HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
II GUERRA
Santos na II Guerra Mundial (7)
A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que
temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade.
Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil.
E a cidade também compareceu com sua cota de sacrifício humano e material para o esforço de guerra brasileiro, enviando seus pracinhas para o
combate nos campos de batalha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.
A entrada do Brasil na guerra aconteceu a partir do torpedeamento de navios brasileiros pelas belonaves alemãs, em 1942, quando se
iniciava o quarto ano do conflito internacional. Santos promoveu uma missa de réquiem na Catedral, assim registrada na edição de 1º de setembro
de 1942 do jornal santista A Tribuna:
Missa de "requiem" mandada celebrar pelo Lloyd Brasileiro e Companhia Nacional de
Navegação Costeira
Conforme estava anunciado, as agências locais do Lloyd
Brasileiro e Companhia Nacional de Navegação Costeira mandaram rezar, ontem, às 9 horas, na Catedral, uma missa de "requiem" sufragando as almas das
vítimas dos torpedeamentos, pelos submarinos do "eixo", dos navios "Anibal Benevolo", "Baependi", "Arara", "Araraquara"
e "Itagiba".
O ato, que obedeceu a todo o cerimonial católico, revestiu-se de grande solenidade,
vendo-se entre as numerosas pessoas presentes, as seguintes autoridades: dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, prefeito municipal; dr. Afonso Celso
de Paula Lima, delegado auxiliar de polícia; dr. Nelson da Veiga, diretor do trânsito; dr. Euclides de Campos, diretor do Fórum; comandante
Adalberto Cotrim Coimbra, capitão dos Portos do Estado de S. Paulo; dr. Ismael de Sousa, inspetor geral da Companhia Docas de Santos; capitão
Ildebrando Moura e cap. Moreti, comandante e sub-comandante do Corpo de Bombeiros; comandante Ricardino do Prado, agente do Lloyd Brasileiro e
família; Manoel Peirão Júnior, agente da Companhia Nacional de Navegação Costeira, e diretor gerente de L. Figueiredo S.A., e outras, cujos nomes
não foram anotados.
A fotografia acima mostra um aspecto do interior da Catedral, apanhado durantae a
solenidade. |
Essa mesma edição de 1º de setembro de 1942 de A Tribuna
apresentava, em manchete:
Decretado o estado de guerra em todo o território nacional
IMPORTANTES ATOS ASSINADOS PELO CHEFE DA NAÇÃO
RIO, 31 (A.N.) - Urgente - O presidente da República assinou um decreto declarando
o "estado de guerra" em todo o território brasileiro, de acordo com o artigo 74, letra K, da Constituição Federal.
VEDADO O FUNCIONAMENTO DE COMPANHIAS DE SEGUROS ALEMÃS E ITALIANAS
RIO, 31 (A.N.) - Urgente - O presidente da República assinou decreto-lei cassando a
autorização de funcionamento das companhias de seguros alemãs e italianas, devendo o Instituto de Resseguros do Brasil promover a liquidação das
mesmas.
PRORROGAÇÃO DE PERÍODOS DAS FORÇAS POLICIAIS
RIO, 31 (A.N.) - Urgente - O presidente da República assinou um decreto-lei
autorizando os governos dos Estados a prorrogar por mais um ano os períodos de engajamento e locação de serviços de forças policiais.
FACULTADA A RESCISÃO DOS CONTRATOS DE SERVIÇO COM SÚDITOS DO "EIXO" - LÍCITA A
SUSPENSÃO DOS EMPREGADOS, ATÉ A COMPETENTE AUTORIZAÇÃO DO MINISTRO DO TRABALHO
RIO, 31 (A.N.) - Urgente - O presidente da República assinou decreto-lei facultando
aos empregadores o direito de rescindir os contratos de trabalho com empregados estrangeiros, súditos das nações com as quais o Brasil haja rompido
relações diplomáticas ou se encontre em estado de beligerância, mediante autorização prévia do ministro do Trabalho, sendo lícita, entretanto, a
suspensão dos empregados antes da obtenção da autorização.
Os empregados assim demitidos terão direito a uma indenização correspondente a meio
mês de salário por ano de serviço, não sendo computadas como salário importâncias superiores a dois contos de réis. A indenização será feita,
obrigatoriamente, em parcelas mensais, no total de mensalidades correspondentes ao número de anos de serviço.
