Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0188v2b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/05/17 14:17:47
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Catedral: história e histórias (2)

Leva para a página anterior
Este extenso trabalho sobre a Catedral de Santos foi organizado durante alguns anos pelo pesquisador de História e professor Francisco Carballa - muitas vezes narrando histórias em primeira pessoa por ter vivido naquela área -, e que em julho de 2017 enviou o material para divulgação por Novo Milênio:
 


Procissão do Senhor Morto, registrada em 15 de abril de 2006 pelo jornal santista A Tribuna

Foto: Davi Ribeiro, publicada em A Tribuna de 15/4/2006

FESTAS

Procissões e festas religiosas - Até os anos 1960 ainda se festejavam muitas datas e havia muitas oportunidades de se abençoar algo, ou levar para casa algo bento como as rosas de Santa Rita ou da Virgem do Amparo, no dia de São Cristovão benzer carros, chaves e carteiras de motoristas, festas de Páscoa das crianças quando ganhavam um pequenino ovo de chocolate etc.

Mas, nos anos 70, começou uma verdadeira extinção de tais práticas devocionais cristãs e hoje são lembranças de apenas algumas pessoas de idade e boa recordação.

Primeira procissão da Catedral - A primeira procissão que acolheu os fiéis dentro da Catedral de Santos está mencionada no Jornal A Tribuna (4 de outubro de 1924, página 2) foi no dia de sua inauguração.

Um membro da Irmandade do Rosário Aparecida, em um dia festivo do Ano Santo Mariano em 1988, deu o depoimento de quando a Matriz foi inaugurada e ele tomou parte nessa procissão e demais eventos dos dias festivos. A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos passou a ser matriz provisória em 20 de maio de 1906, pois a velha Matriz estava sem uso; a pedra fundamental da nova Matriz foi benta em 1909 e assim 15 anos depois foi inaugurado o novo templo e isso ocorreu no sábado, dia 4 de outubro 1924, quando finamente passaria a ter suas funções religiosas, mas de forma precária conforme se comprova em fotos antigas, em meio a andaimes e construtores.

O arcebispo metropolitano de São Paulo fora recebido na porta da Catedral pelo clero local e demais autoridades as 17h00 para a benção da igreja e a procissão saiu da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos as 18h00. Assim, essa igreja que foi matriz provisória a partir desse momento deixava de ter tal título. A procissão foi acompanhada pela Banda dos Bombeiros de Santos, saíram os fiéis levando à frente o Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Graça - nesse caso possivelmente Nossa Senhora do Amparo [11], São José, que atualmente esta no altar lateral direito [12], Santo António, Santa Inês (podendo ser Catarina de Alexandria), Santa Mônica seguindo todos os Santos que hoje estão em devoção na igreja desde aqueles anos - não há menção da participação de São Sebastião e Santa Catarina de Alexandria. Seguiu o cortejo pela Rua do Rosário que atualmente chamamos de Avenida João Pessoa, Rua Senador Feijó e Praça José Bonifácio onde está a Matriz.

No dia 5 de outubro ocorreu o translado do Santíssimo Sacramento as 18h00 segundo referência dos Congregados Marianos convocando-se todos com insígnias para essa procissão - o que nos leva a acreditar que a menção de 7h00 da manhá pode ter sido um equivoco do jornal. Vinha o palio trazendo o Santíssimo Sacramento e por estar o arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva, foi quem liderou as cerimônias. Não há menção de quem trouxe a custódia debaixo do pálio. Finalmente, foi entronizada a Eucaristia no sacrário houve uma missa às 8h00, muito solene com a presença do coral cantando motetos sacros, houve outra missa as 10h00 com o acompanhamento de uma orquestra e pregação do evngelho pelo cônego Luiz Gonzaga da Silva da Sé, houve outra missa as 19h00, que foi a celebração do Te-Deum.

Recorrendo aos jornais da época, vi os nomes dos que tomaram parte do cortejo e percebi que não perguntei de outras imagens presentes, como Santa Filomena, Nossa Senhora das Dores, o Senhor Ressuscitado, o Senhor Morto do Santo Enterro, se participaram desse cortejo - que foi majestoso, para o irmão que deu o depoimento no presbitério no ano de 1988, recordando que Nossa Senhora de Fátima foi entronizada posteriormente a essa inauguração, ganhando capela em agradecimento pela grande quantidade de portugueses que auxiliaram com suas esmolas e participação na construção do templo Santista.

Missa do galo às 24h00 - Tradicional no mundo cristão, ainda é mantida em altas horas em alguns locais, mas em outros teve seus horários mudados devido à mudança nos costumes e perigos que algumas localidades oferecem aos cristãos e isso também ocorreu com a nossa Catedral.

Recordo-me ainda em 1972, sendo do coral da Catedral, depois dos ensaios com a irmã Clarice. era a hora de cantar o Adeste Fidélis, Noite Feliz, Toca o Sino etc., todas as músicas de Natal tão comuns e arrebatadoras daqueles tempos antigos na missa que começava às 24h00 e se estendia por cerca de hora e meia - o que nos levava a sair da igreja mais ou menos as 1h30 da manhã, quando o padre colocava a imagem do menino no presépio, mas sendo um bairro populoso não tínhamos perigo, ao retornar para casa podíamos ver as pessoas em festa nas suas casas por ali, com mesas fartas, árvores de natal daquelas metálicas e pisca-pisca e muitos barulhos de alegria.

