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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MUSEUS - 5-A
Museu do Porto de Santos

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Na edição comemorativa do 40º aniversário do caderno Porto & Mar, em 17 de agosto de 1985, o jornal santista A Tribuna publicou:
 


Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, no início do século XX
Foto publicada com a matéria

Museu vai contar a história do Porto

Mil e uma histórias para contar sobre o maior porto da América Latina. Recordações dos trabalhos pioneiros do início do século, lembranças dos tempos áureos do café e imagens recentes do período negro da recessão econômica. A realidade e a fantasia unidas em torno de um fantástico empreendimento que transformou a Cidade. Os valores simbólicos revelando o que de mais importante aconteceu desde 1892, quando foi construído o primeiro trecho de cais, de 260 metros. Um arsenal de informações, finalmente à disposição do público. É com esse objetivo que a Codesp está criando o Museu do Porto de Santos, iniciativa que vem sendo desenvolvida a nível nacional, como parte do Programa de Preservação do Patrimônio Histórico do Ministério dos Transportes (Preserve), instituído pela portaria MT nº 126, de 1º de fevereiro de 1983.


Encomendas de material (em alemão) a fornecedores internacionais
Foto publicada com a matéria

A idéia central é reunir o maior número possível de documentos e objetos históricos, relativos ao porto, formando um acervo de valor inestimável para toda a comunidade. Esse trabalho já começou e está a cargo de uma comissão especialmente designada pela diretoria da Codesp, que vem fazendo levantamento dos prédios, materiais, fotografias, móveis, plantas e mapas.

Evidentemente, muita coisa foi perdida com o passar dos anos ou então está irrecuperável, mostrando que o brasileiro ainda não aprendeu a preservar sua cultura. Porém, ainda assim, o museu não deixará nada a dever a outras instituições semelhantes, graças à colaboração espontânea de antigos funcionários da empresa que vêm doando objetos e documentos de grande valor histórico.

Nesse contexto, é importante destacar a conscientização que surge revigorada a partir do momento em que a semente foi lançada. Isso prova que nem tudo está perdido e que, dentro de alguns anos, as novas gerações vão poder estar em contato direto com a história do porto, que é a própria história da Cidade.

O museu, há muito reivindicado, começa a ganhar forma com grande número de materiais já em poder da comissão. A própria dimensão do porto não permite que se estabeleça um prazo para que o acervo seja colocado à disposição do público. Mas ninguém pode exigir que isso aconteça da noite para o dia, pois o mais importante, no caso, é o empenho que vem sendo dedicado pelos homens escolhidos dentro da própria Codesp.


Antigo guindaste flutuante Sansão, carregando bloco para a construção do porto (foto de 1901)
Foto publicada com a matéria

Peças raras - Ainda em fase de catalogação, o Museu do Porto de Santos já conta com uma infinidade de documentos e peças que surpreende até a própria comissão. uma das principais atrações é a Lavoura, uma velha locomotiva que foi a primeira a operar na construção do porto. Ela está atualmente em Itatinga e deverá ser trazida para o cais nos próximos dias, para ser encaminhada ao Armazém 7-A, onde, a princípio, funcionará o museu.

Outra preciosidade é o badalo do sino que existiu no século passado para chamar o pessoal para trabalhar e para anunciar a hora do descanso e o fim da jornada. Tem também o tetraciclo, construído em 1902, para andar sobre trilhos. Com três marchas, o veículo era utilizado por Ulrico Mursa, engenheiro responsável pelas obras do porto, para fiscalizar os trabalhos.

Na mesma ordem de importância está a bitácula, do ano de 1898, retirada do batelão Guaiuba, pioneiro na construção do porto. Trata-se de uma espécie de proteção à bússola, de 200 quilos, e com vários instrumentos utilizados na navegação. Irá para o museu, também, o primeiro bloco de granito, datado de 1901 e usado na construção do porto.


Transatlântico Prinz, de bandeira alemã, no porto em 1930
Foto publicada com a matéria

E tem mais: o acervo vai contar com o carro elétrico, de fabricação inglesa, que levava mercadoria dos navios para os armazéns. Esse tipo de veículo, que funciona a bateria, só existe em Santos. Outra peça importante é o bebedouro de granito, um dos vários que foram instalados nas subestações elétricas da antiga Companhia Docas.

Na frente do museu, e em pleno funcionamento, ficará um dos primeiros guindastes do porto, construído em 1911. Lá também será colocado um grabe de ferro (peça usada para descarga e embarque de granéis), datado de 1892.

