Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais
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Minas Gerais
inas Gerais é um dos quatro
estados brasileiros do Interior. Está situado entre 13º 55' e 23º de Latitude Sul, e entre 3º 33' de Longitude Leste e 70º 48' de Longitude Oeste do
Rio de Janeiro. É limitado ao Norte pelo estado da Bahia; a Leste, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro; ao Sul, Rio de Janeiro e São Paulo; e ao
Oeste pelo estado de Goiás.
A sua área é aproximadamente de 575.000 quilômetros quadrados, e tem uma população de cerca de
4.500.000 de habitantes, isto é, mais ou menos 7,5 habitantes por quilômetro quadrado. Em extensão, é o quinto estado da República, vindo depois do
Amazonas, Mato Grosso, Pará e Goiás; mas em população é o primeiro, apesar de ser o oitavo quanto à densidade.
Representa a décima quarta parte da superfície de todo o Brasil e a trigésima de
toda a América do Sul. Comparado aos países da Europa, é maior do que a Alemanha, a França, a Espanha, a Suécia, a Noruega, ou do que todos os
estados balcânicos; tem quase duas vezes o tamanho da Áustria-Hungria e mais do dobro da Itália ou das ilhas britânicas; e seis vezes o de Portugal,
quatorze vezes o da Holanda e vinte vezes o da Bélgica.
Comparado às repúblicas sul-americanas, é um quinto da Argentina, metade da
Venezuela, Colômbia, Equador, Peru ou Bolívia, quatro quintos da extensão do Chile, mais do dobro do Paraguai e mais do triplo do Uruguai.
Maravilhosamente fértil, as suas terras poderiam facilmente comportar uma
população dez vezes maior do que a atual, e se a densidade da população do estado atingisse a da Bélgica, Minas abrigaria 350.000.000 de almas, isto
é, cerca de sete vezes toda a atual população da América do Sul.
Palácio presidencial, Belo Horizonte
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Aspecto e clima -
É em Minas Gerais que tem a sua maior altitude o grande planalto, cujo centro se
acha em Goiás e que estende ramificações por quase todo o Brasil. Os seus picos alterosos lembram a paisagem da Suíça, cujo povo se assemelha aos
mineiros nos seus hábitos laboriosos e pacíficos. As serras que margeiam os vales, a do Mar, Mantiqueira, Paranaíba, Arararo, Vão Grande, Pilões,
Cascazeiro, Montes Alegres, Caracol, Cordilheira, são todas ramificações de um só sistema orográfico, conhecido pelo nome de Mantiqueira.
Os seus pontos mais elevados são, na ordem decrescente, segundo uma Corografia
do Estado:
Itatiaia (fronteira de Minas, Rio e S. Paulo |
2.841 m |
Agulhas Negras (idem, idem) |
2.765 m |
Itatiaia-açu (Mantiqueira) |
2.700 m |
Pico do Caparaó (entre Minas e Espírito Santo) |
2.500 m |
Papagaio (Ayuruoca) |
2.275 m |
Pico do Passa Quatro (Mantiqueira) |
2.252 m |
Serra de Itajubá (Mantiqueira) |
2.000 m |
Caraça (Serra do Espinhaço) |
1.935 m |
Serra do Picu (Mantiqueira) |
1.900 m |
Itambé (Serra do Espinhaço) |
1.817 m |
Serra da Piedade (Caeté) |
1.787 m |
Serra de Ibitipoca (Lima Duarte) |
1.762 m |
Itacolomy (Ouro Preto) |
1.750 m |
Pico do Breu (Serra do Cipó) |
1.750 m |
Serra da Pedra Branca (Caldas) |
1.710 m |
Morro do Lopo (Mantiqueira) |
1.655 m |
Pico de Poços de Caldas |
1.600 m |
Serra de Ouro Branco |
1.570 m |
Serra de Treituba (Baependi) |
1.542 m |
Pico de Itabira do Campo |
1.520 m |
Serra da Moeda |
1.455 m |
Serra de S. José d'El-Rei |
1.448 m |
Serra de Santa Rita (perto de S. João d'El-Rei) |
1.430 m |
Pico do Curral (Belo Horizonte) |
1.390 m |
Pico de Itabira do Mato Dentro |
1.386 m |
Alto da Figueira (Ouro Preto) |
1.362 m |
H. Hargreaves (E. F. Central) |
1.338 m |
De uma só localidade no Sul do Estado, partem muitos rios importantes que se
espalham em forma de leque. O mais importante é o São Francisco, que corre do Sul para o Norte até o estado da Bahia, onde dá ao seu curso de 3.161
quilômetros a direção do mar. É navegável em várias seções numa extensão de 2.000 quilômetros.
