Esperança da autonomia já mobiliza políticos
Os políticos voltaram a respirar o ar da autonomia. E, pela
primeira vez em 14 anos, têm diante de si algo palpável, acessível, embora falte ainda a aprovação pelo Senado e a sanção presidencial ao primeiro
projeto de restabelecimento da autonomia aprovado pela Câmara Federal.
Foi sem dúvida um fato concreto e que já mobiliza os meios políticos e os
estrategistas de plantão para que tirem o pó das urnas.
Mas a perspectiva da autonomia chegou em tempo conturbado. Nunca os políticos de
Santos viveram um momento como este, que joga com o desgaste do maior partido de Oposição, o PMDB, vitorioso nas urnas em novembro com eleição de 11
vereadores e quatro deputados, mas que se lançou na substituição, por nomeação, do cargo de prefeito. E não se pode analisar ou especular coisa
alguma, no campo político, sem passar pelo episódio da lista tríplice.
Os candidatos, ávidos pela perspectiva da autonomia, já colocam seus nomes nas listas
de prefeituráveis. Inclusive os do PMDB. Del Bosco Amaral e Rubens Lara se definiram. Mas um dos candidatos, o presidente do diretório
Osvaldo Justo, último vice-prefeito eleito de Santos (título que bastaria para seu lançamento), está em posição delicada, pois acaba de ser indicado
na lista tríplice como postulante a prefeito nomeado.
Justo pretende começar de novo. E pode ser lançado com o slogan usado pelo
parceiro na eleição de 68, Esmeraldo Tarquínio, cuja morte impediu seu regresso à Assembléia.
A ânsia da liberdade, com a autonomia, gerou a especulação de que se o PMDB lançar
candidatos em três sublegendas, ocupadas por Justo, Del Bosco e Lara, jamais seria alcançado em votação por qualquer eventual composição do tipo
PDS-PTB. "Nem que se lançasse o ex-prefeito Carvalho tendo como vice o Zé Gonçalves e com o apoio irrestrito do pai do projeto da autonomia, Gastone
Righi" - comentava-se nos bastidores peemedebistas.
Há espaço para tal especulação. Carvalho não é filiado ao PTB, mas também não tem
trânsito livre na atual cúpula do PMDB santista. E se desenha a estratégia do apoio de Righi à sua candidatura pelo partido trabalhista, obviamente
se o casamento PDS-PTB gerar a natalidade de uma chapa forte e recompondo aos quadros governistas o ex-prefeito. O projeto de Righi seria o canal da
campanha.
Mas há o outro lado da moeda. E estaria na formalização de um instrumento que desse ao
PDS a chance de se recompor da fragorosa derrota de novembro. De que forma o partido poderia se reorganizar e encontrar dentre os filiados um
candidato forte para o eventual pleito?
A informação de que o prefeito Paulo Gomes Barbosa buscaria em Brasília, na semana que
vem, o aval do senador biônico Amaral Furlan para uma emenda estratégica ao projeto de Righi, poderá abrir o caminho buscado pelos pedessistas. A
emenda trataria do seguinte: o PDS aprovaria o projeto de Righi no Senado, mas incluiria a manutenção do atual prefeito no cargo até que se
realizassem eleições. Isso impediria que o PMDB entrasse na história com a lista tríplice e que utilizasse a máquina administrativa da Prefeitura
azeitada para a campanha peemedebista.
Mas duas questões são jogadas no tabuleiro da especulação. O PMDB lançará um nomeado
mesmo tendo a perspectiva da autonomia? Qual a necessidade de o presidente João Figueiredo liberar os nomes da lista se realmente existe a
perspectiva da devolução da autonomia?
São questões que fazem pensar. Mas que não conduzem, hoje, a nenhuma definição
concreta. Talvez porque os 14 anos sem autonomia e tantas informações sem fundamento sobre a restituição, nesse tempo, tenham calejado a habilidade
dos políticos. Esmeraldo Tarquínio costumava repetir sempre: "Autonomia só quando o decreto estiver publicado no Diário Oficial da União".
