Penitência, João José da Silva, e o
irmão da mesma Ordem, Sebastião de Alvarenga".
Bênção da Igreja da Ordem Terceira do Carmo - 1760
No mesmo compromisso tem um termo de bênção da capela em 8 de abril de 1760, pelo visitador frei
Bento de Sant'Anna, sendo prior da Ordem Antonio José de Carvalho etc.
Agora, mediante ao que me referi sobre a Ordem Terceira do Carmo, posso garantir que ela é muito
mais antiga do que a data da fundação da sua capela. Isto porque:
A Ordem Terceira do Carmo já existia antes de 1700
No velho arquivo da Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência consta o registro de uma
precatória que esta Ordem enviou àquela no ano de 1709; por conseguinte, pode se tirar a conclusão de que a Ordem Terceira do Carmo já existia antes
do ano de 1700.
É tudo o que consegui encontrar com referência a essa Venerável Ordem.
Irmandade mais antiga do Brasil - 1543
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
Fundação da Irmandade - A Irmandade da
Santa Casa de Misericórdia de Santos, a primeira fundada no Brasil, e de toda a América do Sul, foi fundada por Braz Cubas no ano 1543 e confirmada
em Almerim por d. João III aos 2 de abril de 1551, concedendo-lhe todos os privilégios dados por seu augusto pai el-rei d. Manoel às Misericórdias
do Reino de Portugal.
Primeiro hospital - 1543
O mesmo Braz Cubas, com o adjutório dos confrades e habitantes do lugar, edificaram uma igreja com
o título de N. S. da Misericórdia e junto a ela um hospital com a denominação de "Santos", imitação de outros que em Lisboa tinham o mesmo nome.
Este nome, que somente era próprio do hospital, se comunicou logo à povoação principalmente, a chamar-lhe "Porto de Santos", como se pode verificar
nos documentos antigos. Isto se lê sobre sua fundação, Relatório do Provedor da Irmandade o sr. c. Cláudio Luiz da Costa em 22 de junho de 1857.
A paróquia de Santos fica independente da de São Vicente
Frei Gaspar, nas suas Memórias para a História da Capitania de São Vicente, na página 210,
diz o seguinte:
"...Também se compreendia que na freguesia de São Vicente, a cuja paróquia nesse tempo estavam
sujeitos todos os fiéis desta Capitania; porém da sua jurisdição se eximiram os santistas primeiro do que os outros, alcançando que a freguesia se
dividisse em duas, e para isso consentiram os irmãos da Misericórdia que na sua igreja se exercitassem as funções paroquiais, enquanto se não
edificasse novo templo para a Matriz, permissão de que muito se arrependeram pelo tempo adiante, porque nunca se fez outra igreja, não obstante
ordenar el-rei, a requerimento dos irmãos, que os vigários desocupassem a Misericórdia, e se construísse igreja paroquial. O êxito desta contenda
foi levantarem os irmãos da Misericórdia outra de novo no lugar onde hoje existe a Misericórdia e ficar a Matriz a que eles haviam feito, a qual não
durou muito tempo, e a Matriz agora existente é a terceira; porém ambas as subseqüentes foram edificadas no próprio lugar da Misericórdia antiga.
Segunda igreja no mesmo lugar, depois a terceira que foi demolida em 1909
De ter sido a Matriz a terceira igreja feita no lugar, há menção no Cartório da Fazenda Real de São
Paulo, Registro de Sesmarias n►7 1, livro n. 1, título 1555, folhas 90.
De maneiras que a primitiva matriz foi construída pelos irmãos da Misericórdia, e fazendo segunda
igreja com seu hospital anexo.
OUTEIRO DE SANTA CATARINA
Este outeiro foi no lugar onde hoje faz esquina a Rua Visconde do Rio Branco com a Rua
Constituição. Ainda existe nesse lugar uma pedra grande, em cima da qual está edificada uma casa.
