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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS - BIBLIOTECAClique na imagem para ir à página principal desta série
Jornada do Ipiranga (3)

A história do Patriarca da Independência e sua família

Esta é a transcrição da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, volume II, com ortografia atualizada (páginas 601 a 627): 
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SEGUNDA PARTE - INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Capítulo II - A jornada do Ipiranga (cont.)

[...]

Martim no Ministério. Benefícios que se colheram

Chegado que foi Martim Francisco ao Rio, deposto e expulso pela Junta de sua Província, censurada a Junta Paulistana pela sua aleivosa conduta e cassadas as suas atribuições, censurado o marechal Arouche pela fraqueza com que agira em momento de tanta gravidade [1], chamou José Bonifácio o irmão para ministro, dando-lhe a Pasta da Fazenda, ato que concorreu definitivamente para a total derrocada do periclitante prestígio dos seus adversários de S. Paulo.

Martim Francisco

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A entrada de Martim Francisco para o Ministério poderá parecer um gesto impolítico de José Bonifácio, que assim pretendera desagravar o irmão e genro das afrontas com que fora humilhado na sua própria província; e é natural que tivesse provocado amargas críticas no Rio de Janeiro, principalmente dos que não viam com bons olhos a incontrastável influência que exercia o ministro, quer sobre o príncipe regente, quer sobre sua inteligente e dedicada consorte.

Por decreto de 3 de julho criou-se o Ministério da Justiça, cuja pasta, desmembrada da do Reino, foi entregue a Caetano Pinto de Miranda Montenegro, passando a da Fazenda, que ele ocupava, às resolutas mãos de Martim Francisco, por decreto da mesma data [2].

Da Pasta da Guerra, desde 27 de junho, fora retirado Oliveira Álvares entrando para substituí-lo o coronel Luís Pereira da Nóbrega de Sousa Coutinho, promotor-fiscal do Grande Oriente Brasileiro.

Diz VARNHAGEN [3] que tal nomeação, proposta por José Bonifácio, tivera por único intuito agradar à Maçonaria, a fim de que ela não levantasse depois oposição à escandalosa escolha de Martim para a Fazenda, mas que, apesar dessa hábil concessão, cindiram-se os maçons, indo os Andradas fundar o Apostolado, o que é absolutamente inexato, porquanto esta sociedade, segundo provam os preciosos documentos citados pelo BARÃO DO RIO BRANCO, aos quais já nos referimos, existia desde 2 de junho, data em que Martim não era ainda ministro e nem havia sequer chegado ao Rio.

Pensamos que a preocupação pessoal de desagravá-lo das injúrias suportadas resignadamente em S. Paulo não teria sido o único móvel de José Bonifácio, ao propô-lo a D. Pedro para seu ministro. Ele conhecia bem o irmão, a sua têmpera, a sua honestidade, as suas tendências para as questões econômicas e financeiras e viu logo que tinha diante de si o homem que as circunstâncias daquele embaraçoso momento lhe indicavam.

Efetivamente não se enganou. A nomeação de Martim Francisco para a Pasta da Fazenda foi um dos atos governamentais mais felizes praticados pelo chefe do Gabinete. Deve-se à gestão fecunda do mais novo dos Andradas, em grande parte, poder o Governo criar os urgentes recursos de que necessitava para se desafogar das angústias da situação financeira e para fazer face às exigências imperiosas da situação política.

Quando entro ele para o Governo, tinha que pagar cerca de 3.000 contos de réis, "de dívidas de caráter urgente e mais intimamente ligadas com o crédito e interesse do Tesouro" [4] e não dispunha de rendas suficientes para esse fim.

Todo o ouro e prata, que aqui circulava com relativa abundância quando chegou d. João VI, tinha desaparecido completamente com o regresso do monarca, que consigo levou todos os valores metálicos que possuíamos, deixando-nos uma enorme dívida passiva e uma quantidade fantástica de notas desvalorizadas do desacreditado Banco do Brasil e de moeda falsa em lugar da verdadeira [5].

Esse era o aspecto da questão financeira propriamente dita. E o aspecto da questão política, que se apresentava com gravidade não menor? Fazia-se mister aparelhar uma esquadra eficiente, organizar e equipar um bom Exército de terra para mandar em defesa da Bahia dominada pelas Forças Portuguesas. E, além dos socorros bélicos, era urgente enviar-lhes víveres de boca que escasseavam aos valentes patriotas abnegadamente votados à causa de sua Pátria.

Um mês depois de empossado de seu cargo, dirigiu ele um manifesto aos comerciantes e capitalistas da Praça do Rio, no qual, após expor-lhes, sinteticamente, o quanto precisava o Brasil de dinheiro para abater seus inimigos internos e expelir os externos, pede-lhes, em nome do Regente, que concorram a um empréstimo de 400 contos, a prazo de 10 anos, garantido pelos rendimentos da Alfândega da Corte, e ao juro de 6% ao ano [6].

Tal era a confiança que a competência e imaculada reputação de honestidade de Martim Francisco inspiravam aos homens ricos, que o empréstimo foi imediatamente coberto, excedendo mesmo a quantia total pedida. Mais tarde, a 27 de outubro, o Governo o autorizou a receber as quantias excedentes [7].

Partida do príncipe

Melhorada a situação financeira pela confiança renascente do capital no novo ministro da Fazenda, assegurada até certo ponto a ordem pública pelo decreto de 18 de junho, que regulava o exercício da liberdade de imprensa, adotadas várias outras providências de caráter militar ou econômico, entendeu o príncipe que não podia adiar por mais tempo sua visita à nossa província, a fim de restituí-la à calma d'outrora, de que tanto precisava para colaborar fecundamente com as outras na obra da independência comum.

Assim resolvido, assinou a 13 de agosto um decreto, confiando a Regência à princesa dona Leopoldina, assistida pelo ministério, e partiu para cá no dia seguinte, acompanhado de pequena comitiva. Com ele vinham, na qualidade de secretário d'Estado itinerante, o jovem Luís de Saldanha da Gama, posteriormente agraciado com o título de marquês de Taubaté; o ajudante Francisco Gomes da Silva (o célebre Chalaça, alcunha ela qual era vulgarmente conhecido na Corte do Rio e fora dela); os criados particulares do Paço, João Carlota e João Carvalho, e o gentil-homem da sua Câmara, Francisco de Castro Canto e Mello.

Itinerário percorrido

Na Fazenda de Santa Cruz, onde fizeram a primeira parada para pousarem durante a noite, apresentou-se respeitosamente, chegado de S. Paulo, o ex-presidente da Junta Provisória, João Carlos de Oeynhausen, desejoso de comparecer à presença do príncipe, que se negou, porém, a recebê-lo, mandando-o seguir para a Corte, a entender-se com a princesa e o primeiro-ministro.

No lugar denominado Venda Grande, juntaram-se à comitiva o tenente-coronel reformado Joaquim Aranha Barreto de Camargo, natural de Santos, e o padre Belchior Pinheiro, influente político mineiro, que tinham ido propositadamente ao encontro de d. Pedro para cumprimentá-lo e render-lhe todas as homenagens devidas à sua hierarquia e aos importantes serviços que estava desveladamente prestando à nossa Pátria.

