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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1939 - no centenário da cidade (2)

"...os rios e canais... têm a água de cor castanha..."
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Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Na data em que Santos festejava o primeiro centenário da elevação de vila a cidade, em 26 de janeiro de 1939, o jornal santista A Tribuna publicou uma edição especial comemorativa (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), que incluiu esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):

Condições gerais do território santista

Principais características, acidentação e irrigação, revestimento do solo, altitude, superfície e clima

A) TOPOGRAFIA - Constituição do solo e altitude - A cidade de Santos está situada na costa do Atlântico, a 300 milhas ao SO do Rio de Janeiro, na latitude Sul de 23º56' e longitude de 3º10' a Oeste do Rio de Janeiro ou 2h33m19s a Oeste de Greenwich ou 2h34m9s a Leste de Washington.

Topograficamente, a cidade mesma está situada em uma ilha, cerca de três milhas afastada da costa do mar e na margem direita de uma corrente com marés, que rodeia a ilha e desemboca no mar cerca de quatro milhas abaixo da cidade. Essa corrente, influenciada pelas marés, forma o porto, que é a saída principal para as mercadorias do Estado de São Paulo e Estados adjacentes. A ilha na qual a cidade está situada é, principalmente, uma grande e baixa planície, de irregular aspecto, com cerca de três e meia milhas de largo de Norte a Sul e cerca de sete de comprido de Este a Oeste.

A cidade está situada na parte Nordeste e Norte da vizinha cidade de S. Vicente e ocupa a superfície de 20 quilômetros quadrados. É cortada transversalmente, em uma direção entre NE e SO, por uma cadeia de colinas de gnaisse e de granito, muito quebradas no perfil e contornos e variando em altura de 200 a 500 pés. Os montões são abruptos e na vizinhança da cidade levantam-se quase a pique.

O solo é constituído por vastas vargens de terrenos de aluvião, com manchas de terras lisas e saibrosas arenosas, de pouca altitude, de 2 a 3 metros acima do nível do mar, apertado entre montanhas e recortado por grande número de canais marítimos, de rios, ribeiros e torrentes que descem as vertentes graníticas da Serra do Mar, de suas ramificações e de morros isolados que circundam e dividem o Município.

Esses canais e rios se ramificam e continuam uns aos outros, formando uma enorme rede de malhas sinuosas e rios serpenteantes, que, vistos da altitude da Serra do Paranapiacaba, no trecho em que esta é galgada pela estrada de rodagem para automóveis e outros veículos que transitam entre Santos e S. Paulo, oferecem um panorama admirável. Muitos terrenos são alagadiços de maré.

B) ÁREA - A área do Município era de 1.059 quilômetros quadrados, pois a sua maior superfície, dantes formada pelas ilhas de S. Vicente e Santo Amaro e outras de menor importância administrativa, ficou, com a criação da Prefeitura Sanitária de Guarujá, reduzida a 965 quilômetros quadrados.

C) ACIDENTAÇÃO E IRRIGAÇÃO - A Serra do Mar, no trecho que corre no Município, chama-se Paranapiacaba; em outro trecho, nos confins do Município, é denominada Serra do Cubatão, em cuja falda acha-se localizado o distrito de paz com esse nome.

À distância, azulados nos horizontes, vêem-se os trechos chamados Serra de Itatinga e Serra de Cubatão; bem longe, já nos municípios vizinhos, está Oitinga, morros de Voturuá, Xixová, Itaipus etc., ondeando-se a perder de vista.

Há outeiros e morros isolados na planície, entre os quais o Monte Serrate, Morro Fontana, Morro São Bento e Nova Cintra, habitados pelas classes pobres, muitos dos quais ficam na cidade. Cultivados, os da zona rural, dão aspectos vários à planície, pois que seria monótona sem eles.

A irrigação do Município é de água doce, água salgada e água salobra. A água potável é ótima, a da serra. Algumas cachoeiras captadas fornecem à cidade excelente e abundante água.

D) RIOS - Os rios e canais que sulcam as terras e ilhas do Município têm a água de cor castanha. O chamado rio Casqueiro é um canal do mar, formado por água salgada e água doce, dos rios que nele afluem; partindo do Estuário, desemboca no oceano, separando a ilha de S. Vicente do Continente. É atravessado pelas importantes pontes da estrada de ferro da S. Paulo Railway e da estrada de rodagem, no Município de Santos, e pela da Estrada de Ferro Sorocabana, no Município de S. Vicente.

Os demais rios do Município são: Sandy, do Meio, Cubatão, São Jorge, Perequê, Jurubatuba, Itatinga, Itapanhaú, Quilombo, Pilões, Santo Amaro, Trindade, Cárau', Sahy, Taquarê, Sandim, Mogi, Guaratuba e Jacaeguava. Importantes canais são os da Bertioga e o do estuário, onde está o porto. São estes rios de correnteza geralmente fraca e quase todos são navegáveis por pequenas embarcações que garantem transporte fácil para uma importante agricultura na qual se destaca o cultivo da bananeira, fonte de riqueza particular e de renda para os cofres estaduais.

E) VEGETAÇÃO - Visto das serranias e dos montes, o Município de Santos é um estendal verde, cortado pelas largas faixas d'água que parecem de longe prateadas. Interminável mataria da planta chamada "mangue manso" e "mangue bravo" domina este panorama. Há plantas seculares nas rampas da Serra do tipo sub-tropical.

Muito do verde que se vê é alinhado e rola da planície ao cimo dos morros; são os bananais nos baixios, bem drenados de folhas.

