HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
AUTONOMIA
Especulações...
Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus
direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura
Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.
Após o sinal verde para o início da corrida pela autonomia, dado pelo presidente da República
João Baptista Figueiredo ao inaugurar o Terminal de Contêineres da Margem Esquerda do Porto de Santos, em Conceiçãozinha
(Guarujá), em 30/8/1981, o clima era de cautela, todos sentindo o terreno em que pisavam para não ter novas surpresas. Um ano após, continuavam as
indefinições, não só sobre os futuros candidatos, mas sobre a própria ocorrência de eleições, mais uma vez adiadas. E as especulações corriam soltas.
Esta matéria publicada em uma quarta-feira, 4 de agosto de 1982, no jornal santista A
Tribuna reflete aquele clima:
Definição sobre autonomia não causa surpresa
Era uma vez uma promessa, feita há um ano, aproximadamente,
pelo presidente da República, e que durante algum tempo alimentou os sonhos de muitos santistas. Exatamente no dia 30 de agosto do ano passado,
durante a inauguração do Terminal de Containers, em Guarujá, o presidente Figueiredo anunciava que Santos teria de volta a sua autonomia política e
administrativa. E ainda avisou a todos os interessados: "Podem começar a fazer campanha..."
Com a declaração, na segunda-feira, do ministro Abi-Ackel, de que Santos não terá
mesmo eleições para prefeito em novembro - a exemplo de todos os demais municípios considerados como área de interesse da segurança nacional - o
sonho acabou. Ainda não será desta vez que teremos um prefeito eleito pelo voto direto.
Com isso, a derradeira esperança acaba sendo mesmo a tese do advogado Sérgio Sérvulo
da Cunha, o qual sustenta, juridicamente, que o decreto 865, que determinou a cassação da autonomia, foi revogado em 1978, juntamente com a extinção
dos Atos Institucionais.
Ontem, as declarações do ministro foram comentadas por diversos políticos santistas,
que de modo geral colocam dúvidas quanto à seriedade do Governo Federal, já que a promessa de Figueiredo não foi cumprida e acabou sendo desmentida
por Abi-Ackel.
Para o próprio Sérvulo da Cunha, a comunidade santista merecia um tratamento mais
respeitoso: "Os assuntos públicos, principalmente dessa importância, deveriam ser tratados com mais seriedade". Mas o advogado levanta uma hipótese
no mínimo interessante: para devolver a autonomia, o Governo precisaria promulgar uma lei específica.
"Diante dos argumentos da minha tese, qualquer lei ou decreto que venha devolver a
autonomia não valeria nada. Juridicamente, Santos ja recuperou a autonomia, em 1978".
Sérvulo observa que uma lei desta espécie seria meramente interpretativa, ou seja,
estaria apenas interpretando a Emenda Constitucional nº 11 (que extinguiu os atos institucionais), para não deixar nenhuma dúvida. "Mas os direitos
das pessoas e das comunidades existem e independem de possíveis concessões. Agora, se a Justiça Eleitoral não reconhecer a tese, aí sim ficaremos na
dependência de uma lei por parte do Governo". Mesmo assim, acrescenta que existem outros caminhos, na área judiciária, para reivindicar a autonomia.
Qual dos dois? - Para o candidato a deputado federal Nélson Fabiano Sobrinho
(PMDB), existe uma dúvida marcante: "São duas palavras, a do Abi-Ackel desmente a do presidente. Em qual confiar? Até agora, o presidente não
desmentiu a sua promessa".
Um comportamento contraditório, efetivamente, segundo o vereador Eduardo Castilho
Salvador, líder da bancada do PMDB na Câmara: "Parece que quando o Governo anuncia que vai conceder algo, é sinal de que está mais distante do que
quando afirma que não vai conceder". E observa que o ministro Abi-Ackel é geralmente moderado. Se declarou que a autonomia não virá, deve estar bem
respaldado.
Para Jessé Rebello, candidato a prefeito pelo Partidos dos Trabalhadores, o fato
evidencia que Figueiredo não está cogitando em devolver a autonomia. "Mas o caso do PT é na Justiça, que tem que se pronunciar. Tenho esperança que
a Justiça se faça de alguma forma. O ministro da Justiça veio dizer que o cadeado está mais forte do que nunca. Pela via administrativa, a autonomia
não virá mesmo, e até por isso justifica-se a nossa luta no Judiciário".
