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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA - BIBLIOTECA NM
Santa Casa de Misericórdia (29-H)

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Em 1943, o mais antigo hospital e a primeira Irmandade da Misericórdia do Brasil completou o seu quarto centenário, motivando a publicação de diversas obras a respeito desse evento. Entre elas, o livro do professor Ernesto de Souza Campos, Santa Casa de Misericórdia de Santos - Primeiro hospital fundado no Brasil, com sua origem e evolução - 1543-1943, impresso em 1943 na capital paulista, na tipografia de Elvino Pocai, com 142 páginas.

Um exemplar da obra foi ofertado em 1944 pela Irmandade da Santa Casa à Biblioteca Municipal de Santos, depois denominada Biblioteca Pública Alberto Sousa, que por sua vez o cedeu a Novo Milênio para digitalização, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010 (ortografia atualizada nesta transcrição das páginas 97 a 125, que incorpora corrigendas do autor):

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Santa Casa de Misericórdia de Santos

Primeiro hospital fundado no Brasil -

Sua origem e evolução - 1543-1943

Professor Ernesto de Souza Campos

Do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

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Confluência da Rua Riachuelo com a Praça Mauá, antigamente chamada Campo da Misericórdia. A casa da esquina em que aparecem os toldos foi sede do chamado Hospital Velho.  igreja da Misericórdia, talvez com uma parte de hospital anexo, achava-se em frente ao prolongamento da Rua Riachuelo na atual Praça Mauá. Autos do processo de um vizinho contra a Irmandade da Santa Casa mostram a disputa que se travou por causa do muro que hoje determina grande deformação no telhado da casa da esquina, indicado por uma seta

Imagem publicada com o texto, página 105

 

Documentos interessantes para a história da Santa Casa de Santos

 

ebuscando bibliotecas e arquivos, encontramos alguns documentos interessantes que podem servir de subsídio para a história da Santa Casa em apreço.

Nas consultas do Conselho Ultramarino, documentos manuscritos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Registro I, pág. 208), verificam-se os seguintes Mandatos de 1549.

Ei-los:

Mandando para se pagar 15$000 de mantimento ao vigário da misericórdia de Santos.

Em Lisboa, a 26 de junho de 1549 se passou mandado para o capitão da fortaleza do

"salvador da baya de todos os santos e governador das terras do brasil, por que ouvesse por bem que gonçalo monteiro clerigno da missa que vay provido de vigario da igreja de nossa senhora da misericordia da villa de santos da capitania de martim afonso fossem pagos em cada hú ano có o dito carguo 15$000 no feitor da dita capitania que ora he e ao diante fosse (e que valesse como carta) e lhe fossem pagos do rendimento da dita capitania.

Rey ant. fl. 320".

Idem, pág. 320.

Mandato para se dar 2$000 cada ano ao vigário da Misericórdia de Santos.

"No dito dia se passou mandato para o dito capitão porque s.a. ouve por bem que ao dito gonçalo monteiro fossem pagos cada hú ano dous mil reis em quanto servisse ele tesoureiro da dita igreja e que valesse como carta.

Rey ant. fl. 320"

Mandato para se pagar ao dito vigário 4$000 cada ano.

"No dito dia se pasou mandato para o dito capitão porque s.a. ouve por bem que o dito gonçalo monteiro fossem pagos cada ano no dito feita quatro mil reis pera a despeza de vinho e farinha pera ostias e azeite pera as alampdas da dita igreja e valesse como cart.

Pg. 210 v."

Mandato para o dito vigário poder resgatar da sua roupa duas peças de escravo cada ano.

"No dito dia se pasou mandato para o dito capitão porque s.a. ouve por bem que o dito gonçalo monteiro podesse resguardar em cada hú ano de sua roupa duas peças de escravos do dia que lá chegasse em diante em quanto servisse o dito carguo de vigario, e ao feitor e oficiais da casa da india que tanto que a ela viessem as ditas peças cada ano resguatada da sua roupa lhes despachassem e entregassem livremente a ele ou a seu procurador, sem deles paguar fretes, nem direitos algus nem 5 fº sem embarguo de que as quer provisão em contrario.

Rey Ant. fl. 320".

Vejamos agora a Carta Régia de 1726 pela qual a "Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos homens pardos assim livres como sujeitos" solicitava permissão para usar "tumba e campa" na condução de seus associados falecidos.

"Dom João por graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves, daqem e dalem Mar em Africa Senhor de Guiné, etc. Faço saber a vós Rodrigo Cesar de Menezes Governador e Capitão General da Capitania de S. Paulo q por parte do Juis e mais officiaes e Irmãs da Irmandade de Nossa Senhora das Merces dos homens pardos assim livres como Sujeitos citta na villa de Santos me fez a petiçã cuja copia com esta se vos remette assignada pello Secretario do meo Conselho Ultra em q pedem se lhes conceda o poderem usar tumba e campa para levarem á sepultura os seus Irmãos difunctos, pagando por cada há Misericordia da mesma villa um cruzado na forma q se observa a respeito das mais Irmandades do Rio de Janeiro".

Outubro de 1726.

(Documentos Interessantes 1895 - Publicação oficial do Arquivo do Estado de São Paulo, Vol. XVI).

Do período administrativo compreendido entre 2 de julho de 1804 a 2 de julho de 1805 encontramos (Maço 96 - Pasta doc. 9 b) a conta da receita e despesa da Real Casa de Misericórdia de Santos . Ei-la:

Conta da receita e despeza q'hove nesta real Caza de Mizericordia da Vª. de Santos em o anno q' decorre de 21 de julho de 1804, té 2 do mesmo mez de 1805.

RECEITA

Q'importarão as esmolas tiradas pelas ruas desta Vª. p.ª continuação da Igreja como se ve do Lº de contas corr.tes entrando nesta soma a de 100$000 aq' deo o Cap' Jozé Luiz Prª. 410$280
Id. os legados q' deixarão em seus testam.tos p.ª o m.mo fim os fallecidos Coronel Bonifacio Jozé de Andrada, Carlos Ferr.ª Gomes e o Sarg.to Me Antonio Jozé Carvalho os q pr.os de 100$000 cada hum e o 3º de 50$000 rs. como se ve do m.mo 250$000
Id. q' deo o Contram.e da Galera Venus de esmola na forma de seu ajuste com a de mais Tripulação p.ª esta Caza proteger a cobranç da sua Soldada como se ve no d.º Lº 14$000
Id. a esmolas de 3 tumbas como se ve do m.º L.º 12$000
Id. a esmola da Sua e mensal desde Agto te Junho e se ve do m. 70$095
Id. os alugueres das Cazas q' são 4 e os foros dos Cahons q' tras aforados Jozé Antonio V.ra Carvalho como se ve do d.º Lº 134$340
Id. q' pagou Manoel Jozé da S.ª resto do q' devia e se ve do m.mo 40$000
Id. q' importa o Sobsidio das embarcaçoens oferecido pelos Cap.es e M.es p.ª cura de suas Tripulaçõens e se ve do m.mo Lº, e isto desde 19 de Fvrº 1804 té 10 de Junho de 1805 125$600
Id. q' importou o reziduo do pobre Anselmo morto no Osptal $880
             Soma a Receita R.s 1.057$195

