Antonio Bento de Souza e Castro (1843-1898)
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Antonio Bento de Souza e Castro
Luiz Antonio Muniz de Souza e Castro
|
Esta obra, ainda que em
construção, busca resgatar a memória do Dr. Antonio Bento de Souza e Castro como o ilustre brasileiro que dedicou sua vida em auxílio aos
doentes e necessitados, e que se transformou, juntamente com Luiz Gama, em ícone da causa abolicionista desta Nação.
Não se trata de obra
ficcional, mas de registro de fatos que buscam trazer à lembrança ou ao conhecimento a vida e trajetória do brilhante batalhador de uma causa
que ainda hoje envergonha a História do Brasil.
Feita a várias mãos, mas
com relatos do próprio bisneto do herói, esta biografia está aberta a contribuições de todos que possam acrescentar quaisquer informações ao
tema aqui abordado. |
São Paulo, junho de 2009. |
Artefatos de tortura e aprisionamento dos negros escravos brasileiros
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio (cor acrescentada)
Inspira-nos na continuidade da tua luta
contra a
escravidão das consciências.* |
Dr. Marcos
Gozzo - Juiz de Direito, SP
VEN.’. ARLS
ANTONIO BENTO |
*Inscrição da placa de homenagem da
Augusta e Respeitável Loja
Simbólica Antonio Bento, n° 651. |
Com amor e reconhecimento, a meus pais, que sempre serão
minha fonte de energia para a vida.
(In memoriam).
Agradeço à
profa. Débora Fiuza de Figueiredo Orsi, pela revisão e auxílio na redação deste texto; e a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização da presente obra.
Luiz
Antonio Muniz de Souza e Castro
13 de
maio de 2009
Antonio Bento de Souza e Castro
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Antonio Bento e seus caifazes
O Fantasma da Abolição que se insurgiu contra os fazendeiros de café e mudou a luta
abolicionista
Em 23
de julho de 1840, quando D. Pedro II é declarado maior de idade, tem início o segundo reinado, que se estende até 15 de novembro de 1889, com a
instauração da República. O governo de D. Pedro II, denominado de II Reinado, foi marcado por transformações de ordem social e econômica decisivas
para a história do País, tais como a guerra do Paraguai e a Abolição da escravidão. No governo de Pedro II prevaleceu o jogo de conciliação
política, na tentativa freqüente de manter o poder e a ordem ante a crise social, agravada a partir de meados do século XIX, quando o rei passou a
enfrentar o descontentamento de grupos sociais oposicionistas que pregavam a derrocada da monarquia.
Em 1870, com o fim da Guerra do Paraguai, cresciam as
rebeliões escravas. O conflito havia dizimado milhares de soldados brasileiros, entre eles, os negros, que, de tão numerosos, motivaram a alcunha
racista paraguaia de que formavam "um exército de macacos". Eram escravos alforriados pelo Imperador destinados ao combate com o fim de poupar
filhos de gente abastada, salvos, assim, da "recoluta", o famigerado recrutamento militar. Com o término da guerra, porém, voltam os negros à sua
penosa condição de escravos nas fazendas de café, que davam início às bases do novo poder econômico paulista.
Antonio Bento de Souza e Castro foi o principal líder abolicionista de São
Paulo na década de 1880. Nascido em 17 de fevereiro de 1843, em uma casa da Rua de São José, hoje Líbero Badaró, era filho legítimo de Bento Joaquim
de Souza e Castro, farmacêutico estabelecido por longos anos na rua São Bento, na capital da província, e de D. Henriqueta Vianna de Souza e Castro.
Era um homem em posição de
destaque, filho de uma abastada família paulistana, embora visto como excêntrico por seus modos e sua aparência. Raul Pompéia assim o retratou: "Magro,
estreitado, do tornozelo à orelha, no longo capote preto como num tubo, cartola, cabeça inclinada, mãos nos bolsos, quebrando contra o peito pela
fenda da gola o rijo cavaignac de arame, o olhar disfarçado nos óculos azuis como uma lâmina no estojo, marcha retilínea de passo igual
tirado sobre articulações metálicas ..."
