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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
Faltando pouco...

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Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
Em 28 de abril de 1983, uma quinta-feira, o jornal santista A Tribuna destacou, na primeira página:
 


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A extensão da relação simples de todos os projetos e emendas já apresentados em Brasília, tratando da autonomia nas áreas de interesse da segurança nacional, desde 1964, demonstra que a luta pelo restabelecimento da liberdade dos municípios brasileiros foi e continua sendo árdua, pois enfrenta obstáculos de toda espécie, como a legislação injusta ou as obstruções seguidamente ocorridas no Congresso.

Para Santos, pelo menos, o pesadelo está terminando, confiando-se no fato de que, nos bastidores, está praticamente acertada a aprovação pelo Senado e posterior sanção pelo presidente Figueiredo. Nas escadarias por onde a relação dos projetos e emendas se espalha, haverá de, em breve, estar um novo prefeito, desta vez eleito pela população santista, que não tem esse direito desde 1968, quando escolheu Esmeraldo Tarquínio para assumir a Prefeitura.

Um longo caminho foi percorrido, desde então, não faltando esperanças, frustrações e promessas não cumpridas, que deram ao Município um clima de estagnação, uma sensação de impotência. Mas a tormenta está passando, e a criança que segura a lista dos projetos e emendas poderá crescer dentro do clima de democracia tantas vezes reivindicado, como o fator capaz de devolver a confiança à população e abrir a porta de um novo futuro.

Ao todo, foram 75 projetos e emendas, referentes a mais de 100 municípios, cabendo a Santos a satisfação de ser o primeiro a conquistar uma importante vitória, a dar o primeiro passo em direção à autonomia. Uma conquista que deve, agora, ser motivo de preocupação redobrada, pois a responsabilidade de planejar e desenvolver o futuro de Santos cabe a toda a população, indistintamente

Santos a um passo da autonomia

A Câmara Federal aprovou, por unanimidade, o projeto que restabelece a autonomia política de Santos, de autoria do deputado Gastone Righi, do PTB. E, de acordo com os entendimentos entre os cinco partidos, a matéria deve igualmente ser aprovada pelo Senado para, em seguida, ser enviada ao presidente Figueiredo, que poderá sancioná-la ou vetá-la.

Mas durante a votação, ontem à tarde, os líderes do PDS revelaram que o partido concordava com o projeto por desejo expresso do próprio presidente, o que leva Gastone Righi a afirmar, confiante: "A autonomia de Santos é fato consumado". Enquanto o PMDB alega que a escolha de uma lista de candidatos a prefeito nomeado forçou a aprovação do projeto, o PDS prepara um lance mais ousado: trazer Figueiredo a Santos, em julho, para assinar a lei aqui mesmo.

Na Câmara Federal, as tradicionais manobras do partido situacionista para obstruir a votação de projetos polêmicos foram substituídas por aplausos e discursos emocionados. Gastoni Righi chegou até a pedir que a lei receba o nome de Esmeraldo Tarquínio, "nosso eterno prefeito". Enquanto a autonomia era aprovada, os três candidatos indicados pelo PMDB para substituir Paulo Barbosa debatiam seus planos.

O pesadelo está no fim

(Eleições podem ser ainda este ano)

O impossível aconteceu: a Câmara Federal aprovou, por unanimidade, o projeto que restabelece a autonomia política de Santos, de autoria do deputado Gastone Righi (PTB). Agora, a matéria será votada pelo Senado e, se for aprovada novamente, chegará às mãos do presidente Figueiredo, que dará a palavra final, sancionando ou votando a lei que devolve a liberdade a Santos.

Para os pessimistas, que não acreditam que o projeto de Gastone consiga vencer estes novos obstáculos, algumas informações preciosas são necessárias: o líder do PDS na Câmara, Nelson Marchesan, declarou ontem, durante a votação, que o partido apoiava o projeto de Gastone porque este era o desejo do presidente Figueiredo. E o vice-líder Jorge Arbage revelou que o presidente deixou instruções claras a respeito do posicionamento que o PDS deveria manter com relação ao restabelecimento da autonomia de Santos. Ou seja: por vontade dele próprio, Figueiredo, o partido deveria votar favoravelmente.

