Sede do Clube de Regatas Vasco da Gama, na Ponta da Praia
Foto publicada com a matéria
Primórdios do futebol em Santos
A fundação do C. A. Internacional, em 1903, e os principais acontecimentos que
se sucederam - O popular esporte financiado, em suas primeiras manifestações, pela colônia inglesa - Olympio Lima, o depositário da primeira taça de
futebol que se disputou na cidade
Ainda se não tirou até hoje uma ilação de como, em
Santos, se iniciou o futebol. Os que pretenderam alguns anos depois restaurar a história desse esporte depararam logo de início com grandes
tropeços. As informações que apareciam eram vagas e, em geral, divergentes.
Qualquer trabalho a realizar nesse sentido não seria uma obra perfeita e escorreita
que pudesse rorejar uma a outra as fases iniciais do futebol na cidade.
Ainda assim, houve quem, com certo "ardimento", se
propusesse a derribar todos os obstáculos, todos os óbices, todo o desencontro de informações, para apresentar uma obra mais ou menos fiel aos
primórdios do popular esporte. Se a intenção do autor era de fato tornar esclarecida, passados 14 ou 15 anos da implantação do futebol, uma situação
até então indefinida, procurando, por outro lado, tornar límpido o estado puverulento em que já se encontrava a gênese da história, com dados os
mais positivos e reais, nada afinal conseguiu de prático e, assim, antes mesmo de alicerçar qualquer opinião, abandonou ao trabalho, legando seus
propósitos a outro mais corajoso...
***
Para fazer um juízo de como difícil se torna
restaurar fatos primordiais do futebol santista, basta atentar para o que surgiu há anos atrás, no seio do Santos F. C., quando nem a poder de
várias e meticulosas indagações e penosas buscas em arquivos pôde-se identificar a qualidade de um sócio fundador. O clube chegou à conclusão que
lhe pareceu mais correta, ouvindo diversos esportistas veteranos; contudo, o sócio em causa interpôs, por outro lado, fortes razões, diametralmente
opostas às daquele, e baseado em fatos verídicos da época com a invocação até de testemunhas.
A pendência trouxe, assim, agitado o clube, e provocou sérios descontentamentos no corpo
associativo, cujas opiniões, no caso, também divergiam.
Em outros fatos registrados em diversos grêmios
pode-se concluir que a restauração de certos acontecimentos em outra época chega bastante desvirtuada, não se podendo fazer uma idéia segura da
realidade.
***
Mas ainda se conhece algo a respeito. Sabe-se que o
primeiro clube a ser fundado em Santos foi o C. A. Internacional e, entre os seus fundadores, estão André Peixoto Müller, Dick Martins,
capitão-tenente Theoduretto Souto, Quintino Ratto, Edmundo Wuckerer e outros. Isto, em 1903.
O seu campo foi instalado onde hoje está situado o do Brasil F.C., à Avenida Conselheiro
Nébias.
Contando dirigentes de representação, sobretudo muito esforçados, o clube progrediu,
tornando-se dentro em pouco a great attraction da juventude daquele tempo, que, além do futebol jogado com chuteiras de cano alto, também
passou a cultivar o cricket e o tênis.
O Internacional conservou-se nessa invejável situação de grande e único durante pouco
tempo. Um ano, se tanto, pois logo em seguida se verificava uma dissidência (naquele tempo já havia dessas coisas...) em suas hostes e aparecia
então revestido de igual pompa e fadado também a altos destinos, o E. C. Americano.
Da rivalidade entre os dois clubes, a qual logo cresceu, estendendo-se aos sócios de
ambos, surgiu a idéia de fundação de uma liga, de cujo campeonato participavam diversos times formados pelos dois clubes.
Instituiu-se a esse tempo uma custosa traça de prata, como troféu ao vencedor do
certame. Conquistou-a dois anos seguidos, em porfiadas e emocionantes lutas com seu rival, o E. C. Americano; mais tarde, porém, entre esse clube e
o Internacional surgiu um desacordo quanto ao local em que deveriam disputar uma partida. Opinavam uns que o jogo fosse efetuado no campo do
Internacional, e outros no Guarujá. Não chegando a um acordo, a taça que ainda não tinha possuidor definido, talvez devido à sua regulamentação
especial, foi entregue por decisão da assembléia da Liga a A Tribuna, então sob a direção do saudoso e hoje lembrado Olympio Lima.