Nas suas imediações correm o Paraopeba (com 448 km), o Rio das Velhas (com 1.135
km, e todo navegável), o Verde Grande (792 km), o Indaiá (250 km), o Paracatu (627 km) e o seu tributário, o Rio Preto (com 528 km) e o Urucuia (501
km).
No Sul, o Rio Grande, que é em volume d'água o mais considerável dos que
contribuem para a formação do Paraná, banha uma região excessivamente rica como centro de criação de gado, e serve de limite entre Minas, Goiás e
Mato Grosso. Tem uma extensão navegável de 1.353 km, a que se pode acrescentar os 990 km do seu tributário, o Rio das Mortes.
Segundo as autoridades na matéria, o Rio Grande é a principal das correntes que
formam o Paraná, apesar de não ter a mesma opinião o dr. Orville Derby, que dá preferência ao Paranaíba.
Entre outros rios notáveis pode-se mencionar o Doce (977 km), em cujo leito se
têm encontrado ouro e diamantes; o Mucuri (528 km); o Jequititonha (1.082 km), cujo vale é um grande centro de mineração; e o Paraíba do Sul, que
divide Minas Gerais do Estado do Rio. Há também uma rede abundante de pequenos rios.
Embora situado na zona semi-tropical, o estado tem um clima delicioso, não só
ameno como saudável. Há várias razões que explicam este fato, destacando-se como principais a natureza do terreno, a altitude geralmente elevada, a
riqueza da vegetação e as correntes aéreas. As chuvas em geral não são excepcionalmente abundantes, embora variem imensamente com as diferenças de
altitude. Nas regiões montanhosas, a temperatura nunca excede a 27â centígrados, variando a mínima diária entre 0º e 11º centígrados e a máxima
entre 16º e 21º. Pelo seguinte quadro (A), podem ser apreciadas as variações termométricas das principais cidades.
Quadro A |
|
Máximo C |
Mínimo C |
Média |
Belo Horizonte |
29.00 |
9.70 |
19.08 |
Juiz de Fora |
28.20 |
11.00 |
19.98 |
Diamantina |
22.88 |
13.25 |
18.40 |
S. João D'El-Rei |
26.60 |
9.50 |
18.00 |
Arassuaí |
31.00 |
16.90 |
23.45 |
Ouro Preto |
22.60 |
13.10 |
17.90 |
Montes Claros |
27.30 |
12.80 |
21.30 |
Barbacena |
21.89 |
9.70 |
16.70 |
Teófilo Otoni |
29.50 |
16.50 |
22.56 |
Uberaba |
29.80 |
11.45 |
21.20 |
A pressão barométrica no estado oscila entre o máximo de 690 mm e o mínimo de
630 mm, sendo 670 mm a média geral. O lindo céu azul e o sol brilhante são quase permanentes. O grau médio da evaporação, segundo o atmômetro,
corresponde a 1,5 mm e mantém uma perfeita relação com as chuvas. A excelência do clima nas regiões mais elevadas explica o motivo pelo qual as
cidades em sua grande maioria são construídas em morros e planaltos, como abaixo se verifica:
Altitude |
Cidades |
Situadas a mais de 1.200 metros acima do nível do mar: |
Caldas, Ouro Preto e Poços de Caldas |
A mais de 1.100 metros: |
Barbacena e Serro |
A mais de 900 metros: |
Araxá, Belo Horizonte, Caeté, Cambuquira, Entre Rios, Lambari,
Passa-Quatro, Peçanha, Ponte Nova, Prados, Queluz, S. João d'El-Rey e Tiradentes |
A mais de 800 metros: |
Baependy, Bom Sucesso, Campanha, Cambuí, Caxambu, Itajubá, Jaguari,
Manhuaçu, Oliveira, Pouso Alegre, Pouso Alto, S. Gonçalo de Sapucaí e Três Corações do Rio Verde |
A mais de 700 metros: |
Catas Altas, Cocais, Camargos, Diamantina, Mariana, Sabará, São
Miguel de Guanhães e Santa Margarida |
A mais de 500 metros: |
Abre Campo, Itabira, Alvinópolis, Curvelo e Juiz de Fora |
A Faculdade de Direito, Belo Horizonte
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História - A
história de Minas Gerais difere das de outros estados brasileiros, porque, em vez de a sua população se ter formado, vindo aos poucos do
litoral para o interior, desenvolveu-se procedendo do Norte e Sul do país e espalhando-se espontaneamente em todas as direções. Da Bahia, Norte do
Brasil, e de São Paulo, Sul, partiram bandos de aventureiros, em busca de ouro e esmeraldas, e, movidos pela ambição e rivalidades, sustentaram, uns
com os outros, renhidas lutas.