No dia imediato, hospedou-se na casa de um fazendeiro chamado Hilário de tal, em São João Marcos. A 16, partiu para a Fazenda das Três Barras, propriedade do mesmo fazendeiro, que aí se achava doente. Na manhã de 17 despediu-se d. Pedro e a comitiva, indo pousar em S. Miguel das Areias, no território paulista. O jantar foi na Fazenda do Pau d'Alho, de propriedade do coronel João Ferreira, e o pernoite na residência do capitão-mor Domingos da Silva.

Em Areias

A Municipalidade de Areias, a primeira vila "desta gloriosa Capitania a ver o solo paulistano fecundado pelas plantas de um príncipe, que a experiência de mais de um ano tem mostrado ser a única âncora da salvação da Monarquia e o verdadeiro Regenerador do Brasil" [8], mandou ao seu encontro um natural dela, João Antunes, com a incumbência de lhe "fazer oferta e homenagens dos corações de um povo, que o adora" [9] e entregar-lhe um ofício gratulatório e de boas-vindas, assinado em vereança de 15 de agosto, por Alexandre Thomás da Silva, António Pires Figueira, José Carlos Epiphânio da Silveira, Bento Correia de Toledo e Alexandre da Guerra Marzagão, o primeiro, juiz presidente, o último, procurador, e os demais, vereadores [10].

O capitão-mor Domingos da Silva ofertou-lhe amavelmente, e a toda a comitiva, que aumentava à proporção que ia penetrando em terras paulistas, novas e possantes cavalgaduras; e o lavrador coronel João Ferreira e um seu filho de nome Francisco, voluntariamente incorporados à luzida Guarda de Honra, que se vinha reunindo nas vilas marginais do Paraíba , e era formada da principal nobreza dessas vilas, acompanharam-no daí por diante.

A Guarda de Honra

A Guarda de Honra, de que ora fazemos menção - esclarece-nos circunstanciada e irrefutavelmente o dr. JOÃO ROMEIRO [11], pondo termo a quantas fantasias teceram, e a quantas hipóteses maquinaram tantos cronistas que da jornada do príncipe extensamente escreveram em diversas épocas - fora criada no Rio, por ocasião do levante do general Avilez, quando lá se achavam as tropas de S. Paulo requisitadas com urgência pelo Governo Geral.

Correndo com insistência o boato de que a Divisão Auxiliadora Portuguesa, do comando daquele general, pretendia armar a d. Pedro uma cilada, aprisioná-lo e embarcá-lo à força para Lisboa, obrigando-o assim a cumprir as determinações vindas das Cortes - de S. Paulo desceram espontaneamente para o Rio "muitos dos principais cidadãos da mesma província, que, deixando suas casas e famílias, se reuniram com a maior prontidão e patriotismo em um corpo de cavalaria, com o nobre fim de guardarem e defenderem minha Augusta Pessoa, tão sacrilegamente ameaçada... e, atendendo eu, outrossim, aos ardentes e puros desejos que desde então até hoje me têm mostrado esses honrados paulistas de quererem continuar em tão honroso serviço, pedindo-me que, achando-se o mesmo corpo muito aumentado com outros fiéis cidadãos desta e outras províncias do Império, que se lhe têm reunido com igual entusiasmo, eu lhe desse uma organização permanente e regular como a outros Corpos do Exército, hei por bem, etc" [12].

Estes são os fundamentos com que a 1º de dezembro d. Pedro, já então nosso primeiro imperador, deu, a pedido dos paulistas, que constituíram a primitiva Guarda de Honra do Regente, organização regular e permanente a esse corpo de cavaleiros da mais nobre estirpe.

De tais fundamentos se vê que, quando a liberdade do príncipe estava ameaçada pelas mavórticas fanfarrices de Avilez, os paulistas formaram, para defendê-lo, uma Guarda de Honra, montada e fardada a capricho, com autorização do mesmo príncipe, a qual lhe ofereceu uma brilhante escolta para acompanhá-lo na sua triunfante excursão pela província de Minas [13].

Em Lorena

Saindo de Areias, fez seu quinto pouso em Lorena, onde foi encontrá-lo, de parte do Governo Provisório, a Guarda de Honra, composta de 32 pessoas, tiradas da oficialidade das milícias e do Corpo Comercial, e organizada carinhosamente pelo coronel Francisco Ignácio, para servir de escolta especial ao Regente, até sua entrada em nossa Capital [14].

Ele, porém, a dispensou por sua portaria datada daquela vila, no dia 19, e assinada pelo seu secretário d'Estado interino, fundando-se, para tal, em duas razões: a primeira, por não ter havido a necessária autorização de sua parte para organizar-se um corpo dessa natureza, como se fazia mister; a segunda, por ter ordenado que "se reunisse nesta província aquela mesma legítima Guarda de Honra mandada criar pelo mesmo Senhor" [15] - referência clara e direta ao Esquadrão de Voluntários Paulistas que se constituíra para defendê-lo no Rio contra os planos do general Avilez, conforme dissemos já.

De Cunha, o coronel de milícias da vila, António José de Macedo e S. Paio, não podendo ir pessoalmente, por motivo de grave moléstia, "beijar a real e benfeitora mão de um tão generoso, amável e providente príncipe", honra que "faria certamente eletrizar o seu espírito", mandou em seu lugar "o capitão José Francisco Guimarães (na falta de outro oficial de maior graduação)" para cumprir esse honroso dever [16].

Em Guaratinguetá

De Lorena, onde pernoitara, saiu na manhã de 20 em direção de Guaratinguetá, onde foi recebido com festas revestidas de singular pompa e hospedado magnificamente pelo capitão-mor. Aí encontrou, para cumprimentá-lo e render-lhe homenagem, em nome da Câmara e povo de Taubaté, o sargento-mor de milícias José Gomes Vieira [17], devendo significar-lhe "o veemente e inexplicável prazer que se apodera de suas almas, pela venturosa notícias de brevemente encarar o Augusto Semblante do mais amável dos príncipes, do Pai comum, do Imortal, do Grande Príncipe Regente e Perpétuo Defensor do Reino do Brasil", motivo por que "impelida pelo ativo entusiasmo do seu exaltado amor e fidelidade, se apressa (a Câmara) a levar e oferecer" à Sua Alteza Real "estes sinceros sentimentos nascidos de seus gratos e sensíveis corações, onde está sentado o Trono indelével" da mesma Alteza Real [18].

O clero secular taubateano também mandou ao seu encontro, no pouso de Lorena, o cônego da Capela real e vigário sucessor da paróquia, o reverendo António Moreira da Costa, com a missão de entregar-lhe uma ardente e entusiástica mensagem, assinada, além do portador, pelo vigário colado Bento Côrtes de Toledo, pelo primeiro coadjutor Manuel Álvares Coelho e pelo padre Emygdio José Fernandes, segundo coadjutor.

"É chegado o tão afortunado e ambicionado momento - diziam os reverendos signatários da patriótica mensagem - de recebermos com os braços abertos o Pai Clemente, o Anjo da Paz, o Astro luminoso que, vivificando tudo por onde passar, irá com a própria influência de seus raios acabar de dissipar o resto dos melancólicos nevoeiros, que enlutavam a atmosfera da capital da província" [19].