DESPEZA

Q'importarão as madeiras p.ª a obra da Igreja e seve do mesmo Lº 83$005

Id. os Serviços da pedreira p.ª se tirar pedra

p.a a mesma obra e seve do d. Lº............ 125$650 /

Id. 1 Junta de Bois p.ª conduzir pedra .....   15$340 /

Id. 4 enxadas p.ª o mesmo serviço e se ve

do dº Lº ...............................................  3$200 /

144$190
Id. na parede p.ª feixar a frente da Igreja e seve do dº Lº 6$600
Id. com curativo dos pobres enfermos e gente da Tripulação das embarcaçõnes desde 8tbrº de 1804 como se do m.mo 127$480
Id. no enterram.to de 6 pobres e se ve do do 6$580
Id. com esmolas aos prezos e varios pobres indicados pelo R. Parocho e se ve do do 20$735
Id. na reforma do esquife e fatura de Balandraos, do 53$420
Id. com a escriptura de ajuste com os Cap.es e M.es das embarcaçõens e preparativo p.ª confirmação como  se ve do do 3$157
Id. em sera p.ª o Altar do 4$775
Id. em varias despezas miudas declaradas no m.mo 1$265
Id. com os ordenados do Sacristão, Famulo da Caza e com os R.dos Capelaens tanto vencidos neste anno como do p' se lhe estava devendo de atrazados, e assim m. com 2 bolças e 2 varas p.ª esmola da rua, e tudo especificamen.te se vê do do 83$440
             Soma a despeza R.s   534$647

BALANÇO

Emporta a receita 1057$195
Id. a despeza      534$647
Liq.do existente R.s   522$548

Acresce a receita 72 moios 1/4 de cal q' deo o irmão João Baptista da S.ª Passos.

Id. o vinho com q' acistico p.ª as missas da Caza Simão Glz'.

Vai conforme ao Lançam.to das contas da receita e despeza no Lº dellas de f 2 Vº a q' me reporto.

Candido X..er de Alm.da e Souza

Escrivam.

Cópia fotográfica de uma escritura existente no arquivo do Convento do Carmo em Santos. A escritura está reproduzida e traduzida no texto, do capítulo referente à primeira localização do hospital de Braz Cubas

Imagem publicada com o texto, página 109

 

Cópia fotográfica de uma carta de d. João III, de 18 de junho de 1551, concedendo a Braz Cubas, seu moço de câmara, a mercê dos cargos de provedor e contador de rendas e direitos da Capitania de São Vicente ns terras do Brasil. Documento pertencente ao arquivo da S. C. de Misericórdia de Santos

Imagem publicada com o texto, página 117

Cessado o tráfico de escravos africanos e começada a importação de colonos para a lavoura, viu-se a Santa Casa a braços com grandes dificuldades para o tratamento dos imigrantes chegados. Isto aconteceu em 1857. Dirigiu-se, então, ao vice-presidente da província, requerendo auxílio financeiro que lhe permitisse o funcionamento:

"Se os marítimos são sujeitos a um imposto para indenização das despesas que com eles faz o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Santos, não há razão para os colonos serem recebidos gratuitamente".

Eis o documento na íntegra:

"A mesa da Santa Casa de Misericórdia de Santos sempre solícita pelos sagrados deveres que lhe impõem a missão de caridade que lhe foi confiada, vem pedir a V. Excia. pronto remédio para um notável obstáculo que se opõe à perduração de sua instituição que tão proficientemente auxilia as classes necessitadas.

Quando começou a funcionar este estabelecimento de caridade, o movimento de emigração para o império era tão diminuído que não foi ele levado em conta entre os ônus com que tinha de carregar esta associação humanitária. Hoje, porém, Exmo. Sr., começa ele, maximé nesta província, a tornar-se por tal forma importante, que pela demasiada afluência de colonos ao Hospital da Santa Casa desta cidade ameaça absorver não só as rendas desta instituição como até obrigá-lo a gastar seus capitais.

O movimento colonizador, pela completa cessação de tráfico de africanos, em vista dos altos reclamos da nossa lavoura tende a aumentar-se progressivamente; é, pois, de inquestionável necessidade que V. Excia., com a prudência que sempre caracterizou seus atos, preste eficaz remédio ao perigo que ameaça este caridoso instituto, resultante da crescente importação de colonos.

A mesa da Santa Casa de Misericórdia de Santos tomará a liberdade de sujeitar à consideração de V. Excia. as medidas que lhes parecem poder obter o fim proposto.

Do crédito marcado na lei do orçamento geral do império para a colonização há de infalivelmente ter sido marcada uma cota para ser despendida na província de S. Paulo; dessa cota pede a Mesa a V. Excia que distraia uma quantia para ser concedida como subvenção anual à S. Casa de Misericórdia, sendo assim indenizados os avultados sacrifícios que faz com os curativos dos colonos. Se porventura este alvitre encontrar grandes dificuldades, lembra a Mesa que os nossos cônsules, nos países de onde vem a emigração, podem impor aos contratores de colonos a obrigação de exarar em seus contratos a cláusula de que se comprometem a adiantar aos colonos o dinheiro preciso para o seu curativo caso enfermar. Esta medida acredita a Mesa que o governo central a não recusará às solicitações de V. Excia.

A adoção de qualquer destas duas medidas evitaria à S. C. M. de Santos as dificuldades com que ora luta. Se os marítimos são sujeitos a um imposto para indenização das despesas que com eles faz o Hospital da S. C. M. de Santos, não razão para os colonos serem recebidos gratuitamente. Estas e outras razões que para longo expor, e que não podem escapar ao espírito perspicaz de V. Excia. animam a Mesa a pedir com a maior instância a V. Excia. que se digne providenciar sobre os perigos que ameaçam a Santa Casa de Misericórdia de Santos, adotando qualquer dos alvitres por ela propostos, ou outros que porventura pareçam mais próprios à sua esclarecida inteligência.

D.g.ch. V. Excia: Santos 10 de Fevereiro de 1857.

Ilmo. Exmo. Sr. D. Antonio Roberto de Almeida.

D. Vice Presidente da Prov. de S. Paulo.

O Provedor Antonio Ferreira da Silva      Junior o Escrivão

Jacinto Teixeira Santos".

Passemos em revista outros acontecimentos.

Em 3 de janeiro de 1879 o procurador da S. C. de Misericórdia de Santos, Teodoro de Menezes Forjaz, comunica ao vice-presidente da província, barão de Três Rios, a entrada, na véspera, do primeiro doente de febre amarela, tripulante do vapor inglês Jalande, navio procedente da Europa. Pede um auxílio para poder suportar as despesas.

Em 12 de abril de 1879 a S. C. M. enviou ao presidente da província de S. Paulo, dr. Laurindo Abelardo de Brito, o mapa do movimento do hospital, mostrando o recrudescimento da epidemia de febre amarela e reclamando o auxílio de 1:000$000 prometido pelo antecessor do presidente Brito, porém não recebido.

No mapa figuram diagnósticos de febre amarela disenteria, diarréia, reumatismo, pleurisia, contusão, luxação, fratura, hepatite crônica, sífilis, embaraço gástrico, decrepitude, úlcera sifilítica, hemiplegia, bronquite.

Entre os amarílicos notam-se 10 brasileiros e 33 estrangeiros, sendo 9 alemães, 8 ingleses, 5 italianos, 4 portugueses, 2 americanos, 2 suecos, 1 francês, 1 espanhol e 1 austríaco.