Correram notícias referentes à fabulosa riqueza do território, desde os
primeiros tempos da ocupação portuguesa, e ainda falam lendas das ricas minas de prata, que, segundo diziam, foram exploradas por um descendente de
Caramuru, mas que, desde então, jamais foram encontradas.
Caramuru muito auxiliou as expedições que se fizeram para reconhecimento e
estudo da nova colônia de Portugal. Houve várias expedições. Uma partiu do Porto Seguro em 1553, e subiu o Rio Jequitinhonha até às margens do São
Francisco. Outra, partindo da Bahia, subiu o Paraguaçu, mas os seus chefes tiveram de recuar com a perseguição dos Jupinaens.
A anexação do Brasil à coroa da Espanha fe-los perder a esperança por algum
tempo, mas novo estímulo adquiriram com a restauração de Portugal em 1640. Com a atitude agressiva dos selvagens Aimorés, tomaram caminho do
Sul, visto que se viram impedidos de continuar para o Norte. E o capitão Felix Jacques pela primeira vez atravessou a serra da Mantiqueira, pela
estrada do Embaú, hoje conhecida por Cruzeiro, e explorou as regiões elevadas das imediações do Rio Verde.
Pelo Rio Doce, procedendo do Norte, e pela estrada do Embaú, vindo do Sul,
penetraram diversas expedições no interior, por muitos anos seguidos, e pouco mais tarde, depois de removido o perigo dos índios, foi que se tornou
possível alcançar o Rio Paraguaçu e o vale do São Francisco, além da Cordilheira, assim como o Rio das Velhas.
Em 1674, Fernão Dias, fidalgo poderoso, partiu com uma grande expedição e chegou
até Anhanhonhacanhura, lugar agora conhecido por S. João do Sumidouro, que foi durante uma geração o centro da atividade paulista. Daí seguiu a
expedição para o Vapacu, localidade que antes já havia sido procurada por exploradores. Contudo, a morte de Fernão Dias pôs fim a essa aventura.
A nova descoberta excitou a cobiça da metrópole, que enviou Rodrigo de Castello
Branco a tomar posse do território; esse foi, porém, assassinado por Borba Gatto, sucessor de Dias. Alarmados com a morte do mensageiro do rei, os
seus partidários fugiram com todos os instrumentos e gado. Trinta anos depois, os descendentes dos fugitivos, então senhores de grandes rebanhos,
muito concorreram para o desenvolvimento das minas de ouro.
Em 1694 foi expedida uma ordem real que dava direito de posse das minas de
ouro e prata ao descobridor, com a condição de pagar à coroa um quinto do produto das mesmas. Em 1700, foi este sistema alterado, e só depois
de alguma resistência, novo sistema foi aceito pelos paulistas, com a condição de serem eles os únicos beneficiados. Por isso, foi proibido aos
exploradores que vinham da Bahia o acesso às minas, e o governador do distrito ordenou que o caminho fosse fechado.
Contudo, logo que isto se fez, uma nova estrada para o litoral foi aberta,
atravessando o Espírito Santo, pela qual, assim como pelo estado do Rio, os forasteiros iam reclamar a parte que lhes tocava. Na verdade, tão
irresistível foi essa corrente, que em 1705 a inútil proibição foi revogada.
Entretanto, começou a lavrar entre as diferentes facções um sentimento de ódio,
e em 1707 os paulistas foram expulsos. Bateram-se valentemente pela posse de cada palmo de terra; e no Rio das Mortes, onde se feriu a última
batalha, trezentos paulistas foram mortos a sangue frio, depois de entrincheirados. Em represália, fizeram nova investida contra os emboabas, em que
não foram bem sucedidos por falta de hábil direção.
O falecido presidente Affonso Penna e sua família
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Desde essa época, Minas Gerais tem progredido rapidamente. Ainda com relação à
história, não é lícito esquecer-se a célebre Conjuração Mineira, em 1789, personificada em Tiradentes, com o fim de proclamar a república na
então capitania, tendo por capital S. João d'El-Rei. Este fato, que se desenrolou na cidade de Ouro Preto, prova que a primeira idéia da liberdade
despontou na província de Minas, favorecida por alguns varões ilustres, entusiasmados com a emancipação dos Estados Unidos, e cujos nomes já se
tinham feito notáveis nas letras pátrias. Essa idéia se perpetuou na divisa que adotaram: "Libertas quae sera tamen".
