Morre o general Bandeira Brasil
Aos 76 anos de idade, morreu ontem, por volta das 10 horas, no Hospital Central
do Exército, no Rio de Janeiro, vítima de edema pulmonar, o ex-interventor, general-de-divisão R/1, Clóvis Bandeira Brasil. Ele administrou Santos a
partir de abril de 1969, nomeado pelo então presidente da República, marechal Arthur da Costa e Silva, logo depois que a Cidade perdeu sua autonomia
política. Foi exonerado no dia 19 de março de 1974.
O corpo está sendo velado no necrotério do Cemitério do Caju, no Rio, onde será
enterrado, hoje, às 9 horas. O prefeito Paulo Gomes Barbosa decretou luto oficial por três dias e designou o chefe do cerimonial, Antônio do
Nascimento, para representá-lo no sepultamento. Barbosa determinou que a Secretaria de Obras e Serviços Públicos indique uma rua, para receber o
nome do ex-interventor.
A Câmara deve também prestar homenagem póstuma, suspendendo os trabalhos da sessão
prevista para hoje, às 20 horas. Proposta neste sentido pode ser apresentada pela bancada do PDS.
O ex-interventor realizou uma administração controvertida
Foto publicada com a matéria
Incompreendido - Entristecido pela morte do general Bandeira Brasil, o vereador
Matsutaro Uehara, que liderou a bancada da extinta Arena no período da interventoria, afirmou que ele governou dentro do princípio de austeridade
que o caracterizava, em função da disciplina militar: "Ele não era um homem político, e por causa disso foi incompreendido e recebeu muitas
críticas. Mas, alguns anos após sua exoneração, diversos políticos reconheceram a seriedade de seus propósitos".
Uehara era um dos poucos vereadores que mantinham contato quase que diário com o
general. E garante que sua preocupação com os problemas da comunidade era permanente: "Seus 40 anos de vida militar lhe deram condição suficiente
para ser um homem de gabarito e de responsabilidade".
Comentando as obras do ex-interventor, seu líder destacou a reurbanização da Praça
Engenheiro José Rebouças, com a construção do ginásio de esportes (hoje denominado Antônio Guenaga) e da área de lazer infantil; o Parque Infantil
M. Nascimento Júnior, na Zona Noroeste; a reforma das escolas da rede municipal; e o alargamento da Avenida Presidente Wilson, trecho do Canal 1 até
a Divisa.
Outras realizações do general foram as seguintes: Posto de Assistência à Infância, no
Saboó; campanha de desratização, com o extermínio de mais de 210 mil ratos no período de 71 a 73; arborização de diversos bairros; ampliação das
frotas de ônibus e táxis; melhorias nos gabinetes dentários das escolas; ampliação do Horto; e reforma do PS do Macuco.
Bandeira Brasil terminou obras iniciadas na administração Sílvio Fernandes Lopes, como
a Estação Rodoviária e o prédio da Prodesan. Mas deixou outras inacabadas, como o Centro de Cultura e o Elevado Aristides de Bastos Machado.
Relacionamento - O relacionamento do interventor com a Câmara não foi bom e
diversos vereadores, mesmo da bancada situacionista, mantiveram-se afastados até das solenidades oficiais.
Nélson Fabiano Sobrinho, que exercia a vice-liderança do então MDB e que foi um dos
maiores opositores da interventoria, lamentou a morte do general e afirmou ter combatido Bandeira Brasil porque entendia que uma série de medidas,
por ele preconizadas, "feria profundamente os interesses da comunidade".
Fabiano assegura que a população nunca se esquecerá de algumas iniciativas, como a
criação da verba de mordomia, a tentativa de fechamento do Colégio Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio, a "malfadada" compra de brinquedos para
o parque de diversões, o viaduto Elefante Branco, a entrega da usina de asfalto e da Rodoviária para a Prodesan, as viagens para a Europa, a
criação da Taxa de Iluminação e a exigência de sacos plásticos para a coleta do lixo.
O ex-vereador lembra que um dos únicos projetos que a bancada oposicionista aceitou,
mas após apresentar algumas emendas "para preservação do meio-ambiente", foi o da criação do Pólo Industrial do Vale do Rio Quilombo: "Na época, nós
advertimos que o projeto nunca iria se concretizar e que só visava ao aproveitamento das águas do rio, pela Cosipa. O tempo provou que o MDB estava
certo em sua previsão".
Natural do Pará - Bandeira Brasil nasceu em Belém do Pará, no dia 24 de abril
de 1906. Aos 18 anos matriculou-se na Escola Militar do Realengo e em 1930 foi declarado aspirante da Arma da Cavalaria. Serviu em 23 organizações
militares diferentes, entre as quais as unidades de cavalaria sediadas nas fronteiras das repúblicas do Uruguai e do Paraguai.
Dos 46 anos de serviço na ativa, 15 foram em funções privativas do Quadro de
Estado-Maior e nove como instrutor. Suas promoções sempre obedeceram ao princípio de merecimento e destacam-se entre seus feitos especiais a
nomeação para a Sub-chefia do Gabinete Revolucionário do então ministro da Guerra, general Costa e Silva. Depois de promovido a general, foi nomeado
chefe do Gabinete Ministerial, função que exerceu até o final da gestão do presidente Costa e Silva.
Recebeu oito condecorações nacionais (Ordem do Mérito Militar, Ordem do Mérito Naval,
Ordem do Mérito Aeronáutico, Medalha de Guerra, Medalha do Pacificador, Medalha Tamandaré, Medalha Santos Dumont e Medalha Militar com passador de
ouro) e uma estrangeira (Medalha da Ordem de Leopoldo da Bélgica).
Na vida civil, cursou escola de engenharia, diplomando-se engenheiro-geógrafo. |