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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f35)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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POR QUE O ANCHIETA FOI A QUARTA REVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA – COMO DISSE GUATTARI?

 

Foi Felix Guattari, psiquiatra francês e autor da Reforma Psiquiátrica daquele país, quem disse que Santos fazia a "quarta revolução da Psiquiatria" – a Reforma Psiquiátrica pelas mãos dos envolvidos, militantes, usuários, familiares. Era a palavra de um dos maiores filósofos do mundo, que esteve aqui para visitar a obra magistral do Anchieta.

 

"Os loucos farão a revolução", dizia o psicólogo Antonio Lancetti, integrante da equipe que bolou a intervenção (segundo David Capistrano, a decisão final saiu na casa de Lancetti em São Paulo), na atitude que, como disse a psiquiatra Suzana Robortella, reunia várias correntes ideológicas da Psiquiatria e mesmo das mudanças sociais. Iam de cristãos aos adeptos da anti-psiquiatria radicalmente contra os manicômios, passando pelos farmacologistas adeptos de medicações para curar a loucura até os defensores da alegria como método ou, como diria Lancetti, do erotismo a que foram acusados os transformadores pelos setores à direita que admitiram a carnificina do manicômio por quase 50 anos.

 

E por que o Anchieta de 1989 foi a "quarta revolução" da Psiquiatria, ampliando a teoria basagliana e realizadora da terceira? A primeira foi a de Phillipe Pinel, que separou os loucos dos presos comuns. Pinel criou os manicômios e disciplinou os tratamentos dos que antes eram mandados para o alto-mar em navios ou trancados nas prisões comuns.

 

A segunda foi a de Freud, que descobriu a libido no cérebro humano e uma coordenação central baseada no impulso sexual movendo o homem e a história – reconhecendo a capacidade autônoma e individual do ser na psicanálise, superando as estratégias totalitárias de Charcot e da hipnose com a livre associação, em tempos de Skinner e do Behaviorismo materializando as teses de Freud.

 

A terceira revolução da Psiquiatria foi a de Franco Basaglia, que em 1971 derrubou os muros do manicômio de Trieste, armando os loucos com picaretas e pondo abaixo aquele que por tanto tempo oprimira. Logrou fazer isso depois de tentar mudar o sanatório de Gorizia, em que tentou implantar as mudanças que preconizava para os tratamentos alternativos, tendo aprovado a lei da Reforma Psiquiátrica italiana em 1978.

 

E a quarta revolução, com envolvimento e participação popular dos familiares, pacientes, comunidade e lideranças políticas no vendaval transformador e extintor do hospício, foi o Anchieta.