Para a fundação de Santos devia-se tomar a data 1541
Há nessa pedra uma placa de bronze mandada colocar pela Câmara Municipal em 1902, comemorativa à
fundação de Santos por Braz Cubas em 1543.
Foi, não há dúvida, este outeiro o berço da cidade de Santos e, segundo frei Gaspar nas Memórias,
a povoação de Santos teve origem em 1541, isto se lê na página 212 em diante. De formas que, tornando-se oficialmente a fundação de Santos em 1543,
precisamos notar que para isso já havia população suficiente, e quando da sua origem no outeiro de Santa Catarina. Assim sendo, era mais lógico
datar a fundação de Santos o ano de 1541, isto é, dois anos antes.
A data da edificação da Igreja do Rosário - 1756
IGREJA DE N. S. DO ROSÁRIO
Com a precisão desejada não se pode afirmar a data da sua fundação, mas à vista do provimento feito
em 20 de agosto de 1756 pelo escrivão da vila da praça de Santos, Alberto José Gonçalves Bandeira, de mando do dr. provedor de capelas Francisco
Caetano de Almeida Lobo, ao tesoureiro escrivão da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que então acumulava ambos os cargos, Miguel da Costa,
ordenava que lançasse no livro de crédito a quantia de Rs. 100$000 aplicados para dote da igreja, visto não os dar na despesa.
Os irmãos do Rosário eram enterrados na Matriz - 1758
Em 1758 já estava em construção a igreja, como se depreende da conta apresentada pelo tesoureiro e
escrivão Domingos Pereira Viegas, onde gastou a quantia de 107$230, porém não funcionava ato algum; tanto é que os irmãos da Irmandade eram
sepultados na igreja Matriz, encontrando-se na conta apresentada em 1759 por Domingos Pereira Viegas o pagamento de 1$600 em concertos
(N.E.: mantida a palavra com "c" - significando entendimentos ou arranjos para novos sepultamentos -,
até que seja feito o confronto com outras fontes de informações, embora possa ser correta no caso a palavra "consertos" com "s" - referindo-se a
antigas sepulturas necessitassem reparos) de sepulturas daquela igreja Matriz. Em 1652, já
achava-se criada, à vista da seguinte declaração feita pelo dr. provedor de capelas João Vieira de Andrade em um livro pelo mesmo rubricado em 11 de
janeiro de 1750, do teor seguinte:
A irmandade do Rosário foi fundada em 1652
"Tem esta Irmandade nove livros, inclusive este, é o primeiro que teve, principiou a ter uso em 1º
de outubro de 1652; cujos dados se conservam e com especialidade o primeiro, pois nele a fls. 38 se declara haver provimento do Ordinário pelo qual
mandou dar o dinheiro da Irmandade a juros de oito por cento donde escrevi - Andrade".
Venda de um escravo
Possuía a Irmandade em 1756 duas e meia braças de terra compradas ao coronel José Ribeiro de
Andrade, que é o terreno em que existe edificada a Igreja, mandando o dr. Almeida Lobo em mesmo provimento acima citado que fosse aforado a pessoa
segura a 800 réis por ano; bem como se vendesse o escravo de nome Francisco no prazo de 24 horas, o que não cumpriram, tendo custado a quantia de
110$800.
Em 1870, em uma publicação dessa época, dizia que a Irmandade possuía quatro apólices da Dívida
Pública.
É isto o que se sabe da Igreja e da Irmandade de N. S. do Rosário, no lugar onde ainda se encontra
hoje à Praça Rui Barbosa, recentemente reformada na sua frente, mantendo-se ainda o estilo colonial.
Fortalezas de Santos
Passo agora, na medida do possível, a dar um resumo histórico das antigas fortalezas de Santos, que
tão bons serviços prestaram na defesa da população, quer por parte de ataques de índios ou de parte de estrangeiros audazes que pretendiam
conquistar a terra de Santa Cruz, nos primeiros tempos da colonização portuguesa no Brasil, por Martim Afonso de Souza e Braz Cubas, na parte de
Santos.
