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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f37)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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A "REPÚBLICA  ANCHIETA", HOJE

 

O prédio da Casa de Saúde Anchieta tem três andares – ou dois, em parte do prédio -, mais de cinco mil metros quadrados de área, traços modernistas de elementos circulares vazados na sólida porta e na decoração interna da entrada pela Rua São Paulo. São cerca de 80 salas ou quartos e tem jeito de penitenciária – um Carandiru santista, assustador -, construção dos anos 40.

 

As inscrições dos pichadores na entrada, com símbolos do rock, denunciam o abandono; internamente não é diferente, em uma degradação contida e mantida com a disciplina de Dolid. Vejamos: escadas e corredores estreitos e escuros. A antiga sala dos eletrochoques, com uma grande maca de concreto, fica em um lugar aberto, como para ser assistida, anexa a uma área descoberta. Hoje, sua parede é rosa, pintada nos tempos da intervenção.

 

Em frente à sala de eletrochoques, três macas de concreto menores, com marcas de presilhas, provavelmente para amarrar pacientes e aplicar os medicamentos como o sossega-leão. Na parte mais alta do prédio central, o piso de paviflex mostra uma área nobre, um setor especial e reservado; no térreo, as celas fortes 2 x 1 metro, sem banheiros ou janelas, paredes grossas da construção antiga, piso de concreto – um espaço aterrador em que pessoas eram mantidas por meses como animais ferozes. Banheiros com três ou quatro boxes, bebedouros. A água da chuva invade algumas salas, algumas inundadas, apesar das reformas. Como muitos, é um prédio escuro e fechado, poucas janelas, hoje quebradas.

 

O prefeito do Anchieta

 

Desapropriado pela Prefeitura, que o utilizou após a intervenção em programas de assistência às crianças de rua e depois o devolveu aos donos, o prédio é namorado hoje por inúmeras entidades que pretendem adquiri-lo, sonhando em ocupá-lo – entidades universitárias e hospitais, entre outras, que o visitam. Um processo de difícil viabilização, pois está vinculado às inúmeras dívidas trabalhistas da Casa de Saúde.

 

Um tanto destruído pelo tempo e pelas invasões e depredações que sofreu, foi Dolid, um vizinho que, há cerca de 4 anos e meio, alertado para o tumulto que estava causando a invasão de moradores de rua do antigo prédio, colocou rédeas na situação – e hoje administra uma ocupação racional, porém precária, do espaço.

 

São cerca de 40 pessoas que moram lá, 8 ou 9 famílias "de trabalhadores", diz. Na época, ele comprou uma casa ao lado e, impedido de construir na área por normas legais, seu objetivo inicial, mantinha um bar no local - que ficou inviável com o fim da intervenção, quando freqüentavam e trabalhavam no prédio cerca de 150 pessoas.

 

É o prefeito do lugar: fornece luz e água de seu imóvel ao lado e cobra taxas dos moradores pelo uso, tendo feito instalações e consertos – quem preserva o imóvel com ações de manutenção e disciplina. Ele nasceu quando era fundado o Anchieta, em 1951,  hoje, é o prefeito da "República Anchieta" – lembrança trágica de tantos sofrimentos e, ao mesmo tempo, palco de uma transformação revolucionária nas relações humanas.