Em 9 de abril de 1880 o provedor interino da S. C. M. de Santos, Francisco Martins dos Santos Junior, enviou longo ofício ao presidente Laurindo de Brito, mostrando ser pouco lisonjeiro o estado financeiro do hospital.

Havia um déficit de 6:353$407.

A situação era complicada, porque no período de dezembro a março foi "muito sensível o acréscimo de doentes no Hospital - devido à epidemia de febre amarela".

Eis porque solicitavam anualmente os "socorros dos Cofres Provinciais".

O movimento de julho de 1878 a março de 1879 fora de 459 doentes, "na sua maior parte de febre amarela". Em igual período nos anos de 1879-1880 houve um acréscimo de 81 doentes, dando um total de 540. Houve necessidade de "abrir novas enfermarias".

Decorreu desta circunstância o aumento de despesas. Informava o provedor que os "doentes de intermittentes" eram "muito mais dispendiosos que os affectados de febre amarella, visto como o seo estado morbido não os impede de consumir a sua alimentação normal, e exigir seo tratamento mais caros medicamentos".

Solicita um auxílio pela verba de socorros públicos.

Em 10 de outubro de 1880 o provedor barão de Embaré enviou um ofício ao presidente da província de S. Paulo dando contas do que o governo lhe ordenadra informar.

Remeteu o mapa do movimento do hospital. Declarou ser "o mais deslisonjeiro possivel o estado financeiro da Irmandade". Existia um déficit de 16:052$442. Fora motivado pela exigência de acrescimento do edifício, e conclui:

"Em face deste deficit excessivo que urge pagar, reunio-se hontem a Mesa e tomou a deliberação de equilibrar a despeza com a receita - para cujo fim terá certamente de diminuir para 25 o número de 35 doentes desvalidos".

Só assim seria evitado o desaparecimento do "minguado patrimônio que nem chegava para despesa mensal do Hospital".

Apela, por isso, para a Administração Provincial, no sentido de obter "qualquer subvenção que concorra não só para este estado critico em que actualmente se acha, como para a continuação de tão pio estabelecimento".

Em 8 de fevereiro de 1881 o provedor da S. C. M. de Santos, visconde de Embaré, dirigiu uma carta ao presidente da província, dr. Laurindo Abelardo de Brito, solicitando auxílio para a Santa Casa receber os doentes de febre amarela. Era "muito desfavorável" o "estado financeiro" da casa. O estabelecimento fora organizado para acudir aos enfermos pobres. Não podia "arcar com despezas extraordinarias e excessivas" de uma epidemia "de semelhante moléstia tomar infelizmente carater epidemico".

Para finalizar, reproduzimos um trabalho publicado pela Tribuna de Santos em 6 de janeiro de 1902:

"Seria preciso mencionarmos a história dos seus tempos primitivos e as peripécias por que passou a Irmandade: limitamo-nos a apenas mencionar os fatos desde a época em que começou a funcionar regularmente, instruindo-se de dados estatísticos, pelo que nos deixa ver o crescente progresso que ela tomou de há setenta anos a esta parte.

Em 1830, esta Irmandade possuía o seguinte:

Seis moradas de casas, todas elas de pequeno valor e algumas não passam de casebre; duas maiores pertencentes ao patrimônio de S. Francisco de Paula. Todas estas casas 4 achavam-se em estado de ruínas e não valiam mais de 4:000$000;

16 braças de terreno em diversos lugares que foram aforados a 320 réis anuais por braça;

1 pardieiro chamado Hospital Velho no valor de 600$000 e a Capela de S. Francisco de Paula que calculavam valer 6:000$000; nos vasos sagrados possuía a lâmpada e mais alfaias de prata representando o valor de 817$00; os utensílios da botica eram avaliados em 1:800$000; os paramentos da igreja não representavam valor maior do que o de 192$000; uma porção de madeira no valor de 1:200$000; um crédito no Hospital Militar de 5:498$436 de fornecimentos feitos ao mesmo pela botica da Santa Casa; uma dívida do capitão-mor de 1:000$000; algumas dívidas incertas e a quantia de 500$000 de esmola da bolsa arrecadada em 8 meses.

Diversas vezes a Santa Casa manteve à sua custa hospital e por outras vezes mandou os seus enfermos para serem tratados no Hospital Militar, pagando nos primeiros tempos 200 réis diários por cada enfermo, mais tarde 320 réis, até que tendo sido inteirada a Irmandade de ter sido elevada a diária de 640 réis, ela resolveu em julho de 1833 abrir novamente hospital e é desde então que damos a conhecer ao público o movimento geral dos enfermos tratados na Santa Casa de Misericórdia da nossa cidade e a lista dos provedores que dirigiram a Irmandade desde aquela data; ei-la:

Francisco d'Araujo Fonseca, 1833-834.

Antonio Candido Xavier de Carvalho Souza, 1834-1835

Cap. Ant.º Martins dos Santos, 1835-1836

Claudio Luiz da Costa, 1836-1837 e 1837-1838

Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes, 1838-1839

Dr. José A. Pimenta Bueno, 1839-1840.

O hospital passou por diversas reformas, as mais importantes em 1878-1888 e 1896".

Ensaio sobre a data de fundação de algumas misericórdias brasileiras

S. C. M. de Santos, em 1543, com alvará de privilégio de abril de 1551.

S. C. M. da Bahia, em 1549, com alvará de privilégios de 23 de setembro de 1622.

S.C. M. do Espírito Santo, antes de 1551, segundo Felix Ferreira, não se sabe com que fundamento; 1545, conforme rezam os seus estatutos; 1595 (?) conforme Basiilo Daemont, na Provincia do Espirito Santo; alvará de privilégios de 1 de julho de 1605.

S. C. M. do Rio de Janeiro, em 1582, com alvará de privilégios de 8 de outubro de 1605.

S. C. M. de Olinda, com alvará de privilégios de 26 de janeiro de 1606.

S. C. M. de Itamaracá, com alvará de privilégio de 8 de abril de 1611.

S. C. M. de Sergipe, citado por frei Antonio de Santa Maria Jaboatão, no seu Novo Orbe Serafico como criada no século XVI.

S. C. M. de São Paulo, fundada em época anterior a 1599 (?)

S. C. M. da Paraíba, fundada em época anterior a 1701.

S. C. M. de Vila Rica (Ouro Preto), depois de 1735, com alvará de licença de 16 de abril de 1738 e carta de confirmação de privilégios de 2 de outubro de 1740.

S. C. M. de S. João del Rei, de 1783, aprovação a 27 de novembro de 1816.

S. C. M. de Sabará, datada do vínculo de Jagoará de 1787, com hospital em 1812 e bases de Irmandade de Misericórdia em 1832.

S. C. M. de Porto Alegre, de 1826.

S. C. M. de Juiz de Fora, de 6 de agosto de 1854 e confirmação a 3 de abril de 1855.

S. C. M. de Belo Horizonte, de 1899.

Naturalmente, pela escassez de documentos quinhentistas, existem dúvidas sobre a data exata da criação de várias destas instituições de benemerência.

Braz Cubas e a fundação de Santos

A época da fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos já foi amplamente discutida.

Estabelecida em 1543, a Casa de Braz Cubas foi a mais antiga organização do gênero a se erguer em terras brasileiras.

