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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
População incendiou A Tribuna, em 1930

Esta rara imagem registra um período de grande agitação que tomou conta do estado de São Paulo no início do século XX, quando a população agiu violentamente contra os jornais santistas, como A Tribuna, cuja sede (na Rua General Câmara, 90) foi queimada pelos revoltosos. A imagem foi fornecida pela família santista La Scala, ao jornal Cidade de Santos, que a publicou na edição de 29 de agosto de 1977.


Combate às chamas, momentos após o empastelamento da sede do jornal A Tribuna

Embora não tenha sido citada a data, foi possível apurar que a foto foi feita quando da revolução da Aliança Liberal, na tarde de 24 de outubro de 1930, quando a população, em ruidosa passeata, atacou também os jornais Gazeta do Povo e Folha de Santos, só não empastelando também as instalações do jornal Commercio de Santos devido a um patético discurso de Antônio Feliciano.

O vespertino Gazeta do Povo, criado em 12/12/1917 e que nada tinha a ver com o movimento político verificado em 1930, foi extinto com esse empastelamento, quando os manifestantes rolaram pelas ruas centrais as caríssimas bobinas de papel estrangeiro, "atapetando-as com ouro branco da imprensa, como se fosse troféu de vitória pela impensada e covarde arremetida contra uma trincheira que só fazia o bem, por defender o Povo, e da qual muitas famílias hauriam o pão da subsistência", como descrito na época.

O jornal Folha de Santos - que começou a circular em 24/10/1927, em formato tablóide e com redação na Rua Senador Feijó, 91 -, também teve a sua publicação suspensa então, voltando a ser publicado em 17/10/1933, embora por pouco tempo mais: sua última edição foi datada de 2/2/1935.

Em sua História da Imprensa de Santos (edição do autor, 1979, Santos/SP), o jornalista Olao Rodrigues contou, entre outros detalhes, o que aconteceu com o jornal A Tribuna:

Às últimas horas da tarde de 24 de outubro de 1930, vitoriosa a revolução da Aliança Liberal, massa popular saiu às ruas para comemorar o acontecimento. Muitos manifestantes cometeram abusos, invadindo bares e restaurantes. Também foram a jornais, famintos de desordens e depredações, investindo contra os vespertinos Gazeta do Povo e Folha de Santos, causando-lhes graves danos. Pior fizeram em A Tribuna. Tomaram-na de assalto, saquearam-na e incendiaram-na.

Não havia razão para o atentado contra o elevado patrimônio cultural da Cidade. Apenas obra vandálica. O jornal de Nascimento Júnior (N.E.: A Tribuna) jamais publicara quaisquer comentários contrários ou favoráveis ao movimento revolucionário, a não ser o noticiário telegráfico comedido e imparcial.

Ressurgiu das cinzas - Trinta e cinco dias depois, ou a 29 de novembro de 1930, operando em prédio provisório, na Rua Martim Afonso, A Tribuna voltava a circular em meio a manifestações de simpatia e regozijo de seus leitores e amigos. Publicava artigo-de-fundo, em que se destacava este trecho:

"Qualquer seja o credo político professado pelos seus elementos, seria injustiça atribuir ao legítimo e culto Povo de Santos a causa determinante do colapso que A Tribuna vem de sofrer na sua publicação. Descaso imperdoável e paradoxal absurdo seria, pois, realmente supor que esta obra, que é a própria obra do culto Povo santista, que é um pedaço considerável de sua própria vida e da sua tradição, fosse precisamente por ele votada ao extermínio."

Reconquistando de imediato a confiança do público, A Tribuna voltou a predominar na Imprensa santense.

Além do seu Comandante (N.E.: o diretor Nascimento Júnior), a aspiração de quantos trabalhavam na folha, jornalistas, administrativos e gráficos, nada mais era que uma casa nova, que já se construía tão logo o tradicional órgão voltou a circular.

Aquela "fornalha gigantesca não sepultava definitivamente nos escombros incandescentes que se amontoavam" - como parecia o incêndio de 24 de outubro de 1930 - o patrimônio da Inteligência e das conquistas civilizadoras de Santos. Não. Não sepultava. Porque também era ideal. E o ideal nunca morre.

Muito mais amplo, substituindo o velho prédio incendiado por mãos vandálicas, surgiu o palacete da Rua General Câmara nºs. 90-94, inaugurado festivamente na tarde de 24 de dezembro de 1932 em meio às manifestações de aplauso de autoridades, figuras de representação social, homens de imprensa, senhoras e senhorinhas, saudadas por aquele que foi exemplo de riqueza moral, nobreza d'alma e marcado pela corpulência cultural - Otávio Veiga.

Estava de novo em casa própria A Tribuna. (...)

Já no princípio daquele mês, era decidida a censura à imprensa. A Tribuna noticiou, na primeira página de sua edição de segunda-feira, 6 de outubro de 1930, que "É ESTABELECIDA A CENSURA NO SERVIÇO DA IMPRENSA - S. Paulo, 5 - O sr. dr. Laudelino de Abreu, delegado da Ordem Política e Social, convidou os diretores de todos os jornais desta capital para comparecerem ao seu gabinete, hoje, às 21 horas, fazendo sentir-lhes que, por orem do sr. chefe de polícia, o noticiário da imprensa, de todos os jornais do Estado, está sujeito à censura policial.":


Imagens: reproduções da primeira página de A Tribuna de 6 de outubro de 1930

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