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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
A volta da autonomia... em 1936 (3)

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Embora quando se fala da perda da autonomia política de Santos se lembre do período da ditadura militar instalada pela Revolução de 1964, já na década de 30 algo parecido ocorrera. Durante a Revolução de Outubro de 1930, o município perdera a sua autonomia. Em 14 de agosto de 1936, o jornal santista A Tribuna destacou, em manchete, a volta da autonomia plena à cidade (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


A mesa que presidiu os trabalhos, vendo-se ao centro o dr. Nogueira de Sá
e, de pé, os srs. Waldemar Leão e Eduardo de Lamare, 
designados por aquele magistrado para escrutinadores, nas eleições da mesa
Foto publicada com a matéria

Santos reintegrada no regime de sua plena autonomia

[...]

Palavras do dr. Osório Leite - O sr. dr. Osório de Sousa Leite - A história da civilização nos mostra o homem lutando sempre pela conquista do supremo bem, que é a liberdade. Pela liberdade, os homens erigem e destroem templos, e do choque das liberdades, individual e coletiva, o homem busca as mais complicadas formas de equilíbrio social.

A sociedade avança sempre. Os problemas se tornam cada vez mais complexos e as conquistas vão impondo sempre uma renovação contínua e necessária nos métodos de controle. O homem já não é mais uno, e a liberdade do indivíduo tem que ser calcada dentro da liberdade coletiva. O bem estar de um indivíduo é limitado pelo bem estar do próximo. Outra não é a nobre função da Justiça.

A sociedade é um organismo vivo, sujeito às leis biológicas da evolução. A mesma tecnologia médica poderia ser aplicada aos fenômenos sociais. Todos os cataclismos sociais têm uma explicação perfeitamente biológica. É sempre a ânsia pela vida, e por uma vida melhor.

Eu, em nome do P.R. P., saúdo, na pessoa do meritíssimo Juiz presente, o grande médico da sociedade em que vivemos. (Muito bem!).

A oração do sr. Carlos Cyrillo - O sr. Carlos Pacheco Cyrillo - Sr. presidente. Atendendo aos ditames da minha consciência e aos imperativos de meu próprio coração, ocupo a tribuna desta casa pela vez primeira, e confesso que o faço por vocação da alma.

Mal esboçados, ainda, os nossos primeiros passos, na primeira oportunidade que se nos depara, antes, mesmo, que a nossa atenção seja dispensada aos grandes e graves problemas que nos assoberbam, solicitando da nossa parte meditação e estudo, quer a bancada do Partido Republicano Paulista, numa síntese varonil, onde deve vibrar uma voz de comando, perpassar um sopro de energia e cantar um hino de vitória, fazer a evocação de um passado, que está bem vivo em nossas consciências, que palpita em cada uma das fibras de nosso ser, que fala constantemente aos nossos sentimentos e à nossa razão, nos conferindo gratas responsabilidades. Assim, com a força evocativa das palavras, transportamo-nos para os dias, hoje tão mal compreendidos, de 32, quando São Paulo, santificado pela pureza da causa que defendia, levantou-se em armas pelo Brasil.

Transportamo-nos, neste instante, para aqueles dias, porque é um consolo e uma honra para os que vivem, poder serenamente contemplar o passado e assim, desassombradamente, alongar os olhos para o futuro; porque, bem certo é que a evocação do passado aponta o futuro; é um exemplo e um estímulo; uma recordação e um compromisso. E são sempre os nobres vestígios do passado que permitem encontrar o caminho de novos destinos.

Como nos grandes transportes místicos, a bancada do Partido Republicano Paulista volve o seu pensamento para os dias em que, por entre o clamor frenético dos aplausos e a estridência metálica das fanfarras de guerra, os soldados da lei e da ordem, na atitude de triunfadores, o olhar cravado nas treze listas que drapejavam ao vento, trocando a mansidão de um lar feliz pelas agruras da trincheira, impelidos pela paixão transbordante de um grande sentimento, partiam para castigar a usurpação e repelir o insulto, dando a mais perfeita lição de bravura consciente e de civismo, e afirmando, animados pelo poder das idéias, pelo denodo e pelo desprendimento com que batalhavam, que o sangue nada vale pelo que corre de humanamente nas veias, mas pelo que palpita de divinamente no coração.