Ao mesmo tempo, diversos senadores do PDS afirmaram que votarão a favor, também, garantindo assim a sua aprovação final. E outra informação importante: está sendo acertada uma visita de Figueiredo a Santos, em julho, ocasião em que o presidente sancionaria o projeto, devolvendo definitivamente a autonomia.

A conclusão natural: Santos já tem assegurada a sua tão cara autonomia e, ainda este ano, serão realizadas eleições diretas para a escolha do primeiro prefeito eleito desde a cassação de Esmeraldo Tarquínio.

E a população já pode voltar a sorrir naturalmente.

A votação - Na terça-feira, a Câmara votou a pautação do projeto de Gastone Righi em regime de urgência. E a bancada do PDS foi contra, lançando algumas nuvens sobre a questão. O regime de urgência foi aprovado, com os votos das bancadas do PTB, PMDB, PT e PDT, mas houve um momento de dúvida, pois o partido situacionista poderia obstruir a votação.

Hoje, entretanto, até o PDS votou a favor, não havendo um único voto contrário. As vozes que teoricamente poderiam ser discordantes, foram substituídas por aplausos calorosos de todos os deputados presentes, de todos os partidos, e pela emoção dos dois representantes da Baixada Santista, Gastone Righi e Del Bosco Amaral.

Gastone foi mais longe e solicitou que a lei receba, quando da aprovação final, o nome de Esmeraldo Tarquínio, chamando-o de "nosso eterno prefeito". E disse ainda que, na verdade, o mérito não cabia a ele, como autor do projeto, mas sim "aos quase 500 mil brasileiros que residem em Santos".

Encaminharam a votação os deputados Del Bosco Amaral (PMDB), Gastone Righi (PTB), Aírton Soares (PT), Jorge Arbage (PDS) e Bocaiúva Cunha (PDT), sendo relatores Armando Pinheiro (PDS) e Farabolini Júnior (PTB), sendo que ambos apresentaram pareceres favoráveis.

Como o projeto foi pautado em regime de urgência, foram dispensados os pareceres da maioria das comissões, a não ser a de Constituição e Justiça e a de Segurança Nacional.

O primeiro a falar foi Del Bosco Amaral, que solicitou a aprovação da matéria por parte de todos os partidos. A seguir, Freitas Nobre (líder do PMDB) destacou que a falta da autonomia configurava-se como uma injustiça para Santos, e enfatizou a necessidade de seu restabelecimento, assim como a de todos os municípios brasileiros classificados como áreas de interesse da segurança nacional (ao todo, são 106 cidades). O líder do PDT, Bocaiúva Cunha, fez questão de acrescentar a expectativa da população do Rio de Janeiro, pois se encontram na mesma situação municípios de importância como Duque de Caxias e Angra dos Reis.

Pelo PDS, Jorge Arbage declarou que, na votação do regime de urgência, seu partido foi contra porque esperava a conclusão dos estudos do Palácio do Planalto a respeito das áreas de segurança. Mas observou que, aprovada a urgência a bancada votaria a favor, pois a devolução da autonomia expressava o pensamento e a vontade do presidente Figueiredo, que inclusive havia se comprometido publicamente com a autonomia de Santos.

O líder do PT, Aírton Soares, disse, por sua vez, que esperava o mesmo comportamento por parte do PDS quando o projeto transitar no Senado.

Gastone - O autor do projeto, Gastone Righi, falou ao final, dizendo que estava sentindo uma grande emoção e ressaltando que se tratava de um projeto de 500 mil brasileiros que habitam em Santos e que ele, Gastone, apenas se reservava o direito de pedir que a lei, após a promulgação, recebesse o nome de Esmeraldo Tarquínio.

Depois dos pronunciamentos, o presidente em exercício Paulino Cícero iniciou a votação do projeto, aprovado por unanimidade, com todos os deputados se levantando e aplaudindo a decisão, o mesmo ocorrendo nas galerias.

Segundo Gastone, este foi o primeiro projeto sobre questão institucional a ser aprovado pela Câmara. Agora, o projeto receberá a redação final e o deputado espera que até o final da próxima semana ele vá ao Senado.

E o senador Nélson Carneiro (líder do PTB), incumbiu-se de acompanhar o projeto até a sua aprovação final e conversar com os outros senadores. Para Gastone, o ambiente no Senado é favorável ao projeto: "Tenho certeza de que será aprovado".