Jessé disse que não ficou surpreendido com as declarações, e acha que a demora na
concessão da autonomia evidencia o fato de que o Governo não queria a realização das eleições de novembro.
Não importa - Para o presidente municipal do PTB, o pronunciamento do ministro
não significa absolutamente nada. Rony Dutra observa que o partido está totalmente voltado para o pedido de registro do seu candidato a prefeito, na
Justiça, segundo a tese de Sérvulo da Cunha. "Não estamos mais preocupados com a promessa do presidente. Mas, na verdade, foi uma pá de cal na
pequena expectativa que ainda persistia. Com isso, mais do que nunca a tese do dr. Sérvulo precisa ser sustentada".
A presidente do PT, Edmea Ladevig, considera que a posição do partido não sofrerá
qualquer alteração, e que todos os passos previstos serão cumpridos. "Veja se podemos levar a sério estas declarações: não se entendendo nem entre
eles! Não dá para confiar na palavra das autoridades. Daqui a pouco, vem outro ministro e diz que a autonomia será devolvida pela metade, depois vem
outro e diz que só haverá autonomia para o Macuco, e assim por diante. Ou seja, não dá para levar a sério".
O presidente do PMDB, Esmeraldo Tarquínio, revelou não ter ficado surpreso, pois esta
intenção já vinha sendo demonstrada. "O Governo já vinha retardando a conclusão dos estudos, intermináveis, aliás, a respeito".
Diante do fato, o que ainda poderá ser feito, em termos de autonomia, já que o PMDB
não entrou na luta para o registro dos candidatos a prefeito, na Justiça?
Esmeraldo responde: "Uma total reformulação dos métodos de mobilização popular".
Revela que já tomou providências a respeito, mas existe um cuidado a tomar: "Não podemos a esta altura tumultuar o processo eleitoral, já tumultuado
pelos casuísmos e até pela indefinição da cédula eleitoral. O PMDB, ao contrário do que andam dizendo, não é omisso. Não pode é apresentar mais um
complicador para o já complicado processo com que nos brindaram os alquimistas do Planalto".
"Agora, lançam-se certos partidos a uma eleição para cargos não existentes, não
previstos pela Justiça Eleitoral. Vou achar engraçado na hora em que um sem número de votos desses partidos forem anulados, porque os eleitores vão
escrever os nomes dos seus candidatos a prefeito. Nós queremos o poder, não queremos apenas crescer. Não temos culpa se os outros partidos têm a
metade ou menos da metade do nosso número de diretórios no Estado de São Paulo, nem podemos nos atrelar ao desespero eleitoral dos outros partidos.
Nós queremos o poder e vamos conquistá-lo no Estado, o que é importante na arrancada pela redemocratização do País", acrescentou Tarquínio.
O prefeito Paulo Gomes Barbosa não foi ouvido a respeito do assunto. Mais uma vez,
estava viajando. Mas agora, o PDS deverá modificar sua posição, pois seus membros vivem repetindo que a autonomia é um assunto que depende do
Governo Federal, e que deve-se confiar na promessa de Figueiredo.
No ano passado, em Conceiçãozinha, Figueiredo estava alegre
Foto: arquivo (30/8/1981), publicada com a matéria
Aventuras jornalísticas
Havia uma grande expectativa naquele dia 30 de agosto. O presidente Figueiredo estaria
inaugurando o terminal de Containers, em Guarujá, e seria uma excelente oportunidade para obter uma posição oficial a respeito da devolução da
autonomia política de Santos, principalmente porque estávamos a pouco mais de um ano das eleições.
Logo, porém, ficou evidente que não existia qualquer intenção do presidente em falar
sobre o assunto. Foi preciso muita insistência para que o presidente resolvesse falar. Surgiu então a famosa promessa, que o ministro Abi-Ackel fez
questão de esvaziar, na segunda-feira.
Nem sempre, nos últimos 18 anos, foi permitido à Imprensa atuar como agente de
transformações sociais no Brasil, por razões óbvias. Mas na questão da autonomia política de Santos, esta participação foi fundamental. Se não fosse
a persistência dos repórteres, certamente hoje não teríamos promessa alguma a cobrar do presidente.
