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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - COLISEU
Coliseu: teatro, cinema e elefante branco (5)

Demoradas obras de restauração: mais de uma década
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Em 1983, com a notícia de que o imóvel seria desapropriado, surgia a esperança de rápida recuperação das instalações do Cine-Teatro Coliseu - o que só ocorreria de fato 21 anos depois. Essa expectativa foi registrada pelo jornal santista A Tribuna na edição de 24 de fevereiro de 1983:
 

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O Coliseu, próximo da ressurreição

Depois de muitas controvérsias, declarações inflamadas e muita luta, o Teatro Coliseu pode, brevemente, voltar a se iluminar para receber montagens teatrais, companhias de dança e outros espetáculos cênicos. Tudo porque o Condephaat decidiu-se pela desapropriação do imóvel - cuja demolição chegou a ser iniciada - iniciativa que, ao que tudo indica, não deverá demorar a ser concretizada.

Depende de Marin

São Paulo (Sucursal) - A consumação da desapropriação do Teatro Coliseu depende agora somente do governador José Maria Marin, ao qual foi encaminhado na terça-feira, pelo secretário da Cultura, João Carlos Martins, pedido de urgência para a conclusão do processo deflagrado por parecer do Condephaat, que sugeriu a aquisição do imóvel pelo Estado e sua cessão, em comodato, para grupos teatrais.

Não há, contudo, prazos rígidos para que o governador declare o Coliseu de utilidade pública, o que será feito através de decreto. A informação é de Murilo Marx, que ontem exercia funções de presidente do Condephaat, porque seu titular viajara.

Ele reiterou que o tombamento seria suficiente para a preservação física da sede do teatro, mas a desapropriação é que realmente possibilitará o retorno do Coliseu à sua condição de casa voltada para a atividade teatral, como reivindica a própria comunidade.

Na opinião de Murilo Marx, a mudança de governo, com a posse do governador eleito Franco Montoro, não deverá dificultar a desapropriação do Coliseu, nem seu reaproveitamento como teatro, pois "a comunidade santista está muito mobilizada e exercendo pressões capazes de motivar qualquer governante em favor de sua reivindicação".

Freixo contente

Uma decisão que é uma vitória da Cidade e que também agrada à empresa proprietária do imóvel, a Freixo Cine Teatral. Assim é definida pelo advogado da empresa, Carlos Augusto Corte Real, a iniciativa do Condephaat, de desapropriar o Teatro Coliseu. A decisão, tomada durante reunião do órgão, estendeu também as desapropriações aos teatros TBC e Oficina, em São Paulo, enquanto no mesmo encontro foi resolvido o tombamento da Serra do Mar.

Na realidade, a desapropriação do Coliseu não pode ser tomada como um fato definitivo: "Acho mesmo - diz Corte Real - que dizer-se que o Coliseu foi desapropriado é um pouco precipitado. Porque a desapropriação só tem início efetivo a partir de um decreto declarando de utilidade pública o imóvel a ser desapropriado. E compete ao Governo do Estado assinar esse decreto, o que evidentemente ainda não foi feito, mesmo porque não houve tempo hábil para isso, já que a decisão do Condephaat foi tomada terça-feira".

A luta pela conservação do Teatro Coliseu tem sido longa e movimentado os vários setores culturais da Cidade, que não querem perder o velho e bonito espaço cultural, que já recebeu consagrados artistas nacionais e internacionais. No entanto, a Freixo havia se decidido por derrubar a construção, uma vez que não via nela nenhuma possibilidade de lucro: "Para realizar essa demolição - explica Corte Real - seguimos todo o processo exigido pelas normas municipais, obtendo inclusive licença da Prefeitura. Quando surgiu a notícia do possível tombamento do prédio, nós não havíamos sido intimados. Mais tarde, fomos intimados legalmente pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado e imediatamente suspendemos a demolição".

Mas, com a notícia do possível tombamento do prédio, a Freixo sentiu-se financeiramente prejudicada, uma vez que se afastaram os parceiros de um empreendimento comercial que surgiria no lugar do Coliseu. Deu entrada, então, com ação ordinária na Justiça, objetivando proteger seus direitos de proprietária.

