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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (23-B)

A festa de Carnaval, em 1920
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Em 1920, o banho da Dorotéia ainda não havia surgido, e junto com o fox-trot nos salões, a folia era dominada pelos corsos, no Centro e começando a se expandir em direção ao Gonzaga, via Avenida Ana Costa. Assim foi registrada a folia carnavalesca daquele ano, pelo jornal santista A Tribuna (ortografia atualizada, mas mantidos os neologismos e gírias usados na época), na edição de 16 de fevereiro de 1920 (a Segunda-feira Gorda):
 


Imagem: reprodução parcial da página original com a matéria

CARNAVAL

As passeatas dos grupos e cordões - Os grandes bailes - O corso de automóveis

O pessoal arreliento, que andava roxo para cair no mundo, entrou com coragem no reinado da pagodeira.

A cidade até parecia outra, ontem ao cair da tarde, com as ruas a fervilhar de povo.

Os combates travaram-se em todos os pontos, num verdadeiro delírio de loucura.

Os automóveis, alguns lindamente ornamentados, cortavam as ruas conduzindo gentis pierrottes e pierrots folgazões, que, com muita verve, davam maior graça aos folguedos.

À noite, apesar das ruas centrais não estarem iluminadas em arco, como nos anos anteriores, ofereciam, entretanto, um aspecto imponente.

Todos se divertiam à beça e só o "Espião" é que não pôde demonstrar os seus conhecimentos trocísticos, porque estava cansado da farra noturna antecedente, e precisava descansar a carcaça para continuar hoje, depois da hora 0, no seu fadario, indo dar com os costados aí pelas cavernas, onde impera a galhofa e o delírio. Só à tarde foi que consegui despregar o corpo da tarimba e enfiar-me na minha fantasia de Maomé, para dar o meu giro e apreciar os torunas dos

Foliões Santistas, - que deram a nota, por aí afora.


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O pessoal é mesmo destemido e taco nesse negócio de jogo de pau.

Durante a passeata a saparia do Santista fez um figurão, exibindo-se nas suas interessantes danças características, ao som de gostosos sambas.

Os Foliões Santistas vinham acompanhados de seus lindos estandartes, corpo de clarins, orquestra, corpo de dançarinos etc. e tal.

Durante a passeata os Foliões passaram pela redação da Tribuna, tendo a sua diretoria, que muito  tem trabalhado para conservar as velhas tradições da simpática sociedade carnavalesca, composta dos seguintes srs.: presidente, Odillo Prieto Garcia; vice-dito, Domingos da Rocha; 1º secretário, Antonio José da Costa; 1º tesoureiro, Marcos Claro dos Santos; diretores: Severiano Silva, Ascendino Moraes, Francisco Pereira, Filippe Pedro e Manoel Antonio, apresentado os seus cumprimentos ao Espião, que é um dos maiores admiradores dos Foliões Santistas.

O pessoal apresentou-se com lindas fantasias de muito bom gosto e cá o Dégas, desde que lhe deitou uma olhadela em riba, sentenciou cá com os seus botões: quá nada! Não tem que discutir! O Santista velho de guerra vai abiscoitar a medalha do Lambertti.

Nem bem o pessoal fez as suas despedidas solenes, o Espião meteu pé pela escada abaixo e caiu na rua, mas logo um pouco adiante lá vinha o grande maestro Belizário, à frente do

Sapeca Choro! - a remoer um tanguinho, daquele da minha casa, com acompanhamento de coro, em que se salientava a voz do tenor Abelardo, primeiro prêmio do Conservatório da Bertioga.


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O pessoal, logo que avistou cá o cabra velho de guerra, perfilou, fez o cumprimento do estilo e sapecou o tanguinho holandês "Cá dé ele?", composição aprimorada, devida ao talento do mestre Belizário, que é o sapecador mór.

O povo juntou que até parecia um formigueiro e quando acabou a execução da partitura, ecoou no espaço uma barulheira dos infernos. Então, diante do sucesso obtido, o pessoal pôs o Belizário aos ombros e carregou-o em marcha triunfal até a caverna da Rua Amador Bueno.