Festa de Fátima e a carrocinha - A Confraria de Nossa Senhora de Fátima da Catedral de Santos foi ereta em 1946 pela grande quantidade de portugueses existentes na cidade. Até a reforma do calendário brasileiro, o dia 13 de maio era feriado. Assim, a procissão de Nossa Senhora de Fátima da Catedral era muito tradicional na cidade de Santos, havendo um tríduo e no dia principal a festa.

Nossa Senhora era colocada em uma carrocinha dessas que ainda hoje se usam no ferro velho, existindo uma referencia do maestro Oscar da Banda Carlos Gomes que há mais tempo quem puxava essa carrocinha era um cavalo branco adornado com flores e penacho na cabeça; no meu tempo já eram pessoas puxando a peça.

Havia uma espécie de base colocada no carrinho, sobre a qual a Virgem ficava em seu arco de luz, o andor ricamente adornado com flores do tipo mosquito, crisântemos delicados e rosas e palmas cor-de-rosa; duas fitas enormes de tafetá chamalote na cor azul pendiam da Virgem até o povo, que as beijava com devoção.

Ficava em frente à capela, onde a Senhora fica o ano inteiro esperando para atender as orações dos filhos de Deus; no dia da festa, Nossa Senhora usava em suas mãos um rosário de ouro e outro de prata e, no lugar da coroa de filigrana portuguesa feita de prata, usava uma coroa de ouro, guardada pelo provedor, o senhor Vicente Mateus, natural de Portugal.

Ocorria um tríduo antes do dia da festa; depois de cada dia de oração, era servido um lanche à moda antiga para os devotos, no consistório da Irmandade de Nossa Senhora do Amparo, com salgadinhos, doces, refrescos e copinhos com vinho do Porto para os adultos.

No dia da festa, depois da missa das 18 horas, saía o cortejo esperado pela população, que aguardava sentada nas escadarias do Fórum e na Rua Braz Cubas, totalmente iluminadas por cordões de lâmpadas dos dois lados e repletas de cristãos. A Banda Carlos Gomes, ao ouvir os sinos da Catedral, começava a executar o hino Ave da Azinheira. Logo o senhor Basílio (apelidado de Turco) começava a cantar a música em seu tradicional megafone, carregado por três pessoas; diante da procissão ia o cruciferário ladeado por duas lanternas de procissão, sendo todos confrades com suas opas brancas; seguia-se a fila de homens e mulheres portando os veleiros processionais na cor branca, que era a oficial da Confraria de Nossa Senhora de Fátima da Catedral de Santos.

Vinham então o grande estandarte e o Rancho Português do Verde Gaio (do Centro Português de Santos), tendo seus componentes vestidos à moda de Viana do Castelo (as mulheres com seus trajes coloridos e floridos e os homens com camisas bordadas em ponto cruz, colete, terno e chapéu lusitano); o clero com o bispo dom David Picão vestindo sua capa de asperge, na frente da carrocinha que, para descer as escadarias do templo, era sustentada por uma leva de senhores que ajudavam a baixá-la sobre duas ripas de madeira nos degraus. A banda fechava a procissão, seguida pelo povo.

O percurso tradicional era Praça José Bonifácio, Avenida São Francisco (de Paula), Avenida Conselheiro Nébias, canal dos Campos Sales, Avenida Senador Feijó ladeando a Praça e voltando à Catedral, onde era recebida pelo repicar festivo dos sinos. Em meados dos anos 1970, a procissão passou a seguir pela Rua Marechal Pêgo Júnior para encurtar o percurso, e no nº 125, onde havia uma antiga residência com a frente reconstruída desde a explosão do gasômetro, estava sempre um lindo tapete de flores feito com pétalas brancas, rosas e palmas brancas esperando a passagem da Virgem Maria, preparado pela família do senhor Américo, que ali residia.

Com o fim do feriado do dia 13 de maio, a procissão passou a ser feita no domingo mais próximo do dia, mas aos poucos foi deixado o uso da carrocinha, dos veleiros, da banda e finalmente ficou muito simplificada, bem mais ao gosto minimalista de algumas pessoas. Vale recordar que quando recebemos a visita de Nossa Senhora vinda de Portugal, a imagem lusitana ficou no altar de Nossa Senhora do Amparo, ocupando o nicho central, sendo colocada na famosa carrocinha para sair na procissão; naquele dia, os vários grupos folclóricos ficaram ali ostentando flâmulas e bandeiras, entre elas as de Portugal e do Brasil; após a procissão, a enorme fita de tafetá chamalote azul era esticada e as pessoas beijavam a mesma, sem poder se achegar ao andor.

No dia 14 de maio, todas as flores do andor eram retiradas, após uma missa da confraria pela manhã, sendo distribuídas aos devotos. A imagem da Senhora era retirada com muita cautela e solenidade e recolocada no nicho do altar, onde ficaria até o ano seguinte. Contavam os confrades que o andor teria pertencido à Irmandade de Nossa Senhora do Amparo, e talvez isso explique o seu formato característico do século XIX, com seus artísticos entalhes.

Havia uma missa compromissal pelas manhãs de todo dia 13 de cada mês nessa capela, para os confrades e devotos. Já nos últimos anos, o andor de Santo António de Pádua passou a fazer parte da procissão e a Virgem não foi mais levada em sua carrocinha e sim em uma caminhonete, quando não no carro de bombeiros, e finalmente nos ombros dos seus devotos. Devido à decadência do bairro, as pessoas preferem acompanhar essa festa no Bairro do Santa Maria, onde existe uma igreja dedicada à Senhora, na paróquia de Nossa Senhora Aparecida, com a festa dos romeiros do cais do porto de Santos ou em outras igrejas que realizam a festa, o que vem determinando o fim da festa da Catedral.