Os conspiradores quiseram valer-se da inquietação de ânimos e indisposição do
povo contra a metrópole, que anunciara a cobrança efetiva das 700 arrobas de ouro, em quanto já montava a dívida da capitania. Mas, traídos por
Joaquim Silvério dos Reis, que tudo revelou ao governador de então, visconde de Barbacena, viram o seu plano prejudicado com a acertada e hábil
providência da parte do visconde, suspendendo o pagamento da dívida. Este ato desarmou inteiramente os conspiradores, arrebatando-lhes o
descontentamento popular, com que principalmente contavam. As figuras de maior destaque no movimento foram: o dr. José Alves Maciel, o poeta dr.
Claudio Mannuel da Costa, o dr. Thomaz Antonio Gonzaga, cantor da Marilia de Dirceu, o desembargador Alvarenga Peixoto, outro cultor das
Musas, Domingos Vidal Barbosa, o padre Toledo e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes.
Este, querendo ainda fazer prosélitos, veio para o Rio de Janeiro, onde
foi preso e executado na praça que tem hoje o seu nome, a 21 de abril de 1792. Os outros foram sendo degredados para os presídios da Costa
d'África.
Ministério do Interior, Belo Horizonte
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Imigração e colonização – Desde 1831, se tem procurado animar a imigração, com estabelecimento de núcleos europeus. Do total de mais de 2½ milhões de imigrantes que têm
desembarcado no Brasil durante os últimos cinqüenta anos, mais de 300.000 se instalaram em Minas Gerais. No período de 1888 a 1903, o número atingiu
exatamente a 75.000. Decerto há ainda muito lugar para avultado número de imigrantes, tanto que em 1908 o departamento respectivo relatou haver
143.980.884 metros quadrados de terras devolutas, de que está o governo querendo dispor a preço ínfimo.
A imigração espontânea é considerada a mais conveniente. Embora cerca de 20.000
imigrantes tenham entrado em Minas, num ano, a expensas do Estado, nos últimos tempos só aos estrangeiros que ali já têm parentes estabelecidos se
concede passagem. Durante o ano de 1911, foram introduzidas no Estado, por meio da União, 96 famílias de imigrantes, compreendendo 543 indivíduos.
Para auxílio e maior facilidade de se estabelecerem, fundou o governo, para os imigrantes que vêm à própria custa, diversas colônias (quadro
A).
Quadro A |
Colônia |
Distrito |
População |
Produção em contos de réis |
Afonso Pena |
Belo Horizonte |
170 |
55 |
Vargem Grande |
Belo Horizonte |
324 |
39 |
Rodrigo Silva |
Barbacena |
1.614 |
308 |
Rio Doce |
Ponta Nova |
28 |
-– |
Barão de Ayurnoca |
Mar de Espanha |
248 |
7 |
Constança |
Leopoldina |
386 |
53 |
Major Vieira |
Cataguazes |
83 |
30 |
Santa Maria |
Cataguazes |
345 |
91 |
Itajubá |
Barbacena |
242 |
12 |
Nova Baden |
Águas Virtuosas |
376 |
49 |
Francisco Sales |
Pouso Alegre |
287 |
30 |
Wenceslau Braz |
Sete Lagoas |
68 |
–- |
Há também uma colônia do Governo Federal, de nome João Pinheiro, que tem uma
área total de 9.171 hectares e é dividida em 180 lotes. Em virtude de um contrato feito entre o estado e a Companhia da Estrada de Ferro Leopoldina,
pagou esta ao tesouro público a quantia de Rs. 2.000:000$000 para o desenvolvimento da colonização na região em que há abundância de madeiras de
lei. E assim adquiriu o governo de Minas 254 alqueires de terra em Mar de Espanha e 333 em Leopoldina para a fundação de novas colônias.
O governo da União também comprou 810 alqueires de boas terras em Ouro Fino,
para o mesmo fim. Além disto, o governo brasileiro, no contrato que realizou com a Companhia da Estrada de Ferro de Goiás, obrigou-a a empreender,
dentro de 20 quilômetros de cada lado da mesma estrada, o estabelecimento de famílias habituadas à criação do gado e aos trabalhos agrícolas.
Sete Lagoas, com as suas cavernas e cachoeiras
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Agricultura, pastorícia e laticínios – Em nenhuma outra região do Brasil se encontram condições mais favoráveis à agricultura. Não só é rico o Estado em diamantes, pedras
preciosas, minas de ouro, ferro e chumbo; o seu maior tesouro está nas suas opulentas florestas, na riqueza de suas pastagens e na
uberdade do seu solo, em que, segundo a altitude, podem crescer a vinha, a cana de açúcar, o café, a juta, o algodão, a mandioca, o trigo, a aveia,
frutos europeus e tropicais. A terra, por assim dizer,, é própria para o cultivo de quase todas as plantas, quer da zona temperada, quer da
sub-tropical.
