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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PERSONAGENS
Tipos curiosos (6)

Santos teve muitos valentões e provocadores de brigas, mas este - mesmo não sendo da Baixada Santista e tendo vivido principalmente em Minas Gerais - se destacou entre eles no imaginário da população, sendo referido assim no Almanaque da Baixada Santista de 1973, redigido pelo saudoso jornalista Olao Rodrigues e produzido por Bandeira Júnior e sua editora Indicador Turístico de Santos:

Sete orelhas

Era o apelido de Januário Garcia. Entre 1800 e 1803, homem dado a bravatas, provocando rixas e criando inimigos irreconciliáveis, Sete Orelhas experimentou a infelicidade de ver um filho assassinado.

Jurou guerra à família do assassino, uniu-se aos tios Mateus Garcia e Salvador Garcia, conhecidos facínoras na época, abandonou a família e durante 10 anos andou à cata daquele que tirara a vida do seu filho.

Retornou trazendo presas a um cordão sete orelhas do autor ou autores e cúmplices do assassínio do filho.

Quando acadêmico, o notável Martim Francisco de Andrada e Silva escreveu sobre as façanhas de Januário Garcia, que foi homem muito falado e temido a seu tempo.

O drama vivido pelo Sete Orelhas foi até explorado por uma companhia teatral - a Filodramática - que o levou à cena na velha e ruinosa casa de espetáculos do Largo da Coroação, atual Praça Visconde de Mauá. A 26 de setembro de 1803, Januário Garcia fora preso por ordem expressa do governador da Metrópole.

O site Wikipedia registra (consulta em 10/2/2007), sobre esse personagem:


Januário Garcia Leal
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Januário Garcia Leal, o Sete Orelhas, (Jacuí, 1761 - Lava Tudo, Lages, 16 de maio de 1808) foi um dos mais terríveis facínoras do interior brasileiro, pior que Lucas da Feira, Cunduru, Antônio Silvino, Lampião et magna concomitante caterva.

Januário Garcia Leal foi um fazendeiro que vivia na propriedade denominada Ventania, situada no sul de Minas Gerais, juntamente com sua família e escravos. Em 21 de janeiro de 1802, recebeu carta patente assinada pelo Capitão General da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de Lorena, nomeando-o como Capitão de Ordenanças do Distrito de São José e Nossa Senhora das Dores (hoje Alfenas). Sua vida foi pacata até que um acontecimento trágico a mudou definitivamente: a morte covarde de seu irmão João Garcia Leal, que foi surpreendido na localidade de São Bento Abade por sete homens e atado nu em uma árvore, onde foi assassinado a sangue frio, tendo os homicidas retirado lentamente toda a pele de seu corpo.

A burocrática justiça colonial mostrou-se absolutamente indiferente ao episódio, deixando impunes os sete irmãos que haviam perpetrado a revoltante barbárie. Foi assim que, ante a indiferença dos órgãos de repressão à criminalidade, Januário associou-se a seu irmão caçula Salvador Garcia Leal e ao tio, Mateus Luís Garcia, e, juntos, os três capitães de milícias assumiram pessoalmente a tarefa de localizar e sentenciar os autores do crime contra João Garcia Leal, dando início a uma perseguição atroz que relembrou obscuros tempos da história da humanidade, quando a justiça ainda era feita pelas próprias mãos.

A lei escolhida por Januário, chefe do bando de justiceiros privados, foi a de Talião, ou seja, a morte aos matadores - com o requinte estarrecedor de se decepar uma orelha de cada criminoso, juntando-as em um macabro cordão que era publicamente exibido como troféu pelos implacáveis vingadores.

Somente depois de decepada a última orelha dos criminosos é que Januário deu-se por satisfeito. Até então, grande parte da então Capitania de Minas Gerais ficou sujeita à autoridade dos vingadores, que chegaram a desafiar magistrados e milicianos, sendo necessária a dura intervenção de Dom João VI, então Príncipe Regente de Portugal, para tentar debelar a ação dos capitães revoltados, que foram duramente perseguidos.

Segundo a tradição oral, relatada por Gustavo Barroso, o "Sete Orelhas" teria morrido em decorrência de um acidente numa porteira. A morte se deu por um trauma que, por ironia do destino, foi na região da orelha direita, fraturando-lhe o crânio e o queixo. Tal trauma ocorreu quando o capitão cercava um cavalo que pulou uma porteira de varas, vindo uma das varas a desferir-lhe o golpe fatal.[1]

Teria sido a história de Januário Garcia Leal mais impressionante do que a do cangaceiro Lampião, como afirmado por Gustavo Barroso? O "Rei do Cangaço" atuou no Nordeste brasileiro por mais de duas décadas e se valia dos meios de comunicação da época, inclusive a fotografia, para a construção de seu próprio mito.

Quanto a Januário e seu bando, sacudiram a Capitania de Minas Gerais, sobrepondo-se às autoridades policiais e judiciárias, conquistando fama e respeito com seus impressionantes feitos, sem que precisassem contar com qualquer instrumento de propaganda. A ação dos vingadores em Minas Gerais, segundo um documento do período, colocava em risco a soberania do próprio Estado português. Mais um detalhe merece destaque: Januário Garcia Leal sempre viveu na região Sudeste do Brasil.