No ano de 1972, recordo que enquanto a banda tocava o Ave Mãe Celestial, minha irmã tropeçou em uma macumba com frango na esquina da Rua Sete de Setembro com a Av. Conselheiro Nébias, para riso de muita gente e assombro da mesma. Algumas senhoras negras e morenas da confraria participaram da Segunda Grande Guerra, motivo pelo qual desfilavam com orgulho no dia 7 de setembro naquele grupo e também na Escola de Samba X9 na ala das baianas; não eram de falar muito, ficavam separadas em grupo, sérias na igreja e sempre rezando seus terços.

Cantavam rindo uma curiosa paródia do Hino Nacional: “Laranja da china, laranja da china, laranja da china,/ caqui abacate abacaxi, /quando eu morrer me enterre numa cova bem funda,/ pro urubu não vir bicar a minha...........” e assim ia o hino, só não sei se o aprenderam na Itália ou Brasil.

Festa da coroação de Nossa Senhora e a oferta de rosas - No ultimo domingo de maio, havia uma missa onde todos levavam rosas cor de rosa, eram ofertadas para Nossa Senhora onde se colocava a imagem da Virgem das dores com roupas alegres clarinhas, sem as lagrimas ou adaga característica da profecia de Simeão [13].

Havia a missa e Nossa Senhora ficava em uma espécie de efêmero altar ao lado do presbitério e da capela de Fátima, com toalhas brancas, e todos faziam questão de admirar e rezar, diziam os mais antigos que antes era usada Nossa Senhora das Mercês, imagem que realmente existiu na velha Matriz [14], mas que hoje tem o paradeiro ignorado. Fazíamos questão de comprar uma rosa pra ofertar, mas nunca vi colocarem coroa na cabeça da Senhora, apenas a oferta de flores.

São Cristóvão e a benção dos carros - O santo dos viajantes tinha uma missa especial no dia 25 de julho; depois que acabava a missa, com a cruz de procissão em haste, detrás saia o padre e o povo até a porta da Catedral: os carros passavam na frente, eram então bentos pelo sacerdote ao toque dos sinos. Terminando as bênçãos, o sacerdote retornava para a sacristia.

Participei de uma das ultimas em 1972, davam santinhos como recordação, mas nunca foi exposta uma imagem do patrono dos motoristas São Cristóvão.

Nossa Senhora do Amparo e as rosas vermelhas - Havia a benção de rosas vermelhas, o símbolo do amparo da Santíssima Virgem. A origem desse costume eu nunca soube. nem por que a rosa teria esse significado, mas a missa da irmandade era concorrida; para se conseguir uma flor - que era levada para casa por muita gente, como um sacramental, sendo suas pétalas usadas em chás como remédios aos enfermos. Cantávamos esta jaculatória em várias festas marianas e no dia da benção das rosas vermelhas também: “Formoso botão de rosa/Que nasce ao romper do dia/Ó pura cheia de graça/Eu vos saúdo ó Maria”.

A Semana Santa - Sempre foi a festa mais envolvente, com suas cerimônias do tríduo pascal que trouxeram mais populares em frequência na Catedral de Santos, tanto por ser bairro populoso quanto por ser a igreja da preferência de muita gente - só de irmandades reunia mais de 400 pessoas que traziam seus parentes - e demais que vinham por conta própria.

O dia principal tinha certas particularidades pitorescas ainda hoje existentes e que pouca gente soube que eram comuns:

Banho de vinho no Senhor Morto - Ainda hoje tem o costume de se fazer assim, quando na quinta-feira Santa ou na própria Sexta Feira Maior se passa algodão embebido em vinho branco seco para limpar a imagem do Senhor Morto colocado no esquife funerário; a origem do costume estaria numa limpeza com o vinho que, tendo álcool, funcionaria como um desinfetante da imagem que seria beijada e venerada pelos fiéis (para outros, tem um significado mais místico).

Cerimônia da Cruz – Era feita de tarde, por tradição às 15h00, e o crucifixo usado era o mesmo que está pendurado na sacristia.

Via Sacra - Era feita dentro da Catedral com os hinos tradicionais, com dois veleiros ou lanternas e a cruz que tem o tecido da descida de Jesus sendo colocada na frente de cada estação enquanto se meditava o acontecimento, só depois a procissão saia.

O trocado santo - Havia um costume que não se sabe a origem ou época, mas já eram comum no período colonial: as pessoas passavam ao lado de Nossa Senhora das Dores, do lado esquerdo da Catedral que ficava quase em frente à capela do Santíssimo e depois iam para o Senhor Morto do Santo Enterro, que ficava do lado direito quase em frente à capela de Fátima.

Ali havia uma salva antiga de prata que se dizia estar escrito “DEUS vos pague pela oferta”, as pessoas colocavam uma moeda de grande valor e pegavam outra do menor valor possível - havendo preferência pelas moedinhas de um centavo que o provedor do Santíssimo saía à procura com antecedência ou do mesmo valor se não houvesse outra.

Para evitar a evasão do lucro da esmola, as moedas eram trocadas com certa frequência pelo senhor Pedro, provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento, para satisfazer os fiéis. Assim as moedas de maior valor eram retiradas e colocadas as de menor valor, depois essas ofertas eram entregues ao sacerdote para usos da Catedral.