Governo não concordaria
BRASÍLIA - O Governo não pretende promover qualquer alteração na situação atual
dos municípios considerados de interesse da segurança nacional, nem retirar qualquer deles, isoladamente, desta classificação, dentro do atual
quadro político. A informação é de um assessor direto do presidente da República, ao negar que Santos tenha devolvida sua autonomia via Legislativo.
"O Governo praticamente já concluiu todos os estudos sobre a matéria e suas diversas
variáveis. No entanto, está tudo paralisado, aguardando a evolução do quadro político nacional, já que há muitas implicações na alteração do sistema
como um todo. E a mudança não será parcial ou analisados caso a caso os problemas de cada município nessa situação. Toda a matéria está na
dependência de alterações também na Lei de Segurança Nacional. Eventualmente, poderá ser alterado o aspecto específico da autonomia dos municípios
de segurança nacional, sempre tendo em vista a evolução do quadro político como um todo", afirmou a autoridade do Governo Federal.
A mesma fonte informa que, diante desta postura do Governo, "é lógico" se prever que a
lei que devolve a autonomia a Santos não passará pelo Senado, uma vez que aí o Governo tem maioria tranqüila e os líderes do PDS não permitiriam a
aprovação para posterior veto do presidente Figueiredo, com inevitável desgaste de sua imagem.
Governo nega
BRASÍLIA - O líder do Governo, deputado Nélson Marchezan, negou ontem que haja
acordo do PDS com o PTB para aprovação, no Senado, do projeto de Gastone Righi (PTB-SP), que restaura a autonomia política do Município de Santos.
"Houve apenas acordo parlamentar feito por um dos meus vice-líderes com o Gastone Righi", esclareceu o deputado, acrescentando que sua posição é no
sentido de aguardar o envio ao Congresso de mensagem do Governo, reduzindo significativamente os municípios considerados área de segurança nacional.
"Não sei se Santos estará entre estes, e nem estou anunciando a próxima vinda do
projeto", ressaltou o líder do Governo. "Só sei que há entendimento do Governo no sentido de reduzir substancialmente tais municípios".
Mobilização gaúcha - No Rio Grande do Sul, deputados e vereadores do PDS e da
Oposição, representantes dos 25 municípios daquele Estado considerados área de segurança nacional e, ainda, membros da seção regional da Ordem dos
Advogados do Brasil se reuniram ontem de manhã, na Assembléia Legislativa, e decidiram deflagrar um movimento nacional pleiteando o restabelecimento
das eleições para as prefeituras dos cerca de 130 municípios que se encontram nas mesmas condições em todo o Pais.
Defendendo a realização das eleições a 15 de novembro de 1984, para um mandato de
quatro anos (cujo término coincidiria com as eleições municipais previstas para 1988), os participantes do encontro anunciaram que enviarão
documento ao presidente João Figueiredo, aos presidentes da Câmara e do Senado e aos líderes de todos os partidos, destacando a necessidade do
restabelecimento das eleições como um direito das populações desses municípios e uma seqüência natural do processo de abertura política.
Objetivo do PMDB é prosseguir na luta
Se a autonomia não for restabelecida, os peemedebistas vão ocupar a cadeira do
prefeito e dar prosseguimento à luta. Mas, se for devolvida, vão bater palmas e tratar do lançamento de candidato.
É esta a opinião do presidente do diretório, Osvaldo Justo, lançado como um dos nomes
da lista tríplice para a substituição do prefeito Paulo Gomes Barbosa, por nomeação. Justo, porém, cita um ditado forte, para dizer que "veneno se
combate com veneno" e que o PMDB está articulado para o que der e vier: "Nossa lista tríplice é a espada de Dâmocles sobre a cabeça dos adversários.
Nós temos uma estratégia partidária e se enganam os que pensam que nós fomos apanhados de surpresa ou que caímos numa armadilha".
