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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (19)

Preparativos para o ressurgimento, em bases metropolitanas
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Texto publicado em 6 de fevereiro de 2005 no jornal santista A Tribuna:
 


Apesar de endividada, a União Imperial, comandada por Heldir Penha, 
já tem o tema do samba-enredo
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

CARNAVAL
Escolas se preparam para desfile de 2006

Evento metropolitano começa a ser planejado por cidades da região

Patrícia Diguê
Da Reportagem

Começar do zero. Este será o tema do enredo das escolas de samba de Santos depois que este Carnaval passar. Completamente desestruturadas e com seus integrantes afastados, as agremiações de samba terão de correr contra o relógio para estarem em plena forma em 2006, quando deverá ser realizado o 1º Carnaval Metropolitano da Baixada Santista, provavelmente em São Vicente.

O sucateamento das entidades começou depois que a Administração Municipal decidiu acabar com os desfiles na Cidade. O último aconteceu em 2000. "Santos tinha o segundo melhor Carnaval do Brasil", lembra com saudades Leandro Chadad, presidente da X-9, uma das escolas mais antigas do País (ver matéria).

Apesar da situação precária, ânimo não falta para os poucos que ainda lutam pelas entidades. Algumas escolas já têm até samba-enredo e estão buscando patrocínios para o desfile. A Liga Independente Cultural das Escolas de Samba de Santos (Lices), que reúne 11 agremiações, já preparou um calendário de atividades com início a partir de março, visando ao evento de 2006 (ver matéria).

A União Imperial tem sua quadra própria no Marapé, mas faz dois anos que a diretoria não consegue pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). "Escola sem desfile é que nem o Santos Futebol Clube sem futebol", compara o presidente Heldir Lopes Penha.

A escola, que já chegou a ter cerca de 4 mil integrantes, hoje consegue reunir 1.500 na banda Nação Imperial, que este ano está lembrando a história do futebol do bairro. Em 2006, a agremiação planeja homenagear o escultor do Marapé Serafim Gonzalez, famoso por sua escultura Mulheres de Areia, colocada em uma praia de Itanhaém.


A Unidos da Zona Noroeste auxiliou uma escola de São Vicente este ano
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria

Espírito - Vice-campeã no último desfile, a Unidos da Zona Noroeste pretende colocar mil pessoas na avenida no Carnaval Metropolitano, com um enredo que lembrará os 25 anos da escola. Com quadra própria, a entidade conseguiu se manter nos últimos anos graças aos eventos realizados no local, como shows e festas juninas. Seus integrantes têm desfilado em escolas de São Vicente, como a Águia Vicentina. "É para não perder o espírito do Carnaval", diz o presidente Paulo Nunes.

A Real Mocidade está sem sede desde 2003 e, dos seus 1.200 integrantes, hoje só restaram a bateria e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que animam a banda Maçã da Eva e realizam shows.

A entidade também teve de vender patrimônios, como carros alegóricos e fantasias. "Não tinha mais onde guardar", diz o presidente Manoel Aparecido Ferreira. Mesmo diante deste quadro, ele está empolgado com o Carnaval do ano que vem. "Vamos zerar tudo e começar tudo de novo. Estamos batalhando".

A Bandeirantes do Saboó já se considera pronta para sair às ruas. Segundo a presidente Clarice Gomes Mazagão, a escola pretende aproveitar o enredo sobre a paz, as fantasias e as alegorias preparadas para o desfile de 2001, que não aconteceu. "O pessoal tá louco para entrar na avenida", afirma. O aluguel da sede para eventos esportivos tem garantido a sobrevivência da entidade.
 

PERSONAGEM
Anselmo Dias dos Santos

Na Unidos dos Morros desde que nasceu, o coreógrafo de 23 anos está encarregado este ano da comissão de frente da escola Águia Vicentina. Segundo ele, a coreografia é montada em um dia, mas os ensaios já duram três meses. Anselmo comenta que sua família toda sempre participou da Unidos e torce para que possa voltar a desfilar pela escola. "Meu pai morreu na quadra e o palco hoje tem o nome dele".


Escola perdeu metade da quadra em 2003 devido a aluguel atrasado
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

X-9 tem nova diretoria e vai reformar quadra

A mais tradicional escola de samba de Santos, a X-9, que já chegou a se apresentar no Rio de Janeiro, está começando a juntar os "pedaços" que foram se espalhando nos últimos anos. Uma nova diretoria assumiu em janeiro, a quadra será reformada e está sendo iniciada uma campanha para chamar os associados de volta.

O tema para o próximo Carnaval já está definido. Será uma homenagem a uma grande personalidade da Cidade, ainda não revelada pela diretoria.

Segundo o presidente Leandro Chadad, parte da quadra da escola, que era alugada, teve de ser entregue em 2003 devido a pagamentos atrasados. No total, a entidade acumula uma dívida de R$ 130 mil, também referentes a IPTU e ações judiciais. "Pegar a X-9 hoje é um desafio", comenta.

A bateria é a única que permanece ativa, participando de eventos e de desfiles de outras escolas. Este ano, a bateria vai integrar as escolas X-9 Paulistana e a Tucuruvi.

