Prisioneiros japoneses numa fazenda-prisão no Brasil
Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial
(Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa,
S.Paulo/SP, 1995)
Campos de concentração no Brasil
Durante a Segunda Guerra, o Brasil também teve seus
campos de concentração. Em lugar dos judeus estavam alemães. Os campos brasileiros, porém, eram a antítese dos europeus. Mais se assemelhavam a
colônias de férias. Em vez de torturas e câmaras de gás, proporcionavam aos prisioneiros banhos de piscina e partidas de futebol.
No livro O Canto do Vento, lançado no início de 1995, o jornalista Camões Filho
contou como funcionavam esses lugares. Os campos de concentração do governo brasileiro eram fazendas-prisões instaladas no interior de São Paulo -
Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Ribeirão Preto e Pirassununga - onde, entre 1944 e 1945, ficaram detidos 244 alemães. No local onde funcionou o
campo em Guaratinguetá está hoje a Escola de Sargentos da Aeronáutica, e o de Pindamonhangaba, a fazenda mais populosa da época, abriga hoje a
Estação Experimental de Zootecnia. Nenhum alemão morreu nesses locais em decorrência dos maus-tratos. Ao contrário, quase todos gostaram tanto do
Brasil que acabaram ficando.
A idéia, segundo Camões Filho, partiu de um oficial que, após ler o noticiário da
guerra sobre o confinamento de judeus em campos nazistas, achou que o Brasil deveria fazer o mesmo com o inimigo. Esses alemães aportaram em Santos
(SP) por causa de um desvio de rota e, nos primeiros tempos, desfrutaram o litoral paulista no navio de luxo em que viajavam, o Windhuk,
sustentados pelo governo alemão. Com o rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha, a situação se complicou.
O governo de Getúlio Vargas desrespeitou convenções internacionais ao enviar
tripulantes e passageiros para as fazendas. "A vida nos campos era tranqüila", contou a sobrevivente Kurt Brenneke, aos 81 anos, em março de 1995.
Apesar de submeterem os alemães a uma rotina que pouco lembrava a de uma prisão - eles nadavam pela manhã e cultivavam suas próprias hortas à tarde
-, os campos tinham características de presídio: eram cercados por arames farpados e vigiados.
Nos finais de semana os alemães viravam atração turística para os moradores das
cidades vizinhas. Os homens jogavam futebol contra os detentos e muitas das moças suspiravam pelos estrangeiros.
Therezinha Dantas, moradora de Pindamonhangaba, resumiu o clima de absoluta
camaradagem em entrevista à revista Veja: "Eu e meu marido, que era aviador, íamos sempre lá. Muitas vezes comíamos os pãezinhos que os
alemães tinham enorme prazer em oferecer aos visitantes".
Erwin Dietrich, outro sobrevivente, com 74 anos em março de 1995, foi um adesista de
primeira hora à causa nazista. "Eu sou nazista", disse ele em entrevista ao Jornal da Tarde. Outros sobreviventes ouvidos pelo jornal, Jonny
Specht e Otto Kramper, admitiram que na época simpatizavam com o nazismo, mas hoje tentam evitar discussões políticas. "Éramos jovens, com 20, 22
anos", disse Kramper. "Fomos educados com as idéias de Hitler. A Alemanha vinha de um período ruim e o governo queria mudar tudo". Os três
reclamaram do governo brasileiro. Achavam que não deveriam ter sido presos e denunciaram que seus bens foram confiscados depois de os terem confiado
à guarda do Lloyd Brasileiro.
Sobreviventes contaram ao Jornal da Tarde algumas histórias que não constam do
livro O Canto do Vento. Como em toda prisão, eram vigiados por guardas, sob o comando de um diretor. A Cruz Vermelha se encarregava da
correspondência, que era censurada. Os presos também não tinham acesso a jornais. Por fim, algumas empresas alemãs que atuavam no Brasil articularam
entre a comunidade germânica de São Paulo o apadrinhamento deles, na tentativa de que a estada fosse melhorada. (Fábio Galvão) |