FORTALEZA DA BERTIOGA E OUTRAS
Nas suas Memórias, à página 125 - Controvérsia - diz frei Gaspar da Madre de Deus que
foi levantada por Martim Afonso de Souza - Fortaleza de S. Felipe - e como tivesse sido atacada pelos índios tamoios, edificou a de Santiago na
margem setentrional na barra do mesmo nome, e o capitão-mor Jorge Ferreira reedificou em 1757.
Primeira fortaleza - Bertioga - 1534
Tendo sido Martim Afonso o donatário da Capitania de São Vicente, como menciona o Diccionario
Historico Geographico e Ethnographico, a página 770, onde se lê que as capitanias foram criadas em 1534, é claro que Martim Afonso, quando
menos, tivesse dado início à construção das fortalezas em 1535.
Fortalezas da Barra e Itapema - 1560
Quanto ao Forte Augusto, conhecido por "Crasto", fronteiro à Fortaleza da Barra Grande e também
Forte do Itapema, não resta a menor dúvida que foram todos construídos por Braz Cubas, até o ano de 1560, conforme se depreende do epitáfio do seu
túmulo.
Quanto ao Forte do Itapema, diz uma escritura passada em Santos, em 23 de outubro de 1573, que foi
comandante vitalício o capitão João Teixeira de Carvalho, por ter sido o mesmo edificado em terras suas.
Primeiro comando militar - 1829
Somente muitos anos depois é que foi nomeado o primeiro comando militar em Santos. Foi nomeado o
general José Olintho de Carvalho e Silva, em 18 de outubro de 1829, conforme livro existente em 1870 na Secretaria do Comando, tendo um termo da
criação desse Comando datado de 1º de junho de 1846. O primeiro comandante serviu até 7 de fevereiro de 1863, quando faleceu.
Diz a tradição que na Bertioga houve uma praça com o nome de "Armação das Baleias", cujos vestígios
desapareceram completamente.
IRMANDADES DE SANTOS
Antes de começar a segunda parte deste trabalho, passarei a referir-me também a outras distintas
Irmandades e confrarias de Santos, herança também de nossos antepassados, à medida do que consegui a respeito.
ARQUICONFRARIA DE N. S. DA BOA MORTE
À data exata da fundação da arquiconfraria não há documento que se refira, porém em um "Discurso"
de frei Maurício Lans, proferido em 31 de março de 1925, por ocasião da inauguração das reformas do Convento do Carmo, diz o estimado sacerdote:
"Também tem sua Sé há séculos já na nossa Igreja, a Arquiconfraria de Nossa Senhora da Boa Morte;
pois possuímos no arquivo do convento documento sobre a dita Arquiconfraria, datado de 1793".
O mesmo frei Maurício Lans, na obra citada, também se refere à respeitável
IRMANDADE DO SENHOR BOM JESUS DOS PASSOS
"...Mais antiga tem em nosso Convento a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, ereta em 1760".
Também em algumas linhas faço apreciação com referência à
IRMANDADE DE SÃO BENEDICTO
Não há um documento que se refira à origem desta irmandade, pois, em seu poder, apenas tem de mais
antigo um livro de registro de irmãos, tendo os assentamentos mais antigos as datas de 1862-1864-1865.
Pode-se tomar a data de 1860 para Irmandade de São Benedicto
Sabemos que esta irmandade apareceu na velha Matriz que foi demolida e de lá se transportou em 1909
para a Igreja de Santo Antonio, onde esteve muito tempo e, depois, para atender consertos que se tornaram necessários nessa igreja, essa irmandade
foi abrigada pela Ordem Terceira da Penitência em dependência da referida Ordem, onde ainda se encontra, até que consiga novo abrigo, ou mesmo fazer
sua capela, como é vontade dos irmãos do glorioso São Benedicto.
Não resta a menor dúvida que é uma das Irmandades mais novas, por não ser mencionada no histórico
da antiga Matriz, que havia somente, e não devemos confundir, a Irmandade dos Homens Pardos, que não é a mesma.
|