Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0292o2.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/20/12 21:34:52
Clique na imagem para voltar à página principal

HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - II GUERRA
Santos na II Guerra Mundial (16-B)

Leva para a página anterior
Em princípios do século XXI, diversos documentos relativos à Segunda Guerra Mundial foram desclassificados, isto é, perderam o caráter de secretos, possibilitando sua pesquisa nos arquivos. Eles revelam novos pormenores dos relacionamentos entre os países e as colônias de imigrantes. Mas há também outros arquivos mantidos e divulgados pela National Diet Library, no Japão (acesso em 20/9/2012), como a última página (16) do jornal paulistano Folha da Noite, de 10 de julho de 1943, em sua segunda edição (10 horas), tratando da retirada de Santos de todos os japoneses e alemães:

Imagem: reprodução do documento divulgado pela biblioteca japonesa

Todos os japoneses e alemães de Santos

já foram removidos para São Paulo

Continuam a chegar trens repletos de "eixistas" procedentes do Litoral - Os alemães inventavam enfermidades para escapar à medida policial - Austríacos e perseguidos pela Gestapo

Santos, 9 (Do enviado especial da Folha da Noite, pelo telefone) - Continuam os srs. Affonso Celso, delegado auxiliar e Nelson da Veiga,d elegado de Ordem Política de Santos, a despender esforços no sentido de terminar o envio de japoneses e alemães para São Paulo, em cumprimento às ordens emanadas do superintendente de Segurança Política e Social, major Vieira de Mello.

Embarcados todos os japoneses e alemães residentes na cidade - Graças às medidas preventivas postas em prática pelo delegado auxiliar, o titular da Ordem Política já conseguiu embarcar para São Paulo todos os japoneses registrados e que residiam na cidade, o mesmo acontecendo com os alemães, cujo total é de 700, aproximadamente. Pela manhã de hoje, embarcaram 775 pessoas e, à noite, o total de embarcados atingiu a 600. "Como vemos, somente hoje, deixaram esta cidade 1.375 eixistas. Incluindo os que embarcaram ontem, temos um total de 2.030. Não estão computados na cifra acima os que seguiram por conta própria, bem como as crianças menores de 3 anos. A estimativa geral é de cerca de 3.000 pessoas.

A partir de amanhã, as autoridades providenciarão o embarque dos eixistas não registrados e residentes fora da cidade, incluindo São Vicente, Guarujá e localidades próximas.

Recursos para escapar à remoção - Como tem sido acentuado, os eixistas atingidos pela providência do major Vieira de Mello, de modo algum foram colhidos de surpresa, pois de há muito estavam avisados de que deviam mudar-se. Abusando da tolerância da autoridade, a maioria foi ficando e, com o tempo, chegaram a desistir de cumprir as determinações recebidas, naturalmente na presunção de que tudo, afinal, ficaria como estava e ninguém precisaria arredar o pé do lugar.

Resultado dessa falsa crença foi acontecer, para eles, o pior. De uma hora para outra, tiveram de levantar acampamento. A princípio, muitos ainda não acreditaram na efetivação da medida e pretenderam recalcitrar. A energia e serenidade da autoridade, porém, os chamaram à realidade.

Mesmo assim, ainda houve os que tentaram reagir ou retardar a execução da medida policial, apresentando uma série infindável de recursos, sobressaindo entre eles os "doentes", que acorreram aos médicos, a fim de conseguir atestados. Deparamos com numerosos deles que se diziam portadores de moléstias de toda natureza. Um simples resfriado, era o bastante para requerer "repouso absoluto" e impedir que o "paciente" saísse sequer à rua, principalmente nesses dias que correm, em que Santos tem experimentado uma temperatura algo fria. Nessas condições, subir à Serra, ainda que bem agasalhado e medicado, era sujeitar-se a grandes males.

Primeiramente, quem surgiu com esse recurso de última hora foram os alemães. Posteriormente, ao descobrirem o hábil truque, os japoneses formaram fila.

Uma casa de madeira, tipicamente japonesa, em Vila Macuco

Foto: detalhe da página 16 do jornal Folha da Noite de 10/7/1943

Não faltaram os pistolões - Paciente e zelosamente, o delegado de Ordem Política, ao compreender os recursos, tratou de anulá-los a todos, sem qualquer contemplação. Os alemães, ainda em primeiro lugar, quando verificaram a ineficácia do método, passaram a lançar mão dos pistolões. Queriam, quando não uma exceção, pelo menos adiar a partida e outros privilégios.

