Os amigos lançam Carvalho, entre Erasmo e o PTB
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A temporada de caça ao voto foi aberta. Um prefeito eleito e cassado, dois
prefeitos nomeados e alguns satélites, girando por fora, já estão de arma em punho e discurso afiado, atrás do povo. Santos espera a autonomia e
eleições diretas para prefeito em 1982. E o trabalho de base, mesmo ainda na dúvida, já começou. A Zona Noroeste, os morros e o porto são as áreas
mais visadas.
Tarquínio, 69: já diplomado
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Corrida ao povo
Texto de José Carlos Silvares
O velho estilo janista está vivo no ex-prefeito Antônio
Manoel de Carvalho, primeiro candidato oficial às eleições municipais de 1982, se a autonomia vier. Sua candidatura foi lançada por amigos no dia 31
de janeiro, num bar. "Foi o nosso presente de aniversário" - diziam os amigos, entre eles o deputado-coronel Erasmo Dias e toda a cúpula do PTB
santista.
Lá estava, também, o vereador José Gonçalves, líder do PTB na Câmara, mais votado nas
eleições de 1976, escolhido para vice-prefeito na chapa de Carvalho. Assim, Carvalho já não tem mais como esconder que sairá pela legenda
trabalhista, embora prefira anunciar o fato "oportunamente".
Seguindo os passos do amigo Jânio Quadros, mas não desprezando as pegadas do outro
amigo, Laudo Natel, Carvalho anunciou: "Jânio lançou sua candidatura numa cantina. Lanço a minha num bar". A analogia com Jânio não é de hoje: ainda
quando prefeito, Carvalho, rodeado de crianças, no Morro do Saboó, parodiou o ex-presidente, que na época satirizava João Figueiredo: "Aqui, eu
sinto o cheiro do povo".
Mas o ex-prefeito não está sozinho na campanha. Ele acredita que a disputa pela
Prefeitura de Santos será acirrada, e cita como adversário "o conhecido e respeitável Esmeraldo Tarquínio", líder do PMDB, ex-prefeito eleito e
cassado em 1969 pelo AI-5. "Enfrentarei o Esmeraldo, um expoente eleitoral já demonstrado no passado. O resultado será para Santos a eleição de um
prefeito honesto", diz Carvalho, que já tem planos se for eleito: moralizar os bens públicos, atender a periferia, dar saúde e educação ao povo.
Esmeraldo Tarquínio, ao contrário de Carvalho, prefere manter-se apenas disposto - "e
bem disposto" - a candidatar-se à convenção do PMDB que escolherá o nome do futuro candidato a prefeito. Antes disso, porém, Tarquínio fala em
autonomia: "É preciso que o santista demonstre, de maneira mais veemente e mais freqüentemente, o desejo de recuperar o direito de eleger seu
governante. Sem autonomia, pouco há a falar em eleição". Mas já está renovando seus contatos: "Quarenta por cento do eleitorado sequer me conhecem o
nome", embora diga que não pode andar dez passos sem ser interrompido por numerosas pessoas que lhe indagam: "Como é, Tarquínio, vamos lá outra
vez?"
Tarquínio tem a impressão, nas ruas, de que aumentou, entre os remanescentes do
eleitorado de 1968, o número de eleitores que lhe dariam o voto se as eleições fossem hoje. O fato é endossado pelo resultado das eleições simuladas
da Cooperativa dos Jornalistas de Santos, realizadas em novembro: Esmeraldo teve 865 dos 2.500 votos válidos, superando todos os demais eleitos.
Para Esmeraldo, quem decidirá as futuras eleições será mesmo a juventude, pelo peso
político que tem no eleitorado. "Por isso, estou buscando novos contatos, quero aprender a linguagem dos jovens, captar os seus anseios", revela.
O deputado estadual Rubens Lara, também do PMDB, tem a mesma opinião sobre os jovens.
Eleito com 28 mil votos em 1978, foi o segundo mais votado em Santos, e credita isso ao fato de ser jovem. Mas, embora muito procurado ultimamente,
diz que ainda não decidiu se será candidato a prefeito em 82. "O partido vai escolher alguém ou alguns. Se houver voto de sublegenda, embora o PMDB
seja contrário a ele, terá que enfrentá-lo, e estou disposto a ser candidato a candidato a uma sublegenda. O que não quero jamais é ser fator de
divisão no partido".
