Concha Acústica, patrimônio sob polêmica
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria, na página A-1
CINE ARTE
Tombamento pode impedir a reforma da Concha Acústica
Mudança do Posto 4 é improvável a curto prazo
Da Redação
Transformar o espaço ocupado pela Concha Acústica em um cinema de arte, em substituição ao Cine Arte Posto 4 - como sugeriu várias vezes o secretário municipal de
Cultura, Carlos Pinto - é uma ideia difícil de ser realizada.
Acontece que os jardins, bem como seus equipamentos, como as fontes luminosas e a Concha Acústica, não podem ter suas estruturas físicas modificadas: está em andamento, desde 2001, o processo de
número 42390/01, intitulado Praia do José Menino/Jardins da Orla, que visa o tombamento de todo o calçadão da praia.
A informação é da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Cultura, a quem pertence o Condephaat, órgão responsável pela preservação do patrimônio arquitetônico e histórico no Estado.
Segundo a mesma fonte, quando um pedido de tombamento dá entrada no órgão, o local ou imóvel fica automaticamente protegido - e a solicitação sobre os jardins foi feita por uma ONG que visa a
preservação da orla.
"Neste ano, a Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria realizou duas vistorias técnicas nos jardins - a última, por três arquitetos e uma historiadora. Atualmente, o estudo está
em fase de solicitação de documentação complementar. Trata-se de um estudo muito complexo, por isso não é possível prever sua finalização", afirma o assessor de imprensa Ciro Bonilha.
No caso específico da Concha Acústica, isso não significa que o equipamento deverá ficar permanentemente como está. "Basta enviar um novo projeto ao Condephaat, para que a comissão o avalie e aprove,
ou não".
VOCAÇÃO |
"A Concha pode ser transformada em equipamento multiuso. Mas, por vocação, deve ser um local aberto" |
Carlos Prates, arquiteto |
Carlos Prates, arquiteto
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria
Multiuso - Outro entrave à transformação da Concha Acústica em cinema de arte seria a necessidade de aprovação pelo autor do projeto, o arquiteto Carlos Prates, funcionário da Prodesan -
conforme exigência da lei.
Reticente quanto a uma modificação radical, Prates acha que não tem sentido transformar em cinema fechado um local aberto, de onde se pode ver a areia, o mar e a avenida, e que foi construído
especificamente para essa liberdade.
"A questão é que o local não é mais aproveitado como no passado, quando ali havia peças teatrais, apresentação de música e de corais e até baile para a terceira idade, ou seja, eventos de pequeno
porte, sem o uso de som mecânico. A Concha Acústica faz parte da história da Cidade, está em nossa memória, é um ponto de referência".
No entanto, o arquiteto não é refratário à readequação do equipamento. Até por ser admirador de filmes de arte, ele entende que o local pode receber uma tela para projeção.
"Basta o prefeito pedir e nós faremos um estudo e o projeto. Entendo que a Concha possa ser transformada em um equipamento multiuso. Mas, por vocação arquitetônica, deve ser um local aberto".
Carlos Prates refuta comentários, antigos até, de que há um erro estrutural em seu projeto, uma fez que a Concha deveria ser voltada para o mar e não para a avenida, porque, como está, o som se
propaga em direção aos edifícios.
"Não há nada de errado. Ela está virada para a avenida porque, em nossa região, há ventos de sul e de sudeste que vêm, mais ou menos, de onde ficam os navios. De outra forma, como foi construída para
ser usada sem auxílio de sistema mecânico de som, este seria barrado pelos ventos e não retornaria ao público postado na areia. Ninguém escutaria nada".
Impedimento - A paralisação das atividades com som mecânico na Concha Acústica se deve a uma ação impetrada - e vencida em última instância (portanto, sem possibilidade de recursos) - pelo
Ministério Público, motivada pela reclamação dos vizinhos sobre o barulho. Nos finais de semana, a Secult tem realizado feira de arte e eventos literários no local.
A Concha Acústica foi inaugurada em 16 de junho de 1981, e em setembro de 1997 passou por reformas, devido ao alagamento causado por fortes chuvas e á maré alta, que chegou até a avenida.
A Concha é apontada pelo secretário Carlos Pinto como alternativa para a construção de um cinema
Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria
|