"Casa de Deus para homens - porta aberta ao mar", foi o lema que Braz Cubas inscreveu para indicar a trajetória à nova confraria. E durante meio século esteve o abnegado santista ao serviço da Irmandade que organizou, amparou e consolidou com inigualável maestria.

Como a cidade de São Paulo nasceu em torno de um colégio - a Igreja do colégio de São Paulo de Piratininga - Santos cresceu em torno de um hospital - o Hospital de Todos os Santos. Por isso, São Paulo tornou-se pioneiro no campo da educação, como Santos se agiganta em uma das mais ricas casas de beneficência da nossa terra.

Conta hoje quase quatro séculos de benemerência, visitando presos, doentes e envergonhados, curando os enfermos, cobrindo nus, dando de comer aos famintos, pousada aos peregrinos, sepultura aos finados.

"Matriz de Santos", "Templo de Humanidade", "Mãe da Misericórdia" foram os títulos que lhes deu a poesia encantadora de Martins Fontes.

Que orgulho sentiria Braz Cubas em contemplar o majestoso hospital, em construção, comparando-o com o singelo casinholo que timidamente assentou nas margens do Engaguassu, junto ao outeiro que depois recebeu o nome de Santa Catarina.

Francicso Martins dos Santos, escrevendo a História de Santos, dedica extenso capítulo à Misericórdia. Nega que essa instituição tivesse sido realmente o núcleo de formação e irradiação da cidade:

"Não se deve, porém, como se vinha fazendo antes, confundir  fundação da Misericórdia e seu hospital, com a fundação da própria Santos, fatos bem distintos e distantes, como já vimos em capítulos anteriores".

Afirma que Braz Cubas criou a Casa, lançando-lhe os fundamentos em 1542 e promovendo sua inauguração no ano seguinte. Já reproduzimos este trecho em capítulo anterior. Não levanta o autor, portanto, a menor dúvida sobre este particular. Apenas não quer admitir que esse conjunto de igreja e hospital constituísse o foco primitivo da povoação, depois evoluída para vila e cidade.

No louvável intuito de tratar o problema sob o ângulo de documentos autênticos, julga que o arraial se constituiu em época anterior aos anos de 1542-1543 e que Braz Cubas não teria sido o fundador da cidade, e sim um colaborador da obra em que muitos laboraram.

Defendendo sua tese, lembra que as terras de Jurubatuba e Ilha Barnabé (antiga Pequena) foram doadas por Martim Afonso de Souza, em 1532, a Henrique Montes, o prático da região. Morrendo este assassinado, em 1534-35, Braz Cubas, que se achava em Lisboa, no ano de 1536, lá obteve doação das mesmas terras, enviando seu pai João Pires Cubas para cultivá-las.

A doação de 1536 foi realizada por d. Ana Pimentel, esposa e procuradora de Martim Afonso. Em 1551, Braz Cubas obteve confirmação da posse, alegando ter feito grandes benfeitorias, para o que muito gastou da sua fazenda, com "gente de soldo" que do reino havia conduzido. Isto consta de autos sobre terras de Jurubatuba, motivadas por uma solicitação dos frades do Carmo, em 1654.

João Cubas não conseguiu levar a cabo esse empreendimento. Passou então "a cultivar as terras anteriores, do Monte Serrat, objeto de escritura de 10 de outubro de 1532, também pertencentes a seu filho e outros, dentro da Ilha de São Vicente". Braz Cubas, tendo ido a Portugal, voltou em 1540 (Autos de Posse)

"munido de um novo traslado da escritura de 1536, igual à que já trouxera seu pai três anos antes, trazendo meios e gente para efetuar a posse e cultivo das terras recém-obtidas, embora contra a oposição do gentio de Jurubatuba."

"É então que, resolutamente atira-se ele (Braz Cubas) com a ajuda dos companheiros já citados, ao progresso do povoado, conseguindo do capitão mor Antonio de Oliveira por autorização de d. Antonia Pimentel, a transferência do antigo Porto de São Vicente, do lugar onde existira até então, na Ponta da Praia, para o fundeadouro do Enguaguassu..."

"Daquele ano de 1540 em diante, o povoado de Enguaguassu passou a denominar-se Porto de São Vicente, por efeito da citada transferência...".

Francisco Martins continua a sua argumentação:

"Com este nome sem outro algum aditamento se conservou alguns anos, até lhe acrescentarem de Santos, continua frei Gaspar, caindo a denominação de São Vicente, o que se verificou depois de 1543, por aquisição do nome de hospital fundado nesse ano sob a invocação de Todos os Santos, invocação que, diante do espírito profundamente religioso da população, estendeu-se naturalmente ao povoado, de preferência...".

E prossegue o autor da História de Santos:

"povoado chamado ainda de Enguaguassu por ficar à margem da enseada desse nome, povoado que em 1541, tomando nome de Porto de São Vicente, devido à transferência do antigo fundeadouro da Ponta da Praia para sua adjacência e que em 1543-44 começou a chamar-se Porto de Santos, até ser Vila do mesmo nome, em cujo distrito ficavam as terras objeto da doação a Braz Cubas".

Quanto mais o autor se preocupa a demonstrar a ação parcial e secundária de Braz Cubas, na fundação da cidade, tanto mais ela se evidencia na argumentação apresentada.

"O aparecimento do povoado que devia ser mais tarde a cidade de Santos deu-se nos dois primeiros anos da chegada da armada de Martim Afonso, quando o mesmo Braz Cubas, Pascoal Fernandes e os demais companheiros citados em nosso inquérito e no início deste capítulo se estabeleceram em lugar com as primeiras roças e moradias".

O fato de terem sido as terras cultivadas por seu pai, de existirem outros moradores, de nenhum modo invalida a posição de Braz Cubas como fundador da cidade. Não havia ele de ali chegar sozinho, edificar um casa ou ermida para então poder ser chamado de fundador. Não estava sozinho Pedro Álvares Cabral quando chegou ao Brasil, nem Tomé de Souza, Martim Afonso ou Estácio de Sá, quando iniciaram suas empresas colonizadoras.

Se quiséssemos atribuir a fundação da cidade de Santos ao primeiro ou primeiros homens que ali habitaram, teríamos que dar aos índios o título ora disputado a Braz Cubas.

Do que se trata não é do descobrimento do lugar, nem dos que possivelmente aí tivessem construído roças ou choupanas - e sim do que "tendo papel preponderante", pelas suas ligações com Martim Afonso, na qualificação do próprio autor da História de Santos, "foi proprietário de terras, seu primeiro morador" (entre outros) e que, designando o porto lançou, nas cercanias, uma instituição com igreja e hospital.

E por motivos análogos foram os jesuítas os fundadores de São Paulo, cravando, na colina de Piratininga, uma instituição - o Colégio de São Paulo. Pouco importa, que fosse "um pobre colégio de taipa coberto de palha seca e em torno dele, as malocas guaianases de Caiubi e Tibiriçá". Estava ali, porém, criado um foco organizador, diretor, com a instituição que marcou a origem da cidade e deu-lhe a denominação até hoje mantida.

E o próprio Francisco Martins é dessa opinião, pois afirma que o "fundador de uma vila ou povoação, ao que parece, e em nosso modo de entender é aquele que dá início ao povoamento do lugar onde depois, em conseqüência dos seus primeiros atos e de suas primeiras instalações, surge a mesma vila ou povoação"....