Justo prefere manter-se no episódio da lista tríplice, enviada ontem ao presidente do
diretório regional, Fernando Henrique Cardoso, e não quer saber de eventuais candidatos à eleição direta caso a autonomia seja restabelecida
brevemente.
"Vamos bater palmas se a autonomia sair. Mas não quero agora falar de candidatos à
eleição porque não se cogita isso na liderança do partido. Nossa luta é pela autonomia e eventuais candidaturas ficam para o futuro", diz Justo,
fazendo questão de não confirmar e nem desmentir a possibilidade de ser candidato no pleito direto.
Ele prossegue: "Bastou uma ameaça do PMDB e foram correndo buscar a
autonomia, que nos vem sendo negada há mais de 15 anos. Só o presidente Figueiredo prometeu três vezes e não cumpriu. Nessa luta perdemos até o
nosso presidente, Esmeraldo Tarquínio. Nós não começamos essa luta ontem e os santistas sabem disso porque não são bobos. O fato é que antes nós não
tínhamos o Governo do Estado nas mãos e agora temos. E se não derem a autonomia, vamos tomar a Prefeitura e instalar no gabinete do prefeito o
prosseguimento da luta".
Rubens Lara
Foto publicada com a matéria
Ao
informar que a lista tríplice com o seu nome, o do engenheiro Luís Alberto Maia e do professor José Antônio Paiva já seguiu para São Paulo, Justo
achou sem efeito uma declaração sobre a proposta do deputado federal Del Bosco Amaral, que pediu ao diretório que não enviasse a lista até que o
projeto do deputado Gastone Righi (PTB) seja aprovado no Senado.
Lara candidato - O deputado estadual Rubens Lara reafirmou ontem que sairá como
candidato à convenção do PMDB santista assim que a autonomia seja restabelecida. "Apresentarei meu nome aos convencionais", disse, elevando a dois o
número de candidatos peemedebistas e somando-se ao que já afirmou o deputado federal Del Bosco Amaral.
"Faremos um trabalho intenso, com mensagem e programa que atendam à maioria dos
santistas", diz Lara, para considerar-se um candidato forte e citando, entre outras coisas, que foi o segundo deputado mais votado em Santos na
última eleição, obtendo aqui 35 mil votos e só perdendo para Mário Covas Júnior. Cita, ainda, sua condição de vice-presidente do diretório regional
e de vice-líder do partido na Assembléia, cargos que poderão influir na escolha do candidato.
Lara, porém, prefere aguardar o restabelecimento da autonomia, "em definitivo", para
então dar início ao trabalho junto aos convencionais. Diz que sua moção de número 026, de apoio ao projeto do deputado Gastone Righi, será votada na
Assembléia na segunda ou na terça-feira e fala sobre o lançamento da lista tríplice: "Valeu a ameaça de indicarmos candidatos, porque as coisas já
começam a mudar, mesmo com o partido correndo o risco de má interpretação por parte de alguns".
Carvalho, candidato, espera uma definição
"Aguardo a definição da autonomia para ir buscar nas urnas a confirmação e o respaldo
pelos meus cinco anos de administração da Cidade com trabalho e honestidade".
Foram estas as palavras do ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, presidente da
Associação Comercial de Santos, ao ser indagado sobre sua provável candidatura. Ao confirmar a intenção, Carvalho se disse satisfeito em sentir que
está próxima a hora do retorno da autonomia e não deixou por menos: "Fui o único santista que ofereceu algum sacrifício na luta pela autonomia,
quando renunciei ao cargo de diretor financeiro da Codesp, no ano passado, para candidatar-me à Prefeitura caso a autonomia fosse restabelecida
antes de novembro. Não conheço ninguém que tenha agido assim".
Carvalho prefere não falar em filiação partidária. Não está ligado a nenhum partido,
oficialmente, mas dá uma pista que pode levá-lo ao PTB de Jânio Quadros, ao dizer uma frase que o ex-presidente citou antes de definir-se como
candidato a governador em 82: "Qualquer definição só tomarei depois de minha viagem a Portugal, a negócios, com embarque previsto para o dia 11 de
maio".
