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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - A MAIS ESPORTIVA
Façanhas esportivas santistas

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Tendências as mais variadas, procedentes dos mais distantes pontos da Terra, convergem para Santos e principalmente para as suas praias, quando o assunto é exercício corporal ou esporte. Daí o registro de resultados excepcionais em diversas áreas, como nesta matéria do jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva - o De Vaney -, publicada no Almanaque da Baixada Santista - 1973 (publicação da qual ele era o secretário e Olao Rodrigues o editor, tendo Bandeira Júnior como produtor, na editora Indicador Turístico de Santos):
 


O bote de número 967 do Clube Internacional de Regatas com remadores, no Porto dos Reis,
em raro cartão-postal postado em Santos no dia 5 de julho de 1904, 
com carimbo dos Correios e selo de 20 réis. No cartão há um carimbo com os dizeres 
"Dr. C. Klingelhoffer, Fazenda Carlota, Jahú, E. de São Paulo - Brasil". (foto M. Pontes)
Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem

Dez façanhas santistas que abalaram o Brasil

De Vaney

Considerando a aviação um esporte - e ela sempre o foi, mesmo depois que a levaram para o comercialismo e para as guerras - Bartolomeu de Gusmão é o primeiro esportista latino-americano de repercussão mundial. Nascido em Santos, a 3 de março de 1685, ei-lo, a 5 de agosto de 1709, com 24 anos, a inventar a Passarola, a máquina de voar. E, por have-lo feito, chamaram-no de Padre Voador. Portanto, há 263 anos (N.E.: até a publicação deste artigo, em 1973), Santos, por um de seus filhos, já assombrava o mundo, abalando o Brasil com a sua façanha.

Mas foram bem além os feitos santistas que estremeceram o Brasil. E, aqui, se recapitula dez deles, isso por não haver espaço para se assinalar muito mais.


O remo era o esporte das multidões, em todo o território nacional. Para prová-lo, basta este exemplo: os campos de futebol ficavam vazios, fosse lá que jogo fosse, quando se efetuavam regatas. E os donos do remo, no Brasil, eram os cariocas. Bem que os gaúchos, os paulistas, os catarinenses iam ao Rio, todos os anos, a partir de 1902, competir no Campeonato Brasileiro. Mas, nada. Só figuravam os cariocas em 1º, 2º, 3º, 4º e 5º lugares. E a imprensa do Rio se punha, então, a fazer troça: "Alguém saberá dizer se os paulistas estiveram, ontem, na raia do brasileiro?..."

Em 1921 seria um novo "pega" íntimo, em família, entre os guanabarinos Carlito Rocha, Abrão Saliture, Arnaldo Voight, Claudionor Provenzano, a ver qual deles seria o campeão do Brasil. E foi dada a saída para o brasileiro de 1921. Os cariocas, lutando entre si, não se aperceberam de que um barco a eles se igualara, à altura dos 1.700 metros, e que os deixava ficar para trás nos dez metros restantes, ganhando por bico de proa.

A multidão, atônita, a indagar se o Voight, o Saliture ou Provenzano haviam corrido em outra embarcação que não a deles. Não, não haviam, tanto que no pavilhão dos juízes estava sendo içada - pela 1ª vez em 19 anos - a flâmula de S. Paulo. Só então é que foram ver no programa o nome do barco: Canaanor.

E quando a Canaanor rumou para o varandim, a receber das mãos do presidente da República, Epitácio Pessoa, a coroa de louros, só aí foi que as sirenas das lanchas, das enormes barcas de Niterói, fundeadas no local, misturaram-se aos aplausos e aos gritos traduzentes do entusiasmo que aquele inesperado triunfo provocara. E o vencedor era José Ferreira, do C.R. Vasco da Gama, de Santos, o mesmo José Ferreira que no ano seguinte - para arrasar os argumentos surgidos: "Foi sorte..." - voltava a vencer, obtendo o bicampeonato brasileiro de remo, superando, outra vez, aos cariocas, mais treinados do que nunca.


Disputava-se o campeonato brasileiro, individual, de tênis, desde 1923. E começou, então, a ladainha dos vencedores em cada ano: Rio, S. Paulo, S. Paulo, Rio, S. Paulo. Um dia sucedeu um desafino,um estranho dó de peito, no cantochão da ladainha: "Santos!". Pura verdade: Santos era o outro campeão brasileiro de tênis, individual. E quem trouxera o título, aqui, para beira do mar, fora Manoel Fernandes, o admirável Maneco, que passou à história do tênis sul-americano como o mais versátil e flamejante de todos os seus campeões.


O ano? 1949 - Também no atletismo a ladainha, em todas as provas, não mudava a letra nem o ritmo: S. Paulo, Rio, Rio, S. Paulo. Mas, uma tarde, na Paulicéia, quando chegou a vez do salto com vara, o santista, nascido em Lavras, Fausto de Souza, do C.R. Saldanha da Gama, bateu o recorde brasileiro e, logo depois, o da América do Sul. E ocorreu, ainda, um outro detalhe, de amplo significado: Fausto de Souza foi escolhido, por unanimidade, em 1955, O maior esportista do Estado de São Paulo.