Corte Real espera solução rápida
Corte Real entrou também com uma contestação longa e exaustiva, na qual afirmava que se o objetivo era preservar o Coliseu como teatro e espaço cultural, o tombamento não resolveria o problema: "Com o tombamento, o proprietário não é despojado de seu direito de uso do imóvel. E a Freixo tem consciência de que a atividade teatral não apresentaria resultados financeiros satisfatórios, pois acredita que o local onde o Coliseu se ergue afasta o público, uma vez que o Centro à noite ganha características peculiares, e porque os preços a serem cobrados teriam que ser muito altos. Sugerimos então que o Estado assumisse o ônus e os encargos da manutenção do teatro, concluindo que a maneira mais viável para isso seria a desapropriação".

Corte Real lembrou ainda, em sua contestação, que o tombamento atingiria também os imóveis vizinhos, que não poderiam passar por nenhuma alteração, o que acarretaria problemas a outras pessoas. "Parece que nossos argumentos foram ouvidos, tendo-se concluído pela desapropriação. Mas é bom sempre lembrar que essa desapropriação deve ser colocada em termos futuros. Somente após a assinatura do decreto de utilidade pública, pelo Executivo, ela tem início e a partir dessa assinatura há um prazo de cinco anos para que o Estado entre com o processo de desapropriação. Se nesse período de tempo o processo não der entrada, o imóvel fica automaticamente liberado, podendo seus proprietários fazerem uso dele como entenderem melhor".

O advogado explica ainda que existem dois tipos de desapropriação: a amigável e a litigiosa, esta envolvendo o Poder Judiciário. "No nosso caso, acredito que a amigável seja mais difícil. Estamos em fim de governo, não há verbas. Acredito mais na litigiosa, que não se confunde com a ação ordinária, a que demos entrada na Justiça, em relação aos prejuízos sofridos com a divulgação da notícia sobre o tombamento".

Na desapropriação litigiosa, o Estado entra na Justiça, oferece um preço (em geral, o valor venal do imóvel) e o proprietário aceita ou não. Nesse processo está em discussão apenas o valor a ser pago, uma vez que a desapropriação é algo já definitivo. Segundo Corte Real, se houver realmente a desapropriação litigiosa, a Freixo permanece tranqüila: "Confiamos na decisão do Poder Judiciário".

O teatro - Mas Corte Real faz um alerta à Prefeitura e a outros órgãos competentes: "Não será suficiente a desapropriação e a iniciativa de fazer o Coliseu voltar a funcionar como teatro. É necessário provocar a metamorfose daquela área, que apresenta muitos inconvenientes. Pode-se considerar o local como uma área de degradação social, e isso tem que ser mudado para que o Coliseu receba normalmente o seu público".

Até que tudo esteja legalmente decidido, o velho Coliseu continuará a funcionar como cinema (em geral estão em cartaz filmes classe C, destinados a um público específico, freqüentador da área). O processo de demolição, que já tinha sido iniciado pela Freixo, deu fim ao palco, às coxias e aos camarins do teatro. Dentro do cronograma da demolição, essa era a primeira parte a ser posta abaixo, enquanto o restante continuava a funcionar normalmente como cinema.

Por isso o Coliseu permanece de pé apenas até os limites da tela. No lugar do palco ficou um buraco, mas segundo Corte Real, "essa área deve ser de fácil reconstrução". Permanece intacto, ainda, o artístico teto do teatro, com uma pintura do italiano Fonzari, uma concepção alegórica intitulada A Consagração da Música e da Comédia. A cena representa Euterpe apreciando uma revoada de serafins, enquanto Tália segura os símbolos da comédia e da tragédia".

"De tudo isso - encerra Corte Real - pode-se concluir que foi uma vitória da cidade. A nossa expectativa, agora, é de que tudo termine bem, o mais depressa possível".

Grandes montagens

Um dos mais atuantes empresários artísticos, que tem trazido a Santos inúmeras (algumas importantíssimas) peças teatrais e shows, Antônio Graça não esconde sua satisfação com a anunciada desapropriação do Teatro Coliseu: "Com a crise que estamos vivendo, as pequenas montagens teatrais tendem a diminuir e até desaparecer. Somente as grandes - como Chorus Line e Evita - podem sobreviver, e Santos, sem um espaço viável para apresentá-las, fica marginalizada, impedida de ver bom teatro".