O presidente comenta que a partir de março será iniciada uma série de atividades visando resgatar a escola, como oficinas de Carnaval para adultos e crianças e eventos para arrecadação de fundos. O primeiro será realizado no dia 19 de março. Será um almoço para 300 pessoas. A intenção é reunir a velha guarda da escola e colaboradores. "A X-9 é que nem o Corinthians, tem uma torcida fiel", diz Chadad.

Para o presidente, as escolas de samba precisam encontrar alternativas para se manter o ano todo, sem depender somente do Poder Público. "Há verbas do Ministério da Cultura e do Governo Estadual que pretendemos buscar".

Ele apóia a idéia do Carnaval Metropolitano. "Na época do Justo (Oswaldo Justo, ex-prefeito) era assim e a gente tinha o segundo melhor Carnaval do Brasil", lembra.

MEMÓRIA
A última vez que Santos teve desfile de Carnaval foi em 2000, na Avenida Bartolomeu de Gusmão. Para garantir a apresentação, a Prefeitura teve que recorrer à Justiça para a obtenção de uma liminar. Isso porque desde 1997 que a Cidade não contava com os desfiles devido a uma liminar obtida naquele ano pelos moradores de prédios da orla do José Menino. A decisão judicial havia proibido o uso de amplificadores de som em eventos promovidos na praia. Em 2001, o desfile voltou a ser suspenso devido a um impasse com relação ao local onde aconteceria a festa. As escolas não concordaram com a proposta da Prefeitura em realizar o evento na Avenida Portuária. Em 2002, o problema foi financeiro: Prefeitura e escolas não entraram em acordo e o desfile foi novamente cancelado.


Ele lamenta o fim dos desfiles
Foto: Irandy Ribas, em 22/12/2004, publicada com a matéria

Secretário destaca importância cultural e turística

O secretário municipal de Cultura, Carlos Pinto, acredita que o desfile de Carnaval tem importância cultural, turística e política para a Cidade. "Um administrador também tem que trabalhar de acordo com o que a população reivindica. Muitas vezes faço coisas que não são do meu agrado, mas é de um grupo específico".

Para ele, as 7 mil pessoas que compareceram ao Carnabonde no último dia 29 demonstraram que a população gosta da festa. Pinto, que já participou da Império do Samba e da X-9, classifica como uma "bobagem" a suspensão do desfile nos últimos cinco anos.

O secretário também lamenta quando vê grupos da região participando do desfile de São Paulo. "O Carnaval daqui era melhor do que o de São Paulo, tanto que até hoje vemos o pessoal daqui desfilando em escolas de lá. Me dói ver o grupo de dança de rua do Centro de Cultura, por exemplo, na comissão de frente da Nenê de Vila Mathilde".

Ele está otimista com a idéia do Carnaval Metropolitano, mas comenta que não espera um grande desfile já em 2006. "Vamos começar do zero, depois vai melhorando". Além de Santos, São Vicente e Cubatão, que já estão envolvidas no evento, ele espera que outras cidades que têm tradição carnavalesca, como Mongaguá e Guarujá, também participem.

PERSONAGEM
Fernando Negrão

O compositor e intérprete de 25 anos é mais um que foi buscar o Carnaval de outras cidades depois que Santos ficou sem desfile. Três escolas de São Vicente vão entrar na avenida este ano com músicas compostas por ele e uma outra contará com o músico como intérprete. Já rouco de tanto ensaiar, Negrão conta que sua escola do coração é a Real Mocidade Santista, para a qual pretende voltar a desfilar em 2006.


Tricanico: plenária em março vai eleger comissão organizadora
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Liga promoverá cursos de atualização para as escolas

A Liga das Escolas de Samba de Santos vai iniciar no segundo semestre o Projeto Barracão, do Governo do Estado. Na parceria, as escolas de samba disponibilizam os locais e indicam os alunos, e o Governo manda os instrutores para ministrar diversos tipos de aulas voltadas ao Carnaval, como enredo, fantasia, mestre-sala e porta-bandeira e comissão de frente.

A entidade também pretende realizar cursos de jurados. "Há necessidade de se reciclar as escolas de Santos", afirma o presidente da liga, Edison Tricanico. Ele comenta que, por enquanto, as cidades mais mobilizadas em torno do Carnaval Metropolitano são Santos, São Vicente e Cubatão. No total, a Baixada conta com 53 escolas de samba, segundo ele.

"Em março, vamos fazer uma plenária com todos os secretários de Cultura da Baixada e representantes do Governo do Estado e das escolas, de onde serão tiradas metas para o desfile de 2006". Na reunião, deverá sair uma comissão organizadora do evento.

A intenção é abrir inscrição para as escolas interessadas em desfilar. Após o Carnaval de 2006, seriam definidos os grupos de escolas para os próximos anos. Ele acredita que a regionalização da festa tornará as escolas de Santos mais fortes. "Elas não vão mais disputar entre si e deverão se unir para superar outras cidades".

Verba - Tricanico afirma que a verba municipal para incentivar as escolas ainda não está definida. "As escolas é que vão negociar com suas prefeituras". No último desfile de Santos, a ajuda de custo foi de R$ 60 mil por escola. Os presidentes das agremiações estimam que um desfile custe em média R$ 120 mil.

Mas o presidente da liga aconselha as escolas a terem planejamento e buscarem outras fontes de recursos, já que a verba municipal normalmente é liberada pouco tempo antes da festa.