Em 1864, Antonio Bento matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde
recebeu o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 10 de dezembro de 1868.
Durante o mandato do Dr. José Elias Pacheco Jordão como
Presidente da Província de São Paulo, e logo depois de formado, foi nomeado promotor público da Comarca de Botucatu, sendo depois removido para
Limeira, cargo do qual, tempos depois, pediu exoneração.
Com a idade de 29 anos, foi nomeado Juiz Municipal de Atibaia, onde reorganizou
o Partido Conservador, do qual foi chefe.
Nas suas funções de delegado de polícia e juiz municipal, a figura controversa
do conservador Antonio Bento era famosa por seus despachos favoráveis aos escravos, alegando que era ilegal manter em condições sub-humanas os
africanos trazidos ao Brasil após a promulgação das leis de 1831 e 1850 que proibiam o seu tráfico e os declaravam libertos.
Como costumava nomear abolicionistas para arbitrar o valor das cartas de
alforria, granjeou, em meio às lutas políticas de conservadores, liberais e republicanos, a fúria dos escravocratas. Por mais de uma vez sofreu
tentativa de assassinato.
O juiz acabou por ser demitido de suas funções, em conseqüência da pressão
desses desafetos.
Curiosamente, mais de 20 anos depois, o rancor contra Antonio Bento ainda era
manifesto numa espécie de elogio póstumo, em notícia do jornal O Estado de São Paulo:
"O dr. Antonio Bento de Souza e Castro, o
popularíssimo Antonio Bento das lutas pela abolição, faleceu ontem, nesta capital (...). Não era um brasileiro ilustre. Estudou e formou-se na nossa
Faculdade de Direito, seguiu, logo depois de formado, a carreira da magistratura, dedicou-se por vezes ao jornalismo, mas, nem na Faculdade, nem na
magistratura, nem
no jornalismo conseguiu salientar-se. Não
revelou jamais dotes de inteligência e seu espírito era
notavelmente inculto. A ouvi-lo falar (falava como um homem rude do sertão) ou a ler o que ele publicava nos seus efêmeros jornais de combate (era
deploravelmente incorreto e quase nunca sabia nada além da agressão pessoal ao adversário), ninguém diria que ele era um homem que tinha se sentado
durante cinco anos nos bancos de um estabelecimento de ensino superior. Entretanto, o seu nome se fez célebre e glorioso em todo o Brasil e
justamente célebre e justamente glorioso." O
Estado de São Paulo, 9.11.1898.
Fato curioso é que os dirigentes do jornal O Estado de São Paulo eram
maçons tanto quanto Antonio Bento, porém defendiam a manutenção da escravatura, e a oligarquia que sempre dominou o País, usando, sempre, até
atualmente, o recurso de desvalorizar, difamar os que contra os poderosos lutam e lutaram.
Antonio Bento, no entanto, defendia os direitos humanos e a oportunidade de uma
vida digna para os trabalhadores que deveriam receber pelos trabalhos prestados. Surgiu, viveu e morreu com a discrição e humildade que prega a
Maçonaria.
Deixou um legado de honra por tudo o que, com seus Caifazes, realizou em prol
da libertação de um povo que vivia em extrema opressão e condições sub-humanas.
Depois de seu desaparecimento, surgiram os "heróis de ocasião", alguns que nada
fizeram nem mesmo para libertar seus próprios escravos.
Enquanto juiz municipal, Antonio Bento iniciou a construção da Santa Casa de
Atibaia, que não foi concluída devido à sua mudança para a Capital.
Santa Casa de Atibaia
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
O surto de varíola de 1872 revelou mais de seu caráter benemérito: com a
finalidade de cuidar dos doentes pobres, conseguiu arrecadar, entre os raros moradores que permaneceram na cidade, uma pequena quantia, completando
as despesas do seu próprio bolso.
A seguir, trecho de sua carta então enviada ao Presidente da
Província de São Paulo: "Pode V. E. conhecer que esta pequena quantia obriga-me a gastar do meu minguado e
insignificante ordenado que mal dá para minha subsistência. Eu bem vejo que não me compete policiar a cidade, mas, como cristão que sou, não posso
deixar perecer os pobres, que são os que mais sofrem nas epidemias; enquanto não der providências, pesam sobre mim essas despesas".
