Januário Garcia Leal
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Januário Garcia Leal, o Sete Orelhas, (Jacuí, 1761 - Lava Tudo, Lages, 16 de maio de 1808) foi um dos
mais terríveis facínoras do interior brasileiro, pior que Lucas da Feira, Cunduru, Antônio Silvino, Lampião et magna concomitante caterva.
Januário Garcia Leal foi um fazendeiro que vivia na propriedade denominada Ventania,
situada no sul de Minas Gerais, juntamente com sua família e escravos. Em 21 de janeiro de 1802, recebeu carta patente assinada pelo Capitão General
da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de Lorena, nomeando-o como Capitão de Ordenanças do Distrito de São José e Nossa Senhora das Dores (hoje
Alfenas). Sua vida foi pacata até que um acontecimento trágico a mudou definitivamente: a morte covarde de seu irmão João Garcia Leal, que foi
surpreendido na localidade de São Bento Abade por sete homens e atado nu em uma árvore, onde foi assassinado a sangue frio, tendo os homicidas
retirado lentamente toda a pele de seu corpo.
A burocrática justiça colonial mostrou-se absolutamente indiferente ao episódio,
deixando impunes os sete irmãos que haviam perpetrado a revoltante barbárie. Foi assim que, ante a indiferença dos órgãos de repressão à
criminalidade, Januário associou-se a seu irmão caçula Salvador Garcia Leal e ao tio, Mateus Luís Garcia, e, juntos, os três capitães de milícias
assumiram pessoalmente a tarefa de localizar e sentenciar os autores do crime contra João Garcia Leal, dando início a uma perseguição atroz que
relembrou obscuros tempos da história da humanidade, quando a justiça ainda era feita pelas próprias mãos.
A lei escolhida por Januário, chefe do bando de justiceiros privados, foi a de Talião,
ou seja, a morte aos matadores - com o requinte estarrecedor de se decepar uma orelha de cada criminoso, juntando-as em um macabro cordão que era
publicamente exibido como troféu pelos implacáveis vingadores.
Somente depois de decepada a última orelha dos criminosos é que Januário deu-se por
satisfeito. Até então, grande parte da então Capitania de Minas Gerais ficou sujeita à autoridade dos vingadores, que chegaram a desafiar
magistrados e milicianos, sendo necessária a dura intervenção de Dom João VI, então Príncipe Regente de Portugal, para tentar debelar a ação dos
capitães revoltados, que foram duramente perseguidos.
Segundo a tradição oral, relatada por Gustavo Barroso, o "Sete Orelhas"
teria morrido em decorrência de um acidente numa porteira. A morte se deu por um trauma que, por ironia do destino, foi na região da orelha direita,
fraturando-lhe o crânio e o queixo. Tal trauma ocorreu quando o capitão cercava um cavalo que pulou uma porteira de varas, vindo uma das varas a
desferir-lhe o golpe fatal.[1]
Teria sido a história de Januário Garcia Leal mais impressionante do que a do
cangaceiro Lampião, como afirmado por Gustavo Barroso? O "Rei do Cangaço" atuou no Nordeste brasileiro por mais de duas décadas e se valia dos meios
de comunicação da época, inclusive a fotografia, para a construção de seu próprio mito.
Quanto a Januário e seu bando, sacudiram a Capitania de Minas Gerais, sobrepondo-se às
autoridades policiais e judiciárias, conquistando fama e respeito com seus impressionantes feitos, sem que precisassem contar com qualquer
instrumento de propaganda. A ação dos vingadores em Minas Gerais, segundo um documento do período, colocava em risco a soberania do próprio Estado
português. Mais um detalhe merece destaque: Januário Garcia Leal sempre viveu na região Sudeste do Brasil.
Detalhes biográficos e genealógicos
Januário Garcia Leal, cognominado "Sete Orelhas", foi filho de Pedro Garcia Leal
(açoriano, filho de João Garcia Pinheiro e Maria Leal) e de Josefa Cordeiro Borba (nascida na freguesia de Cotia, São Paulo, filha de Inácio Diniz
Caldeira e Escolástica Cordeiro Borba).
São irmãos de Januário: José Garcia Leal (n. 1755); Joaquim Garcia Leal (n. 1758);
João Garcia Leal (n. 1759); Manuel Garcia Leal (n. 1763); Antônio Garcia Leal (n. 1764); Ana Garcia Leal (n. 1766); Maria Garcia Leal (n. 1767); e
Salvador Garcia Leal (n. 1768).
Januário Garcia Leal foi casado com Dona Mariana Lourença de Oliveira (filha de João
Lourenço de Oliveira, natural de São João del-Rei, e de Rita Rosa de Jesus, da freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo), com quem
teve descendência.
Nota
[*]
No início de 2006, a pesquisadora catarinense Tânia Arruda Kotchergenko localizou no Museu Histórico do Tribunal de Justiça de Santa Catarina o
inventário de Januário Garcia Leal. Este documento confirmou que, à época de sua morte, Januário Garcia Leal exercia a função de mercador, tal qual
seu pai, Pedro Garcia Leal. A documentação contém a carta patente original que lhe conferiu o posto de Capitão de Ordenanças do Distrito de São José
e Nossa Senhora das Dores, as procurações de sua mulher e filho, declarações de testemunhas e, ainda, o exame de Corpo de Delito.
Bibliografia
RIBEIRO DE
ANDRADA, Martin Francisco. Januário Garcia – O Sete Orelhas. Drama em três atos e cinco quadros. São Paulo: Typographia do Governo, 1849.
SOUZA MIRANDA,
Marcos Paulo de. Jurisdição dos Capitães - A História de Januário Garcia Leal e Seu Bando. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2001.
SOUSA, Benefredo
de. Estórias ou História do sete Orelhas?!... 1973 (Reeditado em 1997).
TEIXEIRA DE
MEIRELLES, José. A Vida de Januário Garcia, o Sete orelhas. |