O local do antigo Cine Indaiá e do posto Gaivota, por um momento com a visão
desimpedida
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007
Amplidão
Alcindo Gonçalves (*)
Quem passa pela Avenida Ana Costa
todos os dias deve ter notado grandes diferenças na paisagem urbana. Falo, é claro, das transformações que estão ocorrendo nos espaços onde um dia
existiram os cinemas Iporanga e Indaiá. As salas de exibição de filmes
fecharam há algum tempo, e os prédios desapareceram. Primeiro, o Iporanga, onde agora obras de um novo complexo estão
a todo vapor. E nos últimos meses houve a demolição gradual, mas segura, do cine Indaiá e do edifício que continha o hotel
com o mesmo nome.
Os antigos cinemas significaram muito. Foram representantes de uma época áurea e
glamourosa. Neles, bem como no Roxy, no Independência, no Gonzaga, no Atlântico e no Praia Palace, gerações se sucederam na diversão, no romance, no
namoro, no programa do fim de semana. Histórias mil podem ser lembradas e contadas, provocando lágrimas e sorrisos. Mas isso já é passado, que não
volta mais.
É inevitável que o mundo e a vida sigam seu destino rumo ao futuro. As coisas
importantes, com seu contexto, pertencem a um momento da história, e elas passam e acabam. Os hábitos e as maneiras de ser e viver vão sendo
alterados, e esse é o fluxo inevitável da existência humana.
Podemos sentir saudade, sem dúvida. Recordar com carinho momentos e situações
especiais vividas naqueles cinemas. E arrisco dizer que todos devem ter na memória detalhes e emoções com eles relacionados: um beijo furtivo, o
começo de uma paixão juvenil, uma gargalhada, lágrimas derramadas, algum filme muito especial e inesquecível.
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Abriu-se um vazio na selva de pedra dos prédios da avenida
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Mas o que me chamou a atenção nos últimos dias não foram as lembranças dos cinemas, ou
de sua memorável trajetória. Foi outra coisa: o espaço livre proporcionado pela demolição do Indaiá. De repente, abriu-se um vazio no meio da selva
de pedra dos prédios da densa urbanização da avenida. E, curiosamente, a reforma do posto de gasolina ao lado, que pôs ao chão também o antigo Posto
Gaivota, ajudou ainda mais a criar a sensação de profundidade, de espaço livre, com nada em volta ou pela frente.
Sei muito bem que muito breve nova obra será iniciada no local. Um espaço valorizado e
nobre como aquele se transformará muito rapidamente em um moderno empreendimento imobiliário, o que é muito natural e lógico. Sei que isso é normal
e até necessário.
Mas não resisto a proclamar que é muito especial este momento. Vai durar pouco. Mas
vale a pena passar por ali. Parar alguns minutos na esquina da Rua Luiz de Faria, contemplar o espaço que se abriu, sentir quase a imensidão que
ninguém imaginava que poderia ali existir.
Numa cidade de tantos prédios, fios, postes e carros, onde só a praia nos dá a
sensação de ausência de limites, o vazio daquela esquina é um prazer especial. Uma dica: não perca ali, ainda que por alguns momentos, o gostoso
sentimento da amplidão.
(*) Alcindo Gonçalves é engenheiro, cientista
político, professor universitário e coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT)
Logo esta paisagem, possibilitada pelo fim dos cinemas Iporanga, será bastante
modificada
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007
Nesse lugar, ao lado do clube Sírio Libanês, as obras para um novo complexo comercial
e residencial (o Pátio Iporanga) prosseguem num ritmo veloz
Fotos: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007
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