O delegado Affonso Celso teve de resistir a tremendos "cercos", encaminhando os "recomendados" ao delegado Nelson da Veiga. Esta autoridade os recebia atenciosamente, mostrando-lhes a impossibilidade de qualquer proteção. Alguns insistiam.

E a autoridade, já cansada de tanta insistência, encontrava jeito especial para contentá-los - e desiludi-los, afinal. Algumas vezes, vimo-lo, com ar compreensível:

"- Bom, vá lá uma concessãozinha, especialmente para o senhor... e para mais ninguém. Em vez de embarcar já, pode embarcar daqui há uma hora. Se não pode embarcar no trem das 2, consinto que embarque no trem das 4 horas".

E, assim, todos desistiam de qualquer reação.

Padres alemães - A medida foi tão rigorosa que nem os padres escaparam. Todos os sacerdotes alemães rumaram para São Paulo, o mesmo acontecendo com as irmãs religiosas. Também embarcaram os austríacos, os que se diziam judeus e perseguidos pelo nazismo ou vítimas da "Gestapo". Alemães e japoneses naturalizados, que tentavam prevalecer-se dessa circunstância, tiveram igualmente de entrar no cordão.

Uma casa de madeira, tipicamente japonesa, em Vila Macuco

Foto: detalhe da página 8 do jornal Folha da Noite de 10/7/1943

 

No pátio da Imigração

Seguem para o interior as primeiras levas

de súditos do eixo removidos do litoral

Continuam as remoções do litoral paulista - O clube Lira transformado em hospedaria dos súditos da Alemanha

Prosseguem no Departamento de Imigração e Colonização os trabalhos de registro dos súditos do eixo removidos da zona litorânea para a Capital. Cresce o número de alemães e japoneses na Hospedaria daquele Departamento, com a chegada de novas levas. Ainda ontem à noite, foram removidas mais 674 pessoas. O major Vieira de Mello, que pessoalmente está acompanhando os trabalhos, providenciou, então, um novo alojamento para os súditos da Alemanha, sendo para isso destinadas as dependências do Clube Lira.

A reportagem da Folha da Noite pôde apurar, ainda, que já foi iniciada, ontem à noite, a distribuição dos súditos do eixo pelo interior paulista, em cidades onde não há tropas militares aquarteladas. Hoje pela manhã, em trem da Sorocabana seguiu uma leva para Presidente Prudente

Durante os conflitos, os agricultores japoneses que antes da guerra estavam envolvidos na produção e exportação de hortelã-menta para os Estados Unidos tiveram esse comércio interrompido. Com os preços em alta, os imigrantes japoneses no Brasil pretendiam lucrar com essa plantação, mas surgiu forte oposição, alegando-se que tal planta seria usada na produção de explosivos. O mesmo aconteceu com os sericicultores (produtores de seda), alegando-se que o tecido seria usado na confecção de paraquedas pelos japoneses. Com isso, ocorreu a queima de plantações e instalações de sericicultura no interior paulista. Estes dois documentos em japonês fazem tais afirmações sobre o uso bélico da hortelã-menta [01/02] e foram divulgados pela National Diet Library, no Japão (acesso em 20/9/2012):


Imagens: reprodução dos documentos divulgados pelo governo japonês

Nesse período conturbado, não faltaram notícias falsas dirigidas aos japoneses imigrados. Estes são dois exemplos [01/02] documentados e divulgados pela National Diet Library, no Japão (acesso em 20/9/2012):


Imagens: reprodução dos documentos divulgados pelo governo japonês

A representação diplomática sueca, que ficou encarregada dos interesses nipônicos no Brasil, precisou esclarecer a comunidade sobre o fato de o Japão ter perdido a guerra, como noticiou o paulistano Jornal de São Paulo, na edição de sexta-feira, 19 de abril de 1946, em exemplar preservado e divulgado pela National Diet Library, no Japão (acesso em 20/9/2012):


Imagens: reprodução dos documentos divulgados pelo governo japonês

Leva para a página seguinte da série