A estatística detalhada de estabelecimentos agrícolas do estado não existe de
fato. Contudo, há um trabalho do governo feito nesse sentido, compreendendo cerca de metade das fazendas, com os seguintes resultados:
-- |
Fazendas
de cereais |
Fazendas de
criação de gado |
Fazendas de criação de gado e de cereais |
-- |
Seções |
Nº |
NºD |
Méd. |
Méd.$ |
Méd.D. |
Méd. |
Méd.$ |
Méd.D. |
Méd. |
Méd.$ |
Méd.D. |
Nº |
NºD |
Leste |
11 |
62 |
25 |
26.214:000 |
4.860:000 |
5 |
8.056:000 |
1.178:000 |
16 |
23.868:000 |
4.162:000 |
17 |
118 |
Oeste |
9 |
40 |
24 |
16.624:000 |
3.138:000 |
67 |
26.751:000 |
3.217:000 |
21 |
21.998:000 |
4.895:000 |
15 |
66 |
Norte |
8 |
39 |
24 |
8.979:000 |
1.910:000 |
15 |
7.379:000 |
1.007:000 |
34 |
8.850:000 |
2.016:000 |
6 |
43 |
Sul |
14 |
46 |
37 |
26.105:000 |
3.994:000 |
13 |
18.653:000 |
1.457:000 |
32 |
23.984:000 |
3.310:000 |
26 |
71 |
Centro |
12 |
75 |
16 |
15.465:000 |
2.223:000 |
13 |
16.338:000 |
1.717:000 |
15 |
16.750:000 |
2.714:000 |
15 |
96 |
Títulos das colunas:
Nº = Nº de municipalidades
NºD = Nºde distritos
Méd. = Média das fazendas em cada distrito
Méd.$ = Média do capital empregado em cada uma
= Média da despesa anual em cada uma |
Parte considerável da população se ocupa na criação de todas as espécies e na
exploração das respectivas indústrias.
Alguns distritos são especialmente apropriados a diversos ramos da indústria
pastoril. Assim, nos municípios do Norte, como Guanhães, Serro, Conceição etc. a especialidade é a criação de cavalos e mulas, ao passo que nos do
Triângulo, ao Sul, e em todo o Oeste da Serra da Mantiqueira, o maior cuidado da população se volta para a criação e engorda do gado destinado ao
consumo público. Calcula-se que a produção deste gado pelo estado de Minas seja no mínimo de 1.000.000 de cabeças anualmente, donde se pode concluir
que devem existir cerca de 5.000.000, além do grande número de vacas leiteiras.
Devido à vastidão do seu território, tem-se verificado que nenhuma raça serve
para todas as regiões. O Schwitz, o Zebu, o Devon, o Holandês, o Flamengo, o Nellore, o Simmenthal, o Caracu e o Angus, mocho, com os seus variados
cruzamentos, acham-se mais ou menos no mesmo plano. Sabe-se que o Caracu, raça indígena, puramente mineira, dá excelentes resultados com os
touros importados, especialmente com o Schwittz. Parece que afinal o Flamengo, o Devon e o Schwitz virão a conquistar a preferência.
Nos últimos anos, tem o fabrico da manteiga e queijos tido enorme
desenvolvimento, e estes produtos gozam da preferência do povo nos mercados do Rio de Janeiro, pela razão de serem superiores aos seus similares de
outras partes do mundo. Dentro do estado, há mais de cem fábricas exclusivamente empenhadas na indústria de laticínios, e de ano para ano mais
avulta o número delas. No período de sete anos de 1901 a 1907, inclusive, as vendas foram as seguintes:
Leite |
22.712.809 litros |
Queijo |
29.227.289 quilos |
Manteiga |
5.290.218 quilos |
Só em 1910 a exportação de Minas Gerais para ouros centros brasileiros foi de:
Leite |
8.704.654 litros |
Queijo |
5.416.751 quilos |
Manteiga |
2.557.680 quilos |
A indústria do queijo, para dar grandes resultados, depende de facilidades de
transporte; e como vai em rápido progresso a construção de estradas de ferro, é de esperar que muito se expanda ainda este ramo de exportação.