Tudo isso ocorreu com Braz Cubas. E Francisco Martins não se esquece de reproduzir o seguinte trecho de documentos encontrados por frei Gaspar no Arquivo do Convento do Carmo em Santos, em que se diz:

"o primeiro homem que povoou em a villa de Santos foi Paschoal Fernandes e o Senhor Braz Cubas, dahi se fez a villa de Santos...".

Braz Cubas foi um dos primeiros povoadores do Brasil, aqui chegado com Martim Afonso de Souza; foi um dos primeiros moradores das terras onde hoje assenta acidade de Santos; possuidor de boa parte da gleba, dela expeliu o gentio com tropas que assalariou à sua custa; teve a iniciativa da transferência do porto; foi o primeiro alcaide-mor do lugar; provedor da fazenda real; capitão-mor governador e ouvidor; concedeu-lhe o foro de Vila; levantou-lhe o primeiro pelourinho; defendeu-a dos galeões ingleses de E. Trentou; erigiu-lhe a igreja que depois serviu de Matriz; criou a Misericórdia e fundou o hospital, primeiro entre os do Brasil. Não limitou suas atividades, como outros colonos, a encher as arcas com o produto do seu trabalho, mas, ao contrário, empenhou-se em estabelecer instituições de assistência caritativa e religiosa, organizando a Misericórdia, doando terras para os conventos dos jesuítas, carmelitas e beneditinos.

Diz frei Gaspar:

"Braz Cubas aos 8 de junho de 1545 entrou a servir de capitão-mor e uma das suas principais ações foi conceder o foro de Vila ao Porto de Santos".

Em março de 1545, Santos ainda era povoação. Em um auto de demarcação de terras de Jeribati (Jurubatuba) entre Braz Cubas e Luiz de Góis, encontramos:

"Saibam quantos esta escritura de demarcação virem como no ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e quarenta e cinco anos e em os onze dias do mês de março do dito ano em a povoação de Santos, termo da Vila de S. Vicente, costa do Brasil".

Pedro Taques assinala:

"fundou Braz Cubas, cavalheiro fidalgo, a Vila de Santos à custa da sua fazenda e dela foi o 1º alcaide-mor e depois provedor da fazenda real e capitão-mor governador e ouvidor da capitania de S. Vicente pelos anos de 1554 e seguintes".

Xavier da Costa acentua:

"de maneira que sendo posto o primeiro pelourinho por Braz Cubas junto ao lugar onde hoje existe a Casa do Trem Real (bem perto do dito outeiro), caindo, levantou-se depois outro que é o atual entre a cadeia pública e o convento das Religiosas do Carmo, Calçados".

Quem fez tanto quanto ele? Das próprias palavras do autor da História de Santos resulta, de modo evidente, ter sido Braz Cubas o fundador do porto de Santos e da própria cidade. O fato de terem sido as terras primitivamente cultivadas por outros e de existirem algumas casas de sapé e entre elas a de Braz Cubas, em pequeno arraial, de modo algum pode invalidar a ação orientadora, preponderante e eficiente de Braz Cubas.

Lançando as edificações da igreja e do hospital, forneceu os meios de formação da futura vila. Deu aos colonizadores aquilo de que mais precisavam após as longas e torturadas viagens marítimas. Estas circunstâncias é que deram vida, vigor, progresso, que enfim constituíram as bases da fundação da grande cidade paulista. Braz Cubas foi realmente o fundador da Misericórdia e da cidade. Sua ação, a nosso ver, escapou ilesa, dessa análise à luz dos documentos históricos colhidos pelo autor da História de Santos.

Todos estes fatos estão, aliás, bem esclarecidos por frei Gaspar. Dissertanto (nº 141) sobre o Enguaguassu ou Pilão Grande, diz:

"142 - Nos primeiros annos, quanto dotos os Povoadores lavravão neste ilha, onde querião, Paschoal Fernandes Genovez e Domingos Pires, fizerão sociedade e ambos vierão situar-se em Enguaguassú na margem do canal, a que Martim Affonso chama Rio de S. Vicente na Sesmaria de Pedro Góes; nesta margem, defronte do largo onde tal Rio se divide em dous braços, hum para o Nordeste, que forma a Barra da Bertioga e Outra para o Sul, que faz a barra grande de Santos, edificarão os Socios huma casinha na margem oriental do ribeiro, que pelo tempo adiante se chamou de Jeronymo por se ter colocado huma imagem do Santo Doutor, junto ao ribeiro nas faldas do outeiro que agora se apelida de Monserrate e dantes se dizia de S. Jeronymo. Para sua particular serventia abrirão os ditos Socios o caminho antigo de Santos para S. Vicente o qual principiava na sua casa, continuava por uma ladeirinha, e passava por traz do outeiro, onde hoje esta o Mosteiro de S. Bento.

143 - Assim se conservarão Paschoal Fernandes e Domingos Pires, sem cartas de sesmaria até alguns annos depois de navegar para a India o primeiro Donatario. Achando-se ele ausente, D. Ana Pimentel, sua mulher e procuradora, constituiu Capitão Loco Tenente a Gonçalo Monteiro, o qual governou por alguns annos, e passados elles a mesma procuradora, em 16 outubro de 1538, nomeou a Antonio de Oliveira para lhe suceder no posto. Este Capitão-Mór foi quem repartiu a Ilha de S. Vicente pelos moradores, os quaes antes disso plantavão sem sesmaria; elle deu a Paschoal Fernandes e Domingos Pires, as terras de Enganguassú que ficão a leste do ribeiro de S. Jeronymo, por carta passada em S. Vicente, no primeiro de Setembro de 1539; e as visinhas que demorão a Oeste, do dito ribeiro, concedem a André Botelho aos 2 de junho de 1541, declarando que parterião pela regueira, que alli faz o outeiro, que dizião ser de Braz Cubas (este outeiro de Braz Cubas he o Monserrate), segundo consta da carta que ainda se conserva no livro dos Registros da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo (N. 1. Livro 1, Ti I. 1555, fol. 6)

144 - A referida D. Anna Pimentel havia concedido a Braz Cubas aos 25 de setembro de 1536 as terras de Geribatyba fronteira a Enguaguaçú porem muito distantes de S. Vicente; e querendo Cubas evitar o incomodo de fazer viagens largas, quando lhe fosse necessario hir a Villa ideou levantar outra em sitio mais proximo à sua Fazenda e, juntamente mais apto para o embarque e desembarque dos navios. Com este projeto comprou a hum dos sobreditos Socios parte do seu quinhão a qual parte ainda nesse tempo era mato virgem, e compreendia o outeirinho de Santa Catarina; mandou roçal-a e deu principio a nova Povoação junto ao mencionado outeirinho.

145 - Em Santos ainda se conserva a lembrança de que Braz Cubas foi seu Fundador, cuja tradição confirmão varios documentos porem bastará que cite tres. Ele Cubas doou aos Religiosos de N. Senhora do Carmo hum pedaço de terra junto a Capella da N. Senhora da Graça para edificarem o seu convento, que pertendião levantar naquelle Sitio, e na Escritura, lavrada em Santos, aos 31 de agosto de 1589, diz o tabelião Autanasio da Motta: 'Nesta Villa do Porto de Santos que elle Braz Cubas povoou de fogo morto, sendo o sitio desta Villa tudo mato'.