Graça tem planos

Graça lembra que o Teatro Municipal, apesar de bem aparelhado, não apresenta, com seus 544 lugares, condições para que as grandes montagens venham a Santos: "Não há viabilidade econômica. Os lugares são poucos, a renda obtida não dá para pagar essas peças, entre as quais podemos até incluir Amadeus, montagens caríssimas".

Por isso, se o Coliseu voltar a funcionar como teatro, será uma ótima opção: "O custo para a restauração total do Coliseu seria bem grande. Mas prepará-lo para começar a funcionar como teatro não seria tanto. A estrutura do teatro permanece, com a platéia, as frisas, o foyer, os camarotes e balcões de 1ª e de 2ª e ainda o anfiteatro. São mais de 1.500 lugares aproveitáveis, no total, o que pode inclusive resultar no barateamento do preço dos ingressos de espetáculos de teatro. Além disso, abre perspectivas para as pessoas de menor poder aquisitivo, que podem assistir às programações nos lugares de preços mais acessíveis".

Antônio Graça acha ainda que o Estado - que deverá desapropriar o imóvel - agiria mais corretamente se entregasse a administração do teatro à Prefeitura: "Afinal, o Poder Municipal já tem know-how na administração do Teatro Municipal, uma certa estrutura que lhe facilitaria administrar também o Coliseu. Além disso, os salões de cima do Coliseu poderão ser transformados em salas de balé, galerias de arte, enfim, em espaços destinados à arte e à cultura. Se realmente essa desapropriação for efetivada, será a melhor coisa já acontecida a Santos nos últimos anos, em termos de cultura".

Solução harmoniosa

A presidenta do Centro de Expansão Cultural, Carolina Martins Costa, outra voz que sempre se levantou contra a destruição do Coliseu, está radiante: "Eu já aguardava isso, tinha informações vindas de São Paulo de que essa medida seria tomada. E foi, afinal, uma excelente solução, que no meu entender não prejudica a família Freixo, proprietária do imóvel".

Carolina não vê problemas no local
Carolina Costa lembra que sempre que o Expansão precisou do Teatro Coliseu foi muito bem recebido pelos Freixo: "Mas Santos não poderia nunca perder o seu teatro, sobre o qual sempre ouvi falar que é o quarto do Brasil, em termos de tamanho e capacidade de público. Pretendíamos uma solução bem harmoniosa e, pelo visto, foi o que aconteceu".

A presidenta do Expansão conta que desde o início da entidade, há 35 anos, as apresentações por ela promovidas eram realizadas no Coliseu, com longas filas espalhando-se pelos arredores: "Nós usamos muito aquela casa, e sempre sem problemas. A última vez foi há aproximadamente dois anos, quando trouxemos a Santos a Sinfônica do Estado regida por Eleazar de Carvalho. Como nas promoções anteriores, a nossa única medida tomada foi pedir reforço de policiamento, o que realmente aconteceu, sem que se registrasse nenhum incidente. Por isso não concordo com os argumentos de que o local onde o Coliseu se localiza não é apropriado para receber o público freqüentador de bons espetáculos".

Agora, com a possibilidade de o Coliseu voltar a funcionar como teatro, o Centro de Expansão poderá, também, voltar a trazer a Santos grandes companhias de balé e outras atrações. "Inclusive os grupos de dança da Cidade - afirma Carolina costa - poderão utilizar o local para boas montagens".

Para reafirmar a importância e o valor do Coliseu, a presidente do Centro de Expansão conta uma pequena história: "Exatamente nessa última promoção da entidade, faziam parte da Sinfônica Estadual seis artistas americanos, contratados da orquestra. Eu estava no palco quando os vi olharem admirados para o teatro e comentarem em seu sotaque característico: "É muito bonito! Que beleza de teatro vocês têm aqui! Falta apenas melhorar a sua acústica".

"Por isso - conclui Carolina Martins Costa - temos confiança de que o Coliseu vai continuar na ativa, servindo culturalmente à Cidade. Basta que todos nós, santistas, trabalhemos para isso".

Casa em ordem

Quando ainda participava da Comissão Municipal de Cultura, por volta de 1966, quando Sílvio Fernandes Lopes era prefeito de Santos, Carlos Pinto já defendia a desapropriação do Coliseu. Foi a época em que se iniciaram os projetos para a construção do Teatro Municipal, e ele saiu em defesa de reestruturação do Coliseu, que considerava muito mais barata do que a construção do novo teatro.