Igualmente, o brilhante Corpo das Ordenanças locais, "reunido com o seu chefe", não pôde refrear os eu caloroso entusiasmo, quando teve "a alegre notícia de que o seu Astro Benéfico Reanimador despontou no horizonte paulistano; por isso, transbordando do júbilo que enche de gostoso sobressalto os seus corações... adianta-se a saudar com profundo acatamento" o augusto viajante, enviando-lhe, por mão do sargento-mor de milícias Ignácio Vieira de Almeida, uma mensagem, assinada, além deste, pelo capitão-mor Victoriano Moreira da Costa, Manuel Dias da Cunha Guimarães, Francisco de Paula Simões, Gabriel Pereira do Couto Nogueira, José dos Santos Silva, Ignácio Xavier de Assis, António Moreira de Matos, João Francisco Vieira, Joaquim José Correia, Manuel José Coelho, Luís Vieira da Silva, Faustino Braz Esteves e Francisco Gomes de Araújo [20].

Os monges do Convento de Santa Clara não puderam também abafar na obscuridade de suas humildes celas o grito de patriótico entusiasmo de seus corações que dilatava o júbilo e, por intermédio de seu guardião, frei Lucas José da Purificação, endereçaram-lhe, com data de 16, uma mensagem que nos termos seguintes começava: "Apenas se ouviu o armunioso eco que annunciava a próxima vinda de V. A. R., toda esta Villa exultou e nadou em alegria: O Povo, velhos e moços, ansiosos esperavam [21] êsse dia feliz e venturoso; não só porque veriam seu solo honrado e engrandecido pelas pisadas de V. A., como porque esperavam que êsses preciosos [22] Pés (que os Céus abençoem mil vezes) lhes trariam a Paz, e a maior ventura, livrando-nos das aflições que nos penalizavam" [23].

Em Pindamonhangaba

A Câmara da Vila Real de Pindamonhangaba, solícita como as suas vizinhas, deputou para cumprimentá-lo o capitão Manuel da costa Paes Leme de Godóis, que foi portador de um ofício, datado de 19, e assinado pelo juiz de fora presidente, António d'Almeida e Silva Freire, pelos vereadores Isidoro Antunes da Silva, Joaquim Gomes do Nascimento e José Homem de Mello e pelo procurador do Conselho, Leonel Pedroso da Silveira.

Desse ponto em diante, é contraditória a narrativa dos historiadores quanto à estadia do príncipe nas vilas de seu obrigatório percurso. ROCHA POMBO [24] omite o seu pernoite em Pindamonhangaba, traçando-lhe o seguinte itinerário: "no dia 19 pernoitara em Lorena; em Guaratinguetá, no dia 20; em Taubaté, no dia 21", mas transcreve em nota a descrição feita a pedido de MELLO MORAES, por Francisco de Castro Canto e Mello, membro da comitiva, o qual diz ter sido Pindamonhangaba o sétimo pouso do ilustre itinerante: JOÃO ROMEIRO adota essa descrição, que é a seguinte: a 14 de agosto, primeiro dia, pernoitou na Fazenda de Santa Cruz; a 15 - segundo dia - em São João Marcos; a 16 -  terceiro dia - na Fazenda das Três Barras; no quarto dia - 17 -, em Areias; a 18 - quinto dia - em Lorena; a 19 - sexto dia - em Guaratinguetá; no sétimo dia - 20 - em Pindamonhangaba e a 21 - oitavo dia - em Taubaté.

Entretanto, há portarias datadas de Lorena, em 19, e de Guaratinguetá, em 20; mas, pelo itinerário de CANTO E MELLO e JOÃO ROMEIRO, o príncipe esteve nessas vilas, respectivamente, no quinto e no sexto dia de viagem - isto é, a 18 e 19.

Para conciliar as datas do itinerário com as das portarias, é preciso fazer como ROCHA POMBO: suprimir o pernoite em Pindamonhangaba, ao qual se referem o informante e o historiador atrás citados. O último, que é parente de uma das testemunhas presenciais do grito do Ipiranga, pois que acompanhou d. Pedro até Santos, afirma que o príncipe passou em Pindamonhangaba "parte do dia 21 e quase todo o dia 22", partindo à tardinha deste dia para Taubaté [25]. Nesse caso, teria chegado lá, não a 20 - sétimo dia de viagem - mas a 21, oitavo dia, salvo se pernoitou na Princesa do Norte dois dias consecutivos - 20 e 21. Mas como se explicam as portarias de Guaratinguetá - a 20 - e de Taubaté - a 21?

Hospedou-o fidalgamente em Pindamonhangaba o coronel Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, comandante do 3º Esquadrão da Guarda de Honra; e aí foi aguardado, com impaciência e não contido entusiasmo, pelo coronel António Leite Pereira da Gama Lobo, membro do Governo Provisório dissolvido.

Aceitou d. Pedro o oferecimento que lhe foi feito, de aumentar a sua reduzida Guarda de Honra com o contingente local, que se compunha do que de mais seleto existia entre a nobreza da opulenta vila. Sob o comando do coronel Marcondes, formaram o sargento-mor Domingos Marcondes de Andrade e os soldados Miguel de Godoy Moreira e Costa, Adriano Gomes Vieira de Almeida, Manuel de Godoy Moreira, Manuel Ribeiro do Amaral, António Marcondes Homem de Mello, Benedicto Correia Salgado e João Monteiro do Amaral, todos naturais de Pindamonhangaba; e a eles se agregaram, chegados de Taubaté especialmente para esse fim, Francisco Xavier de Almeida, Vicente da Costa Braga, Fernando Gomes Nogueira, João José Lopes, Rodrigo Gomes Vieira e Bento Vieira de Moura.

De Guaratinguetá já vinham na companhia do príncipe, incorporados à sua até então diminuta, se bem que distinta, Guarda de Honra, os soldados João Monteiro dos Santos e Custódio Lemos Barbosa [26].

Em Taubaté

Quando partiu com destino a Taubaté, o séqüito do príncipe, realçado pela beleza marcial de sua Guarda, agora bem-posta e numerosa, ostentava um aspecto de desusado brilho e imponência não vulgar. A oficialidade e soldados, com seu fardamento de gala, talhado em casimira branca, com seus capacetes dourados, que um dragão encimava, e de cuja cauda pendia um tufo de crina carmesim, montavam ginetes elegantes e fogosos, ricamente ajaezados [27].

Em Taubaté, recebeu d. Pedro um ofício da Câmara Municipal de Jacareí, escrito a 19, e que lhe foi entregue pessoalmente, em nome da mesma Câmara e do povo da vila, por um emissário especial, o capitão Raphael José Machado. Esse documento, que, além de assinado pelo juiz presidente Lino José de Moraes, pelos vereadores Bento José Mariano, Miguel Leme da Silva e Joaquim José Ferreira e pelo procurador do Conselho, Alexandre José Soares, continha 17 assinaturas de várias autoridades e pessoas de posição no lugar, foi respondido por portaria datada do Paço de Taubaté, em 21 de agosto [28].

Também o Senado Municipal de São José dos Campos, em sessão de 20 de agosto, à qual compareceram o juiz presidente Venâncio José Leme, os vereadores José Carlos de Menezes, João Vicente Ferreira e Manuel Rodrigues Chaves e o procurador do Conselho, Manuel Gonçalves Guimarães, deliberou, ao ter conhecimento da próxima chegada do príncipe real àquela vila, oficiar-lhe, protestando-lhe sua "fiel obediência e regozijo pela feliz chegada" de Sua Alteza [29].

Esse ofício foi igualmente respondido, como o da Câmara de Jacareí, por portaria lavrada em Taubaté, a 21 de agosto [30], duas provas documentais de que d. Pedro não passou todo o dia 21 em Pindamonhangaba, só se retirando no dia 22 à tardinha, como pretende o dr. JOÃO ROMEIRO [31].

