Imagem: reprodução parcial da matéria original
Sociedade União Operária de Santos
Como será comemorado, hoje, o 39º aniversário da fundação desta benemérita sociedade
É de intenso júbilo a data de hoje para os componentes da
Benemérita Sociedade União Operária.
Completa essa prestimosa coletividade, que importantes serviços vem prestando à causa da Instrução
e de Beneficência, o 39º aniversário de sua fundação, inaugurando o novo prédio social localizado atualmente na Praça José
Bonifácio n. 64.
A Sociedade União Operária ocupa, entre as suas congêneres, lugar de destaque, pela sua criteriosa
organização e superior escrúpulo com que tem sido dirigida pelas suas diretorias, as quais têm sabido elevá-la com abnegação e carinho, a um
satisfatório estado de prosperidade.
Fundada por elementos da classe proletária, na sua maioria homens de boa vontade e aspirações
honestas, ela se constituiu, desde logo, o sustentáculo de seus componentes, resolvendo, por um modo prático, o mutualismo, tão necessário,
principalmente aos que não contam com fartos proventos.
Fiel ao seu programa, a Sociedade União Operária vem preenchendo cabalmente os fins para que foi
criada, sendo disso o maior atestado as escolas que mantém atualmente e outros muitos benefícios que presta aos seus associados e respectivas
famílias.
As aulas da Sociedade União Operária são presentemente freqüentadas por 400 alunos de ambos os
sexos.
Possui além disso, essa coletividade, uma biblioteca, com mais de 3.000 volumes de escolhidos
autores.
Um bem montado gabinete dentário, sob a competente direção do cirurgião dentista, sr. dr. Antonio
Ferreira de Carvalho; um posto médico, sob a competente direção do sr. dr. Pedro Paulo Giovanni, além do grande número de médicos que ofereceram os
seus serviços profissionais gratuitamente à Sociedade, que são: dr. Leão de Moura, dr. Augusto Cerqueira, dr. J. do Amaral Menezes, dr. Castro
Simões, dr. João Pinto da Affonseca, dr. Othon Feliciano.
Possui também o quadro de advogados constituído dos srs. dr. Nicanor Ortiz, dr. Bruno Barbosa, dr.
Gervásio Bonavides, dr. Amazonas Duarte, dr. Archimedes Bava, dr. Lincoln Feliciano, dr. Samuel Baccarat e dr. Manoel Hyppolito do Rego.
Possui ainda um corpo docente composto dos seguintes professores: srs. Sérgio dos Santos e Luís
Gomes da Cruz; sras. Clotilde de Campos Nunes e Rosalina Derenzio Mazzote; senhorinhas Alzira A. Barbosa, Júlia Pinto de Oliveira e Clotilde de
Campos Cunha.
Publicamos, hoje, o manifesto que foi apresentado e aprovado na assembléia da fundação, há 39
anos, que é o seguinte:
"Considerando que as leis do trabalho
operário, em sua organização, devem variar, segundo o regime social e político de cada país, princípio esse que se acha estabelecido na Suíça,
Suécia, Inglaterra, Bélgica, Holanda, França e principalmente nos Estados Unidos da América do Norte, onde é considerado essencial, como elemento de
ordem e progresso, que é o lema da bandeira da República dos Estados Unidos do Brasil;
"Considerando que a nacionalidade exige a agremiação de todos, a fim de consolidar a política que
transformou as instituições pátrias e que, na forma de governo democrático, o elemento popular, legitimamente representado nas classes operárias não
pode e não deve ser excluído da comunhão social e política da República Brasileira;
"Considerando mais, que, depois do grande fato político emancipador, sem criar obstáculos ao
espírito da política orgânica do governo no meio da sociedade brasileira, já se tem criado grupos importantes, já pela qualidade, já pelo número de
profissionais de várias classes, aderindo à emancipação social e política do operário, até aqui desconhecida;
"Considerando ainda que aos governos e ao povo compete fundar escolas profissionais, cursos
modelos, o que se não tem feito entre nós;
"Considerando ainda que o operário de hoje não deve, nem pode, representar papel rotineiro do
artesão de outras épocas, fazendo jus a medíocres salários, sem aspirações, reduzido à posição de simples máquina, sem ter horizonte intelectual e
sem a Instrução Profissional que deve associar-se a todo aprendizado, sem o que as classes sociais não se elevarão;
"Considerando também que a necessidade de uma reorganização social torna-se indispensável aos
espíritos prudentes, e que para atingir o progresso, de acordo com a melhor doutrina, é preciso encarar que: - desde que foi organizada a ação do
homem sobre a natureza, a transformação da vida antiga fez-se por duas classes distintas: a dos empreendedores, sempre pouco numerosos, os
materiais, o dinheiro, o crédito, dirigindo as operações e assumindo a responsabilidade; e a dos operários diretos, vivendo de um salário periódico
e constituindo a imensa maioria dos trabalhadores que executam numa espécie de intenção abstrata, sem se preocuparem diretamente de seu curso final;
"Considerando mais, que estes estão imediatamente em mão com a natureza e que a eficácia
especulativa inerente à vida industrial deve-se melhor sentir neles do que nos de empreendedores, e que isso somente não se dá devido à negligência
