Fachada do Arsenal de Marinha, em bico-de-pena de Ribs
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Nos tempos de nossos avós
Olao Rodrigues
[I] |
Santos em 1822 |
[II] |
Famílias tradicionais |
[III] |
Profissões no ano da Independência |
[IV] |
Não havia abastecimento de água, mas sobravam as lavadeiras profissionais |
[V] |
Se havia criaturas de posses, também havia mendigos |
[VI] |
Entre os sacerdotes, um irmão do Patriarca |
[VII] |
As comemorações do 1º centenário |
V - Se havia criaturas de posses, também havia mendigos
Naquele tempo remoto, voltamos a dizer que Santos
carecia de recursos e conforto e bem-estar. Grande parte da população era pobre, muito pobre, pois restritos os meios de produção e produtividade,
mas havia fortuna concentrada, nas mãos de alguns negociantes, como aquele cidadão que, ao ser recenseado, declarou viver de suas rendas. Não é de
admirar, portanto, que subsistissem mendigos profissionais, o que hoje avulta, a despeito dos recursos assistenciais públicos e privados. No
Recenseamento de 1822, algumas criaturas declararam "viver de esmolas", embora se infira ser maior o número delas. Vamos, pois, tomar conhecimento
das mendicantes que havia na Vila e Praça de Santos há 150 anos.
Mendigos - Maria Luísa, 74 anos, solteira, Rua do Campo, casa 24; Ana Angélica,
viúva, 75 anos, que residia com um agregado, José Joaquim, 50 anos, solteiro, na Rua de Santa Catarina, casa 12; Rosa Francisca, 75 anos, solteira,
Rua do Campo, casa 1; Maria Inácia, 50 anos, viúva, morava com 2 filhas na Rua do Campo, casa 7; Ana Francisca, 64 anos, solteira, morava com 2
escravos na Rua do Campo, casa 44; Ana de Carvalho, 45 anos, viúva, residente no Embaré e Joaquim Pinto, 77 anos, casado, na Rua dos Quartéis, casa
3.
Negociantes - João Batista Barbosa, 40 anos, casado, tinha 1 escravo e morava
na Rua da Graça; Manuel d'Alvarenga, 60 anos, viúvo, vivia com 3 filhos e grupo de 60 escravos na Rua de Santo Antônio; Francisco de Barros, casado,
51 anos, que morava com sua mulher Ângela, 5 filhos e 17 escravos, na Rua de Santo Antônio; José Carvalho da Silva, 59 anos, viúvo, casado em
segundas núpcias com Ana Marcelino, irmã de José Bonifácio de Andrada e Silva e depois sogro de Antônio Carlos (1º); João da Silva Oliveira, 52
anos, casado com Clara Oliveira, de 40 anos, que residia com 10 filhos e 7 escravos na Rua de Santo Antônio; Antônio Marques das Neves, 33 anos,
solteiro, com 2 escravos, na Rua do Rosário; Manuel José Pereira, 50 anos, casado com Maria Peniche, morador com 3 filhos e 15 escravos, na Rua do
Rosário; João José Gomes, 35 anos, solteiro, na Rua do Campo; João de Sousa, tenente de milícias, 32 anos, casado, com 4 escravos, na Rua Direita;
Manuel José Dias, 456 anos, casado com Gertrudes Dias, morava com 2 filhos na Rua Direita; Romão José Florindo, 53 anos, casado com Ana Luísa, com 7
filhos e 6 escravos, residia na Travessa da Alfândega; Barnabé Francisco Vaz de Carvalhais, 32 anos, casado com Ana Zeferina VIeira de Carvalho, 26
anos, filha de José Antônio Vieira de Carvalho, governador do Fortim de Itapema e proprietário da Capela Jesus, Maria e José. Tinha 1 escravo e
morava na Rua da Praia, casa 1; José Toríbio, espanhol, 41 anos, solteiro, 6 escravos, Rua da Praia; Bernardino Antônio, tenente de milícias, 47
anos, viúvo, 7 filhos e 13 escravos, Rua da Praia; Manuel Antônio de Paiva, 47 anos, casado, Rua da Praia; Caetano Antônio Pereira de Barros,
sargento-mor, 59 anos, solteiro, com 17 escravos, Rua da Praia; Francisco Xavier da Costa Aguiar, 38 anos, solteiro, sobrinho de José Bonifácio de
Andrada e Silva; Cipriano Proost, 44 anos, solteiro, morava com 16 escravos na Rua Direita; José Joaquim Bandeira, 53 anos, solteiro, Rua da Praia;
Manuel Ribeiro Maciel, capitão d'Ordenança, 26 anos, casado com Cesarina Maciel, vivendo com 3 filhos e 6 escravos, na Rua de Santo Antônio; João
José Teixeira, 32 anos, solteiro, Rua Antonina; Antônio Martins dos Santos (Comendador Martins), 37 anos, casado com Senhorinha Martins dos Santos,
30 anos, vivia com 2 filhos e 2 agregados na Rua da Praia, casa 5; João Teixeira Chaves, também lavrador e abastado proprietário de terras na Ilha
de Santo Amaro, 45 anos, casado, Rua de Santo Antônio, casa 32; Joaquim Xavier Pinheiro, 41 anos, com 7 escravos, Rua Direita, casa 10, mais tarde
genitor do major Joaquim Xavier Pinheiro, que tem rua em Santos com seu nome; Luís Pereira Machado, 78 anos, também agricultor, casado com Quitéria,
76 anos e as filhas do primeiro casamento da esposa, Maria Luísa, 37 anos, e Luísa Maria, 37 anos, gêmeas, as Beatas dos
Quatro Cantos.