Lara está mais preocupado, hoje, em ir às ruas com o partido, buscar um plano popular
de governo que seria utilizado pelo futuro prefeito do PMDB, eleito pelo povo.
Mas há uma tendência, não revelada oficialmente, de o Partido Popular apoiar o
candidato do PMDB. "É a filosofia do PP", diz Alfeu Praça, coordenador regional do partido, e o segundo mais votado em 1968, pela Arena, na disputa
com Tarquínio. Alfeu diz que o PP ainda está em fase de organização, e que se não tiver um forte candidato às eleições de 82, apoiará um candidato
da Oposição. Em Santos, como se sabe, o PMDB é o mais forte partido entre as oposições.
Quanto ao Partido dos Trabalhadores - PT -, há orientação a nível nacional de se
conseguir candidatos a todos os cargos. "Por enquanto não temos nomes e nem decidimos se iremos a prefeito", diz Lenimar Gonçalves Rios, presidente
da executiva provisória do PT em Santos. Mas revela que se houver um nome, será produto de consulta às bases, como quer o partido. Já o Partido
Democrático Trabalhista - PDT -, ao que se sabe, está sem planos imediatos para Santos, no que se refere às eleições de 82.
Assim, resta ao atual prefeito, Paulo Gomes Barbosa, do PDS, coordenar, no âmbito de
seu partido, a sua própria sucessão. E ele mesmo não descarta, inclusive, a possibilidade de substituir-se, ou seja, de candidatar-se eleitoralmente
ao cargo que ocupa, embora esteja impedido pela Constituição: "Há uma controvérsia jurídica a respeito da eleição dos prefeitos nomeados. O texto
segue orientação constitucional e veda a reeleição dos chefes de executivo. Mas o prefeito nomeado, por óbvio, ao candidatar-se ao cargo que ocupa,
não se submete à reeleição, de vez que não foi eleito. A questão deverá ser solucionada, em tese, pela Justiça Eleitoral".
Há informações, porém, de que Barbosa será candidato e que levará a vice-prefeito o
líder dos estivadores, Jadié Nunes da Mota. Barbosa repele: "A minha candidatura a prefeito em 82, acompanhado do operoso sindicalista Jadié, não
passa de mera especulação".
Depois, Barbosa diz que o PDS em Santos não definiu quem será o candidato do partido:
"Por enquanto, o PDS está descobrindo novos valores". Fala-se em Athié Jorge Coury, padrinho de Barbosa; o atual prefeito retribuiria a indicação do
velho militante ao cargo que ocupa, apoiando-o na eleição de 82. Afinal, Athié obteve 100 mil votos na eleição de 1978. É verdade que, na época,
pertencia ao extinto MDB. Fala-se, também, em Milton Lopes, diretor da Prodesan (talvez o futuro presidente da empresa) e líder municipal do PDS.
Há, ainda, o nome de José Lopes dos Santos Filho, superintendente regional da Sabesp, incluído na lista tríplice dos sucessores nomeados de Carlos
Caldeira Filho. Mas ele, após o envolvimento e após a escolha de Barbosa para o cargo, prefere não falar mais em política: "Meu negócio, hoje, é
água e esgoto...".
Não se descarta, também, uma possível candidatura de Sílvio Fernandes Lopes, atual
secretário estadual dos Negócios Metropolitanos, caso a situação (pela força da Oposição local) esteja realmente preta para o partido do Governo.
"Sei que o PDS tem uma atração muito forte pelos Lopes", diz Antônio Manoel de
Carvalho, que acredita que o candidato do PDS sairá entre Sílvio, Milton e José Lopes. Quanto a Sílvio, Carvalho lembra que ele revelou a A
Tribuna, no dia 30 de janeiro de 1980, que se fosse candidato a prefeito em 82 gostaria de derrotar Carvalho nas urnas.
Mas também há notícias quanto à indicação a vice-prefeitos do PDS. Um deles seria o
atual secretário de Assuntos Jurídicos, Luís Antônio de Oliveira Ribeiro; outro, seria o vereador e corretor de imóveis Carlos Mantovani Calejon (ex-MDB,
ex-PTB, ex-PMDB e atual PDS). Ambos estariam sendo preparados pelo prefeito Barbosa.