Do contexto do mesmo papel se verifica que a visita do Regente era esperada em São José, com absoluta certeza; ela, todavia, não se realizou, porque, tanto da descrição de Canto e Mello, como do que relatam todos os cronistas, depois de Taubaté, Sua Alteza só parou em Jacareí, onde foi recebido por grande e majestoso séqüito de cavaleiros da localidade, à cuja frente, montando nédios cavalos bem arreados, ostentavam-se, jubilosos e arrogantes ao mesmo tempo, o capitão-mor das Ordenanças da Vila, e seus irmãos e cunhados [32].

Mogi das Cruzes, por sua Câmara reunida extraordinariamente em sessão de  22, com a presença do juiz presidente, Veríssimo Affonso Fernandes, dos vereadores Ignácio José de Almeida, Francisco Xavier Franco e Manuel Joaquim de Almeida e do procurador Manuel Barbosa de Mello, mandou-lhe um ofício, que o foi encontrar quase às portas da vila, e no qual se lhe afiançava que não havia um só mogiano que não fosse "um herói pronto a ver todo o seu numerário extinto, seu sangue espalhado, suas vidas mesmo sacrificadas, pronto a considerar tudo isto como nada quando se tratasse da defesa da Augusta Pessoa" do Regente [33].

Em Mogi das Cruzes

Na manhã seguinte, 23, partiu para Mogi das Cruzes, onde o capitão-mor Francisco de Melo, que lhe mandara um entusiástico ofício de cumprimentos, na véspera [34], hospedou-o pomposamente, cercando-o, com seus filhos e genros, do maior conforto e bem-estar possível [35].

Cerca de uma hora depois de sua chegada, fizeram-se-lhe anunciar duas comissões idas de S. Paulo especialmente para cumprimentá-lo: uma, por parte do Governo Provisório, e outra, da Câmara Municipal, ambas compostas de dois membros. Da última faziam parte o capitão-mor Eleutério da Silva Prado e o brigadeiro Joaquim José Pinto de Moraes Leme [36], este, partidário de Francisco Ignácio, e aquele, dos Andradas.

Nos documentos da época não encontramos os nomes dos que representavam em comissão o Governo Provisório. D. Pedro recusou-se a recebê-las - a primeira, porque representava um governo dissolvido, e, portanto, inexistente de fato e de direito; e a segunda, por estar ilegalmente formada de elementos que nela entraram depois dos acontecimentos de 23 de maio.

Nessa localidade é que começou a tomar todas as providências políticas que reputou indispensáveis à sua missão, e preparatórias de sua entrada na capital da província. É assim que, por decreto de 23, concedeu ao marechal Arouche a demissão, a pedido, de governador de Armas; e, "atendendo às qualidades que concorrem no marechal-de-campo Cândido Xavier de Almeida e Sousa, sendo uma delas, e a mais essencial, o amor à causa brasílica", nomeou-o para substituir interinamente o funcionário demitido; e para o seu lugar de governador das Armas da Praça e Vila de Santos, nomeou, também em caráter interino, o nosso conterrâneo tenente-coronel Joaquim Aranha Barreto de Camargo, "pessoa de toda a probidade e decidido amor à causa brasílica", e que se incorporara à comitiva, como dissemos, desde o lugar denominado Venda Grande. O novo governador de Santos partiu imediatamente a tomar posse de seu cargo, por ordem do príncipe, o que se realizou no dia 26, perante a Câmara Municipal [37].

Na Penha de França

Partindo de Mogi a 24, chegou d. Pedro e seu brilhante séqüito à Freguesia da Penha, pela tarde desse mesmo dia, aí pernoitou depois de ter expedido novos atos de autoridade, como, por exemplo, a portaria que mandou baixar ao desembargador dr. João de Medeiros Gomes, ouvidor geral e corregedor da Comarca de Itu, para que partisse imediatamente com destino a S. Paulo, "a apresentar-se a S.A.R. para ser empregado em Serviço Nacional de grande importância" [38].

Pensa VARNHAGEN [39] que esse chamado urgente era para servir na Capital; isto com o intuito de não desprestigiar os dois Andradas, seus ministros, dos quais era Medeiros partidário e amigo fiel. É, pelo menos, o que pudemos compreender do laconismo obscuro com que o autor tratou do caso perfunctoriamente.

Na mesma data, outra portaria, expedida pelo secretário itinerante, por ordem do príncipe, ordenava que, ao meio dia de 25, se achasse às portas da Cidade, para recebê-lo, a Câmara, "composta daqueles vereadores que legalmente serviram antes da desordem do dia 23 de maio... e na sua falta, dos proxime trans-actos" e que a resposta à mesma portaria fosse dada por aqueles que o deviam aguardar à entrada da da Capital [40].

Foi exatamente para determinar providências relativas à sua recepção, que preferiu estacionar na Penha, apesar de sobejar-lhe tempo para fazer sua entraa em S. Paulo no mesmo dia [41].

Aventura galante

À noite lembrou-se d. Pedro, segundo narra Canto e Mello, de mandá-lo, mais ao Chalaça, até a cidade, para observarem o estado em que ela se achava e colherem a respeito todas as informações úteis; incumbência de que se desempenharam, voltando à Penha cerca da meia noite, para cientificá-lo de que a quietação pública era perfeita.

Pensam alguns cronistas maliciosos e irônicos que o príncipe viera na companhia folgazã dos seus dois dignos comensais, e foi justamente nessa noite, tentando uma qualquer aventura amorosa em terras de Piratininga, que viu pela primeira vez a mulher fatal que tamanha influência teria de exercer mais tarde sobre sua conduta pessoal e política.

Ter-se-iam visto, a crer-se nos cochichos da época, que a tradição oral transmitiu às gerações subseqüentes, na Chácara da Figueira, que ainda há poucos anos existia no começo da atual Avenida Rangel Pestana, esquina da Várzea do Carmo. O nome provinha-lhe de uma figueira brava que frondejava pitorescamente a um dos lados da campestre habitação, resguardando-a, na quadra estiva, dos ardores caniculares, e protegendo-a, nos longos dias hibernais, contra as lufadas gélidas que, vindas do Sul, implacáveis, sopravam sobre a Capital.

Ou talvez o encontro se tivesse dado na própria casa do coronel João de Castro, pai da futura favorita e nobre titular, e residente à Ladeira da Academia, hoje Rua do Riachuelo [42]. VASCONCELLOS DE DRUMMOND [43] afirma que dona Domitila, quando o príncipe a conheceu na plena intimidade do abandono, já era conhecida de um criado particular seu, nas mesmas condições, e foi naturalmente esse dedicado fâmulo quem gabou ao fogoso rebento bragantino as prendas excepcionais da paulistana, no seu devotamento ao culto venusino. O encontro, portanto, não se teria dado logo no primeiro dia da chegada a S. Paulo, mas num dos dias subseqüentes, após as informações prestadas fidedignamente pelo brioso e prestante serviçal e amigo.

O Governo Provisório e a Municipalidade, de comum acordo, tinham adotado providências para que a recepção fosse revestida da maior suntuosidade possível, de maneira que o príncipe não fosse recebido aqui com menor aparato e ostentação do que na província de Minas [44].