Hoje, o "Sapeca Choro!" novamente deliciará o público com a execução de novas partituras:

Vai ser uma delícia
Ver o "Sapeca" tocar
Isso é que é momícia
P'ra gozar o carnaval.

Seu Abelardo você canta
Até parece rouxinol
Cresce-lhe um nó à garganta
Que a gente até fica com dó.

Agüenta firme Belizário
Que Momo te recompensa
Vamos cumprir o fadario
Que isto é uma incongruência.

Nesse ponto o pessoal prorrompeu numa delirante ovação, terminando por levantar um Viva Momo! Vivooo...

- O magnífico Grupo "Sapeca Chôro" deu-nos ontem o prazer de sua visita, permanecendo nesta redação por um bom espaço de tempo, durante o qual se fez ouvir no seu variado repertório.

Efetivamente, o sexteto, composto de instrumentos genuinamente nacionais, está afinadíssimo e rivaliza com qualquer outro que se apresenta entre nós.

À frente do grupo ostentava-se um rico e bem trabalhado estandarte, que foi oferecido aos rapazes pela conhecida "Casa Relâmpago", do sr. Innocencio Portugal.

O grupo é composto de Augusto Belizário, mestre; João Alves Júnior, presidente; Abelardo Cunha, Faustino Cardoso, Valdomiro de Souza, Alberto de Souza, Augusto dos Santos, João de Carvalho, Raul Fonseca e Morivaldo Lobo Júnior.

Decentemente fantasiados, os rapazes, além de batuques, maxixes, tangos, cateretês etc., acompanham o toque com canções nacionais, impressionando agradavelmente os ouvintes.

O seu repertório é o seguinte:

Peças de canto:

Cadê ele?, samba nortista
A rolinha, canção
O sabiá, canção
Confessa meu bem, tango
Quem são eles?, tango
Arué, chula nortista
Deixa desse costume, samba

Peças de choro:

Sapeca choro, tango
Casa do Anzol, cateretê
Casa Relâmpago, maxixe
Os Fenianos, tango
Até parece a propósito, tango
Chininha, tango
O rabicho do grosso, tango
Angelina
O bem-te-vi, toada nortista
A suspirá, tanguinho
Eu vi vovô, tango
Bebê tango.

O corso de ontem - Com extraordinário brilhantismo realizou-se ontem, conforme fora anunciado, o corso na Avenida Ana Costa.

Essa festa constituiu, por assim dizer, a nota chic do carnaval entre nós, este ano.

O corso teve início às 17 horas, tendo decorrido em meio de estrepitosa alegria, travando-se renhidas batalhas de confete e serpentinas.

Guarnecendo carruagens artisticamente ornamentadas, viam-se bandos garrulos de senhoritas trajando esplêndidas fantasias.

À noite, a Praça Floriano Peixoto foi lindamente iluminada por miríades de lâmpadas polícromas, apresentando um aspecto feericamente deslumbrador.


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Coco Nortista - Excedeu toda a expectativa a passeata do Coco Nortista, composto de pessoal que nunca conheceu tristezas nem aborrecimentos.

O Coco saiu às 16 horas, indo cumprimentar o sr. Olegário Lisboa, que ofereceu aos coqueiros uma taça de champinga do Cubatão.

Falou, agradecendo a homenagem, o destemido orador Baziliano Moura, que fez um discurso paripatético e pirambolético.

Continuando na sua passeata, o Coco veio cumprimentar o Espião, executando em frente da nossa redação o interessante samba nortista Mi deixa meu nego.

Após os cumprimentos, o pessoal continuou na sua passeata até alta hora da noite.

Para hoje, o Coco prepara grandes surpresas.

Grupo da Tesoura - Percorreu, ontem, as ruas da cidade este interessante grupo, de que fazem parte distintas senhoritas da nossa sociedade.

O caminhão do Grupo das Tesouras estava ornamentado com muita arte e as tesouras vinham afiadíssimas, que era um perigo aproximar-se delas.