Não se fazia conta de Santos quando o assunto era motociclismo. Podia-se citar até a cidade de Xambregas d'Oeste, afundada em qualquer charneca do Brasil, mas Santos, não. Vai daí, era 1947, em S. Paulo, um relâmpago passou pela pista. E quando o relâmpago, já vitorioso, parou, foram perguntar seu nome. Chamava-se Luiz Bezzi, era de Santos, do Santos Moto Clube, para onde iria levar o título de 1º campeão brasileiro.

Depois disso, quando se falava em Santos, os olhos se arregalavam, as vozes baixavam ao sussurro, em sinal de respeito. E durante muitos anos - com seu filho Franco Bezzi, a ajudá-lo, admiravelmente, na colheita - Luiz Bezzi foi trazendo punhados de títulos para esta terra, que ficou sendo - entra ano, sai ano - a capital sul-americana do motociclismo.

E no esporte-tio do motociclismo, o automobilismo, dois nomes santistas também se impuseram no cenário nacional: um, autêntico herói - competindo com carro adaptado - Ângelo Gonçalves, a sagrar-se vice-campeão (1940) do Trampolim do Diabo, o mundialmente conhecido Circuito da Gávea; outro, de expressão popular, o Soeiro, cujo apelido, Arranca Poste, percorreu o Brasil, levado pela fama de suas corajosas tropelias ao volante.


Aconteceu às 8 da noite de 21 de agosto de 1934, no cais-Sul, de B. Aires. O vigia estranhou um barco de regatas chegando ali àquela hora: "O que querem vocês aqui?" - "Amarrar o barco". - "Para quê?" - "Para concluir o raide Santos-Buenos Aires".

O vigia enfezou: - "Pois vão amarrar...". E soltou o palavrão.

Mas os remadores insistiram, identificaram-se. Aí, o vigia explodiu em novo palavraço: "Caramba! Nunca pensei que pudesse acontecer uma coisa dessas!..." E telefonou para o local onde o Bandeirantes estava sendo esperado, o ancoradouro do Yacht Club Argentino, de onde o barco se desviara, por desgarre de uma bóia luminosa.

E de lá vieram todos para o cais-Sul, compondo uma das mais festivas e emocionantes recepções que B. Aires já presenciara.

No dia seguinte os jornais mancheteavam: "Chegaram os incríveis heróis da Santos-Buenos Aires em barco de regatas". E, na notícia, os nomes deles, nomes que o Brasil - para orgulho de Santos - passou a pronunciar como em reza de veneração: - Antônio Rocha e José Ferreira Andrade.


Toda a gente zombou, toda a gente achou graça. Lá pela "Fina" (Federation International de Natation Amateur), quando o Brasil solicitou a assistência técnica para a tentativa de quebra do recorde mundial dos 100 metros, livres.

O secretário da "Fina" foi ver a ficha do Brasil e o mapa da América do Sul, não encontrou nem uma nem outro, e achou melhor concluir que se tratava de um país subnutrido, querendo - e isso era uma piada - bater o recorde em poder de Steve Clark, dos E. Unidos. Mas o presidente, Mr. Johnson Blanth, baixou a ordem: "Piada ou não piada, desse cobertura técnica à tentativa".

E na tarde de 20 de setembro de 1961, na piscina do C.R. Guanabara, Rio, um grito de assombro retiniu nos alto-falantes: "Manoel dos Santos acaba de superar o recorde mundial dos 100 metros livres, com o tempo de 53 segundos e 6/10".

Aquela conquista, que deixou o mundo boquiaberto, era uma vitória santista, porque Manuel dos Santos, quando veio do Kelly, Rio Claro, trazia a marca de 59 segundos e 2/10. E depois de alguns anos de luta, sob a orientação do santista Adalberto Mariani, e na piscina, santista, do Internacional, ele conseguira a formidável baixa de 4 segundos - o que, em natação, é autêntico milagre -, indo para o Pinheiros com 55 e 2/10, e, dali, para a piscina do Guanabara, dirigido por Hirano, com quem baixou 2 segundos, conseguindo o recorde.


No princípio, quando as delegações de Santos - a partir de 1941 - regressavam vitoriosas, dos Jogos Abertos do Interior, só faltava decretar feriado, porque o resto havia: Povo e banda de música indo à estação da Santos-Jundiaí, e de lá vindo, Povo a carregar os vencedores em triunfo, banda de música a rebentar marchas guerreiras, dessas que fazem a gente ter vontade de ir sentar praça em qualquer guerra mais próxima.

E havia a solenidade da entrega dos prêmios ao prefeito da cidade, e tome discurseira - que brasileiro não entende solenidade supimpa sem falação bonita, recheada de imagens coloridas.