PERMITIDO O TRABALHO COM DURAÇÃO NORMAL DE 10 HORAS - ACRÉSCIMO DE, NO MÍNIMO, 20%
SOBRE O SALÁRIO-HORA NORMAL - ASSEGURADO O DESCANSO SEMANAL
RIO, 31 (A.N.) - Urgente - O presidente da República assinou decreto-lei determinando
que, mediante prévia autorização do ministro do Trabalho, poderá ser permitido, nas empresas de serviços públicos ou que interessem à produção e à
defesa nacional, o trabalho com duração normal de 10 horas. O trabalho, nas horas que excederem de oito, será remunerado com salário acrescido, pelo
menos, de 20% sobre a remuneração das horas normais. Nas empresas de serviço público ou que interessem à produção e à defesa nacional, também
mediante prévia autorização do ministro do Trabalho, poderá ser facultado o trabalho contínuo, assegurando-se, entretanto, ao empregado, o descanso
semanal. |
Na mesma edição de 1/9/1942, telegramas da agência de notícias Reuters
noticiavam "Avançam os russos em Stalingrado - Detida há mais de 72 horas a investida nazista contra esse baluarte soviético - Em alguns pontos,
as forças moscovitas ganham terreno - Von Bock não pôde cumprir sua promessa de desfilar ante-ontem pelas ruas da cidade - 'Todos para a frente de
batalha', é o entusiástico 'slogan' russo - Contidas todas as arremetidas teutas ao longo da linha de defesa do Cáucaso".
Telegramas da agência United Press (UP) procedentes de Melbourne, na Austrália, se
referiam à frente de batalha asiática: "Os nipônicos abandonaram a Baía de Milnes - Mais uma vez derrotadas as forças do Mikado, que sofreram
pesadas perdas em homens e material bélico - Grandes quantidades de suprimentos, inclusive equipamentos e carros de assalto, foram deixados pelos
amarelos - Repelidos ataques aéreos japoneses a Port-Darwin e à Ilha Guadalcanal".
De Moscou, a capital russa, também pela agência UP, as notícias: "Esmagadores os
contra-ataques do Gral. Zukhov na Região de Rzehv - Não se modificou a feição da luta, favorável aos soviéticos, apesar dos importantes reforços
recebidos pelos teutos - Libertada a cidade de Zubitzov, cujos moradores foram cruelmente maltratados durante a ocupação alemã".
E
a nota: "Um apelo de Hitler - NOVA YORK, 31 (U.P.) - Urgente - A 'BBC' anunciou que a rádio de Berlim transmitiu um apelo de Hitler pedindo ao
povo alemão que 'faça novos e grandes sacrifícios' para poder fazer frente ao quarto ano de guerra".
O jornal de 1/9/1942 também registrava o convite da Juventude Brasileira de Santos para
que escolares, autoridades civis e militares e a população em geral assistissem à missa campal que seria celebrada nesse dia, "às 10 horas, na Praça
Mauá, em frente ao Paço Municipal, em ação de graças pelo restabelecimento do ilustre Presidente da República, Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas". Um
telegrama da Agência Nacional, do Rio de Janeiro, informava ter sido decretado pelo prefeito daquela capital feriado municipal no dia 5 de setembro, dia
da Juventude Brasileira.
O comércio local comparecia com um curioso anúncio, nessa mesma edição:
E também era destacado o aviso:
Interdição de praças de esportes para jogos ou treinos noturnos
De acordo com as determinações do sr. Prefeito Municipal,
baseadas nas determinações baixadas pelo Comando da 4ª Zona Aérea, datadas de 27 de agosto, - esta Comissão Central de Esportes leva ao conhecimento
dos interessados que ficam interditadas para jogos ou treinos noturnos as seguintes praças de esportes: Clube Atlântico, Netuno A. C., Fluminense A.
C., Associação "João Otávio dos Santos", Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube de Regatas Saldanha da Gama, Balneário T. C., Santos F. C., A. A.
Portuguesa e Cia. City A. C., sendo os três últimos no que se refere ao futebol.
As demais praças de esportes somente poderão funcionar à noite, ou mesmo fazer
experiência de suas iluminações, com ordem expressa desta Comissão.