O objetivo dessa moeda era nunca faltar dinheiro, por pouco que fosse, dentro da carteira e assim suprir as necessidades da pessoa - motivo pelo qual geralmente era colocada em um saquinho do tipo bentinho, ou dentro de um pequeno envelope de papel ou até mesmo em forma de dobradura e mantida na carteira até ser substituída por outra moeda no ano seguinte.

Santa Verônica - Havia uma senhora que cantava de Verônica [15] na Catedral, com a roupa preta e o véu gigante, semelhante à viúva árabe, com os brincos de argola enormes, o sudário que diziam ser pintado por Benedito Calixto. Ela cantava sua lastimada música em latim nos locais certos com as três Marias Réus, repetindo uma sentença que lhe valeu o apelido. Não se sabe ao certo o motivo, mas a figura - tão popular em todo o Brasil nesse dia - foi suprimida da procissão da nossa Catedral.

Meretrizes e Sexta-Feira Santa - Pela cercania da Boca-do-Lixo era comum ver as “damas da noite”, na procissão do Senhor Morto, todas sempre recolhidas, discretas, devotas e suplicantes pela proteção de Deus, assim rezavam e acompanhavam o cortejo. Era dia sem atividade no local de serviço, que ficava meio deserto, a não ser pelas que não davam atenção ao dia. A casa de Deus recebia todos os seus filhos e filhas nesse dia.

Enfeites nas janelas – Era comum que - por onde a procissão passasse - na janela ou sacada houvesse uma colcha ou toalha bem bonita, igualmente velas eram acesas em pratos ou castiçais conforme as posses de cada pessoa e as famílias que não fossem ao cortejo ficariam vendo de forma respeitosa e em silencio o cortejo passar, como se fosse um enterro de verdade.

Festa das Oficinas de Caridade de Santa Rita, em maio - O culto dessa santa teve inicio na Igreja Conventual de Nossa Senhora do Carmo, segundo o afirmava frei Rafael M. Marinho da O.C. (falecido em 1998), dizendo que era uma imagem de roca que havia em um altar no lado esquerdo da igreja.

Passou a ser na Catedral a festa de Santa Rita de Cássia, mas sem procissão, motivo pelo qual sua capela cureada pelos capuchinhos do Embaré que atrai muitos devotos que antes frequentavam a Catedral. Nesse dia recorda-me que o padre António Olivieri, que dava o apoio espiritual a esse grupo, uma vez disse na missa das Oficinas: "Vamos fazer uma capelinha para Santa Rita?" O povo, reunido como em grande hoste, respondeu: "Sim" - e a capela hoje está feita. Essa associação pia ainda existe, contando com 13 membros, tendo sua presença em Santos desde 1976 quando foi fundada, havendo já um desmembramento da associação existente em São Paulo/Capital.

No dia da santa, a missa festiva ainda ocorre, mas com menor público; as pessoas levam rosas para serem abençoadas e distribuídas, havendo uma troca das mesmas onde o cristão leva rosas e ganha outras, sendo todas abençoadas pelo sacerdote e tornando-se um sacramental (algo que porta uma benção).

Nesse dia se reuniam às senhoras devotadas à caridade de Santa Rita, com cores distintas nas fitas que usavam (fitas vermelhas com a medalha pendente todas as mulheres que ingressavam e fitas roxas as viúvas).

Um dos carismas delas é o local de costura de roupas para doação, o amparo aos velhos abandonados e possuírem um bazar de pechinchas muito procurado por ter roupas e calçados baratos. Passaram há muitos anos a realizar uma festa ali na Catedral no dia 22 de maio dedicada a Santa dos Impossíveis, não sabendo se é anterior ou posterior ao ano de 1976: havia tal missa, mas sempre foi promovida pela Associação das Oficinas de Caridade de Santa Rita de Cássia, que tem sede na casa conhecida como Centro de Recuperação Dona Adelaide na Rua Xaviér Pinheiro, 238, na Vila Matias. Ali está o espaço que - com a morte do bom padre - foi cedido para a Toca de Assis continuar a obra de padre António Olivieri, que ali instalou um lugar para acolher mães solteiras abandonadas nas ruas (hoje são acolhidos os idosos).

A santa era colocada em um altar improvisado perto da capela do Ssmo Sacramento, atualmente fica no presbitério ao lado direito e a missa não é tão concorrida, pois a santa tem capela na Rua Nabuco de Araujo, 51 e o povo prefere o local por ser bairro residencial, havendo tríduo preparatório, procissão e quermesse.

Corpus Christi e os seus tapetes - Era uma verdadeira festa para os olhos e o triunfo do cristianismo e -segundo a saudosa irmã Mellita da Santa Casa (falecida em 2016), dom Idílio trazia a procissão até a frente do Hospital da Santa Casa de Santos, não ficando bem claro se a referência era com a Santa Casa Velha demolida após 1953, o que seria o mais provável, ou a nova sede do Hospital de 1947, que ficaria uma distância um pouco puxada para o evento. Mas era um dia esperado, principalmente quando se via uma procura grande por flores e ramagens para preparar o caminho.