Os mangues são objeto de indústria de corantes e os mangueirais aparecem, em certa época do ano, a espaços, desfolhados e talados por homens com indumentária característica.

Possui, em abundância, matas virgens e viçosas.

F) VENTILAÇÃO - As Serras que circundam Santos, com uma alta muralha pelo Norte até Leste, que se elevam até 600 a 900 metros, contribuem, com a barragem que oferecem aos ventos do largo, vindos do mar, para o alto índice pluviométrico da região, que é elevadíssimo, como acusam as estatísticas do Posto Meteorológico de Santos, mantido pelo Ministério da Agricultura.

A ventilação da região, dificultada pelas disposições dos morros e da Serra do Mar, o vento terral (NO) quente e freqüente, a muita umidade do solo, fazem de Santos uma cidade quente e úmida, na maior parte do ano.

A altitude da grande planície que forma a maior área do Município vai de dois a quatro metros acima do nível do mar e acima do nível das maiores marés, que não vão além de 2 metros e meio. A parte alta do Município, constituída pelo planalto de Nova Cintra e pelas faldas dos morros habitados, não vai além de 25 a 100 metros de altitude.

G) CLIMA - O clima quente de Santos, o alto grau de umidade atmosférica e o regime de ventos dominantes de NO, SE e S, estes últimos úmidos, garantem ao Município condições ideais para a vegetação de plantas da família das orquidáceas. O Guarujá é citado como uma das mais ricas regiões em variedades de orquídeas. Freqüentemente encontram-se nas casas de flores e pelas ruas da cidade belos exemplares dessas famosas flores. Os estudiosos se deliciam nas matas das serras.

H) TEMPERATURA - A temperatura em Santos é, em média, 25º a 32º C, nos meses quentes de novembro a março. De abril a fins de setembro, a média baixa de 18º a 20º C, indo a 12º e 16º, à sombra, durante o dia. O verão, em Santos, sobre ser excessivo, é ao mesmo tempo, úmido. As chuvas, repentinas e às vezes fortes de verão, são quase que diárias. O vento Noroeste, quente e seco, que vem de terra, é quase sempre seguido por um vento Sudoeste, frio e às vezes forte, que traz alguns dias de chuva e temperatura fresca, mesmo no verão.

Nunca a temperatura mínima absoluta do ar em Santos baixa de 3º C, no inverno, sendo normal 16º a 18º nesse tempo. Nessa época, as praias da cidade enchem-se de forasteiros, que aqui vêm gozar as lindas manhãs de sol e o clima fresco e temperado. A estação da vida praiana santista, vida intensa e elegante, baixou muito de intensidade ultimamente, não só devido à situação econômica atual, como ao fechamento dos magníficos cassinos entre nós existentes.

I) SALUBRIDADE - Santos e seu porto são hoje célebres graças aos seus ininterruptos serviços públicos de higiene, tanto os de medicina como os de engenharia sanitária.

É por isso que, embora a sua temperatura média anual seja bem elevada, o clima de Santos é salubre e a cidade procurada por uma imensa multidão de banhistas e forasteiros, principalmente durante os meses de maio, junho e julho, que para aqui se dirigem anualmente à procura de repouso e de bom clima.

O Guarujá, antigo distrito de Santos, hoje transformado numa estância balneária pelo Estado, situado na Ilha de Santo Amaro e ligado a Santos por uma boa estrada de rodagem e de trens elétricos, combinados com um serviço de "ferry-boat" e outro de barcas, tem o seu elegante e pequeno povoado na face atlântica da ilha, voltado para o mar largo e protegido pelos fundos, na parte que dá para a baixada de Santos, por altos morros. Esta posição e outros fatores climáticos que os especialistas proclamam, fazem do Guarujá uma excelente estância de repouso e de cura para moléstias de carência, especialmente as relacionadas com o raquitismo e tuberculose fechada e óssea.

Em suma, Santos é, hoje, uma cidade muito salubre, principalmente na parte que dá para o mar - uma grande baía circundada por extensa e formosa praia.

Além da vigilância sanitária marítima, proficientemente exercida pela repartição federal de Saúde do Porto, as repartições do Saneamento e de Higiene do Estado, assim como o Serviço de Febre Amarela da Fundação Rockfeller, executam grandes trabalhos de drenagem dos terrenos alagadiços, desinfecção de valas etc., encaminhando as águas dos pântanos para um perfeito sistema de rede de canais de concreto, que muito honram a engenharia nacional e que deságuam no oceano, mantendo a cidade nas mais perfeitas condições sanitárias.

Mesmo na ocasião das chuvas, quando, em geral, se manifestam casos de impaludismo no litoral, não se verifica nenhum surto desta moléstia entre nós.

J) ILHAS - Conta o Município as seguintes ilhas: a de S. Vicente, a que os aborígenes chamavam "Morpion", com cerca de 12 quilômetros e extensão, em cuja parte Nordeste está situada a cidade de Santos e, na parte Sudoeste, a cidade de São Vicente; a de Santo Amaro, com 30 quilômetros de comprimento, e 20 na maior largura, a qual foi doada a Pero Lopes de Sousa, a 1º de setembro de 1534, com o nome de "Guaibê" e que a Nordeste separa Santos do oceano; as pequenas ilhas Moela, onde está colocado o farol da Barra Grande (entrada do porto); a das Palmas; Urubuquiçaba; Cabras; Couves; Pompeba; Lage e Trigo, no mar grosso. Esta última oferece abrigo a embarcações pequenas.

No lagamar de Santos e Bertioga existem as pequenas ilhas dos Padres (hoje Barnabé); Teixeira (hoje Casqueiro); Guaniqué e outras menores.

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