Mandou-se confeccionar especialmente um rico pálio; aprontar a estrada que de Mogi das Cruzes vinha até S. Paulo, serviço de que ficou encarregado o coronel Daniel Pedro Müller, inspetor das Estradas [45], e que foi executado pelos soldados da Tropa Miliciana; preparar a estrada da Penha; consertar o aterrado do Carmo e dessecar a várzea respectiva; calçar o Largo do Palácio; intimar por editais os moradores da Cidade e Freguesias de Santa Efigênia e Bom Jesus do Braz, para que caiassem e rebocassem as suas moradias, limpassem as ruas nas testadas das casas e cobrissem de telhas os muros existentes no centro, os quais eram cobertos de palha até então; medidas essas ordenadas pela Municipalidade em combinação com o Governo Provisório [46].

Este, que se achava constituído em sessão permanente desde 29 de maio, teve notícia positiva de que o príncipe estava de viagem para aqui, a 17 de agosto, por uma participação verbal que lhe fez o reverendo João de Santa Cândida, guardião do Convento de S. Francisco da Vila de Santos, chegado da Corte nesse mesmo dia, por terra, e que assegurava que Sua Alteza devia estar em S. Paulo a 22. Logo foi nomeada uma comissão de dois membros para ir ao seu encontro, mas d. Pedro a repeliu, como vimos; e determinou-se que os 5 regimentos de tropa miliciana ficassem de prontidão nos quartéis para as continências devidas e que as câmaras e capitães-mores de cada vila mandassem a cumprimentá-lo suas deputações [47].

A Ladeira do Carmo em 1822

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Entrada na Capital. A recepção

Pela manhã de 25, d. Pedro e toda a comitiva, a que se tinham agregado quatro membros do Governo Provisório - dos não revoltosos -, o comendador Chichorro, secretário do Expediente, e dois ajudantes-de-ordens, depois de ouvirem missa na Matriz da Freguesia, montaram a cavalo e partiram em direção desta Capital. Aos lados do príncipe vinham seu secretário interino Saldanha da Gama e o padre Belchior Pinheiro, vigário de Pitangui e deputado às Cortes pela Província de Minas Gerais [48], sua terra natal.

A Guarda de Honra marchava em seguida, trajando grande uniforme, e depois dela vinham os membros da Junta, os criados particulares de d. Pedro, e várias pessoas gradas que da Capital tinham ido à Penha para acompanhá-lo em sua entrada. Avistado à distância de meia légua o movimentado séqüito, o amiudado espocar de girândolas pelo caminho ia anunciando a sua aproximação ao povo paulistano, que se apinhava no Largo do Carmo e pontos circunvizinhos. Um parque de 6 peças de artilharia , postado no terraço fronteiro ao Convento, dava, de espaço a espaço, as salvas do estilo; e repicavam festivamente os sinos de todas as igrejas.

No momento em que o príncipe transpunha, sobre o rio Tamanduateí, a ponte franca, no sopé da calçada do Carmo, o secretário de Expediente soltou os primeiros vibrantes vivas da pragmática, aos quais a multidão correspondeu em delírio.

A Tropa Miliciana, comandada pelo coronel do Regimento de Infantaria 3, José Joaquim César de Cerqueira Leme [49], estendia-se em alas, trajando uniforme de gala, desde aquela ponte até a Igreja da Sé, e desta, pela Rua da Fundição, até o palácio do Governo.

No alto da Ladeira do Carmo, um arco de majestosas proporções, ornado de galões e ramos de flores, simbolizava as portas da Cidade. Em cima dele ostentava-se a figura da Paulicéia e liam-se estes versos:

Acolhe afetos, que nas almas crias,

Honra-me a condição, meu fado emenda,

E olhos seremos, como são teus dias,

Firmem ingênua, respeitosa oferenda.

Aos lados do arco as imagens da Verdade e da Justiça; e em cima dos pedestais, dois gênios, mostrando as seguintes inscrições:

Corre a deusa de cem bocas

Pelo azul, filtrado mar;

Noutra esfera, noutro clima,

Novos numes vai cantar.

 

Nossos prados reverdejam;

Já Ceres doura a campina,

À vista do par augusto

Pedro excelso e Leopoldina.

Junto a este arco apeou-se da cavalgadura o príncipe. Aí o aguardava, com seu estandarte conduzido pelo procurador do Conselho, Luís Manuel da Cunha Bastos, a Câmara Municipal, composta, conforme designara a portaria da véspera, do seu presidente Bento José Leite Penteado e dos vereadores José Mariano Bueno, José de Almeida Ramos, "vereador transato do ano passado", em substituição do capitão José Pedro da Cunha que se achava doente em seu sítio, e "o doutor Manuel Joaquim de Ornellas, vereador mais transato" (por ser do ano de 1820), "por ter suficiência para falar e representar por parte desta Câmara o que for preciso" [50].

O bispo d. Matheus

Imagem publicada com o texto

O bispo diocesano d. Matheus, rijo apesar dos seus oitenta anos, revestido de pontifical, e rodeado do Cabido da Sé e de todo o clero paulistano, aspergiu-o na forma do cerimonial adotado. Cantadas diante de um altar portátil as antífonas e orações adequadas à solenidade, formou-se longo e solene préstito em direção da Sé. D. Pedro ia debaixo do pálio, em cujas varas pegavam, revezando-se gaudiosamente, os vereadores e outros cidadãos republicanos, trajando capa e volta [51].

O povo imenso aglomerava-se nas ruas, e das janelas forradas de custosas sedas, as senhoras das famílias principais aclamavam-no, cobrindo de rosas e outras delicadas flores o pálio magnífico. À entrada do Pátio da Sé levantava-se outro arco, imitando pedra granítica, em alusão figurada à fortaleza d'ânimo do juvenil regente, que por baixo dele passou. No centro da cimalha erguia-se Minerva, ostentando as armas do Reino Unido; e a seu lado, as figuras representativas da Lei, da Liberdade, da Felicidade e da Paz, sobre um número correspondente de pilastras, formavam um conjunto artístico talvez ingênuo na composição, mas tocante por certo de emotividade.

Na cimalha viam-se gravados os nomes de d. Pedro e dona Leopoldina, e em cada um dos largos do arco liam-se os seguintes versos:

Esteio do Brasil, príncipe amável,

Se a pátria escudas, pacificas o orbe;

Se as ditas nossas dádivas são tuas,

Teu nome ombreará co'a eternidade.

 

Bem merece que a Pátria lhe levante,

Em fino jaspe, ou bronze, alta memória,

Ou que peito, que inspira amor da glória

Em prêmio a seu suor seu nome cante.

O estro poético dos paulistanos de então era bastante frouxo, como se vê de todas as quadras transcritas; mas o seu inexcedível ardor patriótico supria as deficiências da métrica e as falhas da inspiração.

Na Sé, tinham-lhe preparado, ao pé do bispo, um rico sitial de damasco carmesim, todo enfeitado de verdes almas, curvos festões e flores odorosas. Cantou-se um Te Deum, acompanhado de música, sob a regência do mestre da capela André da Silva Gomes, que era um dos membros ordeiros da Junta dissolvida, como se sabe.

Terminada a cerimônia religiosa, dirigiu-se d. Pedro para Palácio, não mais debaixo de pálio, mas a pé, precedido da Municipalidade, com seu lábaro desfraldado ao sol, e seguido da imponente Guarda de Honra e de grande massa popular que ininterruptamente o vitoriava, tangida por indescritível entusiasmo.