Ainda em Atibaia, perseguido pelos escravocratas, foi vítima
de atentado e atingido por um tiro na cabeça. Como resultado de sua persistência na libertação dos escravos, também ficou preso nessa cidade.
Em 1877, Antonio Bento transferiu sua residência para São
Paulo, tendo sido o reorganizador da Confraria de Nossa Senhora dos Remédios, em que foi provedor.
Desde 1880, começou a trabalhar no Movimento Emancipação, que
tinha Luiz Gama como chefe.
Túmulo de Luiz Gama, no Cemitério da Consolação, na capital paulista
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Com a morte do benemérito
abolicionista, em 24 de agosto de 1882, jurou sobre o túmulo, juntamente com outros companheiros, continuar o Movimento por ele iniciado.
Antonio Bento convenceu também
a população a jurar sobre o cadáver de Luiz Gama que não deixaria morrer a idéia pela qual combatera aquele gigante. Um brado surdo, imponente,
vasto levantou-se no Cemitério da Consolação. As mãos estenderam-se abertas para o cadáver... A multidão jurou...diante do majestoso espetáculo.
Cicatrizes de flagelação
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Antes que a lápide de cimento selasse o último elo entre a
vida e a morte, surge, dentre a massa compacta que acorreu ao Cemitério da Consolação, Antonio Bento, o substituto daquele negro morto, murmurando:
"Quando me
vejo rodeado de tantos infelizes que, com lágrimas, imploram o meu fraco apoio e não acho nas leis deste desgraçado país um meio de socorrê-los, a
minha alma se despedaça de aflição e tenho ímpetos de, largando a pena e empunhando a espada, bradar: ‘Liberdade
ou morte!'".
Enganou-se Antonio Bento. Não eram de resultados seguros e
eficientes os meios então empregados pelos que trabalhavam pela libertação dos cativos.
Convencido de que, contra os
interesses, de nada valiam palavras, deu ele nova feição à propaganda.
Meses depois, Antonio Bento, sob o signo da cruz e a proteção do manto sagrado
da Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, da qual era provedor, organizou, entre seus companheiros, uma associação secreta encarregada de
colaborar na heróica campanha, a famosa "Ordem dos Caifazes".
Tratava-se de uma organização composta de um grupo heterogêneo que reunia
juízes, jornalistas, tipógrafos, poetas, cocheiros, negociantes, advogados, estudantes de direito.
O nome Caifazes foi inspirado em uma passagem do evangelho de
São João (João 11: 49 a 51): "Um deles chamado Caifás, que era sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: ‘Vós
não entendeis nada! Nem considereis que nos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda a nação.’ E ele nos disse isso por si
mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação".
Dentre os membros deste movimento, estavam Raul Pompéia,
Bernardino de Campos, Macedo Pimentel, Arcanjo Dias, Baptista, Julio de Castilhos Alberto Correa, Luis Murat, Eugênio Egas, Enéias Galvão, cônego
Guimarães Barroso, Hyppolito da Silva, Carlos Garcia, Bueno de Andrada, Muniz de Souza, major Pinheiro, Santos Garrafão, Quintino Lacerda e Antonio
Gonçalves da Silva (O Batuíra), que se tornou um dos pioneiros do
Espiritismo no Brasil. Fundou o "Grupo Espírita Verdade e Luz", onde, no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembléia, dava início a uma
série de explanações sobre "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Os argumentos dos "Caifazes", variados e incontestáveis, deixavam bem
claro que a escravidão era um entrave ao desenvolvimento do País, pois impedia o crescimento do mercado, a evolução das técnicas, corrompia o
trabalho, a moral e a família.
Se, num primeiro momento, o movimento
abolicionista paulista limitava-se a uma ação parlamentar, o segundo, que se inicia na década de 1880, é marcado por uma campanha que conta com a
adesão de vários segmentos sociais e que passa a exercer uma ação direta para acabar com a escravidão.