Gastone: "Autonomia é fato consumado"
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O outro lado do projeto

Há mais mistérios em torno da aprovação do projeto petebista do que se possa imaginar. Afinal, com que intenção a Câmara Federal - com anuência óbvia da liderança nacional do PDS - se uniria na votação unânime pela revogação do decreto que cassou a autonomia de Santos? Qual a razão de se aprovar, hoje, a matéria do deputado Gastone Righi, sabendo-se que o PMDB santista embarcara na esperança de morder a maçã do poder municipal, tentado a sentar-se na cadeira que o partido do Governo ocupou 14 anos?

Não se pode dissociar os fatos. Porque a coincidência - se foi - ocorreu debaixo da suspeita política de que se tramou a armadilha em que o PMDB cairia terça-feira à noite, lançando candidatos a prefeito nomeado peemedebista e iniciando assim um processo de desgaste que pode custar muito caro. A incoerência política do PMDB coincidiu com a votação do projeto. E tanto o PTB quanto o PDS, na troca de alianças do iminente casamento, no altar das cúpulas em Brasília, lançaram as redes sobre o partido que, efetivamente, conduziu até hoje a bandeira da autonomia de Santos e de outras cidades.

Teria sido apenas coincidência o fato de o prefeito Paulo Gomes Barbosa andasse à sombra do deputado Gastone Righi, pelos gabinetes de Brasília, ultimamente? E o que dizer da confissão proposital dessas andanças, aos jornalistas, que ouviram informações de que afinal o prefeito teria sido exonerado, e que viram diante de si, no gabinete santista, um homem sorridente, embora trêmulo?

"Tenho certeza de que serei o último prefeito nomeado de Santos", afirmou Barbosa, remexendo nos dedos nervosos uma caneta preta. Em seguida, acabaria confessando, após sucessivas perguntas, que ficaria na Prefeitura até o término de algumas obras como a da entrada da Cidade, prevista para junho ou julho, e que se sentiria realizado quando dessa conclusão.

O campo está aberto para as baterias dos partidos que se opõem ao PMDB. E vem aí chumbo grosso.

A aprovação do projeto de Gastone Righi (num conluio PTB-PDS e que teve a participação maciça dos deputados federais do PMDB, PT e PDT) dá a possibilidade de os santistas voltarem a eleger o prefeito. Mis que isso, vai possibilitar que tanto o PTB quanto o PDS joguem habilmente no tabuleiro da eleição direta, concentrando as forças para dar o cheque-mate ao rei que começa a perder a coroa, e que lançou no deserto da nomeação, contrariando tudo aquilo que pregou nos últimos anos, três súditos que levam a bandeira autonomista sacramentada na primeira instância do Congresso.

Opção do PMDB será julgada pelo povo, diz Mário Covas

"O PMDB cumpre um dever mais do que satisfaz um direito, de impedir que o Poder Público Municipal venha a ser utilizado contra a luta pela autonomia. E se nossa coragem em obedecer à lei iníqua que nos obriga a indicar um nomeado para Santos é válida caberá ao nosso juiz, que é o povo, julgar, ou então não acreditamos no povo". Palavras do deputado federal e prefeito indicado de São Paulo, Mário Covas, no fim da noite de terça-feira, momentos depois da votação dos nomes que integram a lista tríplice que será encaminhada ao governador Franco Montoro e ao presidente João Figueiredo.

Sua colocação, que vem a público após a aprovação do projeto de lei que restitui a autonomia política de Santos, pela Câmara Federal, é um documento. Porque mesmo tendo sido o projeto aprovado por unanimidade, o governador Montoro pretende ainda cumprir o que determina a lei, e submeter ao crivo presidencial os nomes indicados pela convenção municipal. "Nesse momento" - diria Covas - "não tenho razão para acreditar que as bases peemedebistas achem que o PMDB deveria ter agido de outra maneira".

Mário Covas garante que o PMDB não abrirá mão da luta pelo retorno oficial da liberdade plena para Santos: "O partido sempre foi o grande agente dessa luta, e continuaremos na linha de frente, esteja conosco quem estiver, cristãos novos ou velhos. Se realmente o projeto do deputado federal Gastone Righi for aprovado, e para isso o apoio do PMDB será integral, além do benefício claro para Santos estará se iniciando um processo de aproximação que, em breve, permitirá a restituição da autonomia para todo o País".