Descarta sua eventual filiação ao PDS, dizendo: "O PDS terá um grande problema para
escolher seu candidato, porque tem vários", citando nominalmente o ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes e lembrando: "O Sílvio declarou a A Tribuna
no dia 30 de janeiro de 1980 que se um dia fosse restabelecida a autonomia e eu fosse candidato que ele também seria candidato, para disputar as
urnas comigo". E cita outros: Álvaro Fontes, Ibrahim do Carmo Mauá, José Lopes dos Santos Filho, Milton Lopes, Gonçalo Peres Gil, Athié Jorge Coury
e Ângelo Ramos, acrescentando: "Pelo que sei, são todos candidatos".
Pelo PMDB, ele considera que o partido deve lançar candidato único e cita o nome de
Osvaldo Justo, "porque foi o mais votado na recente prévia do partido e porque ele se julga um político hábil".
Gonçalves - O ex-vereador e vice-presidente do Diretório Regional do PTB, José
Gonçalves, admitiu a possibilidade de participar da eleição municipal como candidato a vice-prefeito, mas só se for pelo PTB. "Por outro partido",
disse, "Nem que seja para ir para o céu". Assim, ele deixou clara sua posição em relação a Antônio Manoel de Carvalho, que se lançou candidato a
prefeito.
"Considero o Carvalho o maior prefeito que já tivemos e, por isso, aceitei, em outra
ocasião, ser seu vice-prefeito de chapa. Mas meu compromisso com ele foi naquela ocasião. Hoje é um caso a estudar".
De qualquer forma, Gonçalves mostra-se pessimista em relação à brevidade da eleição e
levanta a hipótese de o projeto de lei do deputado Gastone Righi, também do PTB, vir a ser sancionado pelo presidente Figueiredo com veto do prazo
de 180 dias para escolha do novo prefeito.
PDT com Danilo - A participação do PDT nas eleições para prefeito de Santos vai
depender de duas questões fundamentais: a possibilidade de coligação de partidos e o apoio do governador do Rio, Leonel Brizola. Se houver esse
apoio, o próprio presidente do diretório municipal, Danilo de Barros Fernandes, coloca-se como candidato.
"O projeto do PDT só é viável se o partido se afirmar em São Paulo", disse Danilo, "e
por isso estou buscando um apoio concreto do Brizola, com quem estive recentemente". Danilo espera esse apoio e, nesse caso, será candidato.
De qualquer forma, porém, o partido lançará seus nomes para a eleição municipal e,
entre estes, poderão estar, entre outros, os nomes de Antônio Peres Oliva e de Iara Lia Pereira, já lançados em outra ocasião. Danilo está estudando
a legislação eleitoral e diz que, se for possível, poderá ser estudada uma coligação com outro partido.
Jessé e Edmea - No Diretório Municipal do PT não se lança nomes, ainda, para a
Prefeitura, alegando-se a necessidade de uma discussão com as bases. Mas tanto Jessé Rebello, já indicado em outra época para o cargo, como a
presidenta do diretório, Edmea Ladevig, não descartam seus próprios nomes, caso sejam decididos em convenção. Também admite-se a possibilidade de
formação de uma chapa feminina, como resultado "da grande força de participação de algumas mulheres no processo de organização em todos os níveis".
Jessé Rebello afirma que sua candidatura extra-oficial aconteceu em uma época em que
se buscava a autonomia. "Agora surgiram fatos novos e a questão deve ser reestudada pelo partido". Porém, Jessé se coloca como um soldado e diz que
aceitará a indicação caso ela surja concretamente a nível de diretório.
Edmea apóia - A presidenta do diretório, Edmea Ladevig, concorda ser a
candidatura uma questão a ser discutida, mas particularmente é de opinião que Jessé deve continuar, juntamente com mais dois nomes, aproveitando-se,
assim, as sublegendas.