As diretorias dos clubes responderão pela fiel observância das presentes instruções. |
O editorial de A Tribuna, na primeira página, traçava o cenário
da guerra naquele momento:
Verifica-se hoje, à passagem do 3º ano da guerra, que a
situação em geral, se desenha francamente favorável às Nações Unidas, no que respeita às suas possibilidades para a continuação da luta. Resulta
essa observação do confronto sereno entre as forças litigantes, apesar das vantagens territoriais obtidas, desde o início, pelos idealizadores da
"nova ordem" no mundo. Entra-se no quarto ano de hostilidades sem (N.E.: SIC: seria "em")
que os acontecimentos, até aqui desenrolados nos vários setores, nos levam à convicção de que as vitórias totalitárias se firmam em bases sólidas e
duradouras.
A reação aliada se patenteia, de uma a outra extremidade do vasto campo de operações,
levando, especialmente, o terror e a destruição aos centros vitais do nazismo, na Europa. A intensificação dos ataques aéreos, em massa, contra o
Reich, resultante da ação conjunta das esquadrilhas britânicas e soviéticas, em quasi toda a extensão do território inimigo, destina-se ao
cumprimento da promessa feita pelo comando aliado, de que a Alemanha seria arrasada de um extremo a outro, até obrigá-la a pedir a paz.
O ataque aéreo constitue, realmente, a chave da vitória, afirma, com muita
propriedade, conhecido articulista de um dos órgãos londrinos. As operações realizadas à luz do dia, contra o Reich, pelas "fortalezas voadoras"
norte-americanas, em combinação com as ofensivas noturnas dos britânicos, deram início a tal trabalho de destruição, que será continuado sem
desfalecimentos.
Enquanto os bombardeadores anglo-norte-americanos martelam sem cessar as regiões
centrais e sulinas da Alemanha, as bombas soviéticas devastam a Leste e ao Norte, sobre Berlim e na Silésia. O ataque recente contra Nuremberg,
pelos pilotos da RAF, de sexta-feira para sábado, transformou a cidade num "mar de chamas", tal o terrível bombardeio a que foi submetida.
Chegam-nos também notícias do último raide sobre Mogúncia, onde considerável foi a devastação, achando-se obstruída a maior parte das ruas, com a
suspensão total do tráfego, no centro urbano.
Berlim foi novamente bombardeada pelos soviéticos, na noite de sábado, bem assim
Koenigsberg, Dantzig, Sttetin e numerosas outras localidades da Alemanha Central e oriental. Particularmente violento foi o bombardeio da capital
germânica, onde lavraram cerca de cincoenta incêndios, de proporções devastadoras. E assim se vai desmoronando, lentamente, o poderio do ditador que
se arrogou o direito de liderar, pela força, a opinião mundial. Os três anos de guerra, decorridos, já se devem ter proporcionado infindos
dissabores. O quarto ano, que hoje se inicia, deverá proporcionar-lhe angustiosas surpresas, das quais também participará o aliado do Pacífico, onde
as forças de MacArthur já desencadearam a reação esperada, com a vitoriosa campanha das Ilhas Salomão.
Informa o Q.G. Aliado, no Pacífico Sul Ocidental, que as tropas japonesas estão sendo
rapidamente varridas da área da baía de Milne. As posições dos amarelos, em Kokoda, Buna e Gona, foram violentamente bombardeadas, por poderosas
esquadrilhas aliadas, acentuando-se, cada vez mais, a reação norte-americana contra o invasor, desalojado de novas e importantes bases, nesse setor.
Intensos ataques foram desferidos, em massa, pela aviação aliada contra os aeródromos
do "eixo", localizados a Oeste de Marsa Matruh, bem como contra as instalações portuárias de Tobruk, anunciando o comunicado inglês terem sido
plenamente atingidos os objetivos visados nessa violenta incursão. Comunica, outrossim, o Ministério da Guerra da Grã-Bretanha, que as forças
alemãs, no Egito, atacaram ontem, pela manhã, o flanco sul britâncio, perto de El-Himeimat, onde a luta prossegue, não se sabendo, com segurança, si
se trata de uma nova ofensiva, em grande escala, do marechal von Rommel.
140 mil poloneses já foram executados pelos nazistas e outros 769 mil assassinados ou
torturados até a morte, segundo revela o embaixador da Polônia, nos Estados Unidos. Além disso, mais de 2 milhões foram expulsos de suas casas e
propriedades pelos invasores alemães, cuja fúria criminosa não cessa contra as populações escravizadas. |
Exemplar do jornal no acervo do historiador Waldir Rueda Martins
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