PDS repudia lista e encaminha telex para o presidente

Um telex ao presidente João Figueiredo, transmitido na manhã de ontem, foi a providência tomada pelo diretório do PDS, com o objetivo de repudiar a lista tríplice elaborada na convenção do PMDB. Acusado, no ano passado, por um integrante do próprio partido (o então deputado federal, Erasmo Dias), de conspirar contra a autonomia, o diretório enviou mensagem a fim de reivindicar que ela seja devolvida urgentemente.

Na mensagem, o diretório salienta que durante a última campanha eleitoral os candidatos pedessistas foram criticados pela Oposição por pertencerem a uma agremiação política que defendia a validade da instituição de prefeitos nomeados.

"Hoje", prossegue a mensagem, "os que nos criticavam digladiam-se em grupos para inclusão de seus protegidos, na lista para a escolha do futuro prefeito nomeado de Santos, contrariando o seu posicionamento originário. Nesta oportunidade, quando evidenciado se tornou o propósito eleiçoeiro dos falsos defensores da autonomia, torna-se imperioso, mais do que nunca, que venha pelas nossas mãos, como fruto de nosso empenho e trabalho o tão aguardado momento em que o povo de Santos elegerá o seu prefeito.

"Estamos convictos de que a acuidade política de V. Exa. saberá encontrar nesta hora a oportunidade exata para elaborar o decreto-lei que há de restaurar almejada autonomia da nossa histórica Cidade, marcando-se data para a realização de eleições".

Traição - Depois que soube da aprovação do projeto de lei de Gastone Righi, o presidente do diretório do PDS, Mílton Lopes, ficou ainda mais satisfeito e reiterou as críticas ao PMDB, chegando a afirmar que o partido foi autor de traição muito grande para com o povo santista.

Lopes destacou a importância do projeto, disse que confiava muito nele, por ser bastante objetivo, apesar de beneficiar apenas Santos.

Quanto às condições em que se encontra o PDS local para uma eleição direta, o presidente do diretório salientou que o mais importante no momento é a coesão, que pôde ser constatada na reunião de terça-feira à noite, na Câmara, quando foi oficializado o Departamento de Ação Partidária, integrado pelos suplentes da bancada.


Del Bosco: "Enxergo o povo votando"
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Pedido de Del Bosco ao partido: "Não entreguem a lista"

Eufórico com a aprovação do projeto que restabelece a autonomia, o deputado federal Del Bosco Amaral acredita que Santos já tem, na prática, a sua autonomia. E, por isso mesmo, fez ontem um apelo ao presidente do diretório municipal do PMDB, Osvaldo Justo, para que o partido não envie a lista tríplice dos candidatos a prefeito nomeado ao governador Franco Montoro, até que o projeto de Gastone Righi seja votado e, possivelmente, sancionado.

Del Bosco apresenta o seguinte raciocínio: "A autonomia é fato consumado. Como a lei revoga o decreto que cassou a autonomia, deixaria de existir, neste ponto, a figura do prefeito pro tempore. E assume a Prefeitura o presidente da Câmara Municipal (Noé de Carvalho) até que sejam realizadas as eleições, dentro do prazo máximo de 180 dias".

Essa, aliás, foi a posição sustentada por Del Bosco antes da indicação dos nomes de Osvaldo Justo, José Antônio Paiva e Luís Alberto Maia, para a substituição do atual prefeito. O deputado federal chegou a colocar-se frontalmente ao partido, defendendo a solução constitucional, ou seja, com o presidente do Legislativo assumindo. Mas, esta hipótese só poderá acontecer se o cargo estiver vago, com a respectiva exoneração do prefeito Paulo Gomes Barbosa.

Del Bosco enumera as conseqüências políticas da aprovação do projeto: "Se o governador Montoro enviar a lista tríplice ao presidente Figueiredo, estará prejudicando a tramitração da matéria, já aprovada na Câmara e dependente de aprovação no Senado. A insistência por qualquer nome - não só em Santos, mas em qualquer município, em qualquer Estado - para ocupar o cargo de pro tempore pode gerar uma desculpa para que o presidente vete o projeto, ao invés de sancioná-lo".

