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POR QUE O ANCHIETA FOI A QUARTA REVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA – COMO DISSE GUATTARI?
Foi Felix Guattari, psiquiatra francês e autor da Reforma
Psiquiátrica daquele país, quem disse que Santos fazia a "quarta revolução da Psiquiatria" – a Reforma Psiquiátrica pelas mãos dos envolvidos,
militantes, usuários, familiares. Era a palavra de um dos maiores filósofos do mundo, que esteve aqui para visitar a obra magistral do Anchieta.
"Os loucos farão a revolução", dizia o psicólogo Antonio Lancetti, integrante da equipe que bolou
a intervenção (segundo David Capistrano, a decisão final saiu na casa de Lancetti em São Paulo), na atitude que, como disse a psiquiatra Suzana
Robortella, reunia várias correntes ideológicas da Psiquiatria e mesmo das mudanças sociais. Iam de cristãos aos adeptos da anti-psiquiatria
radicalmente contra os manicômios, passando pelos farmacologistas adeptos de medicações para curar a loucura até os defensores da alegria
como método ou, como diria Lancetti, do erotismo a que foram acusados os transformadores pelos setores à direita que admitiram a carnificina
do manicômio por quase 50 anos.
E por que o Anchieta de 1989 foi a "quarta revolução" da Psiquiatria, ampliando a teoria basagliana e
realizadora da terceira? A primeira foi a de Phillipe Pinel, que separou os loucos dos presos comuns. Pinel criou os manicômios e
disciplinou os tratamentos dos que antes eram mandados para o alto-mar em navios ou trancados nas prisões comuns.
A segunda foi a de Freud, que descobriu a libido no cérebro humano e uma coordenação central baseada
no impulso sexual movendo o homem e a história – reconhecendo a capacidade autônoma e individual do ser na psicanálise, superando as estratégias
totalitárias de Charcot e da hipnose com a livre associação, em tempos de Skinner e do Behaviorismo materializando as teses de Freud.
A terceira revolução da Psiquiatria foi a de Franco Basaglia, que em 1971 derrubou os muros do
manicômio de Trieste, armando os loucos com picaretas e pondo abaixo aquele que por tanto tempo oprimira. Logrou fazer isso depois de tentar
mudar o sanatório de Gorizia, em que tentou implantar as mudanças que preconizava para os tratamentos alternativos, tendo aprovado a lei da Reforma
Psiquiátrica italiana em 1978.
E a quarta revolução, com envolvimento e participação popular dos familiares, pacientes, comunidade e
lideranças políticas no vendaval transformador e extintor do hospício, foi o Anchieta. |