Detalhes biográficos e genealógicos
Januário Garcia Leal, cognominado "Sete Orelhas", foi filho de Pedro Garcia Leal (açoriano, filho de João Garcia Pinheiro e Maria Leal) e de Josefa Cordeiro Borba (nascida na freguesia de Cotia, São Paulo, filha de Inácio Diniz Caldeira e Escolástica Cordeiro Borba).

São irmãos de Januário: José Garcia Leal (n. 1755); Joaquim Garcia Leal (n. 1758); João Garcia Leal (n. 1759); Manuel Garcia Leal (n. 1763); Antônio Garcia Leal (n. 1764); Ana Garcia Leal (n. 1766); Maria Garcia Leal (n. 1767); e Salvador Garcia Leal (n. 1768).

Januário Garcia Leal foi casado com Dona Mariana Lourença de Oliveira (filha de João Lourenço de Oliveira, natural de São João del-Rei, e de Rita Rosa de Jesus, da freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo), com quem teve descendência.

Nota
[*] No início de 2006, a pesquisadora catarinense Tânia Arruda Kotchergenko localizou no Museu Histórico do Tribunal de Justiça de Santa Catarina o inventário de Januário Garcia Leal. Este documento confirmou que, à época de sua morte, Januário Garcia Leal exercia a função de mercador, tal qual seu pai, Pedro Garcia Leal. A documentação contém a carta patente original que lhe conferiu o posto de Capitão de Ordenanças do Distrito de São José e Nossa Senhora das Dores, as procurações de sua mulher e filho, declarações de testemunhas e, ainda, o exame de Corpo de Delito. 

Bibliografia
RIBEIRO DE ANDRADA, Martin Francisco. Januário Garcia – O Sete Orelhas. Drama em três atos e cinco quadros. São Paulo: Typographia do Governo, 1849.
SOUZA MIRANDA, Marcos Paulo de. Jurisdição dos Capitães - A História de Januário Garcia Leal e Seu Bando. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2001.
SOUSA, Benefredo de. Estórias ou História do sete Orelhas?!... 1973 (Reeditado em 1997).
TEIXEIRA DE MEIRELLES, José. A Vida de Januário Garcia, o Sete orelhas.

Em sua obra Genealogia Paulistana, Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919) publicou uma correção relativa a Januário Garcia Leal, na página 62 do volume VIII. O engano inicial do ilustre genealogista teria sido a causa de diversos outros erros em citações sobre aquele personagem:

Pág. 62

6-4 Januario Garcia Leal (o sete orelhas) de quem tratamos no V. 3.º (N.E.: correto é V. 6º) pág. 405 [1].

5-3 Matheus Luiz Garcia foi tio de Januário Garcia Leal (o sete orelhas) e não primo como escrevemos no V. 6.º pág. 405; foi o criador da freguesia de São João Nepomuceno em Minas. Teve q. d.:

6-1 Diogo Garcia da Cruz.

6-1 Diogo Garcia da Cruz casado com Innocencia Constança de Figueredo que vieram de Minas para Mocóca em 1837 e estão sepultados em Casa Branca. Teve:

7-1 Gabriel Garcia de Figueredo, barão de Monte Santo, nascido em 1816 e falecido em 1895, que foi casado e deixou os f.ºs:

8-1 Maria Candida, †.

8-2 Anna Jacintha de Figueredo casada com o comendador Urias Gonçalves dos Santos. V. 4.º pág. 405.

8-3 Carolina Emilia de Figueredo casada com o capitão José Joaquim de Figueredo.

8-4 Manianna Constança de Figueredo, †.

8-5 Joaquim Silverio de Figueredo, †.

8-6 José Gabriel de Figueredo, residente em S. José do Rio Pardo.

8-7 Maria Pia de Figueredo casada com o tenente coronel Custodio Fernandes Pinheiro, proprietário.

7-2 Coronel Diogo Garcia de Figueredo, com numerosa descendência.

7-3 José Garcia casado com Anna Dias.

7-4 Joaquim Garcia casado com Jacintha Carolina dos Reis, foram sogros dos n.ºs. 7-1 e 7-2 supra.

7-5 Matheus Justino de Figueredo casado com Marianna, faleceram em Minas.

7-6 João, casado com Anna ..., falecidos em S. João Nepomuceno.


[1] A vingança que tirou Januario Garcia foi motivada pelo assassinato de um irmão do dito Januario e não de seu f.º, como escrevemos no V. 6.º citado. É tradição viva em Casa Branca entre os descendentes do sargento-mor José Garcia Leal n.º 6-3 ser este irmão de Januario Garcia Leal (o sete orelhas).

Novo Milênio agradece a contribuição do internauta Gilberto Ribeiro, em 29/12/2006, que permitiu complementar as informações desta página. Gilberto acrescenta: "Ele é um personagem muito forte aqui em Minas, suas histórias atravessam gerações, suas aventuras povoam o imaginário popular. Já tive confirmação de que a fazenda ainda existe, assim como a famosa figueira."