Figueiredo discursava no palanque, durante a inauguração do terminal. Embaixo, o
repórter Dirceu Fernandes Lopes, de A Tribuna, esperava uma oportunidade. Quando o presidente desceu, o repórter aproximou-se e fez a
pergunta, à queima-roupa: "Presidente, e a autonomia?" A resposta foi simplesmente um não.
Mas repórter é um profissional que, geralmente, não desiste tão fácil, por maiores que
sejam as dificuldades (ou por mais fortes que sejam os agentes de segurança). A pergunta foi repetida, e a resposta também. "Mas eu vim aqui só para
isso, presidente", ainda insistiu.
"Então, perdeu a viagem", encerrou Figueiredo.
Ficou então a certeza de que, mais uma vez, a autonomia estava bem longe de Santos.
Algum tempo depois, após mais algumas tentativas, Figueiredo aproximou-se de um grupo
de repórteres, e foi dizendo: "Aonde está aquele jornalista barbudinho, que queria saber da autonomia?" Houve uma certa agitação, mas ninguém sabia
onde estava Dirceu (na verdade, tentava vencer a resistência dos agentes de segurança).
- "Presidente, a pergunta que ele fez todos nós queremos fazer", disse o jornalista
Ouhydes Fonseca, do Jornal do Brasil. E então Figueiredo abriu o jogo: "Pode anunciar que Santos terá a sua autonomia política".
- "Ainda este ano?", perguntaram os repórteres.
- "Ainda este ano", confirmou.
- "Quer dizer que já se pode começar a campanha?"
- "Podem começar a campanha", sentenciou Figueiredo, que depois avisaria ao prefeito
Paulo Gomes Barbosa: "Pode se desincompatibilizar para concorrer a prefeito de Santos".
Frustração - Hoje, depois das declarações do ministro da Justiça, o repórter
Dirceu Fernandes Lopes confessa estar decepcionado: "Não foi uma promessa de uma pessoa qualquer, mas foi uma promessa com muitas testemunhas,
rádio, TV, jornais. O presidente até pediu que preparassem a campanha política. Eu tinha certeza de que teríamos a autonomia, não só como
profissional, mas também como santista. Lamento muito, principalmente como santista".
Para Ouhydes Fonseca, agora há uma certeza: "As coisas estão todas erradas neste País.
Se o presidente não pudesse devolver a autonomia, por qualquer motivo, deveria explicar as razões".
E finaliza: "Como repórter, estou frustrado, pois naquele momento achávamos que
tínhamos tirado do presidente um pronunciamento definitivo, que outros órgãos de comunicação não conseguiram. E estou frustrado inclusive como
cidadão".
Erasmo e a autonomia - Depois do episódio da promessa, a autonomia - que todos
julgavam certa - voltou a despertar atenções quando o deputado Erasmo Dias, também pressionado pela imprensa, antes de participar de um debate na
Rádio Atlântica, garantiu que a volta da autonomia era uma questão de dias. Isso aconteceu em 17 de abril deste ano, mas as profecias de Erasmo
acabaram não dando certo.
Voltou a imprensa a cumprir o seu papel, e o deputado revelou, então, uma incrível
trama contra a devolução da autonomia. Um misterioso telex, segundo Erasmo, foi enviado a Brasília, por membros do PDS de Santos, pedindo que a
autonomia não fosse restabelecida, pois o partido governista sofreria ampla derrota nas urnas.
Recentemente, surgiu a tese do advogado Sérgio Sérvulo da Cunha, sobre a revogação do
decreto que cassou a autonomia de Santos. Mais uma vez, lá foram os repórteres a cobrar definições - às vezes, de forma ostensiva - dos presidentes
dos partidos. Foram também os próprios repórteres que conseguiram uma cópia da tese do advogado, para que os partidos (à exceção do PT, que já havia
aderido à tese) tomassem conhecimento dos argumentos. E, se não fosse esta providência, provavelmente não haveria condições de atender aos prazos
determinados pela Justiça Eleitoral para a realização de novas convenções municipais. Como, aliás, reconheceram e fizeram questão de assinalar os
representantes dos partidos envolvidos.