Depois, lá pela 8ª ou 9ª conquista, a coisa foi-se tornando comum, banal, Santos já ia para os Jogos Abertos com a faixa de campeão debaixo da camisa, não houve mais a descida sonora e entusiástica pela Rua do Comércio, nem se ouviram mais discursos. E quando, no Brasil, não há mais discursos, é o fim. As vitórias continuaram sucedendo. E seu acúmulo deu a Santos o emblema que impressionou o Brasil: Santos, a eterna campeã.


Não saía disso: Paulistano, Pinheiros, Fluminense, Vasco, um em cada temporada, a levantar o título de campeão brasileiro de natação. Os jornais, se quisessem, poderiam bolar dois títulos: "A taça ficou no Rio" ou "A taça foi para S. Paulo". Mas um dia o cabeçalho saiu diferente, abalando o Brasil pela surpresa: "O título de campeão brasileiro de natação foi para Santos".

Isso ocorreu, pela 1ª vez, na piscina do Pacaembu, em 1958, quando o Internacional ganhou o título máximo, deixando, longe, o Fluminense, e, mais longe ainda, o Pinheiros.

Na verdade, ninguém, no eixo Rio-S. Paulo, levou a sério o triunfo que o vermelhinho conquistara. E no ano seguinte, com os clubes no auge do preparo, eis o Internacional novamente campeão do Brasil, deixando lá embaixo, só enxergável de binóculo, o E.C Pinheiros e outros cobrões da aquática nacional. E tendo como ampla base - e foi isso que ainda mais abalou o Brasil - as equipes do Internacional, a natação brasileira sagrou-se campeã sul-americana, em Montevidéu, nos dois setores: masculino e feminino, por diferenças enormes.


Era uma loucura, misturada com arrogância e pretensão, aquela idéia da Liga Santista de Voleibol de ir à Europa, em 1963. Se a seleção brasileira não se arriscaria a isso, o que dizer da sorte que estava reservada à santista? E o coro foi aumentando: "A LSV está louca ou quer menosprezar o nome do Brasil! A LSV é um caso de polícia!".

Mas, louca ou caso de polícia, lá se foi a LSV rumo ao Velho Mundo, com aquela coragem que Deus lhe dera. Quatro jogos em Portugal: quatro vitórias dos santistas. Dois jogos na Bélgica: duas vitórias dos santistas. E na Checoslováquia, a "Mamãe do voleibol mundial", a LSV perdeu para a seleção checa que, além de jogar em sua casa, era, de fato, a melhor do mundo. O jogo adiante foi contra o Lokomotiv-Liberec, eis a LSV a vencer a base da seleção e, melhor que a seleção, dada a força do conjunto.

Mais 2 dias, e eis a "Louca" ganhando, também da Checoslováquia, do Jablonec. Mais 3 dias e eis o "Caso de polícia" vencendo o campeão da Checoslováquia, o Usti, e partindo pro Brasil que, abalado pela grandiosidade do feito, só não fez recepção puxada a carro de bombeiros, porque a LSV não era do Rio, nem de S. Paulo.


Desde 50 que o Maracanã guardava a mágoa daqueles 1 a 2 que deram a vitória e a "Jules Rimet" aos uruguaios. Muita coisa, muito torneio internacional tinha sido feito, para alegrá-lo um pouco. Mas, nada! O Maracanã sorria, a cada vitória de time brasileiro, mas era sorriso triste, desses que desenham no rosto a véspera da lágrima.

Foi quando, já bicampeão sul-americano, 1962-1963, já campeão do mundo, de 62, o Santos foi disputar no Maracanã (o outro desfecho, o de 62, tinha sido em Lisboa) o final contra o Milan, que o havia vencido, dias antes, em Milão, por 4 a 2. No Rio, bastava apenas o empate aos italianos, para sagrarem-se campeões do mundo.

E o 1º tempo - Maracanã soluçando - terminou: Milan, 2 - Santos, 0. Mas o final - Maracanã rindo, enfim, pela 1ª vez! - Santos, 4 a 2. Nenhum jogo, entre clubes, abalou tanto o Brasil, em todos os tempos, inclusive o atual, como aquele em que um grêmio de Santos, lavando a alma nacional, curando-lhe as chagas abertas pelo impacto de 13 anos atrás, obteve um título, o de bicampeão mundial, que apagava na memória do Maracanã aquela chocante imagem do velório em que ele se transformara, na tarde de 16 de julho de 1950.


Por tudo isso, e por muito mais que não pode ser contido aqui, é que Santos recebeu e mantém a denominação - que lhe veio ter por direito de conquista, entre 2 mil e 300 outros almejantes - de "Município mais Esportivo do Brasil".


A canoa conduzida por quatro pessoas contrasta com os veleiros fundeados ao largo do Porto de Santos, em cartão-postal editado no final do século XIX, provavelmente em 1898.
Veja-se a harmonia da fotografia e o reflexo dos remadores na água do canal do estuário.
Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem

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