A criação de porcos toma também grandes proporções, e o clima do estado é
excepcionalmente conveniente à sua expansão. A raça Canastra é a que goza da preferência geral. Na Exposição Pecuária realizada em 1908, na cidade
de Belo Horizonte, o porco premiado era desta raça e não pesava menos de 376 quilos. Contudo, a raça Yorkshire está sendo agora introduzida em
grande escala, adaptando-se perfeitamente às condições climatéricas do estado. A criação de galinhas é também de importância, sendo
considerável a exportação de frangos e ovos.
A riqueza agrícola de Minas consiste no cultivo do café, cereais, tabaco,
algodão e forragens. Em 1907, na exportação do estado figuraram Rs. 70.000:000$000 de café, Rs. 7.176:000$ de cereais, Rs. 54.000:000$ de fumo e Rs.
750:000$ de batatas.
O café de Minas Gerais representa um sexto da produção do Brasil, e um nono da
produção do mundo. Os cafezais em sua maioria estão de 300 a 500 metros acima do nível do mar. As altitudes maiores não são igualmente favoráveis ao
crescimento do café, pois, embora o cafeeiro resista sofrivelmente ao frio, ressente-se contudo da violência dos ventos.
Por terem sido proibidas novas plantações de café, pode-se garantir que o valor
da exportação de 1907 (cerca de 70.000:000$) não se alterou muito nos últimos anos.
O trigo, que já foi largamente cultivado em Minas, quase por completo
desapareceu. Agora se evidencia uma reação e estão de novo sendo semeadas áreas enormes deste cereal. Explica-se esta reanimação com os resultados
obtidos nos campos de experiência do estado. As médias, calculadas por hectare, dos resultados alcançados nessas experiências, deram 14,7
hectolitros para o trigo Trimenia, 16,7 para o Farro, 20,6 para o Majorca, 24,2 para o Barleto e 16 para o Francês.
Quanto ao peso, o resultado foi também lisonjeiro, tendo dado em média 76 quilos por hectolitro. Comparada a outras regiões produtoras, a posição de
Minas é perfeitamente satisfatória, como se vê abaixo:
Portugal |
9 hectolitros por hectare |
Estados Unidos |
11 hectolitros por hectare |
Argentina |
12 hectolitros por hectare |
Espanha |
14 hectolitros por hectare |
Áustria |
15 hectolitros por hectare |
França |
15,4 hectolitros por hectare |
Dinamarca |
17,4 hectolitros por hectare |
Noruega |
20,8 hectolitros por hectare |
Holanda |
22,2 hectolitros por hectare |
Bélgica |
25,1 hectolitros por hectare |
Inglaterra |
27,7 hectolitros por hectare |
A média, portanto, da produção mineira, só é excedida pela da Noruega, Holanda,
Bélgica e Inglaterra; e considerando-se apenas a colheita da espécie Barleto, só será excedida pela da Bélgica e Inglaterra.
São abundantes em Minas Gerais o capim gordura roxo, o jaraguá, o
colonia, o angola, o
teosinto
e outros, dando-se agora grande incremento à cultura da alfafa, por isso que, com a introdução de gado de boas raças, mais e mais necessária se está
tornando esta leguminosa.
O feijão, de que há constante procura, é vastamente cultivado, com especialidade
entre os pés de café, e a exportação em 1908 excedeu consideravelmente a 10.000.000 de quilos. A cultura do arroz muito tem progredido nos últimos
anos e em 1908 a exportação quase atingiu a
10.000.000,
ao passo que a do milho no mesmo ano foi de cerca de 27.000.000 de quilos.
Uma lancha no Rio São Francisco
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Mineração e outras indústrias – Desde os tempos coloniais até hoje, tem sido reconhecida a imensa riqueza mineral do estado: ouro, diamantes, manganês, esmeraldas,
turmalinas, o ferro, o chumbo e muitos outros produtos do subsolo são excessivamente abundantes.
Dizem que, durante o período colonial, foram extraídos 615.000.000 gramas de
ouro dos rios e das minas. Só de uma destas, a de Gongo Soco, no município de Santa bárbara, ao Norte de Ouro Preto, foram tirados 347 quilos em 16
dias do ano de 1829, e onze anos antes, de um só veio desta mesma mina tinham sido obtidos 170 quilos de ouro. Em 1824, no decurso de dois meses de
trabalho, forneceu ela 200 quilos.