Ourives - Domingos José, 61 anos, casado com Luísa José, residente na Rua
Áurea; Manuel Régio, 58 anos, casado, Rua Septentrional, casa 3; Felizardo Maria, 54 anos, viúvo, Rua Meridional; José da Silva, miliciano, 40 anos,
casado com Francisca Silva, vivendo com 2 filhos na Rua de Santo Antônio.
Parteira - Teresa Maria de Jesus, viúva, 60 anos, moradora na Rua do Rosário.
Pedreiros - José Cirino, miliciano, 20 anos, solteiro, Rua Áurea; José Mariano,
49 anos, casado com Francisca Mariano, vivia com 3 filhos e 14 escravos, na Rua de Santo Antônio, casa 25; José Anacleto, miliciano, 41 anos, casado
com Maria Rita, 3r4 anos, tinha 4 filhos e residia na R. de S. Bento; Antônio Eufrásio, miliciano, 36 anos, solteiro, R. do Rosário; Justino, 30
anos, casado com Maria da Graça, 23 anos, Travessa da Banca do Peixe; José Cardoso, 72 anos, casado com Lourença Cardoso, 53 anos, com 1 filho e 9
escravos, na Rua de Santo Antônio, e Antônio Rodrigues, 52 anos, casado com Maria Rodrigues, 31 anos, tinha 5 filhos e residia na Rua do Valongo.
Pescadores - Prudente Manuel, cabo de ordenança, 40 anos, casado, 4 filhos, Rua
do Valongo; Sebastião João, 61 anos, casado, Rua de Santa Catarina; João de Deus, miliciano, 38 anos, casado, Rua do Valongo; Francisco José,
miliciano, 37 anos, casado, Embaré; Rafael Rodrigues, miliciano, 35 anos, casado, Embaré; Ricarda Maria, 62 anos, viúva, Rua dos Quartéis; João
Pereira, 63 anos, casado, Rua dos Quartéis; José Joaquim de Sant'Ana, Rua dos Quartéis; Manuel Coelho, 53 anos, Rua Josefina; João Nepomuceno, 53
anos, casado, Rua dos Qurtéis; Antônio Joaquim, 44 anos, Rua Josefina; Manuel Francisco, miliciano, 41 anos, casado, Rua Josefina; Tomás Mendes, 60
anos, viúvo, Rua Josefina; Inácio Antônio de Sampaio, 62 anos, casado, Rua do Valongo, casa 21, que "vive da pescaria de seus escravos"; Bernardo
José, miliciano, 34 anos, casado, Rua do Valongo; Antônio da Silveira, 48 anos, casado, Rua do Valongo; José Correia, sargento de ordenança, 53
anos, viúvo, Rua do Valongo; José de Morais, 57 anos, casado, Rua do Valongo; Bernardino Pereira, 55 anos, casado, Rua do Valongo; João Guedes, 39
anos, casado, Rua do Valongo; Manuel Joaquim, miliciano, 40 anos, casado, Rua do Valongo; e Sebastião José, 60 anos, viúvo, Rua do Valongo.
Professor - O único professor recenseado foi Leocádio José Ferreira, professor
pecuniário de primeiras letras, branco, solteiro, de 40 anos, que vive do seu ensino e tem um escravo, morando na Rua do Carmo, casa 39. Era
conhecido por mestre Leocádio e lecionava em domicílios, a crianças de ambos os sexos. "Fizesse bom tempo ou chovesse, e fosse qual fosse a estação
do ano, usava sempre um longo capote de cor duvidosa, e em um de seus profundos bolsos interiores trazia sinistramente a palmatória - insígnia da
autoridade professoral; ao entrar, cumprimentava secamente os alunos e pessoas da família acaso presentes, sacava placidamente da férula, colocava-a
sobre a mesa e não poupava os bolos nem mesmo às pobres meninas, pouco aplicadas ou travessas", diz Alberto de Sousa em Os Andradas.
Pintor - José Francisco, 34 anos, casado, Rua de Santo Antônio.
Quitandeiras - Antônia Maria, 38 anos,
solteira, Rua do Carmo; Luciana Jacinta, 44 anos, viúva, Rua do Campo; Maria Florinda, 56 anos, viúva, Rua do Campo; Rosa Onistrada, 54 anos,
solteira, Rua de Santo Antônio; Rosa do Espírito Santo, 30 anos, solteira, Rua de Santo Antônio; Maria Úrsula, 43 anos, solteira, Rua do Campo;
Maria Blanda, 40 anos, solteira, Rua do Campo, e Isidora da Costa, 68 anos, solteira, Rua do Rosário.
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