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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1939 - no centenário da cidade (1)

"...Santos é uma cidade de vida cara..."

Ao longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Na data em que Santos festejava o primeiro centenário da elevação de vila a cidade, em 26 de janeiro de 1939, o jornal santista A Tribuna publicou uma edição especial comemorativa (exemplar no acervo do historiador santista Waldir Rueda), que incluiu esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):


ASPECTOS SANTISTAS - Vista aérea da Base de Aviação Naval, na Bocaina
Foto publicada com a matéria

Condições gerais da população santista

NOTAS SOBRE A ETNOGRAFIA, A SITUAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL,
A RELIGIÃO DO POVO E A DENSIDADE DEMOGRÁFICA DE SANTOS

Estimada em 180 mil habitantes a população atual da cidade e do município

1) - Condições predominantes quanto à composição etnográfica, à situação econômica e social, a distribuição das atividades, à diferenciação em classes, à religião - Santos, o grande porto de mar do Estado de S. Paulo, que em certas épocas tem o maior movimento comercial da República, é uma cidade cosmopolita. O seu povo é liberal, de espírito conservador, tolerante, progressista, patriota e, sobretudo, caridoso.

Predomina a população brasileira, de origem portuguesa ou melhor, de origem ibérica, porquanto o elemento espanhol muito se aproxima do português na porcentagem de origem da população. Há inúmeras famílias santenses de tradicional antiguidade, todas de nomes ibéricos, predominando os portugueses.

São também inúmeras as famílias cujos chefes vieram do Norte do país e dos Estados limítrofes de S. Paulo. Grande é o contingente das famílias do litoral paulista, onde predomina o sangue português dos colonizadores afonsinos e onde se vêem nítidos traços do sangue indígena (a população indígena autóctone ainda é apreciável nos arredores do município e os índios guaranis de Itanhaém aparecem, de quando em quando, aos grupos, pela cidade).

Mais recentemente, vão se tornando freqüentes os nomes de origem italiana. Há famílias, já santenses, de origem síria, inglesa, alemã e italiana. Outros fatores etnográficos aparecem esparsamente. Ultimamente, a colônia japonesa tem crescido, devido ao aumento da imigração nipônica no Estado.

Economicamente, Santos é uma cidade de vida cara e a sua população emprega grande atividade para auferir maiores proventos necessários à sua subsistência. Cada classe social gasta mais em Santos, na vida comum, que a sua correspondente no Rio de Janeiro, em São Paulo, e ainda mais que as do interior do Estado e de outros pontos do País. Há grandes fortunas em Santos, feitas no comércio do café e nas indústrias.

Socialmente, Santos é como o resto do Brasil: aqui não há preconceitos de castas nem de raças, conquanto cada família guarde ciosamente sua posição social para sua constituição e em suas relações. As atividades da população repartem-se nas profissões liberais, no comércio urbano das grandes cidades, no comércio e nas atividades próprias do grande entreposto de café que é Santos. A indústria portuária e o tráfego marítimo ocupam milhares de trabalhadores. O comércio importador que abastece o Estado de S. Paulo e as regiões limítrofes, a exportação de carnes frigorificadas, de laranjas, de bananas, a indústria da pesca etc., dão as linhas gerais da atividade da população.

Os serviços públicos em Santos são importantes. Grande entreposto e grande empório, tem grandes organizações fiscais federais, estaduais e municipais, ocupando avultado número de funcionários e empregados públicos de todas as categorias.

A diferenciação de classe não vai, nesta cidade, além das que a cultura e a riqueza, especialmente aquela, delimitam. A gente culta, pelos seus hábitos, se congrega e relativamente se freqüenta. A massa popular operária não é muito ignorante e, geralmente, conhece as primeiras letras e operações aritméticas. Há analfabetos e grande proporção destes é encontrada entre estrangeiros imigrantes.

Existem em Santos inúmeros clubes e associações de todo gênero, esportivas, sociais, beneficentes, religiosas, instrutivas e culturais, predominando as agremiações de esportes terrestres e náuticos.