À entrada do Largo, duas majestosas colunas levantavam-se, por entre as quais passou o príncipe, e em cada uma delas a figura da Fama se ostentava. Em frente do palácio governamental construiu-se uma galeria, sobre colunas jônicas, com dois vistosos coretos para música instrumental. Ao lado direito, a figura da América; à esquerda, a da Europa, e ao centro, por baixo das Armas do Reino Unido, os seguintes versos de Virgílio, em latim, e que para aqui trasladamos na prosa em que os traduziu o Espelho: "Príncipe, ó príncipe, que século feliz, que pais ditosos te houveram? Enquanto os rios forem-se ao mar, enquanto em giro a fonte vier do monte ao vale, enquanto o céu alimentar os astros, durarão os louvores à tua honra e a teu nome". Liam-se mais, na mesma galeria, inscrições com várias frases proferidas recentemente por d. Pedro na Corte do Rio.

O palácio fora alcatifado com a melhor tapeçaria que se encontrou na Cidade, tendo contribuído para o maior esplendor de sua ornamentação, a pedido do Governo e esforços do almoxarife da Fazenda Nacional, António Maria Quartim, as famílias mais abastadas que para ali enviaram ricos estofos e preciosas alfaias [52].

Depois de algum repouso, deu o príncipe começo ao expediente oficial, mandando lavrar uma portaria, pela qual nomeou para exercer interinamente o Comando das Armas até a chegada do marechal Cândido Xavier, que se achava em Santos, o coronel José Joaquim César de Cerqueira Leme, determinando-lhe que licenciasse imediatamente quantos soldados milicianos excedessem às necessidades do serviço da Guarnição [53]; e tomou outras medidas urgentes, embora de natureza secundária.

Em seguida, houve solene beija-mão, na sala principal do palácio, destinada às audiências. Sob um custoso dossel de seda, pendia de uma das paredes o retrato de d. João VI, em meio corpo; e a seu lado recebeu o príncipe, em primeiro lugar, o Senado da Câmara, e após, sucessivamente, o prelado, o clero, os membros fiéis do governo dissolvido e mais pessoas que se apresentaram, sem nenhuma preferência especial por esta ou por aquela, segundo ordem prévia e terminante de Sua Alteza. A cerimônia terminou com três descargas da Tropa Miliciana, alternadas com outras tantas salvas de artilharia e os vivas da pragmática.

À noite houve iluminação festiva, de um brilho sem precedente, na galeria fronteiriça ao palácio, em cujos coretos duas bandas musicais tocavam escolhidas peças; nos arcos do Carmo e da Sé, e em todas as casas do centro da cidade, queimou-se outrossim "imenso fogo de artifício" [54].

Finalizadas as festividades oficiais e populares, recolheu-se d. Pedro ao palacete do brigadeiro Jordão, à Rua Direita, canto da de S. Bento, e cuja entrada atual, depois de sua total reconstrução, é pela última rua. A hospedagem lhe foi ofertada por aquele brigadeiro conjuntamente com o capitão António da Silva Prado.

No dia seguinte, 26, houve novamente beija-mão, segundo se verifica das Atas da Câmara, de 25 e de 26 de agosto. Na primeira dá-se conta de como, "coberta com o Real Estandarte, e no primeiro arco defronte à porta do exmo. sr. bispo encontrou-se esta Câmara com S. A. R., recebendo-o debaixo de pálio, e daí foi-se à Sé onde se cantou Te Deum Laudamus e daí foi-se ao Paço onde deu-se o beija-mão à Câmara em primeiro lugar e depois se seguiram as mais autoridades, e daí recolheram-se nestes Paços do Conselho" [55].

Na ata de 26 conta-se que, reunidos os vereadores, o presidente da Câmara e o procurador, "para efeito de irem ao beija-mão a S.A.R. e cumprimentá-lo, daqui saíram cobertos com o Real Estandarte e foram ao Paço Real" [56]. O estandarte foi conduzido pelo capitão Francisco Leandro de Moraes Leme, que não era vereador, atual ou transato, e não conseguimos apurar que ofício ou cargo desempenhava na administração da Capital ou da Província.

Introduzida a Corporação na presença do príncipe, obtida vênia, tomou a palavra o dr. Manuel Joaquim de Ornellas, que proferiu uma ardente Fala, na qual concita a Paulicéia a, em curvatura diante do trono real, protestar ao "Príncipe Amável" que viverá sempre unida à causa comum do Brasil, "sem contudo romper jamais os laços que a prendem a Portugal, laços que cada vez deseja apertar mais, e fazer indissolúveis".

Orador bem falante, e de imaginação escandecida, não tinha entretanto o doutor Ornellas grande poder de previsão política. Estava ele para ali, em nome da Câmara, a fazer praça de sua intransigente fidelidade à união luso-brasileira, quando o príncipe, que o escutava talvez sorrindo, andava já disposto a dar o grito da separação. Com um viva aos "honrados portugueses de ambos os hemisférios", terminou sua oração. Ao que reza a ata, d. Pedro mostrou-se muito satisfeito com a pujante oração gratulatória [57].

É curioso que todos os cronistas e historiadores, cujos trabalhos perlustramos, e o próprio Espelho, periódico fluminense contemporâneo dos fatos, só se refiram ao beija-mão do dia 26 e não aludam nem mesmo por alto ao do dia anterior. Realmente, é para estranhar esse duplo beija-mão em dois dias consecutivos, dado às mesmas corporações e às mesmas autoridades. Mas aí estão os documentos, que qualquer pessoa pode examinar diretamente, querendo; e a não ser que a ata de 25 fosse lavrada e assinada antecipadamente, na expectativa de que se desse nesse dia o beija-mão, que todavia só se realizou no dia imediato, temos que aceitar o que nela se escreveu.

Não achamos plausível, aliás, a hipótese por nós mesmos figurada. Que o secretário, para adiantar serviço, no meio de tanta azáfama, escrevesse a ata - é coisa que se pode admitir; mas que os vereadores a assinassem, confirmando a veracidade de um fato não acontecido, é o que duvidamos, porque os homens públicos daquela quadra era muito severos no exato cumprimento de seus deveres. A verdade é que a sessão de 25 realizou-se efetivamente, tanto que a ata conclui registrando que foi "determinado ao procurador que desse as providências e comprasse as velas precisas para se fazer a iluminação da Câmara" [58].

No segundo beija-mão, apresentou-se o coronel Francisco Ignácio, a quem o príncipe recusou a mão, mandando-o retirar-se para fora da Capital, in-continenti. O desterrado escolheu para seu exílio a Vila de Santos, onde não tardou a chegar [59]. Segundo uma carta, a que se refere JOÃO ROMEIRO [60], escrita pelo coronel Joaquim Floriano de Toledo, que foi nomeado por d. Pedro para seu oficial de gabinete, enquanto aqui esteve, o intuito do príncipe, afastando da Capital os principais dirigentes da sedição, era evitar que, pela incontestável influência de que gozavam eles, pudessem embaraçar a devassa a que ia mandar proceder, sob a presidência de um magistrado correto, par a devida apuração das responsabilidades de quem quer que fosse.

A Corporação Literária, isto é, o Corpo de Professores Públicos, dirigiu-lhe, pelo órgão de André da Silva Gomes, uma Fala que, além dele, assinaram coletivamente os seus colegas padre Francisco de Paula Oliveira, cônego António Paes de Camargo, Joaquim António Fernandes de Saldanha, padre Manuel Joaquim do Amaral Gurgel, António Romualdo Freire e padre Ildefonso Xavier Ferreira; e nesse documento, escrito com o mais vivo entusiasmo, juram "valor, constância e intrepidez na obra começada" [61].