Onde se vê, pois, que já a esse tempo, há mais de 30
anos, esta folha, que viu nascer o esporte em Santos, se tornava credora da confiança geral.
***
Mais tarde, Americano e Internacional disputaram
jogos de seleção para entrada na Liga Paulista de Futebol, vencendo o Internacional, que não teve acesso, contudo, devido às derrotas que sofreu do
Germânia e do Palmeiras, então com fortíssimas equipes.
Passados dois anos, registrando-se duas vagas no seio da Liga, foram aceitos afinal os dois
grêmios santistas, os pioneiros do futebol na cidade.
O Americano fez brilhante figura, alcançando o segundo lugar, e o Internacional o
quarto.
Terminado esse campeonato, o Internacional desligou-se. Os jogadores davam-lhe
prejuízos pecuniários, naturalmente devido às constantes viagens à capital, e o Americano transferiu sua sede para a capital, onde passaram a
residir vários dos seus dirigentes e jogadores, ficando portanto considerado clube paulistano.
Com esses acontecimentos verificou-se um colapso em nosso futebol, cuja difusão vinha
sendo auxiliada poderosamente por elementos da laboriosa colônia inglesa.
Esse colapso foi interrompido tempos depois, com a fundação do Santos F. Clube, a 14
de abril de 1912. Seguiram-se-lhe o C. A. Santista e o Brasil F. Clube, em 1913, Chantecler, de S. Vicente (já extinto) e Americana, em 1914 e,
depois, o S. P. R. (hoje Bandeirantes), Alliança, São Christovão, América (já extintos), Espanha e Portuguesa, além de muitos outros, como E. C.
Americano, Edu Chaves e União Fluminense.
O Espanha nasceu da idéia de um grupo de vendedores de A Tribuna, entre os
quais Odilo Prieto Garcia, o primeiro presidente do clube.
Diante do desenvolvimento progressivo do futebol na
cidade, os clubes existentes até dezembro de 1914 resolveram fundar a Liga Santista de Esportes Atléticos, sendo eleito para presidente o sr. Simão
Fava, do Brasil F. Clube.
***
Em 1923, houve uma cisão no futebol citadino,
deixando a Liga Santista os clubes Atlético, S. P. R, Brasil, América e Palestra Italia (já extinto), que fundaram a Liga Santista de Amadores, da
qual foi vencedor, no único ano de existência, o S. P. R.
Voltaram depois todos os dissidentes à Associação Santista de Exportes Atléticos, fundada em
1917.
Outro episódio importante do nosso futebol verificou-se em 1927, quando do
aparecimento da Liga de Amadores de Futebol (LAF), que teve em Santos uma forte divisão composta do Atlético, Espanha, Brasil e Atlas Flamengo, que
se filiara posteriormente, depois de levantar o campeonato na ASEA, em 1929.
Eis, pois, alguns dos fatos mais importantes sobre os primórdios e dias subseqüentes
do popular esporte em Santos.
Sede do Clube de Regatas Saldanha da Gama, na Ponta da Praia
Foto publicada com a matéria
Em Santos fundou-se o primeiro clube de nosso estado
Com orgulho de santistas ostentam vários campeonatos estaduais, nacionais e
continentais! - A parte mais vultosa do patrimônio esportivo da cidade encontra-se nos clubes de regatas
O esporte em Santos nasceu, pode dizer-se, com os clubes
de remo. O futebol veio à superfície amparado pela colônia inglesa. O remo surgiu aureolado pelo trabalho e pelo dinamismo dos portugueses aqui
residentes.
Santos possui o clube mais antigo do Estado, o Clube de Regatas Santista, fundado em
29 de abril de 1893, portanto, com perto de 46 anos, na época em que ainda não se conhecia o futebol senão através de uma ou outra notícia vinda da
Inglaterra ou da França. Um mês depois de fundado este jornal, veio a conhecer-se o veterano grêmio da Bocaina, de onde saíram pela primeira vez
para o estuário barcos a remo, as canoas e os escaleres.