Quanto à religião, predomina o catolicismo. Outras religiões cristãs e muitos cultos espiritualistas e filosóficos têm aqui seus adeptos. Todos são tolerados e, igualmente, respeitados pelas autoridades, conforme o espírito da Carta Constitucional.

2) Efetivo da população atual - Não se pode precisar o número da população atual do Município, de vez que o último recenseamento oficial realizado em Santos foi em 1934, por iniciativa do Governo do Estado (Recenseamento escolar).

Naquele ano, aquele trabalho deu a Santos uma população de 142.059 habitantes, excluindo o distrito de Guarujá, com uma população de cerca de 8.000 almas.

É certo, entretanto, por estimativa realizada pelas repartições competentes, que a população do Município, atualmente, orça em cerca de 180.000 habitantes.

A população de Santos, de 1772 até 1938, tem sido a seguinte:

Ano de 1772: 2.081 habitantes (Mappa geral da Capitania de São Paulo - 1772 existente no Arquivo do Estado).

Época colonial:
Ano de 1798
3.370
Ano de 1814
5.128
Ano de 1816
4.880
Primeiros anos da Independência
Ano de 1822
4.781
Ano de 1828
5.146
Segundo império
Ano de 1854
7.855
Ano de 1872
8.870
Ano de 1886
15.605
(Recenseamentos organizados pelos governos federal, estadual e municipal)
Período republicano
Ano de 1890
13.012
Ano de 1900
50.389
Ano de 1913
88.967
Ano de 1920
102.589
Ano de 1934 (Recenseamento escolar do Estado)
142.059
Ano de 1938
180.000
(Estimativa, excluindo o Guarujá, cuja população é orçada em cerca de 8.000 almas)

A população da cidade, nas zonas urbana e suburbana, é estimada em 135.000 habitantes; a do distrito de Cubatão, em 20.000, e a restante é disseminada na zona rural.

A população de Santos, que em 1839 era de cerca de seis mil habitantes, elevou-se, um século depois, a 180.000, como se verifica do quadro supra.

O mais perfeito recenseamento organizado no Município de Santos foi em 1913, sob os auspícios da Municipalidade. Naquele ano, a população de Santos, que acusava o total de 88.967 almas, era assim discriminada: nacionais, 51.129; estrangeiros, 37.838.

Da população nacional, 38.771 habitantes eram paulistas; 1.592 do Estado do Rio; 719 do Estado de Santa Catarina; 568 do Estado de Sergipe; 518 do Estado de Minas Gerais; 418 do Estado de Pernambuco; 416 do Estado da Bahia etc.

Da população estrangeira, a maior porcentagem era da colônia lusa, que registrava um efetivo de 22.787 habitantes, seguindo-se a colônia espanhola, com 8.291; a italiana, com 3.164; a síria, com 880; a holandesa, alemã, britânica, ianque e francesa, com menor porcentagem, além de outras.

A população se tem desenvolvido, de então para cá, no mesmo ritmo, avultando hoje, no Município, entre as colônias estrangeiras, a japonesa, que se dedica de preferência à pequena lavoura e cultura em geral.

Também aumentou, depois de 1928, a porcentagem dos brasileiros de outros Estados, notadamente os do Setentrião, pelo desenvolvimento que se registrou não só no serviço marítimo e portuário, como nos meios comerciais da cidade.

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Mapa ilustrado elaborado por L. Abramo especialmente para o jornal A Tribuna, edição comemorativa do centenário da elevação de Santos a cidade, publicado em 26/1/1939
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Na mesma edição, uma nota complementar:

Profissões liberais em Santos

Dentre o número de pessoas que exercem as várias profissões liberais no município e que se acham lançadas até hoje, para o efeito do tributo fiscal, podemos citar os das seguintes atividades:

Advogados
70
Médicos
112
Solicitadores
5
Engenheiros
22
Arquitetos
28
Engenheiros eletricistas
2
Agrimensor
1
Químico
1
Cirurgiões-dentistas
123
Total
364

Nesse número não estão incluídos os profissionais que não exercem sua atividade e aqueles que a empregam nos serviços públicos, como alguns engenheiros, arquitetos, advogados e dentistas.

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