Também não se furtou o Cabido a cumprir o seu dever cortesão: e, "cheio de idênticos sentimentos, ousa, na Presença Augusta de V. A. R., alçar sua débil voz, abençoando o Céu pela feliz chegada de V. A. R., etc." A Fala continha as assinaturas do tesoureiro-mor João Ferreira de Oliveira Bueno, do chantre António Joaquim de Abreu Pereira, e dos cônegos António Marques Henrique (cura), Francisco Joaquim de Toledo Arouche, Lourenço Justiniano Ferreira, Joaquim José Carlos de Carvalho, António Paes de Camargo, Melchior Fernandes Nunes, Francisco José Lobo, José Gomes de Almeida e Fidélis José de Moraes [62].

Durante a sua permanência na capital, recebeu ofícios de adesão das Câmaras e autoridades civis e militares da Província, mandando que seu secretário respondesse pronta e gentilmente a todas.

A de Santos, em sessão de 26, incumbiu o marechal Cândido Xavier de cumprimentá-lo pessoalmente em nome dela e entregar-lhe o seguinte ofício, assinado pelos vereadores João Baptista Vieira Barbosa, António José Vianna e Francisco Xavier da Costa Aguiar, filho, e pelo procurador Domingos José Rodrigues: "Senhor - Entretanto que V. A. R. há por bem demorar a esta Câmara o sublime prazer de beijar pessoalmente Sua Real Mão, prostra-se por meio desta, e do marechal-de-campo, digno governador desta Praça, Cândido Xavier e Sousa, como seu representante, a oferecer da parte da mesma Câmara e povo desta Vila de Santos, aos pés de V. A. R., a mais reverente humilhação, obediência, amor e respeito que voluntariamente tributam, ao seu Augusto Defensor. A preciosa vida e importante saúde de V. A. R. rogamos a Deus que prospere e guarde pelos anos e nossos gratos desejos" [63].

Visita a Santos. Motivos que a determinaram

Depois de alguns dias de permanência nesta Capital, durante os quais freqüentou assiduamente a Ópera, onde a Companhia Zacheli - composta de artistas em sua totalidade quase analfabetos, porque a profissão de cômico era desonrosa aos olhos daquela austera população [64] - levava à cena os dramalhões talhados ao gosto da época, d. Pedro, cumprindo a promessa feita à Municipalidade Santista, resolveu seguir para a terra natal de seu dedicado primeiro-ministro pela madrugada de 5 de setembro.

Acompanharam-no unicamente o secretário itinerante Saldanha da Gama, o ajudante Gomes da Silva (o crapuloso Chalaça, oficial de ourives imperito e pouco menos de analfabeto), o alferes Francisco de Castro Canto e Mello [65], irmão mais novo da futura Marquesa de Santos; o padre Belchior Pinheiro, o brigadeiro Jordão, a Guarda de Honra, sob o comando do coronel António Pereira Lobo e o sub-comando do coronel Manuel Marcondes de Oliveira e Mello (mais tarde barão de Pindamonhangaba) e os dois criados particulares, que com ele vieram do Rio, cujos nomes já mencionamos.

Esta excursão a Santos é a parte mais lacunosa que existe na narração da visita de d. Pedro à nossa província. Os historiadores e cronistas são omissos e por demais lacônicos a respeito, e os escassíssimos documentos que se nos deparam no Arquivo da Municipalidade local, muito pouco dizem sobre o importante episódio.

Não se sabe, por exemplo, ao certo, qual o motivo determinante de sua ida a Santos. Simples passeio, para repousar das fadigas que o insano trabalho dos primeiros dias de governo nesta Capital lhe acarretava no organismo, aliás robusto? Desejo de conhecer e cumprimentar a respeitável família dos Andradas? Necessidade de verificar pessoalmente o estado das fortificações e as condições da defesa de Santos - exposta a um assalto, por mar, da ex-Metrópole, pois circulava o boato de que Portugal pretendia subjugar o Brasil pela força, sendo natural, portanto, que começasse pela mais rebelde de nossas Províncias - a de S. Paulo? Nenhum historiador o sabe. Cada qual adota um motivo e há os que, na dúvida, esposam todos os motivos ao mesmo tempo.

Amores... Amores...

Um recente panegirista da Marquesa de Santos [66], escutando as vozes de uma tradição oral centenária, insinua que dona Domitila de Castro Canto e Mello desceu à marinha, no dia 5 de setembro, em companhia de d. Pedro, que  lá a teria possuído pela primeira vez; e o título nobiliárquico com que depois a agraciou, longe de ser um acinte cruel ao orgulho bairrista dos Andradas, era apenas uma comemoração de sua máscula vitória em terras de Santos.

Não se pode acreditar que o príncipe, embora insensato e desabrido, principalmente nos arrebatamentos nervosos da volúpia, afrontasse a respeitabilidade de tanta ilustre gente que o acompanhava, levando consigo a tentadora esposa do alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça, que a abandonara desprezivelmente, depois de seviciá-la e esfaqueá-la, por convencida de adultério com mais de um galanteador desabusado.

É possível, contudo, que ela o tivesse precedido na excursão, indo aguardá-lo em Santos, pois os colóquios íntimos na própria Capital, onde vivia na casa paterna e ao lado de outros irmãos, poderiam provocar, se não grosso escândalo, ao menos reparos mordazes, murmurações, diz-que-diz-ques, capazes de enfraquecer o prestígio político do jovem príncipe naquele momento de tão graves incertezas.

Compreendendo bem os perigos e riscos da situação, teria ele, com o atilamento e a ponderação de que dava excepcionalmente mostras nas ocasiões difíceis, marcado para a terra de José Bonifácio a primeira entrevista com a mulher que deveria dentro em pouco tornar-se a mais encarniçada inimiga do varão excelso.

A verdade é que, ao chegar com sua comitiva ao porto do Cubatão, ordenou d. Pedro ao alferes Francisco de Castro que voltasse para a capital, "conduzindo ofícios que deveriam ser, quanto antes, remetidos ao ministro do Reino", segundo narra o mesmo alferes, na descrição que escreveu quando major, que MELLO MORAES publica e à qual nos temos constantemente referido.

Não é muito plausível que d. Pedro, podendo assinar e expedir ofícios urgentes antes de partir, fosse tratar dessa matéria em viagem, ao descer a serra... É mais natural que levasse consigo, já prontos, tais papéis, só para ter o pretexto de desembaraçar-se, na ocasião oportuna, do jovem irmão de sua futura manceba, entrando na Vila de Santos inteiramente forro de preocupações desagradáveis que iriam travar a cariciosa doçura do primeiro idílio, febricitantemente prelibado [67].

***

[...]


NOTAS:

[1] VARNHAGEN - Obr. cit., págs. 165 a 166; OLIVEIRA LIMA - Obr. cit., pág. 270.

[2] Docs. Ints., vol. XXXVI pág. 164. VARNHAGEN (obr. cit., pág. 166, nota 34), data de 4 o decreto que nomeou Martim para ministro. O decreto, entretanto, é de 3; a posse do novo ministro é que foi a 4 (ANTÓNIO CARLOS - O ministro da Fazenda da Independência e da Maioridade, pág. 17).

[3] Obr. cit., págs. 166 a 167.

[4] ANTÓNIO CARLOS - Obr. cit., pág. 10.

[5] Idem, ibidem, pág. 14.

