HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
AUTONOMIA
Autonomia e imprensa (6)
Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus
direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura
Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
Essa história pode ser contada através das capas e principais páginas dos jornais locais. Uma
seleção dessas páginas consta na obra Sombras Sobre Santos - O Longo Caminho de Volta, de Ricardo Marques da Silva e Carlos Mauri Alexandrino
(ed. da Secretaria Municipal de Cultura, Santos/SP, 1988). Entre elas, a edição de sexta-feira, 14 de março de 1969, do extinto jornal Cidade de
Santos, com o lacônico título:
No dia 29 de março de 1969, registrava o jornal santista A Tribuna:
Justo renuncia: vem intervenção
O vice-prefeito eleito de Santos, Oswaldo Justo,
renunciou ontem ao seu mandato, poucos dias antes de ser empossado, de acordo com a Lei Orgânica dos Municípios, no cargo de prefeito, vago com a
suspensão dos direitos políticos do sr. Esmeraldo Tarquínio pelo presidente da República, e que havia sido o vencedor das eleições de 15 de novembro
de 1968. A carta de renúncia foi encaminhada ao presidente da Câmara e tornada pública na sessão de ontem do Legislativo municipal pelos vereadores
Noé de Carvalho e Emílio Justo, irmão do vice-prefeito.
Com o término do mandato do prefeito Sílvio Fernandes Lopes no próximo dia 14 de
abril, a cassação do sr. Esmeraldo Tarquínio e a renúncia agora do sr. Oswaldo Justo, Santos deverá ser submetida a intervenção federal, dentro do
que determina o Ato Institucional n. 7.
Os meios políticos da Cidade ficaram ontem mesmo já comentando os nomes apontados como
o futuro interventor no Município, que será nomeado pelo presidente da República. A renúncia de Oswaldo Justo ao cargo já fora ventilada em alguns
círculos políticos, mas não tivera confirmação, e o seu gesto acabou surpreendendo até a bancada do MDB. Antes de ser eleito vice-prefeito, Justo
exercera o mandato de vereador durante 16 anos na Câmara, sendo escolhido várias vezes como o "Vereador do Ano". Em conversa com amigos e
jornalistas, informou que agora vai escrever um livro. |
Em 11 de abril de 1969, novamente na capa do antigo jornal Cidade de
Santos:
Nomeado nosso interventor,
é o General Bandeira Brasil
Santos já tem seu interventor. É o general Clóvis
Bandeira Brasil (foto), que em 1964 já comandou aqui a Artilharia de Costa e a Artilharia Antiaérea. O general foi nomeado por decreto presidencial
de ontem, mas não vem já. Disse ele, em Brasília, que antes passará pelo Rio, para visitar filhos e netos.
O prefeito Sílvio Fernandes Lopes, cujo mandato expira segunda-feira, não sabe como
ficará a situação entre esse dia e a posse do general Bandeira Brasil. Por isso já mandou estudar o problema pelo Departamento Jurídico, e hoje de
manhã deve receber o parecer. O general Bandeira Brasil teve atuação destacada na crise da renúncia de Jânio e na preparação da Revolução de 64.
Engenheiro na Prefeitura de Cubatão, posse hoje à tarde
E Cubatão também já tem seu prefeito, o primeiro nomeado pelo governador desde que o
município foi declarado área de segurança nacional. É o engenheiro Aurélio Araújo (na foto, com Sodré), que antes também já exerceu outros cargos na
Baixada: foi engenheiro da Cosipa e participou da fiscalização do Serviço de Águas de Santos-Cubatão (SASC).
Aurélio Araújo assume hoje, às 17 horas, depois de ter tomado posse, às 9 horas, na
Secretaria da Justiça, em São Paulo. Fica assim solucionado o problema criado em Cubatão pelo prefeito Luís Camargo da Fonseca e Silva, cujo mandato
terminou anteontem e que nomeou Luís Freire "guarda dos bens e valores do município". |
Ainda no Cidade de Santos, manchete na capa da edição de 29 de
abril de 1969:
Bandeira assumiu
O general Clóvis Bandeira Brasil já está em pleno
exercício da função de interventor federal em Santos. A prefeitura foi-lhe entregue ontem, às 16h15, pelo major Castro Faria, que será seu chefe de
gabinete e que respondia pelo cargo desde que terminou o mandato do ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes.
O general prestou o juramento, e assinou o livro de posse (foto menor) no salão nobre do
Paço, e depois fez seu discurso (foto maior) no qual assegurou que a tônica de sua administração será o cumprimento da lei e o combate ao tráfico de
influência, à malversação dos dinheiros públicos e aos gastos supérfluos, coisas que "tanto mal têm causado" a "qualquer governo". E o major Castro
Faria, que também discursou entregando o cargo, deu-lhe as boas-vindas em nome do povo santista.
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