Edmea diz estar saindo de um trabalho cansativo à frente do diretório e também em
decorrência de sua campanha como candidata à Assembléia Legislativa. Mas considera válido que seja colocado seu nome na convenção. "Não estou
postulando a candidatura, mas é uma idéia válida", disse.
Também a idéia de lançamento de uma chapa feminina foi admitida pela presidenta do
diretório, ressaltando a "importante participação que a mulher tem demonstrado na organização, em todos os níveis, com muita garra e vivacidade. Mas
não deve ser uma chapa feminina apenas por tratarem-se de mulheres, mas sim uma chapa que reúna mulheres com um trabalho já demonstrado".
"O que defendo", disse Edmea, "é a presença de algumas mulheres nessa condição, seja
dentro de uma chapa feminina ou em outra da qual participem homens também. Todas essas idéias são válidas, mas de momento o mais importante é a
pré-convenção para eleição do diretório".
Paulo Barbosa
Luiz Antonio Ribeiro
S ílvio F. Lopes
Fotos publicadas com a matéria
Barbosa organiza sucessão municipal
E o prefeito Paulo Gomes Barbosa já está organizando a estrutura do Executivo para a
sucessão municipal. Continua dizendo que pretende ser o último prefeito nomeado - e há indicações de que realmente estaria trabalhando nesse sentido
-: tem três preferências dentro do PDS para concorrer à Prefeitura, e está maquinando em Brasília o que pretende manter como seu grande
trunfo: a vinda do presidente João Figueiredo a Santos, no início de julho, para ser assinado aqui o decreto da restituição da autonomia.
Ao contrário do líder de seu partido, Mílton Lopes, que acha prematuro lançar "prefeituráveis",
Barbosa já enumera três entre os vários possíveis candidatos em potencial do PDS. Um não é surpresa nenhuma: trata-se do secretário jurídico Luiz
Antônio de Oliveira Ribeiro, já cogitado por Barbosa em outras ocasiões. Os outros dois nomes, entretanto, chegam a surpreender. O primeiro é o
ex-prefeito e, ao que se saiba, ainda inimigo político do prefeito, Sílvio Fernandes Lopes. O outro é a revelação, o presidente da Prodesan, Odair
Gonzalez.
Evidentemente que os nomes traduzem a preferência pessoal do prefeito, e não
significam que o diretório municipal do PDS os ratifique. Apenas num ponto Barbosa acredita estar falando também em nome do partido: "Precisamos é
de uma renovação total na Prefeitura". Diante dessa afirmação, a indicação de Sílvio Fernandes Lopes seria uma contradição aparente que Barbosa não
nega. Mas explica: "O Sílvio é um grande executivo, e não representa propriamente uma contradição à vontade de inovar. Sem dúvida ele se mantém, até
hoje, um hábil administrador".
Ao lado da competência de Sílvio Fernandes Lopes, o prefeito coloca com a mesma
importância a habilidade política e a qualidade de bom negociador de Luiz Antônio, e a "revelação administrativa" de Gonzalez. E o PDS teria outros
nomes viáveis a serem submetidos ao voto direto? Barbosa diz que sim, mas não aponta quais seriam os outros bons elementos do partido. "Eles sem
dúvida poderão surgir do consenso do diretório".
Negociações - Como o diretório do PDS ainda não cogita nomes, oficialmente, e
as declarações de Barbosa são exclusivamente pessoais, ganham relevância as negociações que, segundo elementos do partido, começaram já há alguns
dias, quando a possibilidade de aprovação do projeto do deputado Gastone Righi (PTB), restituindo a autonomia de Santos, era considerada grande.
Segundo esses elementos, Barbosa tem insistido que quer ser o último prefeito nomeado,
e seria sua intenção, na viagem que fará segunda-feira a Brasília, tentar garantir uma emenda no projeto de Gastone, pelo Senado. E a emenda - que
poderia até ser de autoria do senador biônico Amaral Furlan, com quem Barbosa esteve recentemente - seria para que o prefeito atual fosse mantido
até a eleição.