Eis os dados da exportação de ouro em barra nos últimos anos:
|
Quantidade em gramas |
Valor oficial |
1896 |
2.030.142 |
5.483:000$252 |
1900 |
4.420.422 |
13.804:977$906 |
1904 |
4.081.109 |
10.203:189$713 |
1907 |
3.856.950 |
7.793:000$000 |
1908 |
3.905.180 |
7.894:000$000 |
1909 |
4.165.298 |
8.330:596$780 |
1910 |
3.751.682 |
7.503:3644$187 |
1911 |
4.298.760 |
|
Considerável número de companhias exploram o ouro de Minas gerais, podendo ser
mencionadas como as mais importantes: a Morro Velho Gold Mining Company, com capital de 12.000:000$, que há mais de 70 anos explora as minas do
morro do mesmo nome e de Vila Nova de Lima. Está situada a 15 quilômetros de Belo Horizonte e a 6 da estação de Honorio Bicalho. As duas primeiras
minas desta companhia foram destruídas por um acidente depois de terem produzido Rs. 103.573:000$ em ouro. A atual já atingiu a uma profundidade de
mais de 1.250 metros e a extração diária do minério é de 430 toneladas. O número de operários, de 1.100.
A Ouro Preto Gold Mines of Brazil Ltd., com o capital de 100.000 libras, que
possui as minas da Passagem, perto de Ouro Preto e Mariana; a Companhia Aurífera de Minas Gerais, com capital de 1.000:000$, que possui as minas de
D. Florisbela, na estação de Honório Bicalho; a São Bento Gold Estates, Ltd., que tem minas a 6 quilômetros da cidade de Santa Bárbara; a Rotulo
Company, Ltd., que opera na colônia Rotulo; o Anglo Brazilian Gold Syndicate, Ltd., que funciona no município de Santa Bárbara; a Companhia de
Mineração, que está empenhada na exploração do ouro no leito do Rio Piranga.
A produção de diamantes nos tempos coloniais foi, como a do ouro, muito maior do
que atualmente. No século XVIII, dentro de poucos meses, foram extraídos 333.000 quilates de diamantes de uma légua quadrada de terreno, na fonte do
Caeté Mirim. Entre os anos de 1740 e 1771 extraíram-se 1.660.569 quilates na região de Diamantina do Tijuco, no vale do Jequitinhonha. E entre os
anos de 1772 e 1828, obteve a companhia Real Extração Diamantina do Tijuco 1.319.192 quilates de diamantes.
A produção é agora muito menor, embora os algarismos oficiais não representem o
valor real pelo fato de dominar notoriamente o contrabando. Assim, no ano de 1900 foram pagos direitos sobre 2.441 gramas de diamantes, ao
passo que em 1906 só há o registro de 1.430 gramas.
Encontram-se diamantes em 15 distritos do estado e nos leitos de cerca de 25
rios, e a opinião corrente é que são superiores aos da Colônia do Cabo e do Transvaal, quer em beleza, quer em brilho. Têm sido encontrados no
estado alguns diamantes de grandes proporções. Em 1853, encontrou-se em Bagagem o famoso Estrela do Sul, que figurou na Exposição Universal
de Paris em 1859. Tinha de peso bruto 2.545 quilates e foi avaliado em Rs. 2.000:000$. Foi o maior diamante encontrado no Novo Mundo e pertence hoje
ao Rajá de Baroda.
Quatro anos mais tarde, foi achado na mesma região de Minas Gerais o diamante
Dresda, pesando 177 quilates. O Coroa de Portugal, de peso de 120 quilates, foi apanhado no Rio Abaeté; um de 70 quilates em Curralinho;
dois nas furnas do Pavão, pesando respectivamente 63 e 34 quilates.
Muitas outras pedras de valor têm sido encontradas no estado, principalmente nos
municípios de Rio Doce, Salinas, Ouro Preto, Arassuaí e Itinga, inclusive as turmalinas negras e verdes (esmeraldas brasileiras), águas-marinhas,
granadas, ametistas, amiantos, berilos, cimofanas, topázios e quartzos de várias cores.
Nas montanhas circunvizinhas e Belo Horizonte, Vila Nova de Lima e Itabira do
Campo e nas serras do município de Santa Bárbara, têm sido descobertas valiosas minas de ferro. Em toda a sua extensão, a cordilheira do Espinhaço
abunda em minérios de ferro, de variadas espécies - itabirite, hematite, limonite, oligisto e outras -, ao passo que o Monte Pilar, em Conceição do
Serro, é uma verdadeira montanha férrea. Os leitos de muitos rios, tais como o de Piracicaba, possuem minério de ferro.
A exportação atualmente é de um e meio milhão de quilos; mas em breves anos
Minas Gerais será a mais importante região produtora, porque para as suas ricas minas se volta a atenção de todos, à vista da decadência em que se
acha atualmente a produção de ferro no resto do mundo.