que distingue a classe dos trabalhadores, que, sob a única garantia do trabalho certo, renunciam aos assuntos de ordem mais elevada, assuntos
desconhecidos dos verdadeiros chefes industriais, em conseqüência de viverem sempre preocupados com os cuidados ativos das várias profissões que
exercem, que não comportam verdadeira calma intelectual e moral, motivo por que só como auxiliar o operário intervém nas lutas políticas, sem ter,
por si mesmo, fim especial e sem encarar que os debates concentrados nas outras classes se referem, sobretudo à posse do poder;
"Considerando que não é nova a questão operária e que apesar do Brasil não poder ser considerado
país de grande indústria, ainda assim já é tempo do proletariado dos centros populosos começar a discutir as questões especiais que os interessam,
reunindo-se, agremiando-se, a fim de ver no seio da representação geral, formulada como proposta de lei: - o dia normal do trabalho, a
regulamentação do trabalho das mulheres e das crianças, a criação de um serviço de inspeção e estatística do trabalho nacional - assuntos dos quais
depende muito a economia nacional e que de tais medidas na legislação de alguns países já tem foros de cidade;
"Considerando ainda que, com tais medidas, evidenciado fica que por tal forma será o trabalho
nobilitado e que todos poderão exercê-lo, e que tais assuntos, em países industriais, são largamente debatidos há mais de meio século, com proveito
para as classes operárias;
"Considerando que, só como castigo, os progenitores dos rapazes que não querem estudar
jurisprudência, medicina, etc., os metem nas oficinas, depois de convencidos de que eles não alcançarão as grandes posições oficiais, ou então os
ameaçam com a praça do Exército, como se as oficinas e os quartéis fossem cárceres para os inúteis;
"Considerando que, pelo lado econômico, que não necessitando o operário de bancos, necessita,
todavia, de uma instituição da qual, de um momento para outro, possa sacar qualquer quantia que não exceda do capital depositado, para socorrer
imediatamente as suas necessidades mais urgentes, e que tal instituição deve ser uma Caixa Depositária, regida pelos padrões das Caixas
Econômicas do Estado, incorporada pelas classes operárias e sujeita ao disposto na lei que rege as sociedades anônimas;
"Considerando mais, que se trata por uma meditada fusão de elementos, de expurgar do país o vício
hereditário, político e social que nos foi legado, e que, para a estabilidade desse corpo que se chama República Brasileira, é necessário refundir
todas as classes vivificadoras do nacionalismo;
"Considerando, finalmente, que a fundação da União Operária de Santos é uma necessidade inadiável,
e que os fins da mesma devem ser beneficentes, econômicos e sociais, sendo os meios de ação desenvolvidos em seus estatutos, resolve:
"Que desde já fique instalada a mesma associação, aclamada a sua diretoria, e que seja esta ata
considerada o seu manifesto às classes operárias, sendo, depois de lida, aprovada e encerrada, publicada nos jornais desta cidade com a assinatura
de todos os presentes".
Raramente as festas levadas a efeito na sede da Sociedade União Operária, coletividade que muito
se vem impondo à estima geral pela sua utilidade, se hão revestido de tanto brilhantismo e pompa, como a que ali será realizada hoje, pois que
inaugura, também, a sua nova sede social no dia em que comemora, com raro esplendor, o 39º aniversário de vida fecunda e prenhe de ótimos serviços
às causas da caridade e da instrução.
A diretoria, num gesto de verdadeira justiça, renderá merecidas homenagens a associados a quem
deve ela uma boa soma do seu progresso.
Programa da festa - É o seguinte o programa com que a Sociedade União Operária vai
comemorar hoje, em sua nova sede social, situada à Praça José Bonifácio, 64, às 20 horas, a passagem do 39º aniversário de sua fundação:
1 - Desfile dos alunos, em cumprimento às autoridades;
2 - Hino Nacional.
3 - Hino Social.
4 - Oração, pelo sr. Delphino Stockler de Lima, falando sobre a inauguração do prédio e o elogio
aos homenageados.
5 - Entrega de títulos de benemerência aos sócios.
6 - Será apresentado pelo sr. dr. Amazonas Duarte, o ilustre homem de letras, dr. Ibrahim Nobre,
orador oficial da solenidade, que produzirá brilhante oração.
A diretoria da Sociedade União Operária, e que vem fazendo uma das mais fecundas administrações, é
composta dos seguintes cavalheiros:
Presidente - José da Costa;
vice-dito - Gervásio Fernandes Sobreiro;
1º secretário - Pedro Mazzoti;
2º secretário - Antonio Rodrigues Gouvêa;
1º tesoureiro - José Lopes Nunes;
2º tesoureiro - João Coelho;
Beneficente - Francisco de Almeida;
Bibliotecário - Antonio dos Santos;
Inspetor de aulas - Luís Derenzio;
Conselheiros: Manoel Caetano da Silva, Antonio Abrantes, Albano Rodrigues São João.
A festa será abrilhantada pelas bandas do Corpo de Bombeiros e do Tiro de Guerra n. 11,
gentilmente cedidas por seus dirigentes.
O belo edifício onde se acha instalada a sede da Sociedade União Operária, a ser inaugurado
oficialmente hoje, dia em que aquela agremiação comemora o 39º aniversário de existência
Foto e legenda publicadas com a matéria
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