Mas, sr. presidente, todas as lutas têm seus desfiladeiros e suas vítimas - por isso, nesta hora em que Santos é entregue ao governo de si mesma, é reintegrada em sua própria autonomia, a bancada do Partido Republicano Paulista 'não nos vem recontar nem narrar a obra estupenda do gigante', mas, sendo irmã da mesma fé, comungante do mesmo ideal, soldado da mesma jornada de perturbante esplendor que evoca toda a nobilitante grandeza de uma raça eleita - recorda essa página fulgurante da história de São Paulo, para render aos seus heróis - obreiros da reconstitucionalização da Pátria, que souberam arrancar do minuto que passava a semente que frutificasse -, as expressões de sua homenagem, da sua profunda admiração e do seu respeito.

E, num preito de saudade imperecível, volve-se para os túmulos nimbados de glória, dos que tombaram sorrindo à morte, dos que passaram deixando no solo natal a sangue a divina lição dos exemplos, e jura, sustentado pela obra portentosa de seu passado honroso, que manterá sempre, acesa e brilhante, garantindo a continuação infatigável de seu esforço para grandeza e felicidade de São Paulo, a mesma chama que, iluminando o Partido Republicano Paulista, em 40 anos de administrações honestas e fecundas, edificou o monumento grandioso da nossa opulência, levantando ele e só ele as colunas mestras da nossa civilização e do nosso progresso.

Assim, sr. Presidente, requeiro que, durante um minuto, permaneça a casa de pé e em silêncio, prestando, desta forma, a sua primeira homenagem aos que tombaram no campo da honra cobertos pelas bênçãos da Pátria agradecida.

O sr. Waldemar Leão - Sr. Presidente, diante da manifestação da casa, julgo não ser necessária a consulta à Câmara.

Todos os srs. vereadores e a assistência se conservam de pé e em silêncio, durante um minuto.


Flagrante colhido no momento em que o sr. Carlos Cyrillo falava à Câmara
Foto publicada com a matéria

Recomeçados os trabalhos, pede a palavra o dr. Aristides Machado, prefeito municipal.

O discurso do prefeito municipal - O sr. Presidente - Tem a palavra o sr. Aristides Bastos Machado.

O sr. Aristides Bastos Machado - Sr. presidente, com a consciência de quem se dispõe ao rigoroso cumprimento de seu dever cívico, é que agradeço sinceramente os votos que me elegeram para o alto cargo de prefeito municipal, e apresso-me também em apresentar aos srs. vereadores, legítimos e autorizados representantes do povo santista, as minhas mais cordiais e respeitosas saudações.

Bem compreendo e avalio as altas responsabilidades que assumo com a nobilitante investidura que me foi conferida pela generosidade desta ilustrada Câmara.

Recebo-a tranqüilo, e confiante no apoio dos que em mim também confiaram, e na colaboração que, para maior grandeza e prosperidade de Santos, não me negarão todas as claras inteligências que compõem esta Câmara, porque à sua cultura e educação políticas estão entregues os destinos do município e do seu povo.

No exercício desse cargo, o povo santista terá em mim, sobretudo, o homem que procurará administrar com serenidade, operosidade e justiça, para servir a Santos, a São Paulo e ao Brasil.

Vozes - Muito bem! Muito bem! (Palmas).

A primeira sessão ordinária da Câmara - O sr. Presidente - Antes de encerrar a sessão, cumpre-me agradecer a presença das autoridades e demais pessoas que acorreram a esta solenidade, imprimindo-lhe maior realce.

Dispondo a Lei Orgânica, no parágrafo único do art. 2º, das Disposições Transitórias, que, antes de votar a Câmara o seu Regimento, será observado o Regimento que vigorava até 24 de outubro de 1930, comunico aos srs. vereadores que a primeira sessão ordinária desta Câmara, de acordo com o art. 52, do Regimento que vigorava até aquela data (lei n. 434), será realizada na próxima segunda-feira, dia 17, às 10 horas.

Está encerrada a sessão.

[...]

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