O feitor
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Considerada subversiva na época, a
organização dos Caifazes promovia proteção a escravos que fugiam e incentivava a evasão dos negros das grandes fazendas.
O efeito causado por este movimento,
além de mostrar as agruras da escravidão, foi de uma inevitável comparação do martírio do negro ao martírio de Cristo.
A ação revolucionária dos Caifazes
deve ser vista a partir de um duplo aspecto: a desorganização do trabalho escravo, que incluía todo o processo de fuga (do incitamento à chegada ao
Quilombo do Jabaquara em Santos) e a inserção do negro fugido no mercado de trabalho. A dinâmica e a complementaridade entre esses dois aspectos é
que dão um caráter inovador ao movimento dos Caifazes.
Igreja dos Remédios, na capital paulista
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Os escravos foragidos ou libertados pela Ordem dos Caifazes eram encaminhados ao
Quilombo do Jabaquara, que abrigou mais de 10 mil escravos, e também para o Quilombo no Cubatão, criado por Antonio Bento. Dali eram enviados a
Santos e, de Santos, ao Ceará.
Últimos vestígios do Quilombo do Jabaquara
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Em sua casa, nas suas propriedades e às suas próprias
custas, sustentava os negros foragidos. Quando os soldados brasileiros recusavam-se a continuar capturando os escravos, e toda a imprensa iniciava
manifestação a favor dessas idéias,
valeu-se Antonio Bento do momento psicológico para dar o golpe fatal: enviou emissários por toda a
parte pregando a revolta e a desorganização agrícola, que teve como conseqüências a fuga em massa e o abandono do trabalho, fazendo com que o
governo passasse a cuidar do magno problema.
Em novembro de 1885, alguns senhores de escravos da
província de São Paulo, devido ao derradeiro estrago que Antonio Bento promovia com seus Caifazes, formaram uma sociedade com capital de
"20:000$000". Este deveria ser empregado na manutenção de uma polícia que vigiasse e liquidasse os ladrões de escravos, os "Caifazes"
abolicionistas.
Em 1882, Raul Pompéia e Antônio Bento de Souza e Castro
fundaram em São Paulo o Jornal do Comércio. A esta folha abolicionista veio se juntar o A Redenção (1887), também fundado por Antônio
Bento, que, na proposta editorial, pregava "a libertação imediata, sem prazo".
Jornal abolicionista A Redenção, em 13 de maio de 1889 (1º aniversário da Lei Áurea)
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Antonio Bento também fundou os jornais O Arado (1882)
e A Liberdade (1888), que eram trincheiras, violentas tribunas, de onde combatia com veemência os escravocratas.
Os historiadores narram que, para
Antônio Bento, a escravidão era uma mancha na História do Brasil. Há registro de um episódio em que um negro, que havia sido torturado, teria sido
levado por Antônio Bento - cristão fervoroso - a uma procissão.
A eficácia do movimento foi tão significativa,
despertando a consciência de igualdade racial, que a maioria das cidades paulistas, cedendo às pressões populares, decretaram mesmo antes da Lei
Áurea, de 1888, a libertação dos escravos negros. Com isto, Antonio Bento conseguiu que alguns senhores contratassem os negros fugitivos como
trabalhadores livres e assalariados, coisa impensável na época.
Quando da promulgação dessa Lei, existiam somente 6% de escravos no Estado de São Paulo.
Lei Áurea
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Câmara aprova o decreto que extingue a escravidão no Brasil
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio |
Estandarte da ARLS Piratininga 1852-1891
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
A Maçonaria
Membro da loja maçônica Piratininga, provedor da
Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios e participante ativo nas confrarias religiosas negras de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e Santo
Elesbão, Antonio Bento, rompendo barreiras étnicas e sociais, conseguiu reunir os poderosos e a gente do povo numa rede
clandestina de
solidariedade.
