Foto: Sérgio Furtado/Imagens Aéreas, publicada com a matéria, na primeira página
PORTO-CIDADE
Santos está bombando
Felipe Pupo
Embora acolhedor para a
navegação, o Porto de Santos sempre enfrentou dificuldades para hospedar grandes embarcações. Formações rochosas espalhadas ao longo do estuário
impediam a passagem de navios de grande porte, limitando o desenvolvimento dos serviços portuários. Com o passar dos anos, muitas pedras foram
demolidas. Duas dessas rochas, porém, ainda se encontram no caminho dos grandes navios.
Trata-se das pedras de Teffé e Itapema, submersas no estuário, que dificultam a navegação no cais santista. Devido à localização das duas rochas, o
leito navegável fica estreitado. Soma-se a isso o fato de que os navios modernos estão cada vez maiores e com calado maior (distância entre a
superfície da água e o fundo do casco), necessitando de mais profundidade para a navegação. Assim, a retirada das pedras tornou-se fundamental para
garantir o desenvolvimento do porto para os próximos anos.
Passado mais de um século, esses dois colossos finalmente começam a ser retirados do canal de navegação, abrindo passagem para a chegada das grandes
embarcações. Isso será possível graças ao trabalho de derrocagem (desmontagem com a retirada de pedaços), que teve início dia 20, conforme o
anunciou o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, para preparar a primeira detonação, que ocorreu às 11h de quarta-feira, dia 28 de setembro. Um
exemplo da piada que diz que a fé pode até remover montanhas, mas a dinamite é bem mais eficiente.
A primeira intervenção está sendo feita na Pedra de Teffé, na margem direita do Porto (Santos), que fica a 12,5 metros de profundidade, entre o
Terminal de Passageiros e os silos do Armazém 26. Com uma tecnologia inédita para o País, o desmonte está sendo realizado pelo navio perfuratriz
Yuan Dong 007, de origem chinesa, construído especialmente para esse tipo de atividade.
Em seguida, os trabalhos se voltam para a pedra de Itapema, localizada próxima do Farol do Itapema, em
Guarujá.
A derrocagem faz parte do projeto de aprofundamento do canal do estuário, que prevê a ampliação da largura de 150 para 220 metros. A profundidade do
canal também vai aumentar: de 12 para 15 metros. O empreendimento está orçado em R$ 25,5 milhões, com recursos do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), sendo executado pela empresa Ster Engenharia Ltda.
Paralisação do canal - Que o trabalho de derrocagem é fundamental para o desenvolvimento do porto, disso ninguém tem dúvida. Agora, também é
verdade que as obras vão provocar algumas mudanças desconfortáveis para a rotina dos navios e cruzeiros, ainda que por um período limitado. O canal
de navegação ficará fechado todos os dias, por um período de três horas, para a detonação dos explosivos.
É importante salientar que a explosão vai ocorrer por apenas alguns segundos, só que o trabalho de preparação dos explosivos demanda bastante tempo.
Por enquanto, a interdição vai ocorrer das 8h30 às 11h30, período de baixa maré, que geralmente apresenta baixa circulação de navios. A
Codesp também informou, por meio de sua assessoria de imprensa,
que o sistema de balsas que interliga Santos e Guarujá não será afetado.
Impacto ambiental - Tão importante quanto fazer uma obra de infraestrutura é garantir a preservação ambiental do local afetado pela
derrocagem. Para isso, o empreendimento conta um plano de proteção à fauna junto ao canal do estuário.
Antes de cada detonação, será lançada uma carga de menor intensidade, como se fosse um tipo de “aviso” às espécies que vivem no local. Uma cortina
de bolhas ao redor de toda a área de trabalho será produzida, por bombeamento de ar, para reduzir o impacto da pressão hidrodinâmica da detonação,
controlando a onda de choque gerada.
Durante todo o período da execução da derrocagem, equipes de diferentes áreas estarão atuando, simultaneamente, visando ao monitoramento ambiental e
à divulgação das atividades. Uma delas, formada por biólogos, vai verificar a presença de espécies aquáticas de porte, como botos, golfinhos e
tartarugas na área de trabalho da embarcação. Se alguma espécie for encontrada, a operação será paralisada.
Primeira detonação para retirada da Pedra do Teffé, na quinta-feira, dia 28 de setembro, marco
para uma reivindicação mais que centenária. Foram usados cerca de mil quilos de explosivo. Um borrifo de água e uma leve onda de choque foi o
resultado. Um mês é o tempo previsto para a eliminação da pedra de 20 mil metros cúbicos
Foto: Sérgio Furtado/Imagens Aéreas, publicada com a matéria no caderno Porto-Cidade
O navio
A embarcação chinesa conta uma estrutura privilegiada. Com 100,86 m de comprimento e 17,6 metros de largura, possui dez torres de perfuração capazes
de suportar uma coluna de perfuração de 28 metros de comprimento, tendo ainda uma guia para revestimento do furo. O navio é equipado também com um
propulsor lateral, seis guinchos de âncora, duas colunas de apoio de trabalho e outras duas auxiliares.
Esses equipamentos permitem a atuação em todo o processo de derrocagem, desde a perfuração da rocha (ao lado), o carregamento
de explosivo e até a detonação. Ao final da operação, acontece o recolhimento de pedras fragmentadas, o que vai evitar o acúmulo de detritos no
fundo do mar. Em seguida, o material será despejado em caminhões para ser reaproveitado.
Sinais sonoros - Para informar quem estiver nas imediações das pedras, será acionada uma sirene cinco minutos antes de cada detonação. Serão
tocados seis sinais sonoros ao longo de dez segundos cada. Faltando um minuto para a detonação, outro sinal será acionado, com dez segundos de
duração. Após a detonação e a inspeção da área, mais outro sinal será tocado, apontando o final daquela operação.
Foto: Sérgio Coelho/Codesp, publicada com a matéria
Programação - O navio chinês, que iria funcionar apenas uma vez por semana,
agora ficará em operação todos dias da semana, durante 24 horas. Isso vai permitir que a derrocagem será concluída em menos de três meses, bem
abaixo do tempo previsto inicialmente, que era de 18 meses. Apesar disso, as pessoas que moram nas proximidades não precisam se preocupar com a
barulheira.
As detonações ocorrem somente em horário pre-determinado. Além disso, o nível de ruído é insuficiente para incomodar a população. Na quarta-feira,
foi apenas um baque surdo seguido de uma onda de choque que percorreu o cais, monitorada por seis sismógrafos. Quase nada foi sentido na região fora
do porto. A preocupação com o impacto da derrocagem na estrutura das residências ficou só na preocupação. Temia-se que as constantes detonações
pudessem causar algum tipo de dano às suas casas, como rachaduras, mas por enquanto parece não haver riscos.
Perfuração da rocha
Imagem: Codesp, publicada com a matéria
|