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Lara: só esperando
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Lopes: desestímulo
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As áreas visadas - De uma forma ou de outra, os fatos e os nomes estão aí. E,
certamente, alguns já caminham na direção do povo, antecipando a caça ao voto, antes mesmo de uma definição sobre a autonomia política da Cidade. As
áreas visadas, naturalmente, são a Zona Noroeste e os morros, habitadas na maior parte por uma grande força eleitoral de Santos: os trabalhadores
portuários.
Carvalho tem forte eleitorado na Zona Noroeste, região beneficiada pela sua
administração municipal, embora também bastante visitada na época pelo engenheiro José Lopes dos Santos Filho, então presidente da Prodesan, e
responsável pelas obras naquela área. Nos morros, Carvalho também tem boa penetração, como afirma um titular de sociedade de melhoramentos: "No meu
morro ele tem 90% do eleitorado".
Diretor da Codesp, empresa que substituiu a CDS no porto, Carvalho está numa situação
delicada: pertence a um partido trabalhista e é patrão dos portuários. Mas ele tem visão ampla: escolheu para vice-prefeito exatamente um
ex-portuário, José Gonçalves, atual líder do PTB, eleito vereador em 1976 pelos portuários "A minha posição na diretoria da Codesp não conflita com
a minha posição política", diz Carvalho. e sentencia: "Os operários me conhecem, sabem que não sou reacionário, nem mentiroso e nem demagogo".
Esmeraldo, por sua vez, acredita que a união da população da Zona Noroeste e dos
morros, e também dos portuários, pesará no resultado de qualquer eleição local. E revela: "Minha afinidade com essas áreas precisa de ampliar-se,
embora seja evidente sua relativa intensidade atual".
Já Barbosa, criado no Morro do Pacheco, tem-se dedicado a temas populares:
desfavelamento, transporte de massa (o 3º trilho, para os portuários), ciclovias etc. E foi no seu governo que se decidiu (?) a tributação do porto.
Inclusive, Barbosa confidenciou a um jornalista, há algum tempo, que sempre tem lembrado às autoridades federais que a cada obra conseguida para a
Cidade, o beneficiário será o PDS.
Quanto a isso, ele responde: "O povo, quando escolhe o seu candidato, avalia a obra e
o homem. Muito mais o homem do que a obra. Grandes realizações ajudam porque despertam a admiração do eleitorado. Mas o que vale mesmo são os
atributos morais dos homens públicos, porque despertam a confiança".
Os pratos estão aí. E os eleitores estão famintos.
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Barbosa: impedido
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Athié: especulado
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Autonomia e interesses
Num dia de muita euforia, no fim de outubro, o prefeito Paulo Barbosa reuniu os
jornalistas no seu gabinete e anunciou deslumbrado: "A autonomia vem mesmo. Hoje eu tive garantias disso".
Muitos pensaram tratar-se de mais uma notícia demagógica, das tantas que a Cidade
conheceu nos últimos anos. Mas aquele era um dia especial: Barbosa retornava de Brasília, após encontros com o presidente João Figueiredo, com o
chefe da Casa Civil, Golbery da Costa e Silva, e com o ministro dos Transportes, Eliseu Resende, de quem recebeu sinal verde para a tributação do
porto. A tributação, naquele instante, passou a assunto secundário, embora centenário.
E foi diante da insistência dos repórteres que Barbosa desabafou: "Obtive confirmação,
do presidente e do Golbery, de que a autonomia vem mesmo. E que virá em breve". Barbosa, deu, na época, tom oficial às suas palavras. A notícia
cheirava a certeza absoluta.
Passados três meses, a tributação ainda não é uma certeza. Nem a autonomia: "Certeza
mesmo só teremos após a aprovação do projeto de revogação da lei que enquadra Santos como área de segurança nacional, e a sua transformação em lei,
mediante sanção". Na terça-feira, Barbosa esteve novamente com Golbery, de quem recebeu tapinhas nas costas e a frase bem ao seu modo: "Aguarde".
Ou seja: Santos só terá certeza do restabelecimento da autonomia quando a lei estiver
publicada no Diário Oficial da União. E, apesar dos esforços de pequena parte da comunidade e apesar de ter sido motivo para um congresso de
âmbito nacional em Santos (no fim de novembro), a autonomia parece distante, manipulável de acordo com os interesses políticos do Governo na área. |
La Scala; 28 mil, morreu. Gomes, 33 mil, assumiu o cargo
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Os últimos bons de voto
Santos teve apenas três eleições para prefeito nos
últimos 20 anos. Os três eleitos em 1961, 1965 e 1968, pela ordem, foram Luís La Scala Júnior, Sílvio Fernandes Lopes e Esmeraldo Tarquínio,
recebendo votação acima de 30% do eleitorado santista. Eram tempos de comícios, de campanhas populares, de disputa na boca das urnas.