O mesmo Braz Cubas sendo-lhe necessário mostrar que o caminho primitivo de Santos para S. Vicente, hia por junto a S. Jeronymo e era pouco mais ou menos o proprio por onde hoje entra para o Jabaquara, produxio varias testemunhas na Villa de S. Vicente no anno de 1581 e a segunda Diogo Dias, jurou da maneira seguinte: 'o primeiro homem que povoou em a Villa, de Santos, foi Pascoal Fernandes e o Sr. Braz Cubas, e dahi se fez a Villa de Santos'".

O terceiro documento referido por frei Gaspar é o epitáfio gravado na sepultura do fundador de Santos.

A História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. III págs. 231 e 232, trata das atividades de Braz Cubas.

Conta que Braz Cubas, "o futuro fundador da vila de Todos os Santos", obteve, por carta de sesmaria de 10 de outubro de 1532, "umas terras" nos campos de Piratininga. Encontrando dificuldades no seu cultivo, requereu e obteve terras no litoral. Ficaria livre de João Ramalho e em condições de mais fácil exportação de produtos para o reino.

Depois da ressaca que destruiu casa de conselho, pelourinho e igreja, em S. Vicente, "coube a Braz Cubas" realizar a mudança para a barra de Santos. Instituiu "um hospital sob a invocação de Todos os Santos, como o de Lisboa, junto a uma igreja dedicada a N. S. da Misericordia". E acrescenta: "Tal é a procedência simples e gloriosa, do nome desta cidade".

Na realidade, quer em Lisboa, como em Santos, a confraria não teve o nome de Todos os Santos. As duas irmandades, como todas de Portugal e do Brasil, colocaram-se sob a invocação de N. S. da Misericórdia. O hospital que Braz Cubas fundou, ao lado da igreja, é que recebeu a denominação de "Todos os Santos" por analogia com o grande hospital de igual nome criado, antes da Misericórdia lisboeta, por d. João II. Já explanamos amplamente este tema.

Padre Leonardo Nunes (Cart. Avuls. Academ. Bras. II, P. 60), em carta atribuída ao ano de 1550, diz que chegando a "uma vila chamada de Todos os Santos", recolheu-se com seus companheiros e índios em uma pobre casa por não haver ali hospital. Estavam de plena saúde. Precisavam apenas de abrigo. O padre com sua grande comitiva não iria meter-se entre enfermos em casa de saúde, que seria aliás de pequena capacidade.

A referência não compreende, portanto, o nosocômio de Braz Cubas. Este existia, pois que a vila tomou-lhe o nome de Todo os Santos, como o padre assinala. Padre Nunes evidentemente empregou o vocábulo hospital na sua verdadeira acepção latina e antiga, isto é, de hospedaria [1].

Jesuíta habituado ao latim, empregou o termo no seu verdadeiro sentido [2].

Mas, se realmente naquela época não existisse o hospital de Braz Cubas, isto não demonstra que não tivesse havido tal casa de saúde anteriormente, o que aliás está bem documentado por escrituras antigas. Eram frágeis as construções e reduzidos os recursos dos colonizadores. Uma carta de Nóbrega (Novas Cart. Jes. Brasiliana S. 5. V. 194. P.26) dá conta do estado de ruínas da igreja da Bahia, em 1552, três anos depois de ali chegarem com Tomé de Souza:

"A nossa igreja que fizemos, cai-nos, porque é de taipa de mão e de palha...

Se V. R. parecer bem fale nisto a El Rei, senão os padres que virão farão outra que dure outros tres anos".

E pedia que Deus lhes desse "outra igreja de mais dura". O hospitalzinho de Braz Cubas não com três mas com sete anos poderia, no momento, não estar em condições de receber padre Nunes. Este mesmo padre L. Nunes, em carta de S. Vicente de 29 de junho de 1552 (Nov. Cart. Jes. P. 140) faz menção de hospital. Conta que um casal resolera fazer "voto de castidade e ele entrar (como entrou) para a Companhia se o recebessem". Caso contrário, queriam ambos "servir em hospitais a enfermos".

Uma carta de Nóbrega (Nov. Cart. Jes. P.38) esclarece que foi Luis de Goes, nobre vicentino que destarte transformou sua vida de colonizador. Se Goes e sua esposa queriam tratar de enfermos em hospital, este deveria ser o de Santos. Não havia outro no litoral ou no planalto.

Em verdade, as Misericórdias tiveram períodos de declínio como tantas outras instituições, criadas nos primórdios dos tempos coloniais.

Estudando-se particularmente o problema das Misericórdias brasileiras, é razoável admitir que elas aqui se tivessem organizado, desde o princípio, com igreja e hospital. Ambas instituições eram muito necessárias no período da colonização.

Os portugueses que aqui aportavam, para povoar as novas conquistas, eram fundamentalmente católicos. Imprimiram, por isso, ao nosso país, de Norte ao Sul, quase perfeita uniformidade de culto religioso. Separada a Igreja do Estado, continuou a religião católica a ser dominante. O Brasil é nação essencialmente católica. A igreja tinha que se constituir simultaneamente com as primeiras casas das povoações nascentes.

Por outro lado, é preciso considerar que afrontavam os colonizadores longas viagens marítimas para chegarem às nossas plagas. Nos documentos antigos encontramos numerosas narrativas que demonstram as péssimas condições sanitárias das naus que aqui arribavam. Certa vez o mal de Holanda ou de Luanda (possivelmente beribéri) causou tal mortandade que o navio depois de ancorado "não tinha quem lhe colhesse o pano". No último período da viagem foram as velas manipuladas pelos religiosos e pelos cafres.

Quem não leu a dramática viagem de João Lery ao regressar à França? Estas circunstâncias, acrescidas pelas continuadas penetrações nos sertões e permanente luta com o gentio, impunham a necessidade de um pouso espiritual e corporal: a igreja e o hospital.

Seria tudo modesto mas existente, como consta da narrativa do padre José de Morais ao descrever São Luís do Maranhão e Belém do Grão-Pará: tem Misericórdia com seu limitado hospital (I.H.G. B. Manuscritos de Evora - T. 3º - História da Companhia).

Sepultura de Braz Cubas

Braz Cubas, como recompensa pelos seus serviços, obteve ser enterrado na Igreja da Misericórdia que depois foi matriz de Santos. Teve seu túmulo na capela, debaixo da lâmpada, por decisão do provedor e Irmãos da misericórdia, e aquiescência do bispo Pero Leitão. O documento em que o bispo dá seu assentimento, datado de 1567, existe no original, no arquivo do Convento do Carmo, em Santos.

Graças ao grande espírito de cooperação do eminente e erudito frade Timotheo van den Broek, tivemos a feliz oportunidade de examinar e fotografar o precioso documento grandemente danificado pela voracidade dos insetos. Reproduzimos, em clichê, a cópia fotográfica, com o consentimento do ilustre frei van den Broek, que pessoalmente examinou e datilografou a tradução dos caracteres antigos e difíceis de interpretar. Novamente consignamos nossos agradecimentos ao egrégio carmelita.

"1 - D. Pº Leitão por merc(e)1 de (Deus) (E) (da) Santa Sé appcª de Ro

 2 - ma bpo da Cidade de (S(a)lv(a)do(r) da B(ahi)a de todos hos Santos nes

 3 - ta costa do brasil Ete com missão geral y autoridade apostoly

 4 - (ca em) todas as capitanyas e lugares da dita costa e do coselho

 5 - del Rey noso Snr. etc. A quantos esta nosa carta de provisão

 6 - (virem saudação) em Jesus Xtº noso Snor (que) de todos he (sal) (eterna?)