E se a nossa cidade tem a honra de ter visto nascer o primeiro clube de remo do Estado
de S. Paulo, orgulho também deve manifestar certamente em ter sido a primeira a vitoriar-se nos campeonatos paulistas.
Do Clube de Regatas Santista partiram, pois, o primeiros arroubos de entusiasmo pelo
salutar esporte, cuja disseminação se propagou depois à capital.
Depois do grêmio azul e branco apareceram o Vasco, o Internacional e o Saldanha, cujos
feitos através de muitos anos estão intimamente ligados à história do remo nacional.
As iniciativas ao se fundarem esses clubes ainda hoje podem ser consideradas felizes,
pois Santos já forneceu a S. Paulo numerosas e brilhantes vitórias nos campeonatos brasileiros com guarnições de diversos grêmios, não devendo
esquecer-se ter sido José Ferreira, do Vasco da Gama, considerado o maior sculler nacional em três anos seguidos.
Possuímos, ainda, três campeões sul-americanos,
associados do Clube de Regatas Saldanha da Gama, Carlos Peri Júnior, James Harding e Curt Haberland.
***
O patrimônio esportivo da cidade não fica
restringido apenas aos clubes de futebol, estando nos clubes de regatas a parte mais vultosa. Todos os grêmios, à exceção do Internacional, que se
encontra à margem da atividade depois de ter vendido suas propriedades, possuem imóveis de alto valor, aos quais se pode juntar fabuloso capital
empregado na construção das flotilhas.
Os barcos, a maioria dos quais novos, recentemente construídos, custam sacrifícios sem
conta, tanto mais se considerarmos que os clubes de regatas não possuem rendas do esporte que praticam, vivendo apenas das suas mensalidades.
Adotando os esportes chamados pobres, sem quaisquer receitas, é com verdadeiro estoicismo, com grande perseverança e trabalho que os dirigentes dos
clubes de regatas conseguem levar por diante, de ano para ano, os seus clubes, dando-lhes vida nova, pagando suas obrigações, adotando
melhoramentos, construindo barcos.
Diz-se que fundar um clube de remo é fundar uma escola. A significação, de fato, é
real. O clube de remo é uma verdadeira escola de disciplina e de amor ao esporte, ao desenvolvimento físico. Mas como levar por diante, de que
maneira poder-se-á cumprir a finalidade dessa escola se não há auxílio, se não há amparo, e se os obstáculos a vencer são inúmeros.
Só quem conhece internamente a vida dos clubes de
regatas, verdadeiros prodígios dentro do nosso esporte, é que pode aquilatar do esforço dos seus dirigentes e dos seus abnegados associados.
***
O Clube de Regatas Saldanha da Gama, entre todos, é
o que dispõe de maiores recursos, praticando várias modalidades esportivas, e possuindo, portanto, vários campeões: do Estado, do Brasil e do
continente.
É o clube eclético da cidade. Na presidência vamos encontrar, atualmente, o sr. Adelson
Barreto, rodeado de vários e capacitados companheiros.
O Clube de Regatas Vasco da Gama pratica também, além do remo, a bola ao cesto, sendo
o clube que mais torneios tem vencido na cidade. Dispõe de recursos e à frente de sua diretoria está o sr. Antonio Novo Sobrinho, esportista com
larga experiência nas coisas e necessidades do esporte.
Quanto ao Santista, está para vender ao governo os seus imóveis na Bocaina, local de
difícil acesso e o que tem entravado algo o seu desenvolvimento. É pensamento dos dirigentes do clube instalar a sede em lugar até onde os
associados possam se locomover rapidamente. Ocupa a presidência do Santista o sr. Octávio Corrêa, um veterano afeiçoado do clube.
À frente dos destinos do Internacional, grêmio de gloriosas tradições em nosso remo,
ora em atividade, encontra-se o sr. Arnaldo de Barros Pires, a que se confiou a guarda do patrimônio do clube.
Sede do C. R. Santista, do outro lado do Estuário
Foto publicada com a matéria
|