1961 (26 de março) - Santos tinha 91 mil eleitores e eram candidatos: Luís La
Scala Jr., apoiado pelo Partido Social Progressista e pelo Partido Trabalhista Brasileiro; Mário Covas Jr., com o apoio da coligação Partido
Trabalhista Nacional - União Democrática Nacional; Athié Jorge Coury, apoiado pelo Partido Democrata Cristão; e o independente Antônio Feliciano,
ex-prefeito. Os candidatos a vice-prefeito eram José Gomes, Nélson Noschese, Jaime Peres e Newton Aragão.
La Scala teve o apoio do então prefeito Sílvio Fernandes Lopes. Sua campanha foi
conduzida por Sílvio: obteve 31% dos votos, ou 28 mil votos. Covas, apoiado pelo presidente Jânio Quadros, conseguiu 22 mil votos. Athié, apesar de
velho político e de presidente do Santos F.C. (do glorioso Santos F.C.) e mesmo conseguindo apoio de Jânio e do governador Carvalho Pinto, ficou em
terceiro lugar, com 18 mil votos. Feliciano teve 6 mil. O vice, José Gomes, foi o grande vencedor: superou as expectativas, com 33 mil votos, mais
até que o prefeito eleito. E acabou assumindo a Prefeitura, com a morte de La Scala após um acidente de carro, no dia da posse.
1965 (21 de março) - Santos contava com 120 mil eleitores. Eram candidatos ao
cargo que ficou com o comandante Fernando Ridel, após a cassação de José Gomes pela Revolução: Sílvio Fernandes Lopes, pelo Partido Social
Progressista; Esmeraldo Tarquínio, pelo Movimento Trabalhista Renovador; Belmiro Gallotti, pelo Partido Republicano Popular; e Flávio Conceição
Paiva, pelo Partido Trabalhista Brasileiro. A vice-prefeito concorriam Francisco Prado (MTR) e José Aflalo Filho (PSP).
A eleição foi ferrenha e acontecia há apenas um ano da Revolução. Venceu Sílvio, com
42 mil votos (35% do eleitorado); Esmeraldo teve 34 mil; Belmiro, 2 mil; e Paiva, 4 mil. Francisco Prado (vice de Esmeraldo) subiu a vice-prefeito
de Sílvio, com 41 mil votos. Aflalo teve 32 mil.
Sílvio, 42 mil em 65. Tarquínio, 45 mil em 68. Mas não assumiu
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1968 (15 de novembro) - Santos estava com 155 mil eleitores e quatro
candidatos: Esmeraldo Tarquínio e Osvaldo Justo (MDB-1), Osvaldo Martins e Geraldo Del Castilho (MDB-2), Francisco Prado e Eraldo Franzese (MDB-3) e
Alfeu Praça e Áureo Rodrigues (Arena). A eleição dividiu o MDB em três e a Arena uniu seu eleitorado em torno do engenheiro Alfeu Praça, apoiado
pelo então prefeito Sílvio Lopes.
Esmeraldo fez uma campanha no estilo janista. Espalhou cartazes por toda a Cidade:
eram folhas de jornal com o seu nome e partido. E venceu, com 30% dos votos: 45.210 votos. Alfeu teve 36 mil; Prado, 24 mil; e Martins, 7 mil. O MDB,
somado, teve 77 mil votos ou 50% do total do eleitorado santista.
Mas Esmeraldo não levou: foi cassado após a cerimônia de posse. A Cidade ficou sem
prefeito: o vice, Osvaldo Justo, renunciou; o presidente da Câmara, Álvaro Fontes, foi cassado. Depois de um processo de caça às bruxas, o Governo
da Revolução, com o AI-5 nas mãos, resolveu intervir na Cidade, nomeando para interventor o general Bandeira Brasil. Santos perdia a sua autonomia.
Em 1982, Santos terá aproximadamente 260 mil eleitores.
Alfeu, 36 mil
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