Começavam os tapetes na Rua São Francisco com a Praça José Bonifácio e se estendiam até a Avenida Conselheiro Nébias, onde paravam, recomeçavam depois na avenida ao lado esquerdo do trilho do bonde da Rua Bitencourt, sempre ao lado do trilho do bonde e chegando até onde foi a escola Coelho Neto (N. E.: confluência da Avenida Conselheiro Nébias com Rua Sete de Setembro). Esperava-se por camélias que se eram dos pezinhos ali plantados ou compradas (não sei) mas eram brancas e rosadas. O trabalho seguia pela Rua Campos Sales, onde virava para seguir até a Avenida Senador Feijó.

Foi logo depois de 1967, já no ano seguinte, que o trajeto passou a ser realizado pela Rua Marechal Pego Junior até a Avenida Senador Feijó, onde o meio da via era todo atapetado com lindos trabalhos de populares, mais adiante o pálio saia dos tapetes e se dirigia para abençoar os bombeiros todos perfilados com seus carros no espaço em frente ao quartel e marcando o início dos sinos sendo repicados, assim os tapetes paravam na Avenida com a Praça.

Recordo-me que em frente ao posto da Shell (pelo menos assim parecia, por ter as conchas simbólicas dessa marca de combustíveis), quase na esquina das Ruas Sete de Setembro com Av. Senador Feijó, era muito alta sendo serragem em forma de flores de cinco pétalas e tampinhas com papel colorido, flores e folhagens.

Um ano, na Rua Marechal Pego Jr, alguém fez um tapete de penas brancas de galinha que ficaram fixas depois de molharem o chão e outro ainda usou folhas verdes de alface pra sobressair às flores.

Janelas com cobertores e toalhas lindas, flores amarradas nos postes à altura de uma pessoa, solares feitos de espadas de Santa Bárbara, palmas, rosas, tudo fazia o chão ficar uma coisa única e efêmera para passar a procissão.

Minha mãe colocava dois quadros na janela a Sagrada Família e o Coração de Maria com a colcha napolitana furta-cor, flores de plástico e - quando nos davam - se atiravam pétalas de flores pela janela. Também era comum alguma pessoa soltar fogos de artifício no percurso. Ao chegar à Praça, era celebrada a missa nas escadarias do F órum e de lá ocorria a benção e se recolhiam na Catedral todas as ordens e clero.

Disseram que o bispo dom David suspendeu os tapetes por achar que atrapalhavam o trânsito e sujavam a cidade e seus calçados, modernidade da época que agrediu a devoção de muita gente. Sem os famosos tapetes, o povo foi participar em suas paróquias, tirando a unidade da festividade na matriz.

Em 5 de junho de 1969 o bispo dom David substitui - para levar o pálio - as autoridades políticas, militares e judiciárias como sempre ocorreu até então, pelo clero - o que de certo foi uma surpresa pra muita gente. Por trás dessa decisão havia certa picuinha pelo embate entre a democracia com os militares e os comunistas com os grupos intitulados de esquerda no Brasil e o nosso bispo era conhecido por simpatizar com os grupos contrários ao governo militar, como se dizia, inclusive disseram que chegou a ser detido, o que nunca pesquisei ou comprovei.

Em 1971, no dia 10 de junho, foi a Rua Braz Cubas asfaltada na frente da Catedral e demais espaços. Assim, na hora que entrou o Santíssimo, houve uma benção na porta da catedral e recordo-me de minha mãe e todo mundo ajoelhando sobre o asfalto quente (embora houvessem despejado água com carros pipa, o local estava quente ainda e houve reclamações de sujeira no piso no interior da Catedral). Pesquisando nos jornais vi as reclamações que se sucederam na época sobre asfaltarem o local justamente nesse dia e o motivo de naquele ano já não haver tapetes nas ruas, como esperamos na frente da Igreja. Eu só não sabia que a Avenida Senador Feijó os havia feito, pois não acompanhara a procissão, ficando na Praça José Bonifácio esperando o seu retorno.

Percebemos ai que o serviço de bondes iria sendo suprimido em vários locais da nossa cidade e as linhas que ali faziam seu percurso ou mudaram o mesmo ou foram extintas, pois o serviço terminaria no ano seguinte.

Já no ano de 1972 não havia mais tapetes e anos depois a missa passou a ser celebrada no Ginásio de Esportes do Colégio Santista e de lá saia a procissão pela Rua Sete de Setembro até a Avenida Senador Feijó (por volta de 1981), finalmente a reduziram até a Rua Braz Cubas e finalmente a procissão desapareceu, havendo anos que deram apenas uma volta a Praça José Bonifácio, como em 1988, depois passaram a fazer a missa na Portuguesa Santista com uma procissão apenas com o clero e irmandades pelo gramado da quadra, até que parou de ser realizada essa festividade com a união de todas as paróquias. No ano de 2007 tentaram recriar a festa e saíram poucas pessoas da Catedral pela Rua Braz Cubas, Avenida João Pessoa e foram para o Valongo, não havendo sido noticiado nas paróquias ou em jornais com a devida antecedência.

Era bom ouvir o burburinho das pessoas enfeitando o caminho e preparando tudo para a procissão passar e ver bem distante vindo o guião de São Benedito gigante carregado por cinco meninos.