 7 - vasão........ Fazemos saber que por (bras) cubas allcaide mor

 8 - (desta) (ca) pitanya de Sã Vte e (provedor) da Fazenda de ell

 9 - (Re)y noso Snr. na dita (C)pitanya e na capitanya de Santo am(aro)

10 - (me) foy apresentado hua pe(ti)são dizendo pe o pro(vedor)

11 - e (m)ord(o)mos e Irmãos da (caza da) Ssanta misericordia des

12 - ta Vila de porto de S(antos)... ja a anos q. ouve....

13 - rão por... darem. t... a. da dita Igreja q. fizesem

14 - a mandasem (abr) ir sua sepultura debaixo da alampa

15 - da q. esta na dita capella da qual (lhes?) avia (de) paguar

16 - quatro mill rs os quaes elle paguara e pu(rão) e dita se

17 - pultura no dito lugar e por que despois de lhe terem da

18 - do a dita urna como tudo constava de hua petisão e des(pacho)

19 - dos ditos procurador e I(rmãos)              da

20 - he que tudo nos apresentou     e?    que?    o procurador e Ir-

21 - mãos davão Jaziguo    c....... nt..... tia p.... a o

22 - sopricante ha muito (lo)gr(o)u a d(ita) sepultura porque a (ella)

23 - lhe derão he dito Jaziguo q. na dita capella se encotrou

24 - ou denterar outra nenhua pª (pesoa) sinão re... uas etc.

25 - E depois rogando nos que lhe fizesemos merce (de) axarmos

26 - por bem q, na dita capella.... dese minha 1(ic)ª em

27 - (te)rrar sinão da sua (familia) delle sopricante a bem

28 - de seu direito por elle pretendida etc. - nos Visto sua

29 - petição e as rezões qe o sopricante alegua apor muito

30 - respeito com o sopricante pª (pesoa) nobre e de callidade

31 - anuimos por serv(iço) do Snr noso q. na capella da s(an)ta

32 - mi(sericor)dia se não enterra mais pesoa allgua (sem)

33 - (primeiro) fazer os Irmãos della com o provedor

34 - (hua) sepultura q. tem j vemdida ao dito allcaide

35 - mor bras cubas e annuo por bem que a tenha a aja

 

 1 - por sua p.ª Sie e seus desendentes erdeiros por q.

 2 - a tem pague e p(or) (tnto) ao provedor e irmãos enão

 3 - farão outra tal. po(r) s(e)r o p(ri)meiro damos lhe (a) l(icen)ça

 4 - pella qual lhe mandamos passar a pr(sente) (nossa) (pr)ovy

 5 - zão e por amor s.... de obediencia e di(reito) mando

 6 - (repor) os ditos (quat)ro mil rs. metade para obras pias

 7 - (e) a outra metade p.ª (s dar) amparo a todas? as mres

 8 - ... str? cis? e quaesquer outras pesoas desta qua

 9 - lidade e comdição e (os) I(rmãos) não cõsinte (e) não dei

10 - xe enterar p(eso) a al(lgua) (na) dita capella da Sãta mi

11 - sericordia e sob a de(vida) pena outro (sim) não damos

12 - q. não tolhão nê empedão ao dito bras cubas e seus parê

13 - tes erdeiros enterar se na dita capella pella ter

14 - ja pague como dito he. dada nesta dita villa de Sã

15 - ... sob moso s(in)al e sello de nosas armas aos sete

16 - (di)as do mes de ... bro ... noso Irmão de

17 - mil(são) a fez (na era) (de) mil e quinhentos e sessenta

18 - (e) (se)te annos

pº Ltão Bispo de Salvador

ao sello.... (sellado com o sello em...... 20 rs

ao escrivão............ (lacre) .....  ?".

Benedito Calixto preocupou-se com a lousa da sepultura de Braz Cubas:

"A sepultura de Bras Cubas segundo afirma F. Gaspar existia na capela mor da primeira Egreja; porem com as reformas e reedificações que se fizeram em 1754 ficou a referida sepultura existindo no presbyterio ao lado da Epistola.

i, ao lado da Epistola, permaneceu essa sepultura por mais de um seculo e, ha bem pouco tempo ali se via ainda essa Campa de granito já um tanto carcomida, mas onde lia distintamente, em caracteres antigos, este epitaphio do qual conservamos esta copia autentica letra por letra

S.ª de Braz Cubas

Cavalleeiro Fidalgo da Casa d'El Rey

Fundou E Fez esa Villa sendo Ca

pitam E Casa de Misericordia

Anno 1543

Descubio ouro e metaes

Anno 60

Fez Fortaleza pror mando D'El Rey

D. Juan III

Faleceu no anno de 1592 A".

Frei Gaspar (n. 145 - pág. 100) reproduz os termos do epitáfio, mas apresenta diferenças nas palavras e em relação ao último algarismo da data do falecimento assinalou a letra Z, isto é 159Za.

"Cubas foi sepultado na Capella Mor da Igreja da Misericordia, hoje Matriz da Villa de Santos e, no pavimento fobre a fua Fepultura collocarão huma campa, que agora existe no Prysterio onde se vê gravado o feu epitaphio do teor seguinte:

S.ª de Braz Cubas Cavalleiro

Fidalgo da Casa dEl Rey.

Fundou e fez efta Villa fendo

Capitam, e Casa de Misericor

dia anno de 1543 defcobrio

ouro e metaes anno de 60

fez Fortaleza por mandado

d'El Rey D. João III. Falleceo

no anno de 159Z a".

Calixto em outro ponto do seu trabalho figura a data de 1597.

Silva Leme, tratando de Braz Cubas (Vol. 6. Tit. Cubas, pág. 179) assinala o ano de 1592, porém, referindo-se à neta do fundador de Santos (pág. 180 - V. 6) Izabel de Proença Varela e seu esposo João de Abreu, afirma que o mesmo Braz Cubas deu posse ao marido dessa neta, da serventia do ofício de almoxarife das capitanias de Santo Amaro e São Vicente a 8 de março de 1597. Dissertando sobre João de Abreu, diz SIlva Leme:

"o referido consta da provisão que lhe passou dom Francisco de Souza, datada da Baia a 17 de janeiro de 1595, pela qual fez mercê ao dito João de Abreu da serventia do oficio de almoxarife das capitanias de Santo Amaro e S. Vicente, de que tomou posse a 8 de março de 1597, na Vila de Santos e lhe deu juramento Braz Cubas como provedor da Fazenda Real da dita Capitania sendo escrivão da mesma fazenda Atanasio da Mota".

Almeida Morais pensa que o algarismo figurado por Z em frei B. Gaspar, por 2 ou por sete, conforme a interpretação de outros, deve ser, talvez, considerado como 9. Fundamenta sua impressão em dois documentos que reproduz e ora transcrevemos sem termos tido a oportunidade de examinar os originais.

Trecho "referente a D. Francisco de Souza e publicado pelo Brasil Historico de 1867-168, de um manuscrito antigo remontando ao ano de 1663".

