Lydioneta, em foto de 1950, tendo à esquerda a irmã Euclydia, que deixou saudade
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Lydioneta
Cleide Quintas
Lydioneta Augusta de Jesus Pinheiro, a mais antiga
sambista da região, é considerada como uma espécie de patrimônio do carnaval santista. Está com 88 anos de idade e há 64 participa da folia, ainda
com muito gingado e samba no pé, apesar de quase já não enxergar. Neste carnaval (N.E.: de 1990),
como vem fazendo há alguns anos, pretende somente assistir ao desfile das escolas de samba.
Não diz sua preferência para não magoar ninguém, já que junto com a irmã Euclydia
(falecida) foi uma das fundadoras da X-9, da Império do Samba, Brasil e várias outras. Nas quadras das escolas, Lydioneta é sempre aguardada, por
representar o símbolo vivo do samba de Santos.
Neta de um africano da Nação Nagô, nasceu em Rio Claro (interior de São Paulo), vindo
para Santos com a mãe, uma ama-de-leite que viveu até os 103 anos. Desde meninas, Lydioneta e Euclydia gostavam de ouvir o avô cantar em Nagô,
envolvendo-se com o ritmo que as "obrigava a dançar". Assistiam aos cordões que desfilavam no carnaval e acabavam entrando no meio do batuque.
Em 1926 juntaram um grupo de baianas denominado - segundo Lydioneta, Baianinhas
Teimosas ("Baianinhas do Bonfim", para o estudioso J. Muniz Jr., em seu livro Panorama do Samba Santista) -, mais tarde transformado em
rancho, passando a chamar-se Arrasta a Sandália. O traje de baiana ("porque gosto de saias rodadas e vistosas") foi a única fantasia usada em toda
sua vida. E era com essas roupas que, em dupla com a irmã, desfilava na X-9, depois que sua rancho-escola encerrou atividades, logo após a
oficialização do carnaval, em meados da década de 50.
Lydioneta é aposentada do Estado, como inspetora de alunos, e foi auxiliar de
enfermagem e parteira, tendo recebido as primeiras aulas do médico e poeta Martins Fontes, na Santa Casa. Atuou no Departamento Médico da antiga
Companhia Docas de Santos, e foi muito ativa na Cruz Vermelha, especialmente na Revolução de
32. Recebeu, por isso, o título de "Mãe-Símbolo" da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil. É viúva e tem um filho adotivo.
Desfile de escola de samba em Santos, final da década de 1980
Foto: Encarte D.O. Urgente, Santos/SP, fevereiro de 1990
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