A conclusão a que se chega, a respeito da atuação da imprensa na luta pela autonomia,
é de que ela poderá até não ser devolvida. Mas não será por falta de esforço. |
Ainda só promessas
Pesquisa A Tribuna
Há muitos anos a autonomia política de Santos vem sendo
prometida, mas até agora nada foi resolvido. Diversas autoridades, como vereadores, prefeitos, deputados, governadores e ministros, tomando por base
as reformas políticas que vinham ocorrendo, fizeram seu pedido ao Governo. O próprio presidente Figueiredo, quando ainda candidato à Presidência da
República, disse, durante congresso de vereadores realizado em Porto Alegre, em agosto de 1978, que a questão da autonomia seria mantida e
fortalecida "como reza a Constituição".
Nos anos subseqüentes, em diversas ocasiões, Figueiredo declarou que era favorável à
eleição nos municípios considerados área de segurança nacional. A 14 de janeiro deste ano, o ministro da Justiça, Abi Ackel, informou em Brasília,
ao prefeito Paulo Gomes Barbosa, que a volta da autonomia ocorreria por decreto que seria assinado pelo presidente Figueiredo. Para fortalecer a
informação, Abi-Ackel acrescentou que os estudos realizados por seu Ministério, com parecer favorável à autonomia de Santos, foram levados para o
presidente da República há algum tempo, ressaltando que o decreto só não saiu porque o dirigente da Nação teve de se afastar temporariamente do
cargo.
Anteriormente foi tentado também um contato com o chefe da Casa Civil, Leitão de
Abreu, o qual explicou que o Governo Federal era favorável à realização de eleições para prefeito em Santos. Em 7 de abril deste ano, o Conselho da
Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de São Paulo fez a sua tentativa de restabelecimento da autonomia política do Município. A OAB enviou moção ao
presidente João Figueiredo em que pedia a volta da autonomia a todos os municípios brasileiros. O documento, de autoria do advogado Carlos Rocha de
Barros, baseou-se em promessas de Figueiredo sobre o restabelecimento da plenitude democrática no País. Mas, tudo isso até agora ficou na promessa.
Começou com Tarquínio - Em 12 de setembro de 1969, Santos foi considerada área
de segurança nacional, juntamente com o Município de Santarém, no Pará. A medida foi aplicada com base no Ato Institucional nº 12 e no Decreto-Lei
348, de 4 de janeiro de 1968. Pelo documento, corroborado em parecer do Conselho de Segurança Nacional, ficaram definitivamente canceladas as
eleições programadas para o dia 15 de novembro de 1970. O povo santista já havia sofrido um rude golpe com a cassação em 13 de março de 1969 do
prefeito eleito Esmeraldo Tarquínio, que teve o mandato eletivo cassado e suspensos seus direitos políticos por 10 anos. O ato foi de autoria do
então presidente da República, marechal Arthur da Costa e Silva, depois de reunir-se com o Conselho de Segurança Nacional.
No dia 10 de abril de 1969, com base no Ato Institucional nº 7, o presidente da
República nomeou o general-de-divisão Clóvis Bandeira Brasil como interventor federal, o qual tomou posse no dia 14, no cargo que era ocupado por
Sílvio Fernandes Lopes e seria entregue a Esmeraldo Tarquínio, eleito legalmente pelo povo com 30 por cento dos votos. O início do governo do
interventor foi marcado pelos decretos que era obrigado a baixar, tendo em vista que a Câmara, por força do Ato Complementar nº 53, de 8 de maio de
1969, permaneceu em recesso por 14 meses, voltando à atividade somente em 15 de julho de 1970.
Suspensa a intervenção - Quatro anos mais tarde, em 29 de março de 1974, o
presidente Ernesto Geisel suspendeu a intervenção em Santos e o governador do Estado, Laudo Natel, nomeou Antônio Manoel de Carvalho para ocupar a
direção da Prefeitura. A mudança de posição do Governo deu novo alento ao santista, apesar de o Município continuar sendo área de segurança
nacional. Porém nada de novo ocorreu no cenário político. Carvalho permaneceu no cargo por mais de cinco anos, até o dia 4 de maio de 1979, ocasião
em que recebeu notificação de que havia sido exonerado por decreto do ex-governador Paulo Salim Maluf, ato considerado como uma represália.