As gentis tripulantes desse belíssimo carro entoavam lindos tanguinhos, que foram apreciadíssimos.


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Grupo dos Amarelinhos - Em um caminhão lindamente enfeitado, este grupo deliciou, ontem, o povo que enchia completamente as ruas da cidade.

A rapaziada estava corruscuba e deu uma nota chic, contribuindo para o brilhantismo dos folguedos carnavalescos.

Hoje, os Amarelinhos farão nova passeata.

Automóvel-Club - A colméia deste clube estava ontem verdadeiramente deslumbrante.

Quem ali penetrava tinha a impressão de estar habitando um paraíso de fadas. Era encantador o aspecto que oferecia o salão.

Quando o ante-diluviano relógio do Clube espalhou no espaço as 12 horas, anunciando a metade da noite, o pessoal, que já sentia os nervos darem saltinhos dentro da epiderme, arrochou firme no can-can, que foi uma gostosura.

O Pierre, que é o automobilista-mor, debaixo da sua fantasia de cascavel, estava radiante e a todo o momento gritava: Aí, pessoal guéra, mostra a força do tutano! Assim é que eu gosto de ver sambar!

O arrrasta do Automóvel terminou ao romper da aurora, reinando grande entusiasmo entre todos os bons maxixeiros.

Hoje, pessoal, firme novamente lá no Automóvel!

Centro Espanhol - Nos luxuosos salões deste Centro houve ontem uma grandiosa matinê em que se distinguiam elegantes fantasitas de pierrots e pierretes, que emprestavam à festa um brilho extraordinário.

Durante a matinée foram distribuídos doces às crianças e senhoritas.

Hoje realiza-se um baile para o qual foram distribuídos muitíssimos convites, e que se revestirá do costumeiro brilho.

Os Chopeiros - Os associados do Flamengo F. Club resolveram também aderir à pagodeira, entrando firmes na arrelia.

O pessoal organizou um grupo, que recebeu a denominação de Grupo dos Chopeiros, percorrendo várias ruas da cidade.

Sociedade Musical União Portuguesa - Realizou-se ontem a anunciada matinê desta simpática sociedade, a qual decorreu animadíssima até a tardinha.

À noite abriu novamente os seus salões, que regurgitaram de elegantes pares.

As danças estiveram animadíssimas, prolongando-se até alta madrugada.

A sede da União estava, momisticamente falando, garridamente ornamentada.

Foi simplesmente encantador o baile da União.

Foliões Rio Branco - Esta sociedade também apresentou-se ontem, e estava supimpa.

À tarde o pessoal do Rio Branco realizou uma magnífica passeata pelas ruas da cidade, tendo a sua diretoria cumprimentado a nossa redação.

A diretoria dos Foliões Rio Branco é a seguinte:

Presidente, Ismael de Arruda; vice-presidente, Víctor Jacintho Gomes; 1º secretário, Adolpho Gonçalves; tesoureiro, Domingos Gonçalves; diretor de ala, Pedro Vaz Garcia; 1º fiscal, Manoel Passos; mestres-guias: Benedicto Delmone e Alberto dos Santos; diretor da "orxestra", Antonio Duarte.

S.C. Vilões Santos Dumont - A sociedade carnavalesca "Vilões Santos Dumont" não desmentiu as suas velhas tradições, demonstrando ao público que é batuta.

O pessoal, envergado em fantasias confeccionadas com capricho e bom gosto, realizou uma imponente passeata, vindo dançar em frente à redação desta folha.

A diretoria dos Vilões Santos Dumont esteve na redação desta folha, apresentando os seus emboras ao Espião... que agradeceu a distinção.

A diretoria dos Vilões Santos Dumont é a seguinte:

Presidente, Pedro Lourenço; vice-presidente, José Antonio dos Santos; 1º secretário, Carlos Martins; 2º dito, Luiz Russo; 1º tesoureiro, Joaquim Albino de Amorim; conselheiro, José Goulart.


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