Como era essa procissão: todas as irmandades tomavam parte nessa grande procissão, segundo nota em jornal antigo onde se lê: Para dar conhecimento aos mais novos e lembranças aos mais velhos, vou relatar como foi a ordem da procissão e seu percurso naqueles 9 de junho de 1966. Os mais velhos hão de recordar a beleza dessa festa, que tinha sua programação elaborada depois de demorada reunião entre o clero e a Irmandade do Santíssimo Sacramento, que passava as coordenadas às demais. As ruas eram atapetadas com pétalas e flores, espadas-de-São-Jorge e Santa Bárbara e São Benedito, serragem colorida, areia, tampinhas com papéis coloridos. Inclusive recebiam enfeites os trilhos do bonde, que cessavam seu trajeto horas antes para o povo poder enfeitar o caminho para Jesus Sacramentado. Os postes eram igualmente enfeitados com folhagens, prevalecendo o melindro, antúrio e flores amarradas até a altura de uma pessoa. Por todo o caminho, as pessoas enfeitavam janelas e sacadas com colchas, flores, velas e quadros religiosos.

A maior doadora de pétalas de flores, que eram guardadas em sua geladeira, era a senhora Paulina Freire (que faleceu em 1987, aos 73 anos), a qual possuía a Flora Paulina, na Praça José Bonifácio, 53. Também vendia muitas rosas a preços baixos, que eram ofertadas e usadas para homenagear Nossa Senhora no mês de maio ou de Nossa Senhora do Amparo, durante a missa na Catedral. Anunciavam a procissão os sinos da Catedral, o carrilhão era tocado com muita alegria. Muitas senhoras de preto, que eram de outros países, caiçaras, caipiras, beatas ou nordestinas rezavam com devoção o terço em grupos nas escadarias do Fórum ou nas esquinas, esperando o início da procissão.

Ela começava com a Banda Carlos Gomes, sob a regência do maestro Jorge, português muito devoto, a executar o hino Glória a Jesus, rapidamente acompanhado pelo Apostolado da Oração. Saía então o grande estandarte de São Benedito pela porta principal da igreja, levado pelos meninos vestidos de pajem, com seus chapéus emplumados e sapatos de fivela do tipo "Anabela" - eram do Colégio Santista (Marista), que todos os anos escolhia novos meninos para não haver favorecimentos, sendo que um segurava o grande estandarte sustentado no talabarte, dois as pontas das abas do mesmo (que recordava uma grande bandeirinha de São João branca), e outros dois os pingentes nas pontas dos cordões pendentes da barra. Logo atrás seguiam os colégios católicos, todas as irmandades, cada uma com sua cruz alçada, sempre ladeada por duas lanternas de procissão, seguidas dos associados em fila, vestindo suas opas ou hábitos, quando se tratava das ordens terceiras, numa infinidade de veleiros de todas as cores e sempre em fila.

Depois de todas passarem, vinha atrás o pálio dourado com suas varas prateadas encimadas por uma pequena cruz, que era carregado pelos sacerdotes, ladeados por seis lanternas levadas pelos irmãos da Irmandade do Santíssimo Sacramento. O bispo, paramentado como exige a cerimônia, com capa de asperges e véu umeral (naquela época ainda se usava cáligas), levava a Custódia, cujos rubis (ou pedras vermelhas) resplandeciam com o brilho do sol da tarde.

Eram precedidos de todos os padres, religiosos e freiras em fila, ladeados pelo Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Congregação Mariana, Cruzadas da Eucaristia, Cruzada das Senhoras Católicas levando suas bandeiras, que tudo faziam para elevar os cânticos e as preces. Nesse meio ficava a Banda Municipal Carlos Gomes, e finalmente o populacho.

A procissão saía sempre no período da tarde, entre 15h30 ou 16h00, percorrendo a Praça José Bonifácio, Avenida São Francisco, Avenida Conselheiro Nébias (cujo trecho até a Rua Bittencourt não era enfeitado - hoje compreendo que era para não atrapalhar o tráfego dos bondes e o trânsito).

Sempre se esperava um grande tapete na frente da Cruzada das Senhoras Católicas e também na frente do Colégio Coelho Neto, que ficava na esquina da Avenida Conselheiro Nébias com a Rua Sete de Setembro. As pessoas esperavam a passagem do Santíssimo para pegar as camélias brancas que tradicionalmente estavam estendidas pelo chão e eram colhidas dos pés dessa planta, abundantes naquela casa (seus moradores do passado eram abolicionistas, sendo a camélia branca seu emblema). Seguia o cortejo até o canal da Av. Campos Sales onde, em uma casa, um casal sempre estendia uma pequena toalha branca e acendia duas velas num castiçal de porcelana azulada, repetindo o gesto em todas procissões (costume mantido mesmo quando morreu a esposa, o viúvo continuou fazendo aquele gesto de devoção).

Na Avenida Senador Feijó, parava em frente à Corporação de Bombeiros, onde todos os militares da guarnição estavam de prontidão, em ordem no pequeno largo em frente ao quartel, e igualmente os carros de combate ao fogo estavam enfileirados para a curiosidade do povo, preparados para receber a benção do Senhor Sacramentado que fazia sua parada em frente aos militares; nesse momento, acionavam todas as sirenes e, quase no mesmo instante, começavam os sinos da Catedral a tocar.

Depois da novela As Pupilas do Senhor Reitor (N. E.:adaptada por Lauro César Muniz do romance homônimo de Júlio Diniz, apresentada pela TV Record às 19 horas, de 23 de março de 1970 a 6 de março de 1971, com direção de Dionísio Azevedo), passamos a falar que era o sacristão da novela que tocava os sinos.