Em vista disso, Antônio Manoel de Carvalho teve de transmitir o cargo para o
empresário Carlos Caldeira Filho, que se constituiu no segundo prefeito nomeado. Caldeira ficou por pouco tempo na Prefeitura, cerca de nove meses,
e passou a direção do Executivo, no início de 1980, para Paulo Gomes Barbosa, por indicação do governador Paulo Maluf. Barbosa tomou posse no dia 29
de janeiro de 1980. |
Dias depois, em 11 de agosto de 1982 no mesmo jornal A Tribuna:
Jornalistas cobram de Figueiredo a autonomia prometida
"Santos terá sua autonomia. é o presente que trago para o
povo de Santos, hoje. Podem anunciar. A partir de hoje, os candidatos podem começar a campanha".
Foi esta a promessa que o presidente João Batista Figueiredo fez aos santistas no dia
30 de agosto de 1981, quando inaugurava o Terminal de Containers de Conceiçãozinha, em Guarujá, depois de ser avidamente questionado pelos
jornalistas.
Hoje, quase um ano depois de ter empenhado sua palavra, a promessa é cobrada por mais
de 100 jornalistas de Santos, num abaixo-assinado que será enviado nos próximos dias ao programa "O povo e o presidente", da Rede Globo de
Televisão.
Duas questões e um breve histórico contendo a promessa do presidente Figueiredo
encabeçam o documento, em texto de 14 linhas. Logo abaixo e ocupando quatro páginas de papel pautado, seguem-se as assinaturas, o nome e o número de
registro dos jornalistas santistas junto ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.
É o seguinte o texto do abaixo-assinado: "No dia 30 de
agosto de 1981, por ocasião da inauguração do Terminal de Containers de Conceiçãozinha, em Guarujá, em entrevista à Imprensa da Baixada Santista, V.
Exa. afirmou textualmente, a propósito da indagação sobre o restabelecimento da autonomia política do Município de Santos, o seguinte: "Santos terá
sua autonomia. É o presente que trago para o povo de Santos hoje. Podem anunciar".
E segue: "Após a enfática declaração e ao ser questionado
se a autonomia seria restituída ainda neste ano e a tempo das eleições de novembro, V. Exa. declarou: "A partir de hoje, os candidatos podem começar
a campanha".
O texto finaliza com as perguntas: "Diante disso, os
jornalistas de Santos, abaixo assinados, indagam: sua palavra empenhada pública, solene e oficialmente, de restabelecer a autonomia política de
Santos, será cumprida a tempo de que o povo santista possa eleger, pelo voto direto e secreto, seu prefeito, neste 15 de novembro? Já existe data
estabelecida para a restituição da autonomia de Santos?"
Promessa é dívida - No dia da promessa, um domingo, o repórter Dirceu Fernandes
Lopes, da equipe de A Tribuna, esperou o presidente descer do palanque para indagar-lhe, rapidamente: "Presidente, e a autonomia?",
Figueiredo respondeu com um "não", secamente.
O jornalista foi atrás e indagou, de outra forma: "Mas eu vim aqui só para isso,
presidente". Figueiredo foi lacônico: "Então, perdeu a viagem".
Algum tempo depois, o presidente, à frente de um grupo de jornalistas, olhou para os
lados à procura de Dirceu: "Aonde está aquele jornalista barbudinho, que queria saber da autonomia?" Outros repórteres intervieram: "O que ele quer
saber, nós também queremos". Foi então que Figueiredo fez a promessa, passada pessoalmente por ele ao prefeito Paulo Gomes Barbosa.
Na segunda-feira, os jornais publicaram a promessa do presidente. A classe política
ficou agitada. A população, enfim, respirava a aproximação dos dias de liberdade, que chegariam um ano depois, na eleição de novembro, já marcadas.
Muitas outras promessas, do próprio Figueiredo e de vários políticos, confirmavam o
retorno da autonomia. Mas, neste ano, algumas contradições acabaram por deixar em dúvida a dívida que o presidente fizera diante dos jornalistas.
No dia 2 deste mês, em Brasília, o ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, após
entrevistar-se com o presidente, descartou sem mais nem menos que a autonomia de Santos seria restabelecida antes da eleição. E que nenhuma das
cidades que estão acorrentadas ao título de área de segurança nacional (mais de 100 no País) elegeriam o prefeito este ano.