Barbosa não reconhece isso, mas confirma que procurará senadores do PDS,
segunda-feira, para "solicitar-lhes que votem favoravelmente ao projeto do Gastone". O que Barbosa deixa evidente é que tentará, de todas as formas,
evitar que o PMDB colha os frutos da restituição da autonomia".
E para garantir a chance de disputar uma eleição em teóricas condições de
igualdade, Barbosa está interessado em trazer a Santos, para participar da inauguração das obras da entrada da Cidade, lá pelo dia 5 de julho, o
presidente Figueiredo. Além de demonstrar com isso sua facilidade de acesso ao presidente, Barbosa pretenderia que o anúncio oficial e final da
volta da autonomia fosse dado num palanque onde ele e o presidente estivessem lado a lado.
Mas entre as especulações que se têm feito a respeito há a indicação que Figueiredo
viria a Santos com outro político, e inimigo ferrenho de Barbosa, o ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, que continua desvinculado
partidariamente. A possibilidade de Carvalho ligar-se ao PDS para disputar as eleições não é, obviamente, bem vista por Barbosa. E sobre isso ele
prefere agir como uma porta: ficar mudo. "Meu silêncio representa o que eu penso a respeito".
"Como presidente do diretório, considero prematuro o lançamento de nomes para
prefeito, sob o risco de queimá-los", disse, ontem, o líder do PDS na Cidade, Milton Lopes, não endossando os nomes citados pelo prefeito Paulo
Gomes Barbosa. Lopes pretende, primeiro, ver restabelecida a autonomia e, até lá, procurar unir as diferentes correntes, uma tarefa que considera
não tão difícil quanto será para o PMDB.
Milton Lopes não descartou a possibilidade de uma coligação com outro partido - no
caso o PTB - "mas ela deve vir de nível superior". Segundo o pedessista, os candidatos terão que sair do diretório, em convenção de seus 44 membros,
e já estão sendo discutidos nomes em cima dos quais será feito o trabalho. "Algumas correntes defendem o lançamento de um nome já feito; outras
querem renovação com nomes novos. Eu, particularmente, defendo uma mesclagem".
O PDS, admitiu Lopes, está aberto até mesmo para novos grupos, mas apesar de
reconhecer tratar-se de um bom nome, considerou difícil o lançamento de Antônio Manoel de Carvalho. "Primeiro ele precisaria se filiar, e, depois,
enfrentaria o problema do atrito com diversas áreas dentro do partido".
Luiz Antônio - O secretário de Assuntos Jurídicos, Luiz Antônio de Oliveira
Ribeiro, um dos nomes citados ontem pelo prefeito, não quis se colocar como candidato, mas também não descartou a possibilidade. "Sou um homem de
partido", disse, e estou à mercê do que o partido decidir sobre a minha pessoa".
"Dentro de um partido", explicou Luiz Antônio, "é indissociável a cidadania ativa da
passiva. Quem está dentro do partido para votar está necessariamente sujeito a ser votado". Luiz Antônio, porém, considera prematura a cogitação de
nomes.
Um susto - O presidente da Prodesan, Odair Gonzalez, poderia esperar tudo do
prefeito, menos ser lembrado como um nome viável para disputar a Prefeitura pelo PDS. "Essa lembrança é uma surpreendente honra, mas confesso que
nunca pensei a respeito", diria Gonzalez ao saber, indiretamente, que é um dos preferidos de Paulo Barbosa. E o presidente da Prodesan não precisou
pensar muito para dizer que aceitaria ou não uma indicação de seu nome: "Uma indicação do prefeito eu aceito, e fico lisonjeado".