E aproveita para colocar a sua posição pessoal: "Era e continuo sendo candidato a prefeito, em eleição direta. Continuo também defendendo a tese de que devemos evitar a sublegenda e caminhar em torno de um nome eleitoralmente viável. Espero que compreendam que eu não poderia, dias antes da reunião dos políticos do PMDB (realizada na noite de terça-feira, para a indicação da lista tríplice), dizer dos perigos e sustá-la (a reunião) somente por causa do projeto do deputado Gastone Righi, pois não ando pelos corredores palacianos para saber das condições do PDS para aprová-lo".

Diante desses argumentos, Del Bosco pediu ao diretório do PMDB que reúna novamente o partido, em Santos, para estudar a conveniência de outra vez se entender com o diretório regional a respeito da lista tríplice. "Mais uma vez, ficou demonstrado que a pressa é inimiga da perfeição", comentou, referindo-se à urgência solicitada pela cúpula do PMDB para o envio das listas".

Saídas - Quanto ao encaminhamento do projeto, Del Bosco aponta dois caminhos: "Ou o Senado aprova e o presidente sanciona, ou o próprio Figueiredo, cumprindo a promessa feita em agosto de 1981, em Guarujá, antecipa-se à tramitação e devolve, ele próprio, a autonomia".

Ontem, na Câmara, o deputado pediu que o benefício seja aplicado a todas as áreas de segurança, inclusive as de fronteira. E comentou, a respeito da votação: "Nos últimos anos, esta foi uma das poucas vezes em que mal consegui me controlar na tribuna da Câmara. Isto porque enxergo novamente o povo de Santos caminhando para os locais de votação, para escolher um prefeito que seja o representante da vontade popular".

Feliz da vida, o prefeito fala de suas previsões

O prefeito Paulo Gomes Barbosa ainda rindo à toa, declarando-se um autonomista de primeira linha e um batalhador incansável, defendendo o direito da população santista em eleger o seu próprio prefeito. Assumindo ares de profeta, refere-se ao fato de ter declarado, em dias mais calmos, que gostaria de ser o último prefeito nomeado de Santos. "Eu diria até que serei mesmo o último", declarou, bastante orgulhoso, ontem à tarde.

O prefeito falou de suas andanças por Brasília nos últimos tempos, dizendo que procurou garantir o máximo apoio possível ao projeto de Gastone Righi, mantendo contatos com os líderes do PDS na Câmara e no Senado. "Na semana passada, estivemos com o senador Amaral Furlan, a quem solicitamos empenho no sentido de que o partido votasse maciçamente a favor. Junto com o deputado Gastone Righi, com quem me congratulo, levamos o projeto aos líderes de todos os partidos".

E falou do momento: "É motivo de contentamento para a minha administração e para todos os santistas, que estão de parabéns, pois dentro de alguns meses poderemos eleger o nosso prefeito".

Por fim, revelou que na terça-feira estará em Brasília, novamente, para manter novos contatos com o presidente nacional do PDS, José Sarney, para que o projeto seja aprovado também por unanimidade pelo Senado. Feliz da vida, fala da possibilidade de ver cumprido o seu tão acalentado sonho, ou seja, permanecer no cargo até julho, para poder inaugurar várias obras, como a urbanização da entrada da Cidade. E confessa que está tentando trazer, para a solenidade, uma "alta personalidade".

Algum personagem misterioso? Nem tanto: trata-se - embora Barbosa não confirme, apenas sorria diante da pergunta - do próprio presidente Figueiredo, que aproveitaria para sancionar aqui mesmo a lei restabelecendo a autonomia. O PDS, modestamente, colheria os lucros eleitorais desse gesto, obviamente.

E declarou, convicto: "Não, não serei candidato a prefeito".

Afastamento - A Associação das Mulheres da Baixada Santista, por meio de mensagem distribuída ontem, tem um pedido especial a fazer: a imediata destituição do prefeito Paulo Gomes Barbosa. E a indicação, urgente, de um nome que esteja solidário com os interesses da população.

Para a entidade, Barbosa investiu em obras supérfluas e de "fachada" e não se preocupou com a situação da população carente.