Seguia a procissão, contornando a Praça José Bonifácio pela Rua Amador Bueno, e finalmente chegava ao Fórum, onde era celebrada a missa e feita a Solene Benção Eucarística, em magnífico altar montado nas escadarias do Fórum. Lembro-me que os mais velhos diziam: "Depois que a madre ajoelhar" as crianças podiam sair para brincar na praça; evidentemente que era após a Benção do Santíssimo Sacramento.

Essa era a festa do Santíssimo, que unia todas os movimentos da igreja na cidade de Santos, em uma festividade que também tinha o seu lado social. Era comum ver pessoas levando flores nas mãos, que eram jogadas na frente do Santíssimo, ou apanhadas dos tapetes (quando passava o pálio passavam a ser consideradas sacramentais).

Opas e veleiros das Irmandades e insígnias das associações - Todas as irmandades da Cidade tomavam parte no cortejo, assim vai a descrição de como cada uma se identificava e assim se reuniam em grupos ordenados em filas para acompanhar Nosso Senhor:

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos = Museta azul claro com bege na opa, as mulheres com museta igual e véu. (extinta) veleiro cabo branco com esparmacete azul claro.

Rosário dos Brancos = Opa vermelha com museta vermelha, as mulheres museta vermelha e véu. (extinta)

Amparo = Opa branca com museta vermelha e mulheres com museta vermelha e véu

Santíssimo = Opa vermelha ou maravilha sem a museta com mulheres de museta vermelha ou maravilha e véu (extinta) com veleiro de cabo branco e esparmacete vermelho.

Boa Morte = Opa Branca com museta roxa e mulheres com museta roxa e véu, veleiro de cabo bege claro e esparmacete roxo.

São Benedito = Opa bege com museta marrom e mulheres com museta marrom e véu, veleiro de cabo branco e esparmacete marrom.

Terço = Opa negra com museta preta e mulheres com museta preta e véu, veleiro de cabo branco e esparmacete preto.

Confraria de Fátima = Opa branca para os homens e museta branca para as mulheres com véu, veleiro de cabo e esparmacete branco.

Ordem Terceira de São Francisco da Penitencia = Hábito negro e cordão franciscano branco para homens e mulheres que deveriam estar com a cabeça coberta, veleiro de cabo e esparmacete perto.

Ordem Terceira Carmelitana = Hábito marrom com o escapulário e capa, para homens e mulheres que deveriam estar com a cabeça coberta, veleiro de cabo bege e esparmacete com um copo de vidro.

Irmandade de Nosso Senhor dos Passos = Museta e opa roxa e as mulheres museta roxa e véu na cabeça.

Apostolado da Oração = Todos com a fita vermelha e medalha. Filhas de Maria com suas roupas tradicionais, fita azul com medalha e véu na cabeça.

Congregados Marianos = Todos com fita azul com o medalhão pendente e roupas tradicionais.

Adoração Perpétua = Todos com a fita branca com o medalhão oval pendente e roupas próprias do evento.

Corte de São José = Todos com a fita amarela e medalhão pendente e roupas próprias para o evento (extinta).

Terezitas = Todas com a fita marrom e branca com medalhão pendente, roupas próprias para o evento.

Oficinas de Caridade de Santa Rita = Todas com suas fitas roxas ou vermelhas e o medalhão pendente e o véu.

Ano Santo Mariano de 1988 - Ocorreu um grande festejo na diocese no encerramento do Ano Santo Mariano que começou em 1987 por instituição do Papa João Paulo II, realizado no mundo inteiro, sendo o encerramento em 20 de agosto de 1988 na festa da Assunção quando a Virgem Santíssima foi elevada ao céu e nossa diocese festejou com o resto do mundo.

Nossa Senhora do Rosário, titular da diocese de Santos, saiu de sua peanha no presbitério da Catedral, possivelmente onde esteve por décadas, cabendo a Francisco Vázquez Carballa, confrade de Nossa Senhora de Fátima e ao Waldemar Tavares Junior da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Aparecida, a limpeza da imagem que foi descida do local para ser colocada no andor; trouxe o irmão três terços, que com uma ferramenta uni e fizemos o rosário, mas para a procissão ela usou apenas um terço, depois o colocaram ao retornar para sua alta peanha, também coloquei nos ganchos que tem nas orelhas brincos de cristal importado em forma de gotas, a irmandade titular da devoção mandou colocar a parte de cima da coroa que estava guardada há muitos anos no consistório e que (pode se ver em fotos antigas) estava apenas com a base, e a partir desse ano ficou completa.

No dia instituído foi levada em uma grande procissão que percorreu as ruas na cidade de Santos com a participação de toda diocese, de onde vieram excursões para tal festejo trazendo os seus estandartes.

Ocorreu um fato interessante, jogaram no grande andor várias flores e não se sabe como um galho verde de planta ficou preso no rosário de Nossa Senhora e coube ao membro Waldemar T. Jr [16] subir no mesmo e retirar a palminha que foi disputada por beatas devotas, na hora que colocava a coroa na cabeça da Santíssima.

Saindo da Catedral, essa procissão percorreu ruas pelo centro da cidade, indo para onde ocorreu uma missa festiva no ginásio de esportes do Colégio Santista, a coroa foi retirada para uma criança vestida de anjo levá-la e novamente o irmão teve de fazer o serviço, saindo a procissão que percorreu depois a Avenida Conselheiro Nébias e a João Pessoa, virando para a Catedral, na frente da qual dom David coroou oficialmente a Virgem Maria.