O movimento dos Caifazes tornou-se o elemento
inédito do abolicionismo em São Paulo, na década de 1880. Dele, faziam parte magistrados, advogados, chefes de polícia, parlamentares, jornalistas,
comerciantes, proprietários de caieiras e armazéns, controladores da Alfândega, empregados em serviços de navegação costeira e até mesmo membros de
famílias de fazendeiros e corretores de café. Muitos destes pertenciam à poderosa organização da Maçonaria, que congregava ilustres membros da
elite. A eles cabia fornecer aos Caifazes o suporte financeiro para seus deslocamentos, fuga e acoitamento dos escravos foragidos, o pagamento das
custas dos processos para obter sua libertação ou aquisição de carta de alforria, e ainda providenciar colocação aos escravos resgatados como
trabalhadores livres nas fazendas de café de outras regiões ou em pequenos serviços urbanos.
Antonio Bento deve ter sido iniciado na Loja Piratininga no período compreendido entre 1º de
julho de 1867 e 7 de agosto de 1869, pois, após esta última data, a Loja adormeceu, e não há registros ou documentos históricos neste intervalo.
Em 19 de março de 1890, entrava no Saco de Propostas e Informações a seguinte proposta: "Propondo
a elevação do Ir.’. Dr. Antonio Bento de Souza e Castro, Gr.’. 30.’., ao Gr.’. 33.’., com dispensa de metaes, não só jóias, mas também patentes,
porque: Antonio Bento é um vulto histórico; seu nome honra a Maçonaria Brasileira, que nele tem o mais arrojado interprete do art. 3º da
Constituição, que estabelece a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Ele tem recursos para pagar os metaes, mas a graça deve ser
absolutamente isenta dele, ao contrário a elevação não constituirá o reconhecimento de altos serviços prestados à Ordem e à Humanidade (Artº 137 e
144 da Lei Administrativa). Não há necessidade de provas documentais, de que trata o Artº 145 da citada Lei, porque os seus efeitos estão
registrados na História nacional contemporânea; estão nos anaes do antigo Senado descritas pelo ex-senador Christiano Otoni, que atribuiu as glórias
da abolição a três entidades: ao ex-imperador 1º , ao visconde do Rio Branco e a Antonio Bento; estão nos anaes da Câmara dos Deputados apreciados
por Joaquim Nabuco; estão em toda imprensa da Capital Federal e do Brasil; estão, enfim, na consciência nacional."
Loja Piratininga, aos 19 de março de 1890 (EV) – (Piratininga “História da Loja Maçônica
Tradição de São Paulo" – José Castellani)
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Antonio Bento foi casado com D. Benedita Amélia
de Souza e Castro, paulistana, filha de Brandino Antonio Gonçalves e de D. Marinha Jesuína da Conceição, com quem teve quatro filhos: Bento, Antonio
Bento, Eucharides e Joab.
Algumas palavras resumem parte de sua história,
pois seria difícil resumi-la toda, já que esbanja uma trajetória repleta de acontecimentos marcantes.
Benedita Amélia consolava os perseguidos, acolhia
e protegia os que mais sofriam, dava exemplos diários de coragem e perseverança.
Junto com Batuíra, Anália Franco e outros que
pertenciam ao grupo dos Abolicionistas e Republicanos, patrocinava a construção de abrigos e colégios para jovens, meninos e meninas abandonados.
Benedita Amélia de Souza e Castro
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
Ao lado de Antonio Bento, enfrentou tudo com discrição,
firmeza, dedicação e um profundo amor ao próximo.
Após o falecimento de Antonio Bento, muda-se da Rua do Carmo,
juntamente com seu neto Bento de Souza e Castro, para sua chácara na Freguesia do Ó, continuando com seu trabalho benemerente, no qual dividia com
os necessitados os frutos de suas economias. Em 21 de novembro de 1929 faleceu Benedita Amélia, uma mulher à frente do seu tempo.
A LOJA MAÇÔNICA ANTONIO BENTO
Em 13 de maio de 2005, durante a homenagem prestada por irmãos da Grande Loja
Maçônica do Estado de São Paulo e do Grande Oriente do Brasil ao abolicionista Luiz Gama, junto ao seu túmulo no Cemitério da Consolação, é lançada
a semente para a fundação de uma Loja que homenageasse também o abolicionista Antonio Bento.