A extração do manganês é também de crescente importância, havendo numerosas
jazidas naturais no município de Ouro Preto, nas montanhas que margeiam a Estrada de Ferro Central, em São Julião e em várias outras partes do
estado. O minério é quase sempre transportado diretamente para o Rio de Janeiro, e em 1908 a remessa atingiu a cerca de 244.000.000 e quilos.
O estado é muito fabril. Há, com efeito, mais de 40 fábricas de tecidos de
algodão, e de muitos outros artigos, em Juiz de Fora, Caeté, Belo Horizonte, Barbacena etc. Eis uma curiosa lista de fábricas:
Pratos de ferro fundido, em Itabira do Campo, Piracicaba, Ouro Preto, Catas Altas, Mato Dentro, Pilar etc.; chapéus (feltro, cabelo e castor), em Curvelo, Gouvêa
e Diamantina; fumo (em folha, picado e em rolo) em Pomba, Guanhães, Palmira, Rio Novo, Patrocínio etc.; velas (de cera, sebo e
estearina) em Belo Horizonte e Juiz de Fora; papel, em Rio Acima (estação da Estrada de Ferro Central); cerveja, em juiz de Fora, Belo
Horizonte, Ouro Preto e Diamantina; produtos cerâmicos, em Caeté, Barbacena, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Penha Longa; couros, peles e
sola, em Juiz de Fora, Itabira do Campo, Aiuruoca, Uberaba, Diamantina, Montes Claros, Bocaiuva etc.; móveis, em Juiz de Fora e Belo
Horizonte; açúcar, em Rio Branco, Aracati, Ponte Nova; refinação de açúcar, em Juiz de Fora e Rio Branco; conservas, geléias e
frutas cristalizadas, em Barbacena, Sítio, Diamantina e Cachoeira do Campo; bebidas alcoólicas, em Juiz de Fora, Belo Horizonte, Porto
Novo, Ouro Preto, Passagem, Caxambu, Pequeri etc.; calçados, em Juiz de Fora e Diamantina; jóias, em Formiga, Diamantina,
Sabará, Montes Claros, Poços de Caldas; sabão, em Juiz de Fora e Belo Horizonte; meias e camisas de meia, em Juiz de Fora e Belo
Horizonte.
Cachoeira perto de Barbacena
Foto publicada com o texto, página 747. Clique >>aqui<< ou na imagem
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Vias de comunicação – Em 1908, era o estado de Minas Gerais servido por 4.215.706 quilômetros de estradas de ferro, como se vê em seguida:
|
Metros |
Central do Brasil |
869.092 |
Minas e Rio |
147.000 |
Muzambinho |
237.990 |
Oeste de Minas |
920.000 |
Goiás |
93.978 |
Mogiana |
302.000 |
Vitória a Minas |
69.700 |
Leopoldina |
851.035 |
Sapucaí |
407.000 |
Juiz de Fora a Piau |
58.101 |
Guaxupé (ramal da Mogiana) |
14.000 |
Paraopeba |
12.000 |
Bahia e Minas |
233.870 |
|
4.215.766 |
Desde então, têm sido abertas as
seguintes linhas:
Central do Brasil: |
|
Lassance a Pirapora |
84.000 |
Caeté a Sta. Bárbara |
50.000 |
Oeste de Minas: |
|
Belo Horizonte a Henrique Galvão |
150.000 |
Carrancas a Bom Jardim |
130.000 |
Leopoldina: |
|
Santa Luiza a Manhuaçu |
50.000 |
Piranguinho a S. José do Paraíso |
40.000 |
|
504.000 |
Pirapora, no Rio São Francisco
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A estrada mais importante no estado é talvez a Leopoldina, que dá pronto acesso
ao porto do Rio de Janeiro e serve a parte oriental do território. Mais para o Norte, a Vitória a Minas liga a capital do Espírito Santo a Sant'Anna
de Ferros, onde se entronca com um ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil recentemente construído.
Em futuro próximo, a Vitória a Minas percorrerá as ricas regiões de Peçanha e
Caratinga. A Bahia e Minas liga o porto de Caravelas, na Bahia, a Teófilo Otoni em Minas, sendo o escoadouro natural de todo o Norte do Estado. O
Sul é servido pela Minas e Rio, Muzambinho e Sapucaí. O Sudoeste, pela Mogiana, e o Oeste, pela Oeste de Minas, e o centro pela central do Brasil.
Mas há ainda uma grande região do Norte, que aguarda adequados meios de comunicação. Há muitas estradas públicas em Minas, além de rios navegáveis
em grande extensão.
1 e 3) Quartéis em Belo Horizonte; 2) Penitenciária de Ouro Preto
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