Nesse dia, recordo-me de um irmão bem idoso falar na missa da procissão que acompanhou no dia que saiu da Igreja do Rosário (dos Pretos) e foi para a Catedral ser inaugurada em 1924.

Banda Carlos Gomes - Foi a banda Carlos Gomes uma participação que dava muita alegria nas procissões e assim emprestava música para os hinos serem entoados; não participa mais das procissões, ou pela falta de organização de muitas paróquias ou pelos problemas enfrentados entre os fiéis mais desavisados que tropeçam neles com frequência, ou pela idade de alguns integrantes.

A nossa banda tem como data de fundação o mês de abril de 1957, segundo informação do senhor Delcio Ambrósio Soares – 1º secretário da instituição musical. Tivemos como maestros os senhores: 1957/1964 – Silvério Agrisane fundador da Corporação Musical; 1964/1984 – capitão Inácio; 1984/1986 – Adail; 1986/2008 – José Feijó Carbelleda, mais conhecido pelo apelido galego Pepe; 2008/2010 – Antonio H. Bitencourt, sendo da Secretaria de Cultura quando quase municipalizaram a banda Carlos Gomes; 2010/atualmente - o tenente P.M. reformado Oscar Guzella. Ainda hoje seus ensaios ocorrem no bairro da Vila Matias na Rua Julio Conceição, 133-C, em área pertencente ao Sindaport (N.E.: Sindicato dos Trabalhadores Administrativos em Capatazia, nos Terminais Privativos e Retroportuários e na Administração em Geral dos Serviços Portuários do Estado de São Paulo).

Foi a banda que trouxe música para os hinos cantados durante as procissões, os mais populares foram: Queremos Deus; Glória a Jesus; Cantemos ao Senhor; Coração Santo; Eu confio em Nosso Senhor; Levantai-vos Soldados de Cristo; Ave de Lourdes; Ave de Fátima; Ave da Azinheira; Viva Mãe de Deus e Nossa; Com Minha M ãe Estarei; Hino do Monte Serrat; Subindo a Montanha; outro hino do nosso Monte Serrat (deixou de ser cantado em 1974); Marcha F únebre de Choppin.

Eram hinos cantados e muito conhecidos pelas pessoas, na Catedral a preferência era para a Banda Carlos Gomes; em outras paróquias também havia a participação da Polícia Militar do 6º B.P.M.I., assim havia certo esforço para ver quem tocava melhor entre as duas instituições, embora muito PM fizesse parte da Banda Municipal. Com o tempo apareceu um carro de som gigante, desses usados em eventos de carnaval, com gente tocando violão, e assim a banda foi deixada de lado com toda a solenidade que inspirava, ficando uma modernização que os mais velhos ou pessoas em geral não gostavam muito - já as novas gerações tiveram essa forma de música como referência.

Dos anos 1960 até os anos 80, regeu a banda o capitão maestro Inácio, que - sempre de bom humor - guardou partituras antigas que usava nas festas e quando tocavam por colégios ou praças eu sempre pedia a música “Dorinha”; faleceu e deu lugar a outro maestro. Até então os componentes usavam o uniforme que recordava algo militar, instrumentos brilhando polidos, e sua participação nas procissões era precisa e sem faltas.

Maestro Pepe assumiu em 1986 e regeu a banda; era um espanhol baixo e meio invocado, mas educado, permaneceu à frente da instituição até 2008, quando faleceu. Fazia questão de tocar músicas de marchas da semana Santa da Espanha na procissão do Senhor Morto ou Santo Enterro da Catedral, o que lhe valeu os cumprimentos do Bispo Dom David, pois só se tocava a tradicional e apreciada Marcha Fúnebre de Chopim.

Tenente Oscar Guzella: o então sargento Oscar da PM entrou na Banda por volta de 1958. Por gostar dessa instituição, assim tocou nas cerimônias da banda da Polícia Militar do 6º B.P.M.I e na Banda Municipal do Guarujá.

Pastoreio de Fátima - Como o próprio nome sugere, era um grupo de pessoas vestidas de portuguesas (predominando os famosos fatos de Viana do Castelo, Campino, Ribatejo, Beira Alta, Nazaré e Pereiró), que tomava parte nas procissões, com o objetivo de rezar o terço e cantar, além de abrilhantar os sagrados cortejos. Surgiu por minha idealização em 1988 e foi até 2003, quando o grupo foi dissolvido. Dele faziam parte portugueses, descendentes, simpatizantes e devotos, somando o curioso número fixo de 13 pessoas e - dependendo da festa - eram emprestadas fatos de vestir para aumentar o numero até 20 componentes nas paróquias.

Participamos nas festas de Nossa Senhora de Fátima na Catedral no 3º domingo de maio, na mesma festa, mas sendo a padroeira do Guarujá no último domingo de maio, no Santo António do Embaré dia 13 de junho, na Santa Casa no dia de Santa Izabel a Rainha no dia 2 de julho, quando vieram as relíquias de Santo António ou quando veio Senhora de Fátima de Portugal, chegamos a participar da missa do galo na Catedral e em outros eventos sempre voltados para a religião. Por quizílias de alguns paroquianos onde o grupo estava, por falta de apoio nas paróquias e de tempo por parte de seus componentes, o grupo foi extinto.

Supressão das festas - A partir dos anos 1980, pouco a pouco, as festas foram desaparecendo ou sendo simplificadas de forma a perder a identidade que tiveram ou a relação com os fiéis, de forma que desapareceram.

Leva para a página seguinte da série