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CARNAVAL
As passeatas dos grupos e cordões - Os grandes bailes - O corso de automóveis
O pessoal arreliento, que andava roxo para cair no mundo, entrou com coragem no
reinado da pagodeira.
A cidade até parecia outra, ontem ao cair da tarde, com as ruas a fervilhar de povo.
Os combates travaram-se em todos os pontos, num verdadeiro delírio de loucura.
Os automóveis, alguns lindamente ornamentados, cortavam as ruas conduzindo gentis
pierrottes e pierrots folgazões, que, com muita verve, davam maior graça aos folguedos.
À noite, apesar das ruas centrais não estarem iluminadas em arco, como nos anos
anteriores, ofereciam, entretanto, um aspecto imponente.
Todos se divertiam à beça e só o "Espião" é que não pôde demonstrar os seus
conhecimentos trocísticos, porque estava cansado da farra noturna antecedente, e precisava descansar a carcaça para continuar hoje, depois da
hora 0, no seu fadario, indo dar com os costados aí pelas cavernas, onde impera a galhofa e o delírio. Só à tarde foi que consegui despregar o corpo
da tarimba e enfiar-me na minha fantasia de Maomé, para dar o meu giro e apreciar os torunas dos
Foliões Santistas, - que deram a nota, por aí afora.
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O pessoal é mesmo destemido e taco nesse negócio de jogo de pau.
Durante a passeata a saparia do Santista fez um figurão, exibindo-se nas
suas interessantes danças características, ao som de gostosos sambas.
Os Foliões Santistas vinham acompanhados de seus lindos estandartes, corpo de clarins,
orquestra, corpo de dançarinos etc. e tal.
Durante a passeata os Foliões passaram pela redação da Tribuna, tendo a sua
diretoria, que muito tem trabalhado para conservar as velhas tradições da simpática sociedade carnavalesca, composta dos seguintes srs.:
presidente, Odillo Prieto Garcia; vice-dito, Domingos da Rocha; 1º secretário, Antonio José da Costa; 1º tesoureiro, Marcos Claro dos Santos;
diretores: Severiano Silva, Ascendino Moraes, Francisco Pereira, Filippe Pedro e Manoel Antonio, apresentado os seus cumprimentos ao Espião, que é
um dos maiores admiradores dos Foliões Santistas.
O pessoal apresentou-se com lindas fantasias de muito bom gosto e cá o Dégas,
desde que lhe deitou uma olhadela em riba, sentenciou cá com os seus botões: quá nada! Não tem que discutir! O Santista velho de
guerra vai abiscoitar a medalha do Lambertti.
Nem bem o pessoal fez as suas despedidas solenes, o Espião meteu pé pela escada abaixo
e caiu na rua, mas logo um pouco adiante lá vinha o grande maestro Belizário, à frente do
Sapeca Choro! - a remoer um tanguinho, daquele da minha casa, com
acompanhamento de coro, em que se salientava a voz do tenor Abelardo, primeiro prêmio do Conservatório da Bertioga.
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O pessoal, logo que avistou cá o cabra velho de guerra, perfilou, fez o
cumprimento do estilo e sapecou o tanguinho holandês "Cá dé ele?", composição aprimorada, devida ao talento do mestre Belizário, que é o
sapecador mór.
O povo juntou que até parecia um formigueiro e quando acabou a execução da partitura,
ecoou no espaço uma barulheira dos infernos. Então, diante do sucesso obtido, o pessoal pôs o Belizário aos ombros e carregou-o em marcha triunfal
até a caverna da Rua Amador Bueno.
Hoje, o "Sapeca Choro!" novamente deliciará o público com a execução de novas
partituras:
Vai ser uma delícia
Ver o "Sapeca" tocar
Isso é que é momícia
P'ra gozar o carnaval.
Seu Abelardo você canta
Até parece rouxinol
Cresce-lhe um nó à garganta
Que a gente até fica com dó.
Agüenta firme Belizário
Que Momo te recompensa
Vamos cumprir o fadario
Que isto é uma incongruência.
Nesse ponto o pessoal prorrompeu numa delirante ovação, terminando por levantar um
Viva Momo! Vivooo...
-
O magnífico Grupo "Sapeca Chôro" deu-nos ontem o prazer de sua visita, permanecendo nesta redação por um bom espaço de tempo, durante o qual se fez
ouvir no seu variado repertório.
Efetivamente, o sexteto, composto de instrumentos genuinamente nacionais, está
afinadíssimo e rivaliza com qualquer outro que se apresenta entre nós.
À frente do grupo ostentava-se um rico e bem trabalhado estandarte, que foi oferecido
aos rapazes pela conhecida "Casa Relâmpago", do sr. Innocencio Portugal.
O grupo é composto de Augusto Belizário, mestre; João Alves Júnior, presidente;
Abelardo Cunha, Faustino Cardoso, Valdomiro de Souza, Alberto de Souza, Augusto dos Santos, João de Carvalho, Raul Fonseca e Morivaldo Lobo Júnior.
Decentemente fantasiados, os rapazes, além de batuques, maxixes, tangos, cateretês
etc., acompanham o toque com canções nacionais, impressionando agradavelmente os ouvintes.
O seu repertório é o seguinte:
Peças de canto:
Cadê ele?, samba nortista
A rolinha, canção
O sabiá, canção
Confessa meu bem, tango
Quem são eles?, tango
Arué, chula nortista
Deixa desse costume, samba
Peças de choro:
Sapeca choro, tango
Casa do Anzol, cateretê
Casa Relâmpago, maxixe
Os Fenianos, tango
Até parece a propósito, tango
Chininha, tango
O rabicho do grosso, tango
Angelina
O bem-te-vi, toada nortista
A suspirá, tanguinho
Eu vi vovô, tango
Bebê tango.
