Fé e devoção movem há 250 anos a Irmandade dos Passos

Primeiros registros da entidade foram feitos pelo fundador da Vila de Santos, Braz Cubas

Viviane Pereira

Da Redação

A fé que move montanhas é a mesma que atravessa anos, décadas e séculos promovendo o sentimento religioso que é passado como herança de pai para filho. A devoção à Irmandade de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, que tem seus primeiros registros na cidade pelas mãos do fundador da vila de Santos, Braz Cubas, atravessa gerações e completa 250 anos de fundação, fazendo história.

A comemoração de dois séculos e meio de existência, em 1º de junho, é um marco que envolve não apenas os mais de 300 irmãos que atualmente se dedicam a essa devoção, aos irmãos carmelitas que colaboraram para a preservação do culto, mas também a todos que ajudaram a preservar a Irmandade na cidade.

Entre esses há irmãos ilustres, com parentes do patriarca da Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva (alguns primos, o irmão e o pai, que chegou a ser provedor), o conselheiro João Otávio Nébias, Mário Covas (pai do ex-governador Mário Covas Júnior), o ex-prefeito Rubens Ferreira Martins e tantos outros.

Fazem também parte desse registro pessoas como Maria Beatriz Pimentel Homem de Bittencourt, que entrou há 50 anos e vê com emoção sua assinatura feita ainda menina, com nove anos, no caderno da Irmandade, seguindo a tradição de toda a família: pais, tios e avós. "Desde pequena vou à procissão. Eu nasci e vivi na devoção. Lembro da minha avó rezando para Nossa Senhora das Dores, sentada na cadeira de balanço, e eu ao seu lado, ouvindo", recorda.

Esse é o espírito da tradição que também conquistou com sua força a provedora da instituição, Dagmar Marietto de Macedo.

A obra Cristo no Calvário ficará exposta para visitação no interior do templo da irmandade até amanhã

Foto de Irandy Ribas, publicada com a matéria

Obra de Calixto será restaurada

O festejo do jubileu, que teve início em junho do ano passado e culminou com uma missa realizada, na data oficial, na igreja da Paróquia do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, onde a Irmandade está sediada (depois de passar quase 200 anos no Convento do Carmo), ganha agora relevância nacional. A instituição promove campanha que visa arrecadar fundos para recuperar a maior obra de Benedito Calixto, o painel O Cristo no Calvário, de 9 metros de altura e 5,30 de largura.

Produzida sob encomenda pelo artista especialmente para a Irmandade em 1900, a tela revela os traços firmes do pintor em uma imagem impactante pela sua grandiosidade. Quem quiser conferir de perto a imagem deve aproveitar uma das raras exposições ao público, que está prevista para terminar amanhã, na Igreja dos Passos.

O artista plástico Ademir Costa, responsável pela equipe que fará a restauração da obra, explica que busca patrocínio. O custo será de R$ 200 mil. Os interessados podem entrar em contato pelos telefones 3284-0613 e 9173-5616.

SERVIÇO: IGREJA DO SENHOR DOS PASSOS E DE NOSSA SENHORA DAS DORES: R.JOÃO PINHO,15.

A missão desses 250 anos é manter viva essa devoção dos sete passos de Jesus.

30/05/2010
Cotidiano
Irmandade N.S. dos Passos completa 250 anos

Nesta terça-feira (1º), a Irmandade de Nosso Senhor do Bom Jesus dos Passos vai completar 250 anos de fundação. Para celebrar a festa, o grupo preparou uma programação especial, com direito a música, cerimônia religiosa e exposição. O ponto alto da celebração acontece neste sábado (29), com o concerto do grupo Madrigal Ars Viva, às 20h, na Igreja Paroquial do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores (Rua Mato Grosso, 367, Boqueirão).

Outro destaque é a exposição do painel "O Cristo no Calvário", que é uma das obras-primas de Benedicto Calixto. A tela, de 9 metros de altura por 5,30 de largura, foi pintada em meados de 1900 para homenagear a paixão de Cristo. Naquela época, o artista era integrante da irmandade, assim como o seu irmão João Pedro. A peça ficará exposta na igreja paroquial entre os dias 1º e 6 de junho.

A irmandade é uma associação de fiéis que se reúne para prestar culto a Jesus Cristo. A missão do grupo religioso é difundir a mensagem da Cruz, ou seja, os passos de Cristo até o Calvário. Além disso, a comunidade atua em prol de pessoas carentes, através de obras sociais, e incentiva eventos culturais da igreja. "O exercício da caridade é o reconhecimento da mensagem de Cristo, uma vez que ele entregou a própria vida para nos salvar", diz a primeira-secretária da irmandade, Maria Rachel Guimarães.

História - A Irmandade foi fundada oficialmente no dia 1º de junho de 1760, conforme consta no livro de mesas administrativas. O primeiro provedor da entidade foi Alexandre Luis de Souza e Menezes, que foi governador da Praça de Santos. Os registros históricos mostram que em 1765 foi estabelecido um convênio entre a Irmandade e a Ordem Carmelita.

Até mesmo o fundador da Cidade, Braz Cubas, já reverenciou Nosso Senhor dos Passos, como informa as anotações do estudioso Orselli. O estudo mostra que Braz Cubas ordenou “que o dia de sexta-feira , os ditos padres serão obrigados, em conta da mesma capela, dizer missa ao Senhor da Paixão”. O fundador de Santos mostrou a sua devoção quando doou terras aos carmelitas.

Além disso, os livros e atas de reuniões e assembléias revelam que muitas pessoas de renome na Cidade já participaram dos cultos da irmandade: Carlos Afonseca, Fernando Pacheco, Conselheiro João Octávio Nébias, Joaquim Xavier Pinheiro, entre outros.

Apesar disso, o grupo religioso lutou muitos anos para conseguir uma sede própria. Por isso, permaneceu quase 200 anos no Convento do Carmo. A situação piorou com a construção do Panteão dos Andradas, em 1922, quando a irmandade cedeu parte de suas instalações.

O impasse durou até o dia 14 de setembro de 1962, quando a Prefeitura doou uma pequena área na Praça dos Voluntários Santistas, ao lado do Colégio Canadá. Com a colaboração dos paroquianos, a Irmandade construiu uma capela, onde permanece até os dias atuais. Atualmente, o grupo religioso conta com aproximadamente 300 membros, que buscam semear a mensagem de Cristo e manter a tradição do Senhor dos Passos.