Decorrido exatamente um ano após este evento, é fundada, por um grupo de Irmãos,
a Augusta e Respeitável Loja Simbólica Antonio Bento nº 651 – cujos princípios e ideais são o resgate das raízes que fizeram dos
Caifazes um movimento para derrocar a "enorme muralha mongólica da escravidão" (Rui Barbosa).
Estandarte da ARLS Antonio Bento nº 651 - Glesp
Imagem incluída na monografia enviada a
Novo Milênio
RESUMO BIOGRÁFICO
No ano de 1888 ocorreu uma tumultuada eleição para a
Mesa Administrativa, cujos membros, na sua maioria, não chegaram a tomar posse. Nesta eleição estava presente Antonio Bento de Souza e Castro,
sucessor de Luiz Gama no Centro Abolicionista de São Paulo, provedor da Confraria de Nossa Senhora dos Remédios e protetor da Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário de São Paulo.
O cargo do provedor da Confraria de Nossa Senhora dos
Remédios (onde estava instalada a tipografia do jornal A Redenção)
facilitou o contacto com os irmãos de várias irmandades. Apesar de serem entidades autônomas, havia fluente comunicação entre elas promovida pelos
irmãos adeptos desse movimento.
Nos livros de assentamentos das Irmandades
encontram-se os mesmos irmãos inscritos na Confraria dos Remédios, na Irmandade de São Benedito, na Irmandade de Santa Efigênia e Santo Elesbão, ao
mesmo tempo ou alternadamente.
O cunho popular e ação ilegal dos Caifazes se faziam
da seguinte maneira: infiltravam-se nas fazendas, utilizando os mais diversos disfarces, para conquistar a confiança dos escravos e convencê-los a
fugir. Era a parte mais arriscada e mais difícil dessa empreitada, pois podiam ser denunciados ou descobertos e muitos escravos resistiam à fuga com
medo dos castigos.
Estes foragidos vinham para São Paulo, onde
permaneciam escondidos nas igrejas, nas casas particulares, e em estabelecimentos comerciais, cujos donos muitas vezes eram membros das irmandades.
De São Paulo partiam para Santos, a pé ou ajudados
por ferroviários adeptos das idéias abolicionistas. Aí permaneciam mais uma vez escondidos até se dirigirem para o Quilombo do Jabaquara, em Santos.
Organizado em torno das irmandades negras, o
povo mais humilde dava aos Caifazes um apoio invisível como o dos modestos empregados das estradas de ferro - por ironia, a última novidade da
modernidade destinada a promover a economia de exportação do café, garantindo seu transporte até o porto.
A ferrovia se tornou um dos principais
instrumentos de organização das fugas de escravos, conduzidos de trem até a capital ou ao porto de Santos. Pessoas comuns, e mesmo os muitos
imigrantes instalados na cidade a partir de 1875, cuidavam, espontaneamente, das necessidades cotidianas da população flutuante do Jabaquara, por
onde, calcula-se, passaram cerca de 10.000 escravos fugidos.
A negra Brandina, dona de uma pensão, e seu
amásio, o português Santos Garrafão, empregado numa casa de comércio, eram algumas das figuras populares que se destacaram no cenário
abolicionista. O casal mantinha um pequeno quilombo na Ponta da Praia e se ocupava de garantir alimentação e cuidados de saúde na Santa Casa de
Misericórdia para os refugiados do Jabaquara. Garrafão era também um dos principais articuladores da ação
dos Caifazes de Antonio Bento em São Paulo com os abolicionistas santistas.
Ao mesmo tempo em que contribuíram para
desorganizar a economia escravocrata pelo confisco da mão-de-obra escrava e a inserção dos libertos no mercado do trabalho assalariado, os Caifazes
marcaram a mentalidade de uma época. Esta é a característica mais significativa e revolucionária do movimento dos Caifazes de Antonio Bento, que
representou em São Paulo antes uma conquista de todo o povo paulistano e também dos escravos do que uma concessão do poder imperial.
Túmulo de Antonio Bento, no Cemitério da Consolação, na capital paulista
Foto incluída na monografia enviada a
Novo Milênio |