Noé: "Não guardo ilusões"
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PMDB quer o mérito pela reconquista da autonomia

Nem o PTB, nem o deputado Gastone Righi, muito menos o PDS surgem como os grandes heróis no processo de reconquista da autonomia política de Santos. O mérito todo cabe ao PMDB, na opinião de políticos desse partido, que raciocinam, em síntese, da seguinte forma: quando o Governo sentiu que efetivamente perderia a prefeitura de Santos para um elemento do PMDB, achou melhor apoiar o retorno da autonomia e tentar conquistar o Executivo por via direta.

Isso é o que pensam tanto o líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Castilho Salvador, como o vereador Geraldo Silvino, que citam os termos coragem, avanço e riscos de incompreensão para justificar o fato de a agremiação a que pertencem concordar com a nomeação de um prefeito (e inclusive definir uma lista tríplice de nomes), quando sempre se comportou como uma defensora incontestável de eleições livres e diretas.

"As posições políticas adotadas pelo PMDB, a pressão que exerceu com a indicação dos nomes de candidatos pro tempore, indiretamente auxiliaram o trabalho de Gastone Righi e de outros que se debatem pelo retorno da autonomia, removeram os óbices que até a data de hoje cercearam a possibilidade de reconquistá-la", assegura Eduardo Castilho Salvador, citando várias tentativas feitas por parlamentares, que resultaram em absolutamente nada.

"Quando o PMDB ganhou a eleição, evidentemente as bases das áreas de segurança nacional forçaram um posicionamento do governador Franco Montoro, no sentido do encaminhamento de listas", pondera o líder, para completar: "Numa análise menos ideológica, fica mais fácil ceder a autonomia para as cidades onde o Governo do Estado estiver com o PMDB e tentar conquistar as prefeituras por meio do voto".

Castilho, que preside a Comissão Especial de Vereadores que cuida da questão da autonomia, mostra-se seguro de que, se o PMDB ficasse na expectativa pura e simples da aprovação do projeto de autoria do deputado Gastone Righi, muita coisa não teria ocorrido. Enfatiza: "O PMDB fez um sacrifício para conquistar a autonomia".

Geraldo Silvino partilha opinião semelhante e diz que o posicionamento do PMDB na Baixada Santista, "correndo todos os riscos de uma incompreensão ao escolher a lista tríplice", influiu para que o projeto fosse aprovado. Explica: "O simples fato de a Prefeitura de Santos ser assumida pelo PMDB, mesmo por um candidato nomeado, determinou o aceleramento da aprovação do projeto por parte dos deputados do Governo". E, na tentativa de eliminar qualquer idéia de que o PMDB tenha saído queimado do episódio, declara: "Para nós, não há nenhum problema. Tomara que o Senado confirme a decisão o mais rápido possível, e o presidente sancione a lei. O PMDB não feriu nenhum direito da classe operária e do povo. Tentou, sim, meter uma cunha nessa porta fechada da Prefeitura de Santos".

PMDB na berlinda - Enquanto Silvino e Castilho se mostram bastante seguros de que o PMDB agiu certo, o vereador Reinaldo Cammarosano, do mesmo partido, acredita que a agremiação sai do episódio desgastada e, mais especificamente, alguns políticos cujos nomes preferiu não citar.

"Alguns políticos se queimaram. O PMDB tomou uma atitude corajosa, porém perigosa", afirma e até duvida que o partido chegue ao Executivo: "Com sublegenda, estou seguro que sim, mas sem ela seria arriscado porque respeito a força do ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, dono de muita popularidade e com chances de vencer uma disputa direta".

O presidente da Câmara, Noé de Carvalho - que pelas vias legais assumirá a Prefeitura até que haja a eleição - comenta que preveniu o partido sobre o que poderia ocorrer. Ontem, preferiu não entrar em detalhes, salientando apenas que o assunto precisará ser avaliado num futuro bem próximo. Como todos sabem, ele não concordou com a nomeação do prefeito, conforme decidiu seu partido.