"a 23 de maio do dito anno (1599) sahiu de S. Paulo a examinar as minas do sertão de Sorocaba e serra de Biracoyaba, mandando primeiro presidir a Villa de Santos e providenciar a que não fosse invadida dos piratas que andavam na costa, pelo Capitão Diogo Lopes de Castro com os officiais e soldados da sua companhia ordenando ao provendor da Fazenda Braz Cubas mandasse assistir com carne e pescado, azeite e farinha, e todo o mais necessario, em quanto elle passava a ver as minas de Biracoyaba".

"Estando em Biracoyaba, passou ordem DATADA DE 2 DE AGOSTO DE 1599, ao mesmo provedor Braz Cubas, para fazer cobrar 200$000 do fiador dos flamengos João Guimarães e Necoláo GUimarães, para as despezas que estavam fazendo com a gente do trabalho, com que se achava naquellas minas e com os soldados de infantaria que o acompanhavam".

Conclui Morais:

"Em face de taes indicações, não será temeridade affirmar que o fallecimento de Braz Cubas deu-se na segunda metade do anno de 1599, sendo de presumir que o algarismo final do epitaphio tivesse sido alterado por qualquer circunstancia, dando-lhe a forma de Z, o que, entretanto, não pode invalidar, em nosso conceito, as indicações e referencias a factos historicos ocorridos nesse anno e directamente relacionados com Braz Cubas".

A lápide de Braz Cubas, nos conta Benedito Calixto, foi destruída por um sacerdote ignorante.

"Em 1892, o vigário de então, padre dr. Urbano Monte, fazendo consertos na Matriz, teve a idéia de ampliar a área do presbitério e de substituir o antigo pavimento de tijolos e lajes por um mosaico à moderna; e...... achando que aquela vetusta lápide de cantaria, enegrecida pelo tempo e ingenuamente gravada com aqueles caracteres antigos, fazia péssima nota no meio do desenho uniforme e novo do mosaico, resolveu, sem mais detença, retirá-la dali.

Alguém lembrou-lhe então a importância daquela lápide e a conveniência que havia de conservá-la.

O vigário Monte resolveu fazer coisa asseada: em vista daquela pedra esborcinada, mal feita e feia, achou que seria de vantagem substituí-la por outra. Assim o fez mandando copiar o epitáfio, com algumas correções, para uma lousa de mármore polido.

E para não prejudicar o efeito geral do novo pavimento e ficar tudo de acordo com as reformas que encetou, e demais adornos que mandou fazer no templo, não quis de propósito colocar a lápide de mármore, sobre o lugar da primeira, onde estão os restos de Braz Cubas, e mandou assentá-la na Capela-Mor, como um objeto de adorno, guardando o centro e simetria!...

Soubemos mais tarde que a primeira lápide que cobria os restos de Braz Cubas fora retirada para fora da Igreja entre os entulhos que obstruíam o recinto. Corremos, fomos vê-a, não mais encontramos. O dr. Monte, pensando fazer uma reparação, julgando, na sua boa fé (ignorância) praticar um ato de louvor, fez, entretanto, dois males irreparáveis: destruiu a primeira pedra com o epitáfio original de Braz Cubas e desmarcou, confundiu a sua sepultura.

Se neste ano de 1897, no qual se comemora o terceiro centenário da morte do fundador de Santos, não se puder, ou não se quiser fazer a exumação dos preciosos restos para transportar para a cripta do monumento em sua memória projetado, será necessário então que se pense em evitar esse mal e estes enganos, que hão de, sem dúvida, desorientar a investigadores do futuro, quando o povo de Santos melhor disposto que o de hoje, quiser pagar ao seu fundador esta dívida de honra e gratidão.

S. Vicente. 1897".

Braz Cubas teve apenas dois filhos, ambos ilegítimos. Izabel Cubas, que se consorciou com Paulo de Proença, de cujo matrimônio houve grande descendência; Pedro Cubas, que foi capitão e faleceu solteiro, como seu pai.

Pedro Cubas desejou compartilhar a sepultura do seu progenitor (N.E.: na época, era comum trocar erroneamente genitor, pai, por progenitor, avô), deixando esta última vontade expressa em seu testamento. Vejamo-lo:

"Cópia do Treslado do Testamento do Capitão Pedro Cubas filho de Braz Cubas, copiado no Livro do Tombo, fls. 15 e 18v. Êste documentou existe no arquivo do Convento do Carmo, em Santos, no seu original".

"Em nome de Deus Amem. Saibam quantos esta cedula de testamento, ultima e derradeira vontade virem que, no anno do nascimento de nosso Senhor Jezu Christo de mil e seiscentos e vinte e oito aos dezesete dias do mes de Setembro do d.º anno em esta Villa do Porto de Santos Capitania de S. Vicente, estando eu o Capitam Pedro Cubas, doente deitado em huma cama, de enfermidade qe Nosso Senhor me deu com todo meu perfeito juizo e entendimento qe Deos Nosso Senhor me deu; e sabendo que hei de morrer como verdadeiro Chrstão por desemcargo de minha consciencia ordenei de fazer o meu testamento na forma seguinte.

Primente encommendo minha alma a Deos p. a creou e remiu com seu precioso sangue e lhe pesso e rogo por sua divina Misericordia tenha compacham de mim e me perdoi meus pecados e pesso e rego a gloriosa Virgem Maria nossa Sra. Sua Sacratissima Mãe queirão com todos os Santos da corte do Deu, enterceder, pedir, rogar ante a Magestade divina por mim e minha alma a Deos nosso Sr. Pramente, Ordeno, constituo meo testamento ao R. P. Prior de Nossa Senhora do Monte do Carmo desta Villa de Santos qe hora hé, e o diante for; e por herdeiro de meos bens assim nomeiocomo de rais e gozar della: tudo aquillo que me for e me pertencer diretamente depois de meos legados cumpridos mando qe t.º qe minha alma for apartada deste corpo mortal seja meo corpo amortalhado no Habito de N. Sra. do Monte do Carmo e os ditos Religiosos de N. Sra. do Monte do Carmo se lhe dará do ditto habito e acompanhamento a esmola costumada. Toem mando que meu corpo seja enterrado na casa da S. Misericordia na Capella mor na Sepultura do Snr. Braz Cubas que Nosso Sr. tem, meu Pay e ... me acompanharárara as hermandades da S. Misericordia com a sua bandeira e tumba e o Pe. Vig. e que se dará a esmola ordinaria e outro tanto a Casa da S. Misericordia e as mais confrarias da dita Casa a que a que se dara de esmola a cada húa duas pças convem a saber do Santissimo Sacramento Nossa Senhora do Rozario, São João, todos os Santos e das Almas e dos mais qe ouver na Sta. Casa".

"Confrarias da Santa Casa" prova que a Igreja servia mesmo de Matriz porque servia a outras confrarias.

Carta de d. Pero Leitão, bispo do Salvador, concedendo a Braz Cubas permissão para ser sepultado na igreja que primitivamente pertenceu à Irmandade da Misericórdia de Santos

Imagem publicada com o texto, página 119

 

Final da carta do bispo d. Pero Leitão concedendo permissão para o sepultamento de Braz Cubas na igreja que primitivamente pertenceu à Misericórdia de Santos

Imagem publicada com o texto, página 120


[1] Hospitalis, e (hospes) 1 - de hospede (que é recebido) relativo aos hóspedes. 2 - hospitaleiro. 3 hospitales - hospedes. Hospitalia - Quartos para hóspedes. Hospitalitas - Hospitalidade.

[2] V. Nota 6.