Os jornalistas de Santos, a quem o presidente dirigiu a promessa, encontraram no
documento-carta a ser enviado ao programa "O povo e o presidente", a forma de cobrar a dívida que Figueiredo deixou.
Afinal, a promessa ocorreu num diálogo entre o presidente e os jornalistas santistas.
Foi gravada, publicada e deixou a população esperançosa de que o estado de direito voltaria a pairar sobre Santos. Agora, pelo que diz o ministro da
Justiça, um dos lados parece ter abandonado a promessa, devidamente cobrada pelos que a registraram e mais de 100 companheiros de classe, no
abaixo-assinado. |
Mais de meio ano depois da notícia acima e um ano e meio passado da promessa
de Figueiredo, novas especulações e boatos, como este, publicado numa quinta-feira, 24 de fevereiro de 1983, ainda em A Tribuna:
Matte no lugar de Barbosa. É o que se diz na Cidade
A destituição do prefeito Paulo Gomes Barbosa já estaria
decidida e o seu substituto seria Sérgio da Costa Matte, atual presidente da Codesp. Este comentário circulou insistentemente ontem nos corredores
da Câmara e da Prefeitura, embora não houvesse nenhuma confirmação oficial. Segundo os boatos - serão apenas boatos? -, até um telex teria sido
enviado a Barbosa, comunicando a decisão.
Aparentemente bem tranqüilo - o que não é exatamente normal em se tratando do prefeito
-, Barbosa dizia apenas que estará almoçando hoje com o presidente Figueiredo e com o ministro Delfim Neto, em São Paulo. Mas negou que trataria de
assuntos políticos ou da sua permanência no cargo de prefeito de Santos.
Enquanto algumas pessoas afirmavam que a notícia estava sendo divulgada por uma
emissora de rádio da Baixada Santista, Barbosa tentava agir racionalmente, perguntando: "Se realmente houve a substituição, acho que eu seria o
primeiro a ser comunicado, não?" E garantia que não haverá nenhum problema se outro prefeito for nomeado em seu lugar: "Não pedi para ser prefeito e
nem para permanecer no cargo".
Segunda-feira, ele estará reunido com o ministro da Justiça, Abi Ackel, em Brasília,
reafirmando que só irá conversar sobre a devolução da autonomia política de Santos. Os boatos sobre a substituição do prefeito diziam ainda que o
coronel Erasmo Dias assumiria a presidência da Codesp.
Paulo Gomes Barbosa
Foto publicada com a matéria e em 15/2/1981
Barbosa estaria para perder a Prefeitura
Lá fora, nos corredores, acontecia uma verdadeira tempestade de boatos, todos dizendo
que o prefeito Paulo Gomes Barbosa já não era mais prefeito. Teria sido substituído, segundo os comentários, por Sérgio da Costa Matte, presidente
da Codesp. Falava-se que algumas emissoras de rádio estavam anunciando a grande novidade e que até um telex havia sido enviado à Prefeitura,
comunicando a destituição de Barbosa.
A agitação era intensa e todos procuravam confirmar a informação.
O contraste: dentro do seu gabinete, Barbosa estava tranqüilo, talvez como nunca se
mostrara anteriormente, desde que assumiu a Prefeitura. Falando calmamente, respondendo perguntas sem demonstrar nenhum nervosismo, ao contrário do
que acontece diariamente.
Até às 16 horas, o prefeito informava, não havia recebido nenhum comunicado oficial. O
telex existente no gabinete permaneceu mudo durante todo o dia, sem registrar uma única palavra ou qualquer ponto de exclamação. E, com respeito aos
boatos, Barbosa limitava-se a repetir que não sabia de nada: "Estamos trabalhando com muita serenidade em benefício da nossa Cidade".
Mas percebendo que o momento exigia um pouco mais do que o seu comportamento habitual
de fugir às perguntas mais delicadas com a mera repetição de frases, Barbosa afirmou que, em seus múltiplos e insistentes contados com autoridades
federais - citando Delfim Neto, Abi Ackel e Leitão de Abreu -, nunca chegou a tocar no assunto. E declarava serenamente: "Nunca fiz solicitações a
respeito, nunca fiz pedido algum, nem para permanecer no cargo. A única coisa que pedi foi pela devolução da autonomia política de Santos".
