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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Sem obras, inauguraram a placa

Faltavam verbas, não havia o que anunciar, era preciso inaugurar algo...

Emblemática de uma época de estagnação econômica que começara algum tempo antes e se prolongaria por bom tempo depois, esta situação ocorreu em 28 de janeiro de 1986, data em que, com a presença de ministros e outras autoridades federais e estaduais, seriam concentradas em Santos as comemorações de mais um aniversário da Abertura dos Portos promovida em 1808 pelo Visconde de Cairu.

Estatizado desde 1978 e aguardando a privatização que só começaria em 1993, o porto de Santos não tinha muito o que apresentar em termos de novidades positivas. A maior obra em cinco anos no porto de Santos (ampliação do trecho Valongo-Paquetá), então anunciada como prestes a começar, seria adiada por mais algum tempo e, depois de iniciada, seria abandonada sem nenhum trecho concluído, pelas décadas seguintes. Então, para marcar a presença das autoridades e justificar os flashes dos fotógrafos, foi inaugurada uma placa.

O fato foi registrado pelo editor de Novo Milênio, então responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante em Todo o Mundo do jornal O Estado de São Paulo, na edição de 4 de fevereiro de 1986:

Sem obras prontas, destaque para a placa...
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

NOS BASTIDORES

Inauguraram a placa

Refletindo um ano de muitos planos, muita política e pouca verba, o setor de transportes comemorou o 28 de Janeiro (Dia da Abertura dos Portos) inaugurando apenas uma placa em que se informa que inúmeras autoridades estiveram em Santos para comemorar a data.

Antigamente, a festa incluía a entrega de alguma obra de vulto para a melhoria do sistema portuário, como os terminais de granéis líquidos e gasosos de Aratu, a ampliação e remodelação do porto do Recife e as melhorias introduzidas no porto de Paranaguá.

Santos - que ora se prepara para iniciar as obras de ampliação do cais Valongo-Paquetá, ampliação do Tecon e duplicação do corredor de exportação de cereais, entre outras obras menores - merecia uma placa com um texto de maior significado que a mera exaltação dos principais convidados para uma solenidade...


Autoridades federais e estaduais visitaram o porto santista, em 28 de janeiro de 1986
Foto: José Dias Herrera

Na mesma edição, outra matéria enfoca a cerimônia, com detalhes:

Ministro Afonso Camargo destaca a gravidade dos problemas nacionais
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Cerimônias marcam a Abertura dos Portos

"Somente pela dedicação ao trabalho dentro dos interesses nacionais é que podemos conduzir nossa pátria pelos anos conturbados que temos pela frente. São graves os nossos problemas. Não devemos consentir que as pressões e os sacrifícios nos conduzam ao desânimo ou a atitudes negativistas. Que o exemplo do Visconde de Cairu ao levar a Carta Régia ao príncipe ilumine a trajetória a seguir. E que esta geração consiga alicerçar neste país valores espirituais, culturais e de respeito ao Homem, de modo que nossos filhos possam ter uma vida melhor dentro da democracia, da liberdade e da esperança."

Estas palavras finalizaram o discurso do ministro dos Transportes, Afonso Camargo, pronunciado em Santos em alusão ao 178º aniversário da Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas, comemorado nas dependências do porto santista, com a presença do governador paulista Franco Montoro, do ministro da Marinha, Henrique Saboya, do presidente da Portobrás, Carlos Theóphilo de Sousa e Mello e do presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Hélio Nascimento.

O discurso do ministro foi pautado sobre uma comparação entre as condições de nossa economia atual e as de há 178 anos, mostrando que "como ontem, o Brasil tem que alicerçar no processo de exportação a base do equilíbrio de sua balança comercial. Como ontem, nossos portos são chamados para este grande esforço. Em 1985, pelos portos brasileiros, passaram 27 bilhões de dólares em mercadorias destinadas aos mercados externos e 15 bilhões de dólares em mercadorias importadas. Ao todo, foram movimentadas nos portos mais de 320 milhões de toneladas, recorde de movimento portuário do Brasil". Para enfrentar esse desafio, ele explicou ter em 85 buscado traçar as diretrizes de uma nova política portuária, buscando a otimização da eficiência operacional dos portos e a execução de investimentos novos de curta maturação, destinados precipuamente ao programa de exportações.

"A inauguração pelo presidente José Sarney do porto de Vila do Conde, no estado do Pará, para a movimentação de alumínio e seus insumos; a entrega à operação de novos trechos de cais em Recife, especialmente para conteineres; o início de construção do terminal de granéis sólidos em Aratu, na Bahia; o início da construção do terminal de grãos em Vitória, para escoamento das safras da região do Cerrado; a instalação de equipamentos de grande capacidade nos portos do Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá e Rio Grande; a entrega de novo trecho de cais no porto de Itajaí, em Santa Catarina; a dragagem de 50 milhões de metros cúbicos de material de assoreamento de canais de acesso e de bacias de evolução, mantendo-se todos os portos em condições adequadas de acesso, marcaram com proeminência os investimentos realizados pela Portobrás em 1985.

"Dentro de poucos dias estaremos firmando com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social um contrato de financiamento para a construção de 2.200 metros de cais, compreendendo o trecho desde o Valongo até Paquetá, parte do programa de modernização dos portos definido pelo eminente presidente José Sarney. Este será o maior investimento que o porto de Santos recebe nos últimos cinco anos. São seis modernos berços para melhor atender a economia nacional, tanto para a exportação como para a importação".