O corso de ontem - Com extraordinário brilhantismo realizou-se ontem, conforme
fora anunciado, o corso na Avenida Ana Costa.
Essa festa constituiu, por assim dizer, a nota chic do carnaval entre nós, este ano.
O corso teve início às 17 horas, tendo decorrido em meio de estrepitosa alegria,
travando-se renhidas batalhas de confete e serpentinas.
Guarnecendo carruagens artisticamente ornamentadas, viam-se bandos garrulos de
senhoritas trajando esplêndidas fantasias.
À noite, a Praça Floriano Peixoto foi lindamente iluminada por miríades de lâmpadas
polícromas, apresentando um aspecto feericamente deslumbrador.
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Coco Nortista - Excedeu toda a expectativa a passeata do Coco Nortista,
composto de pessoal que nunca conheceu tristezas nem aborrecimentos.
O Coco saiu às 16 horas, indo cumprimentar o sr. Olegário Lisboa, que ofereceu aos
coqueiros uma taça de champinga do Cubatão.
Falou, agradecendo a homenagem, o destemido orador Baziliano Moura, que fez um
discurso paripatético e pirambolético.
Continuando na sua passeata, o Coco veio cumprimentar o Espião, executando em frente
da nossa redação o interessante samba nortista Mi deixa meu nego.
Após os cumprimentos, o pessoal continuou na sua passeata até alta hora da noite.
Para hoje, o Coco prepara grandes surpresas.
Grupo da Tesoura - Percorreu, ontem, as ruas da cidade este interessante grupo,
de que fazem parte distintas senhoritas da nossa sociedade.
O caminhão do Grupo das Tesouras estava ornamentado com muita arte e as tesouras
vinham afiadíssimas, que era um perigo aproximar-se delas.
As gentis tripulantes desse belíssimo carro entoavam lindos tanguinhos, que foram
apreciadíssimos.
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Grupo dos Amarelinhos - Em um caminhão lindamente enfeitado, este grupo
deliciou, ontem, o povo que enchia completamente as ruas da cidade.
A rapaziada estava corruscuba e deu uma nota chic, contribuindo para o
brilhantismo dos folguedos carnavalescos.
Hoje, os Amarelinhos farão nova passeata.
Automóvel-Club - A colméia deste clube estava ontem verdadeiramente
deslumbrante.
Quem ali penetrava tinha a impressão de estar habitando um paraíso de fadas. Era
encantador o aspecto que oferecia o salão.
Quando o ante-diluviano relógio do Clube espalhou no espaço as 12 horas, anunciando a
metade da noite, o pessoal, que já sentia os nervos darem saltinhos dentro da epiderme, arrochou firme no can-can, que foi uma gostosura.
O Pierre, que é o automobilista-mor, debaixo da sua fantasia de cascavel, estava
radiante e a todo o momento gritava: Aí, pessoal guéra, mostra a força do tutano! Assim é que eu gosto de ver sambar!
O arrrasta do Automóvel terminou ao romper da aurora, reinando grande
entusiasmo entre todos os bons maxixeiros.
Hoje, pessoal, firme novamente lá no Automóvel!
Centro Espanhol - Nos luxuosos salões deste Centro houve ontem uma grandiosa
matinê em que se distinguiam elegantes fantasitas de pierrots e pierretes, que emprestavam à festa um brilho extraordinário.
Durante a matinée foram distribuídos doces às crianças e senhoritas.
Hoje realiza-se um baile para o qual foram distribuídos muitíssimos convites, e que se
revestirá do costumeiro brilho.
Os Chopeiros - Os associados do Flamengo F. Club resolveram também aderir à
pagodeira, entrando firmes na arrelia.
O pessoal organizou um grupo, que recebeu a denominação de Grupo dos Chopeiros,
percorrendo várias ruas da cidade.
Sociedade Musical União Portuguesa - Realizou-se ontem a anunciada matinê
desta simpática sociedade, a qual decorreu animadíssima até a tardinha.
À noite abriu novamente os seus salões, que regurgitaram de elegantes pares.
As danças estiveram animadíssimas, prolongando-se até alta madrugada.
A sede da União estava, momisticamente falando, garridamente ornamentada.
Foi simplesmente encantador o baile da União.
Foliões Rio Branco - Esta sociedade também apresentou-se ontem, e estava
supimpa.
À tarde o pessoal do Rio Branco realizou uma magnífica passeata pelas ruas da cidade,
tendo a sua diretoria cumprimentado a nossa redação.
A diretoria dos Foliões Rio Branco é a seguinte:
Presidente, Ismael de Arruda; vice-presidente, Víctor Jacintho Gomes; 1º secretário,
Adolpho Gonçalves; tesoureiro, Domingos Gonçalves; diretor de ala, Pedro Vaz Garcia; 1º fiscal, Manoel Passos; mestres-guias: Benedicto Delmone e
Alberto dos Santos; diretor da "orxestra", Antonio Duarte.
S.C. Vilões Santos Dumont - A sociedade carnavalesca "Vilões Santos Dumont" não
desmentiu as suas velhas tradições, demonstrando ao público que é batuta.
O pessoal, envergado em fantasias confeccionadas com capricho e bom gosto, realizou
uma imponente passeata, vindo dançar em frente à redação desta folha.
A diretoria dos Vilões Santos Dumont esteve na redação desta folha, apresentando os
seus emboras ao Espião... que agradeceu a distinção.
A diretoria dos Vilões Santos Dumont é a seguinte:
Presidente, Pedro Lourenço; vice-presidente, José Antonio dos Santos; 1º secretário,
Carlos Martins; 2º dito, Luiz Russo; 1º tesoureiro, Joaquim Albino de Amorim; conselheiro, José Goulart.
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