HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Um peixe de 35 toneladas e 25 m de altura (1)
E não é baleia, que por sua vez também não é peixe...
Os santistas têm uma relação meio conflituosa com o mar e seus habitantes. O
peixe é o símbolo da Cidade, mas o santista mesmo come pouco peixe (uma das razões é que o peixe desembarcado em Santos seguia até São Paulo e só então
era distribuído às peixarias santistas, já não tão fresco...).
São muitos os pescadores de final de semana com suas varas de pesca e linhas esticadas na Ponta da Praia, mas se
alguém for conferir, boa parte deles é da capital paulista. As crianças adoravam pescar nos canais, com latinhas baixadas por cordas, mas a poluição das
águas quase fez desaparecerem muitas espécies que viviam na região. Para compensar, o Aquário Municipal, primeiro e maior do
Brasil, recebe obras de ampliação. Mesmo o Museu de Pesca, que passou vários anos abandonado e fechado, com parte do acervo perdido por umidade e
cupins, foi recuperado e voltou a funcionar em junho de 1998.
Ainda assim, a Prefeitura criou na Ponta da Praia o Convés do Pescador - que as
autoridades, em nada defensoras da cultura brasileira, preferiram batizar com uma ridícula mistura de inglês/português: "Deck do Pescador". As
mesmas autoridades, aliás, colocaram na orla da praia uma placa de trânsito em que o centro comercial para venda de
pescado, existente na Ponta da Praia, é chamado normalmente de "Mercado do Peixe", mas um outro centro comercial instalado no bairro
Aparecida é designado na mesma placa pela estranha forma de "Shopping Praiamar" (tradução: comprando Praiamar...).
Na terra do peixe, os pescadores artesanais estão desaparecendo, vivem na pobreza e
distantes do centro urbano. O complexo industrial-pesqueiro foi desmontado, com várias empresas fechando. O Entreposto de Pesca, inaugurado em
janeiro de 1958 na Ponta da Praia, foi praticamente desativado no final do século XX. E, se Peixe é o apelido do principal time de futebol, o
Santos F.C., ele no entanto é simbolizado por uma baleia - que é mamífero, não peixe...
Mas, quem chega a Santos, pelo complexo rodoviário Anchieta-Imigrantes, se depara com um grande peixe estilizado
em aço, de 35 toneladas. O monumento foi assim descrito, em
página Web da Prefeitura Municipal de Santos:
O Monumento ao Peixe, na época de sua inauguração, em 1999
Foto publicada com a matéria
Monumento do Peixe
Instalada na entrada de Santos, a figura de um peixe
simboliza toda a Baixada Santista e o porto, lembrando também o time de futebol que ostenta o nome da cidade. Sua beleza reside na simplicidade de
linhas, expressa em duas hastes de aço Cos Ar Cor 400. O material possui cobre e cromo em sua composição química, o que lhe confere a textura
aveludada e a coloração marrom café, camada de pátina que se assemelha a ferrugem. O aço patinado foi escolhido pela necessidade de resistir ao
tráfego intenso e à corrosão atmosférica, ocasionada pela exposição permanente às condições naturais.
As 35 toneladas de metal da peça foram produzidas pela Companhia
Siderúrgica Paulista (Cosipa), empresa sediada em Cubatão, município vizinho de Santos. À noite, 61 lâmpadas especiais de vapor metálico, de 70
watts cada, iluminam o monumento em toda a sua extensão. Como o formato das lâmpadas é arredondado, há grande concentração de luz sobre cada parte
focada da escultura, permitindo que ela seja avistada a quilômetros de distância. Executada pelo artista plástico Ricardo Campos Mota, a obra foi
inaugurada em 15 de dezembro de 1999.
Km 64 da Via Anchieta.
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Outra página Web da Prefeitura, do ano
2000, complementa as informações:
"O Peixe"
Se você estiver saindo ou chegando na Cidade pela Via Anchieta, encontra o monumento O Peixe, o maior de
Santos e que a representa muito bem. Inaugurada em 15 de dezembro do ano passado, a escultura, instalada na altura do km 64, chama a atenção pela
grandiosidade.
São 25 metros de altura e 35 toneladas de aço fornecido pela Cosipa. O material é do
tipo Cos-Ar-Cor, também conhecido como patinável, que dá a coloração avermelhada lembrando ferrugem e resiste aos efeitos do tráfego, do sol e da
chuva.
Um dos diferenciais da obra idealizada pelo escultor, cenógrafo e cartunista santista
Ricardo Campos Mota (Rica), é sua função contemplativa. Em outras palavras: é para ser visto de longe, a uma distância de aproximadamente 100
metros, pelos motoristas que trafegam pela estrada. Desta forma, as duas hastes metálicas que compõem a escultura formam a imagem de um peixe. Este
peixe simboliza nossa Cidade, marítima e portuária.
Dois guindastes participaram da operação de montagem do monumento, que está preso a
uma base de concreto de 20 diâmetros (N.E.: 20 metros de diâmetro), 21 estacas de aço a 30
metros de profundidade. O Peixe é uma das tantas esculturas que merecem ser vistas em Santos. Neste caso, o ideal é avistá-la voltando para casa.
Portal da entrada de Santos, o Monumento ao
Peixe, em cartão postal de 2003
Foto: postal da Cia. Melhoramentos de Papel e Celulose -
onnytti.com.br/www.mica.com.br
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Mais uma vez estabelecendo o contraditório e até simbolizando essa relação conflituosa dos santistas com os
peixes, enquanto outros monumentos da Cidade receberam tratamento paisagístico, fontes luminosas e urbanização, o Monumento do Peixe se apresenta, cinco
anos depois da inauguração, totalmente abandonado, com seu entorno transformado em depósito de materiais para obras viárias, e com sua iluminação há
muito apagada...
O Entreposto de Pesca, na Ponta da Praia, ainda movimentado na década final do século XX
Foto: Prefeitura Municipal de Santos
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