Quanto à possibilidade de assumir o Executivo muito em breve, demonstra bastante tranqüilidade: "Não sou homem que guarda ilusões e afoito ao poder. Estou mais preparado para não assumir mas, se isso vier a acontecer, podem ter certeza que o Erário Público será muito bem guardado e administrado. A despesa não subirá". Destacou ainda que nunca quis ser prefeito, mas, coerente com sua vida pública, obedece às letras da Constituição.

PT inconformado - Alguns peemedebistas glorificam a atitude do partido, outros preferem examinar a questão com mais cautela, mas o PT não perdoa: "Lamentamos profundamente a atitude do PMDB que, se antes das eleições tinha discursos vigorosos na questão da autonomia, uma vez alcançado o poder estadual passou de maneira escandalosa a conchavar pelos corredores a sua medíocre lista tríplice".

Essas são palavras da presidenta do partido, Edmea Ladevig, que lança novas críticas: "Alegaram eles que o governador Montoro tinha o respaldo de cinco milhões de votos para nomear o prefeito, mas achamos que ele realmente teve o respaldo de votos para ser governador, e não para nomear prefeitos".

Considerando que os últimos acontecimentos demonstraram a fragilidade política do "maior partido de oposição" (grifo original), acentuou: "Isso deve ter ensinado a eles que política não é a arte dos velhos acertos e conchavos. É preciso coerência e propostas claras. O PMDB responderá por isso durante a campanha eleitoral e esperamos que a população dê respostas claras por meio das urnas".

O vereador Fernando Oliva, por sua vez, comenta que não se justificam as críticas ao PMDB. Argumenta: "Se a lei determina que o governador deve enviar a lista tríplice para a escolha do burgomestre, deixar de fazê-lo pode parecer um ato de deselegância do governador Franco Montoro para com a área federal".

Quanto à perspectiva de Santos reconquistar a autonomia num curto espaço de tempo, o líder da bancada pedessista a considera o primeiro resultado positivo do acordo PTB-PDS. Lança elogios ao seu "dileto amigo" Gastone Righi e o considera o único federal eleito pela área que se preocupou com a autonomia de forma concreta. Arremata: "O resto, até aqui, não passou de perfumaria".

Gilberto Tayfour não deixa por menos e aponta o deputado Gastone Righi como seu candidato a prefeito. "Entre a legislatura anterior e esta contávamos com vários deputados eleitos por nossa Cidade, mas em nenhum instante tiveram a lucidez ou aproveitaram o momento político para apresentar projeto como o de autoria de Gastone Righi". Na política, não existem intransigências, obstáculos, radicalismos. O que existe na política é o momento certo de barganhar algo em troca da algo, mas sempre procurando o benefício da população", declarou Tayfour, numa clara alusão à aliança PTB-PDS.

Para ele, a atitude correta do PMDB seria, ao invés de concorrer de imediato com a nomeação de um prefeito, procurar avaliar em profundidade a possibilidade de o projeto de autoria de Righi ser aprovado, bem como esperar ver esgotados os esforços da Câmara. Conclui: "Só então caberia ao PMDB adotar o critério até então do PDS, pois teria argumentos fortes para justificar o ato perante a população".

Estratégia deu certo, dizem os indicados

O presidente do diretório municipal do PMDB e um dos indicados a prefeito nomeado, Osvaldo Justo, recebeu as notícias de Brasília "com euforia". "Nossa estratégia com a lista tríplice, era justamente essa, de desentocar a onça", disse Justo, que aguardará as instruções do Diretório Regional sobre o envio ou não da lista ao governador Franco Montoro.

Também Luiz Alberto Maia, integrante da lista de prefeituráveis, recebeu a notícia com alegria. "Ótimo - disse ele -, espero que a autonomia se concretize o mais rápido possível. Só aceitei a inclusão de meu nome para abreviarmos o restabelecimento da autonomia".

"Adversário esfarrapado" - "A autonomia vem dentro de um esquema do PDS com o PTB - afirmou Justo -, e esse é um casamento meio complicado". Por isso, o líder peemedebista diz não temer, na eleição, um possível candidato que resulte dessa coalizão. "Esse adversário vem esfarrapado. Se tivéssemos votado para prefeito nas últimas eleições, o PMDB teria vencido, a exemplo de outras cidades da Baixada. Leva-se muito tempo para construir uma imagem. Nossa imagem tem 18 anos de luta pela autonomia e pela liberdade".

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