Com o presidente - Se todo boato tem algum fundo de verdade, talvez seja
possível constatar hoje, quando o prefeito estará almoçando em São Paulo com o presidente João Figueiredo e o ministro Delfim Neto. Barbosa negou de
todas as formas que pretendesse abordar, nesse encontro, temas políticos, e, muito menos, a sua situação como prefeito nomeado.
Mas existe alguma coisa no ar, sem dúvida. Uma testemunha informou que o prefeito foi
praticamente intimado a comparecer hoje em São Paulo, para conversar com o presidente Figueiredo. A testemunha em questão disse que Barbosa recebeu
um telefonema do gabinete do ministro Leitão de Abreu, em Brasília, informando que Delfim Neto exigia a sua presença no almoço.
Diante disso, surgem duas possibilidades: ou Delfim pretende prestigiar Barbosa ou - o
que comprovaria os boatos de ontem - será comunicada a sua demissão.
Esta última hipótese, porém, foi logo descartada por políticos do PDS e do PMDB, que
preferem achar que o Governo manterá Barbosa no cargo até que a autonomia seja restabelecida e marcada a eleição para a escolha do novo prefeito.
Argumenta-se ainda que não seria lógico destituir um prefeito nomeado e indicar outro, na mesma situação, principalmente às vésperas da posse do
novo governador do Estado.
Um vereador do PMDB chegou a dizer que "uma fonte fidedigna" de Brasília havia
confidenciado que o presidente Figueiredo estaria disposto a aceitar uma possível indicação de Franco Montoro para a Prefeitura de Santos, desde que
o governador eleito considere que o atual prefeito merece a sua confiança (termos inclusive que constam do decreto-lei que regula as nomeações de
prefeitos nas áreas de segurança nacional).
"Até às 16,30 horas de hoje (ontem), não sabemos de nada, não há nada oficial. Se
houve mesmo a substituição, acho que o prefeito Paulo Gomes Barbosa seria o primeiro a ser informado, não?", comentava o próprio Barbosa, sorrindo.
E completava: "Mas se realmente aconteceu, posso dizer que servi à minha Cidade de forma adequada".
Com o ministro - Barbosa confirmou que terá um encontro, segunda-feira,
precisamente às 15,45 horas, em Brasília, com o ministro Abi-Ackel, da Justiça. Mas, novamente, negou que estaria pensando em abordar a questão da
escolha - ou não - de um novo prefeito. "Estarei com o ministro com o fim único e exclusivo de tratar da autonomia política de Santos".
O prefeito acha que existem "boas possibilidades" de que a autonomia seja, finalmente,
restabelecida. "Inclusive é uma bandeira do PDS. O importante é permitir que o povo santista possa eleger o seu prefeito, o povo santista quer
eleger seu prefeito. E, como nomeado, tenho condições de manter relacionamento constante com as autoridades federais, procurando tratar do assunto".
A pergunta foi feita, de qualquer forma: como o senhor está se sentindo atualmente,
como alguém que deixará a Prefeitura em breve ou como alguém que continuará sendo prefeito?
Ele pensou durante alguns instantes, falou que nunca dependeu da Prefeitura, citou que
80 por cento das obras prioritárias que planejou ao assumir o cargo foram realizadas, que já fez muito pela Cidade. Mas não respondeu: "Você me
desculpe, mas não vou responder, porque ainda não me preocupei com isso".
E continuou aparentemente muito tranqüilo. |
A foto do fato...
Os principais personagens das histórias desta página
estão nesta foto, registrada por A Tribuna em 30 de agosto de 1981, durante a inauguração do Terminal de
Contêineres. O presidente Figueiredo (de óculos escuros) cumprimenta o prefeito de Santos, Paulo Barbosa (de costas, trajando terno branco). Sérgio
Matte, atrás do presidente, aplaude. Ao lado dele e no centro da foto, visto atrás da placa de inauguração do terminal, aparece Dirceu, o jornalista
"barbudinho" a quem Figueiredo procurou, depois das negativas da autonomia, quando resolveu anunciá-la...
|
|