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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (F)
Solução vertical? (2)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. No início do século XXI, Santos experimentou um rápido processo de verticalização, cujos efeitos foram notados, como se verifica neste artigo, publicado na seção Tribuna Livre do jornal santista A Tribuna em 3 de junho de 2007:
 




O local do antigo Cine Indaiá e do posto Gaivota, por um momento com a visão desimpedida
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007

Amplidão

Alcindo Gonçalves (*)

Quem passa pela Avenida Ana Costa todos os dias deve ter notado grandes diferenças na paisagem urbana. Falo, é claro, das transformações que estão ocorrendo nos espaços onde um dia existiram os cinemas Iporanga e Indaiá. As salas de exibição de filmes fecharam há algum tempo, e os prédios desapareceram. Primeiro, o Iporanga, onde agora obras de um novo complexo estão a todo vapor. E nos últimos meses houve a demolição gradual, mas segura, do cine Indaiá e do edifício que continha o hotel com o mesmo nome.

Os antigos cinemas significaram muito. Foram representantes de uma época áurea e glamourosa. Neles, bem como no Roxy, no Independência, no Gonzaga, no Atlântico e no Praia Palace, gerações se sucederam na diversão, no romance, no namoro, no programa do fim de semana. Histórias mil podem ser lembradas e contadas, provocando lágrimas e sorrisos. Mas isso já é passado, que não volta mais.

É inevitável que o mundo e a vida sigam seu destino rumo ao futuro. As coisas importantes, com seu contexto, pertencem a um momento da história, e elas passam e acabam. Os hábitos e as maneiras de ser e viver vão sendo alterados, e esse é o fluxo inevitável da existência humana.

Podemos sentir saudade, sem dúvida. Recordar com carinho momentos e situações especiais vividas naqueles cinemas. E arrisco dizer que todos devem ter na memória detalhes e emoções com eles relacionados: um beijo furtivo, o começo de uma paixão juvenil, uma gargalhada, lágrimas derramadas, algum filme muito especial e inesquecível.

  

Abriu-se um vazio na selva de pedra dos prédios da avenida

  

Mas o que me chamou a atenção nos últimos dias não foram as lembranças dos cinemas, ou de sua memorável trajetória. Foi outra coisa: o espaço livre proporcionado pela demolição do Indaiá. De repente, abriu-se um vazio no meio da selva de pedra dos prédios da densa urbanização da avenida. E, curiosamente, a reforma do posto de gasolina ao lado, que pôs ao chão também o antigo Posto Gaivota, ajudou ainda mais a criar a sensação de profundidade, de espaço livre, com nada em volta ou pela frente.

Sei muito bem que muito breve nova obra será iniciada no local. Um espaço valorizado e nobre como aquele se transformará muito rapidamente em um moderno empreendimento imobiliário, o que é muito natural e lógico. Sei que isso é normal e até necessário.

Mas não resisto a proclamar que é muito especial este momento. Vai durar pouco. Mas vale a pena passar por ali. Parar alguns minutos na esquina da Rua Luiz de Faria, contemplar o espaço que se abriu, sentir quase a imensidão que ninguém imaginava que poderia ali existir.

Numa cidade de tantos prédios, fios, postes e carros, onde só a praia nos dá a sensação de ausência de limites, o vazio daquela esquina é um prazer especial. Uma dica: não perca ali, ainda que por alguns momentos, o gostoso sentimento da amplidão.

(*) Alcindo Gonçalves é engenheiro, cientista político, professor universitário e coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT)


Logo esta paisagem, possibilitada pelo fim dos cinemas Iporanga, será bastante modificada
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007


Nesse lugar, ao lado do clube Sírio Libanês, as obras para um novo complexo comercial e residencial (o Pátio Iporanga) prosseguem num ritmo veloz
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007

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