O acervo do museu será completado por diversas outras relíquias, entre as quais se destacam a balança fabricada em 1908; telefones do início do século fabricados em Chicago, Estados Unidos; prensas hidráulicas de 1889, de pressão horizontal, utilizadas para reparos em embarcações; sinalizador de via férrea que funcionava com querosene; caixa de descarga decorada com azulejos, datada de 1906; prensas usadas na fabricação dos primeiros crachás para funcionários da companhia; a primeira máquina fotográfica (Finger Print Camera), da Kodak, trazida de Nova Iorque para identificação dos trabalhadores; e lampiões de cobre, fabricados em 1900, que serão utilizados na iluminação do museu.


O primeiro livro de ponto geral, mês de julho de 1895
Foto publicada com a matéria

Documentos históricos - Se o museu vai ficar bem servido em termos de peças e equipamentos raros, melhor se pode esperar da parte de documentação. Esse otimismo foi revelado por Júlio Marcus Villela Blanco e Eduardo Mateus Machado, respectivamente assistente social nível 2 e chefe de seção ajudante da Codesp, integrantes da comissão que organiza o acervo do museu. Dizendo estar de posse de coisas do arco da velha, Júlio afirma que o documento mais antigo recolhido até agora é uma análise manuscrita do Decreto 9.979, de 12 de junho de 1888, que concedeu uma área da Cidade para a construção do porto.

O documento, datado de 12 de julho de 1888 (16 dias antes da fundação da Companhia Docas de Santos), diz respeito às cláusulas do contrato para a exploração do porto e é assinado por Antônio da Silva Prado, representante da concessionária. O valor da obra, conforme o manuscrito, gira em torno de 3.851 contos e 505 mil réis.

Outro documento raro é a primeira procuração dada pela Companhia Docas, por intermédio de seus diretores Cândido Gaffrée e Eduardo Pallassin Guinle, para o engenheiro-em-chefe de obras, Guilherme Weinschenk, que foi incumbido de dirigir o empreendimento. A procuração foi passada no cartório do tabelião Pedro Evangelista de Castro, que ficava na Rua do Rosário, 57. Data de 19 de novembro de 1892.


Primeiro prédio da administração da Companhia Docas de Santos 
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Júlio informa que o museu vai contar com biblioteca, mapoteca, pinacoteca e maquinários e explica que parte desse material já está recolhido no Armazém 28 externo. Ainda na parte de documentação, ele destaca as várias plantas referentes às obras de ampliação do cais que retratam fielmente o arrojo da engenharia da época. Estão em seu poder uma grande variedade de papéis como, por exemplo, a resposta da Associação Comercial de Santos ao convite para a inauguração do primeiro trecho do cais.

A parte de fotografias vem recebendo especial atenção por parte da comissão, já que é grande o número de doações. Nas fotos, aparecem presidentes da República, governadores de Estado e outras personalidades que participaram do desenvolvimento do porto. Mostram, também, o início das lutas sindicais, como, por exemplo, a solenidade de inauguração do Sindicato dos Operários Portuários, a primeira entidade a receber a carta de reconhecimento do extinto Ministério da Viação e Obras Públicas, em 14 de março de 1931. Pelas fotografias, o público vai conhecer detalhes do transatlântico alemão Prinz, que esteve aqui em 1930; e do antigo guindaste flutuante Sansão, que, em 1901, carregava blocos para a construção do porto.


Apresentação (exclusiva) do anteprojeto do Museu do Porto
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A burocracia da época não será esquecida. O museu vai revelar ao público como funcionava a administração da companhia no início do século, expondo uma infinidade de documentos onde se incluem encomendas de materiais (escritas em alemão), datadas de 1903; e o primeiro livro-ponto geral utilizado na empresa, com data de julho de 1895.

A comissão vem cuidando, também, da parte referente aos prédios e monumentos considerados de valor histórico para o Porto de Santos. Uma vez concluídos os levantamentos, inicia-se o serviço de catalogação, para que se conheçam os detalhes técnicos, tais como: ano de construção, grau de importância, localização e possibilidade de restauração. Porém, embora com um acervo dos mais valiosos, o Museu do Porto de Santos vai ressentir-se dos quadros de Benedito Calixto, que hoje emolduram outras repartições pelo Brasil, já que as administrações anteriores do complexo portuário não se preocuparam em preservá-los.


O primeiro bloco de granito (vendo-se o engenheiro Weinschenk e a data, 5/10/1901)
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Para que o museu possa ser encarado hoje como uma quase realidade, é importante destacar o interesse despertado entre os funcionários da Codesp, refletido no grande número de objetos já encaminhados aos responsáveis pela organização do acervo. O mesmo, no caso, pode-se dizer da comissão designada pela presidência da empresa, constituída pelos funcionários Sílvio Taboada Ramos, Álvaro Patrício Jr., Júlio Marcus Villela Blanco, Eduardo Mateus Machado e Pedro Pinto.


Bitácula, do ano de 1898
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