Carlos defende a reestruturação

Hoje, Carlos Pinto, um nome sempre ligado à cultura - em especial ao teatro e, mais especificamente, ao teatro amador - também está contente: "A atitude do Condephaat preserva não apenas um patrimônio cultural que é do santista, mas que também tem história no teatro brasileiro". Mas ele também faz uma ressalva: "Não interessa apenas a desapropriação. "É preciso colocar a casa em ordem e pô-la para funcionar".

Ex-presidente da Federação de Teatro Amador Santista e da Confederação Estadual, nas épocas áureas do teatro amador, Carlos Pinto continua até hoje ligado em teatro. É o responsável pelo Centro de Cultura da Prefeitura de Cubatão, diretor do Teatro Procópio Ferreira, ali instalado. Com seus muitos anos de experiência, sabe que um novo espaço cultural para Santos é muito importante.

"Eu, pessoalmente, estive no Instituto Nacional de Artes Cênicas e conversei com o presidente do órgão, pedindo providências em relação a outro teatro santista, o Independência, que está fechado. Vamos ver o que pode ser feito a respeito. Se Santos tiver três espaços para as artes cênicas terá, sem dúvida, melhores condições de revitalizar seu panorama cultural".

Especificamente em relação ao teatro amador, ele não acredita que apenas com mais espaço para os grupos apresentarem seus trabalhos o movimento possa retornar à sua fase áurea: "Será, não nego, uma boa ajuda, mas só isso não basta. O problema é a cabeça das pessoas. Acho mesmo é que os dirigentes teatrais amadores deveriam parar de se meter em política e partir para um trabalho sério".

Quanto ao Coliseu, não tem dúvidas: "Só vai beneficiar. Mas está desfigurado e precisa ser reestruturado. Além disso, o centro da Cidade, onde ele está localizado, precisa ser revitalizado, deixando de ser ponto de encontro de marginais".

Em breve a entrada do Coliseu poderá receber seu antigo público

Passado glorioso

Pesquisa A Tribuna

O Coliseu tem três fases distintas. A primeira começa em 1896, quando se denominava Companhia Coliseu Santista, fundada por José Luís de Almeida Nogueira, Heitor Peixoto, Ricardo Travessedo e Henrique Porchat de Assis. No entanto, não se tratava nem de cinema nem de teatro, apenas "velódromo e frontão", inaugurado a 18 de julho de 1897, e que desapareceu por volta de 1903.

Em sua segunda fase, o proprietário era Francisco Serrador e a inauguração foi em 23 de julho de 1909.

O atual Coliseu foi reconstruído pelo comendador Manuel Fins Freixo e inaugurado a 21 de junho de 1924, com o espetáculo "A Bela Adormecida".

Atualmente o Coliseu é freqüentado apenas pelos interessados em filmes de caratê e sexo, o que não condiz com seu passado, quando grandes nomes da arte cênica passaram pelos seus 2.300 lugares distribuídos entre poltronas, frisas, camarotes, galerias e gerais, destacando-se ainda as companhias de revista, como a Velasco com suas bailarinas espanholas, a companhia francesa Bataclan, a companhia Trololó, além de Walter Pinto com inúmeras temporadas.

Outras atrações que passaram pelo Coliseu: a célebre Beatriz Costa; Procópio Ferreira estreando "Deus lhe Pague"; Itália Fausta, fantástica em "A Ré Misteriosa"; o inesquecível Leopoldo Fróes; Aura Abranches; a dupla Dulcina e Odilon; Alves da Cunha; Conchita de Moraes; Palmeirim Silva; Laís Areda; Jayme Costa; Regina Maura ("Conceição da Costa Neves"); Clara Weiss; Eva Tudor ("As Loco-Motivas"); Alda Garrido e Manoel Pera.

Décio Stuart, os bailados russos, os concertos sinfônicos, o Orfeão Português, as companhias de ópera e opereta nacionais e estrangeiras - e os espetáculos de variedades também foram aplaudidos no Coliseu, além de Tônia Carrero, Paulo Autran, Nídia Lycia e Cleyde Yáconis, Cacilda Becker em "Pega-Fogo".

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