Há quatro meses dirigindo a empresa, Gonzalez diz que nunca conversou com o prefeito
acerca de uma provável candidatura, por isso nunca lhe ter passado pela cabeça. "Agora acho que vou parar para pensar a respeito disso", diria,
salientando que talvez até aceite submeter-se a uma escolha do diretório pedessista. A aceitação, no caso, seria exclusivamente por sua condição de
administrador, e não pela posição política. "Aqui na Prodesan já consegui fazer alguma coisa, e posso dizer que, administrativamente, confio no meu
taco".
Vereadores quase não falam sobre o assunto
O processo parlamentar em torno da restituição da autonomia continua atraindo a
atenção da comunidade e dos partidos políticos, mas curiosamente falou-se pouco a respeito disso na Câmara Municipal, ontem. Os vereadores, em sua
maioria, deram seqüência a suas atividades normais, sem repetir as discussões que normalmente se formavam quando a questão da autonomia mostrava-se
próxima de ser solucionada.
Enquanto líderes partidários cogitavam já dos eventuais nomes a serem apoiados na
eleição e o assunto ganhava as ruas e as conversas de amigos, os vereadores resguardavam-se. Apenas os da bancada peemedebista falavam alguma coisa,
mas atacando outro lado da questão sucessória, o da discutível nomeação do substituto de Paulo Gomes Barbosa. Tanto que, mesmo estando vivendo
momentos vitais na luta pela autonomia, o interesse era mandar logo ao governador a lista tríplice para antecipar a saída de Barbosa, episódio que
poderá ser mais complicado do que se imagina.
O vereador Moacir de Oliveira (PMDB), por exemplo, que sempre fez questão de defender
a autonomia como única alternativa política para Santos, diz que só com a indicação da lista tríplice ao presidente Figueiredo é que se poderá
exonerar o "famigerado" Paulo Barbosa. Sobre a postura do PMDB no episódio, o vereador afirma: "O nosso partido deveria ter mais audácia, não temer
em dizer que levamos o sr. Figueiredo e todo o sistema a um impasse: ou nomeia um nome de oposição na valente Santos, ou liberta nossa Cidade,
através da autonomia".
Para Moacir, os prejuízos eleitorais que o PMDB possa ter com a decisão serão
momentâneos, acreditando que a população reconhecerá que a autonomia foi restituída pelo trabalho desenvolvido pelo partido. "Temos certeza que
fizemos o que devíamos fazer, e que com isso conseguimos arrancar a autonomia, ainda que através de um projeto do PTB e com apoio do PDS". Sua
confiança vai mais longe: "Que se preparem todos os partidos políticos para as eleições, que se preparem para ser esmagados, porque Santos é
oposição, e oposição é PMDB".
Manifestações - A comunidade, por sua vez, também monopolizou atenções na
autonomia. O presidente da Fundação Lusíada, Eraldo Aurélio Franzese, enviou telex ao presidente da Câmara Federal, deputado Flávio Marcílio,
parabenizando-o pela aprovação do projeto de lei do "ilustre santista" Gastone Righi, lembrando que a Cidade merece o "sagrado e inalienável direito
de escolher seus governantes". Franzese dirigiu-se à Câmara como presidente da diretoria executiva da Fundação, e não como filiado do PTB.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Fausto Figueira de Melo Júnior, também
manifestou-se a respeito da aprovação do projeto de Righi: "Vindo a autonomia, acredito que o novo prefeito, na medida em que terá compromisso com o
povo, deverá colocar o setor Saúde como prioridade de seu governo. O prefeito deve escutar todas as camadas da população, que deverão estabelecer as
prioridades no atendimento à saúde".
A reconquista do direito da população em escolher seu dirigente também é lembrada pelo
representante da classe médica: "Nos últimos anos assistimos a um desfile de autoridades sem compromisso com a população e compromissadas apenas com
o Poder Central. Com a autonomia, Santos deixa de ser uma capitania e assume seu papel de berço da independência e da liberdade. A perda da
autonomia tem um mártir que é Esmeraldo Tarquínio, e no seu funeral estava explícito que a reconquista da autonomia seria a homenagem maior que a
população poderia lhe atribuir, na medida em que não poderia reelegê-lo prefeito". |