[6] OLIVEIRA LIMA (obr. cit., pág. 272) informa, por engano, que o juro era apenas de 5%.

[7] ANTÓNIO CARLOS - Obr. cit., págs. 17 a 24.

[8] Ofício dirigido pela Câmara de Areias, a d. Pedro (HOMEM DE MELLO - Hist. Polit., pág.s 97 a 98).

[9] Idem, ibidem, pág. 98.

[10] Idem, ibidem, pág. cit.

[11] Obr. cit., págs. 157 a 158.

[12] Dr. JOÃO ROMEIRO - Obr. cit., págs. citadas.

[13] Dr. JOÃO ROMEIRO - Obr. cit., pág. 157.

[14] MELLO MORAES - Hist. das Consts., vol. 1º, pág. 381.

[15] Docs. Ints., vol. XXXVI, pág. 166.

[16] HOMEM DE MELLO - Hist. Polít., págs. 98 a 99.

[17] JOÃO ROMEIRO (obr. cit., pág. 152) diz, por engano, que se tratava de uma comissão, quando a Câmara enviara apenas um delegado, como dizemos no texto. MELLO MORAES informa que o enviado do clero de Taubaté é que já se achava em Guaratinguetá, esperando o príncipe. É possível até que todas as delegações taubateanas lá se encontrassem com esse fim.

[18] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., págs. 93 a 94.

[19] Idem, ibidem, págs. 94 a 95.

[20] Ofício transcrito por HOMEM DE MELLO (Obr. cit., págs. 95 a 96).

[21] Na transcrição lê-se apressaram em vez de esperavam, o que pensamos ser erro de cópia.

[22] Na transcrição de HOMEM DE MELLO lê-se especiosos, parecendo-nos erro de cópia ou de impressão.

[23] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., pág. 96.

[24] Obr. cit., 7º vol., pág. 733.

[25] Idem, pág. 152.

[26] Dr. JOÃO ROMEIRO - Obr. cit., págs. 152 e 153.

[27] Idem, ibidem, págs. 153 e 160.

[28] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., pág. 103.

[29] Idem, ibidem, pág. 104.

[30] Idem, ibidem, pág. cit.

[31] Obra cit., pág. 152.

[32] Relato de Canto e Mello (Em MELLO MORAES - Obr. cit., vol. 1º, pág. 381).

[33] HOMEM DE MELLO - Hist. Polít., pág. 135.

[34] Idem, ibidem, pág. 136.

[35] MELLO MORAES - Obr., vol. e pág. cits.

[36] Actas da Câmara Municipal de S. Paulo, vol. XXII, págs. 626 a 627.

[37] Os Andradas - 1º vol., págs. 295 a 296.

[38] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., pág. 129.

[39] Obr. citada, pág. 181.

[40] Registro Geral da Câmara de S. Paulo, vol. XVI, pág. 460.

[41] JOÃO ROMEIRO - Obr. cit., pág. 154.

[42] ALBERTO RANGEL - D. Pedro I e a Marquesa de Santos, pág. 60.

[43] Obr. cit., pág. 60.

[44] Registro Geral da Câmara Municipal de S. Paulo, pág. 418.

[45] Idem, pág. 361.

[46] Idem, págs. 360 a 418.

[47] Actas do Govêrno Provisório de S. Paulo, pág. 157.

[48] O Espêlho, do Rio, que narra minuciosamente a entrada de d. Pedro em S. Paulo, em vez do padre Belchior Pinheiro de Oliveira, fala num dr. Belchior Pinto de Oliveira. O dr. EUGÉNIO EGAS, que transcreve essa narrativa no seu opúsculo O Grito do Ipiranga, não corrige, entretanto, esse manifesto equívoco (pág. 9).

[49] O Espêlho troca este nome por José Joaquim César de Siqueira Lima, engano que também não é retificado pelo dr. EUGÉNIO EGAS (pág. 10).

[50] Actas da Câmara de S. Paulo, págs. 628 a 629.

[51] Registro Geral da Câmara de S. Paulo, vol. XVI, pág. 424.

[52] O Espêlho, no opúsculo de EUG. EGAS, cit., pág. 12.

[53] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., pág. 130.

[54] O Espêlho (loc. cit.), pág. citada.

[55] Actas da Câmara de S. Paulo, vol. XXII, págs. 629 a 630.

[56] Idem, ibidem, págs. 630 a 631.

[57] Idem, ibidem, vol. cit., pág. 631.

[58] Actas da Câmara de S. Paulo, vol. cit., pág. 630.

[59] O dr. E. EGAS (opúsc. cit., pág. 13), seguindo a narração de Canto e Mello, publicada por MELLO MORAES (obr. cit., págs. 381-382), informa que d. Pedro o mandou para o RIo. O certo, porém, é que ele ficou em Santos. O mesmo Canto e Mello acrescenta que, com Francisco Ignácio, apresentara-se também o intendente da marinha de Santos, chefe de esquadra Oliveira Pinto, que teve igual acolhimento.

[60] Obr. cit., pág. 155.

[61] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., págs. 133 a 134.

[62] Idem, ibidem, págs. 139 a 140.

[63] HOMEM DE MELLO - Obr. cit., pág. 141.

[64] E. EGAS - Opúsc. cit., pág. 20.

[65] JOÃO ROMEIRO (obr. cit., pág. 156, E. EGAS (opúsc. cit., pág. 14) e talvez outros cronistas investigadores e historiógrafos dão a Canto e Mello o posto de major, quando, na ocasião, era ele apenas alferes, promovido a 21 de agosto, em Taubaté, pois que da Corte viera como simples cadete de cavalaria da Legião das Tropas Ligeiras na qual assentara praça a 1º de janeiro de 1815 (ALBERTO RANGEL - Obr. cit., págs. 81 e 120 a 121). Em 1822 contava Francisco de Castro Canto e Mello 23 anos, um ano menos que d. Pedro.

[66] ALBERTO RANGEL - Obr. cit., págs. 97 a 98.

[67] Há um patente erro tipográfico na transcrição que do relatório de Canto e Mello faz o descuidado MELLO MORAES. Está lá escrito: "Chegando ao Cubatão, ordenou-LHE Sua Alteza que voltasse..." O pronome posto na terceira pessoa levaria o leitor a pensar que essa ordem foi dada ao brigadeiro Jordão; mas pela leitura de todo o período verifica-se que se trata do próprio narrador, do próprio alferes Canto e Mello.

Como esse trecho tem sido trasladado noutras obras com a persistência do sobredito erro, aqui o transcrevemos expurgado dele: "Chegando ao Cubatão, ordenou-ME Sua Alteza que voltasse, conduzindo ofícios, que deveriam ser, quanto antes, remetidos ao ministro do Reino; e como levasse eu, ao regressar no dia 7, a notícia, de que o major António Ramos Cordeiro, vindo do Rio de Janeiro, se achava em São Paulo, sendo portador de despachos do governo de Portugal e ofícios importantes, e dando disso parte a Sua Alteza, em caminho, onde o encontrei, na tarde desse mesmo dia, já no lugar denominado Moinhos, resolveu apressar a marcha em que vinha para a Capital, e o fez adiantando-se algum tanto dos que o acompanhavam".

Das frases que grifamos não resta a menor dúvida de que foi a Canto e Mello, e não a qualquer outro da comitiva, que o príncipe fez voltar do Cubatão para S. Paulo, na tarde de 5 de setembro.

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