Foi também lida - como em todos os demais portos nacionais - a ordem-do-dia 0001/86 assinada pelo contra-almirante Hernani Goulart Fortuna, diretor de Portos e Costas do Ministério da Marinha, exaltando a figura do visconde de Cairu e a problemática portuária atual:

"É necessário um esforço governamental de recuperação do sistema portuário, com o aperfeiçoamento dos terminais especializados e dos corredores de exportação, bem como da racionalização da mão-de-obra disponível. A redução de custos é uma meta que terá de ser perseguida com obstinação e competência pelos armadores privados e estatais, em face da alta competitividade do transporte marítimo. A presença de navios sofisticados exige, obrigatoriamente, instalações portuárias compatíveis com a maior rapidez nas operações de carga e descarga. A automação é, assim, indispensável para que esses objetivos sejam alcançados.

"O subsídio é uma arma eficiente quando empregada com competência. Nenhuma nação marítima abre mão de sua utilização. Se houver sabedoria e patriotismo, o subsídio transforma-se em incentivo e fator de defesa dos legítimos interesses nacionais. Se houver paternalismo e desconhecimento, o subsídio é apenas um convite à ineficiência e à desorganização de todo o setor marítimo. Os eixos de comunicação e do progresso econômico são mais densos no hemisfério Norte e o Brasil, para interceptá-los, precisa ultrapassar um determinismo geográfico, superando a tirania da distância".

Além dos discursos e do descerramento de placa comemorativa, no cais junto ao armazém 32 - onde está montada uma exposição de painéis fotográficos e de equipamentos recém-adquiridos, e no qual a Codesp investiu cerca de Cr$ 5 bilhões na recuperação (que incluiu reforma de piso, substituição de portas e estruturas metálicas e modernização das instalações elétricas e hidráulicas), as autoridades visitaram as instalações do armazém, encerrando a cerimônia, que incluiu também um discurso do governador Franco Montoro.

O governador Franco Montoro foi um dos oradores na cerimônia santista
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Soamar/recepção - Também em comemoração à data da Abertura dos Portos, foi realizado no Iate Clube de Santos um almoço promovido pela Sociedade Amigos da Marinha (Soamar/SP-Santos), em homenagem ao ministro da Marinha, Henrique Sabóia, com a participação de membros da entidade, da diretoria do clube anfitrião e outras autoridades.

O significado da comemoração foi destacado pelo membro do conselho da Soamar santista, Mauro Lúcio Alonso Carneiro, lembrando a contribuição de Santos e sua gente para o crescimento do setor portuário nacional. Terminou homenageando o ministro com uma redondilha de Vicente de Carvalho, o Poeta do Mar, santista de nascimento: "Haverá queixa mais justa/que a do feliz que se queixa/ai, o bem que menos custa/custa a saudade que deixa".

No encontro - que contou com a presença dos titulares das Soamares de Santos, Felício Agostinho da Purificação Souza, e de São Paulo, Fernando Nunes Cunha - falou também o capitão dos portos Sérgio Ribeiro de Vasconcellos sobre a data, enaltecendo a maritimidade do povo santista e a cooperação da Soamar local.

E o vice-comodoro Moura Andrade agradeceu em nome do Iate Clube a presença do ministro e demais autoridades e convidados, entregando a seguir uma flâmula da entidade. Após a saudação do prefeito santista Oswaldo Justo, o ministro Saboya disse que a Marinha não poderia deixar de estar presente em Santos, no aniversário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, porque a data comemora um dos primeiros atos da independência do Brasil, e porque Santos, um dos maiores portos da América Latina, congrega o maior número de portuários do país.

Em 1986, as festividades principais do 28 de Janeiro realizaram-se no porto santista
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Manaus: museu - A Administração do Porto de Manaus (APM) comemorou o 28 de Janeiro destacando o primeiro aniversário do Museu do Porto de Manaus, comemorado naquela data. Nesses 12 meses, mais de seis mil pessoas visitaram o museu e conheceram um pouco da história do porto de Manaus e da navegação na Amazônia. O museu situa-se no boulevard Vivaldo Lima, 61, próximo da Assembléia Legislativa, em Manaus.

Paranaguá: medalhas - A Capitania dos Portos do Paraná e a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) comemoraram no centro administrativo desta entidade paranaense os 178 anos da Abertura dos Portos e o Dia do Portuário. A cerimônia compreendeu o hasteamento das bandeiras, leitura peo capitão-de-fragata Ronald Cardoso Guimarães e pronunciamento do titular da APPA, eng. Olivo Zanella.

Na oportunidade, a Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística, representada pelo presidente, comendador Roberto de Aquino Lordy, entregou a várias personalidades a Medalha D. João VI: a Olivo Zanella, a Dirceu Budant (diretor da APPA), a Eloy P. Marcondes Albuquerque (presidente da Soamar/Paranaguá), a Roberto H. Barros (Soamar), capitão-tenente Jorge Alberto Walck; e ao capitão-de-fragata Ronald Cardoso Guimarães, que também recebeu a medalha Visconde de Mauá.


O armazém 32 do porto, recém-reformado, foi o local escolhido para a solenidade em Santos
Foto: José Dias Herrera

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