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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS - BIBLIOTECA
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A história do Patriarca da Independência e sua família

Esta é continuação da transcrição da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, em seu capítulo II (A Família Andrada), com ortografia atualizada (páginas 294 a 323):
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Omissões e erros genealógicos. Acréscimos e retificações

Em 1822, ano da Independência, fez-se na Capitania, como nos anos anteriores, um recenseamento geral da população, do qual, entretanto, não conseguimos averiguar a data certa. Mas, pelo volume correspondente a Santos [55], e que reproduzimos integralmente no último tomo desta obra, pode-se afirmar que é contemporâneo daquele acontecimento, ou, por outra, foi provavelmente executado depois de sete de setembro.

A primeira pessoa que nele figura é o ilustríssimo governador das Armas, o tenente-coronel Joaquim Aranha Barreto de Camargo. Ora, este governador que, digamo-lo de passagem, mui célebre se tornou na história local pela sua implacável energia, fora nomeado por decreto de 23 de agosto de 1822 [56], dado e assinado no Paço de Mogy das Cruzes, pelo príncipe-regente que vinha do Rio a S. Paulo, em excursão de caráter essencialmente político.


Fac-símile do Ofício à Câmara de Santos, participando a nomeação do tenente-coronel Joaquim Aranha para governador da Praça
(No Arquivo da mesma Câmara)

No ofício em que se participava à Câmara santista a referida nomeação - Ofício [57] que aqui reproduzimos em fac-simile, a título de curiosidade - recomenda o seu alto signatário, o secretário d'Estado interino, Luís de Saldanha da Gama, depois marquês de Taubaté, que se dê posse imediata ao novo governador.

Este, que também se achava em Mogi, pois correra a juntar-se, na Venda Grande, ao séqüito de d. Pedro, é natural que tivesse sido o próprio portador do decreto e do ofício, em vista da urgência com que devia de ser investido nas funções do cargo, vago com a remoção do marechal-de-campo Cândido Xavier de Almeida e Sousa, para governador das Armas da Capitania, por decreto de 23 do mesmo mês e ano, em substituição do marechal José Arouche de Toledo Rendon, que pedira demissão desse posto [58], no qual fora provido por decreto de 20 de maio do referido ano [59].

Tomou posse o tenente-coronel Aranha a 26 de agosto de 1822, perante a Câmara Municipal santista, segundo consta do Termo de Vereança, exarado no livro competente, folha 9, verso, e assinado pelo presidente João Baptista Vieira Barbosa, pelos vereadores Francisco Xavier da Costa Aguiar Filho e Joaquim José da Silva, e também pelo empossado [60].

Parece-nos, portanto, fora de toda a dúvida que o minucioso trabalho censitário de 1822 foi feito nos últimos meses do ano - de setembro a dezembro - uma vez que o nome do novo governador já nele figura na sua página inicial, inteiramente e honrosamente separado do dos outros habitantes; e o do seu antecessor ali já não aparece.

Assim, pois, esse precioso documento é, como atrás afirmamos, posterior de poucos meses ou de poucos dias ao grito do Ipiranga. É mais provável até que date do último dia do ano, por ser não apenas um simples arrolamento de pessoas, mas também um balanço anual das condições econômicas do meio.

Serve ele, portanto, para dar uma perfeita idéia do aspecto demográfico de nossa terra, no ano mesmo da Independência, com os seus 4.781 habitantes, entre os quais preponderavam os de condição livre, compostos na sua quase totalidade de brancos e de pardos. O elemento masculino, pela primeira vez, sobrepujava então o feminino.

Percorrendo o volume censitário em questão, vamos encontrar morando à Rua Direita uma das irmãs de José Bonifácio, dona Bárbara Joaquina de Andrada Aguiar, com 54 anos, e já então viúva do coronel Francisco Xavier da Costa Aguiar [61].

Com ela habitavam seus filhos António Carlos da Costa Aguiar de Andrada, solteiro, com 27 anos, ajudante de artilharia: alferes e depois tenente de artilharia João Feliciano da Costa Aguiar, solteiro, com 20 anos [62] e Joaquim da Costa Aguiar, solteiro, com 25 anos. A casa possuía 7 escravos, dos quais 2 homens e 5 mulheres.

O filho mais velho de dona Bárbara, Francisco Xavier da Costa Aguiar, de 38 anos, negociante, morava na casa vizinha, com sua esposa, dona Maria Zelinda, de 28 anos [63], e suas duas filhinhas, Maria Bárbara, de 2 anos, que morreu solteira, e Carlota Emília, de 1 ano, que veio a ser muitos anos depois baronesa de Penedo, pelo seu casamento com o barão desse título.

Era Francisco Xavier negociante conceituado, e em 1819 já exercia as funções de vereador, por nomeação de d. João VI, lavrada a 29 de novembro do referido ano [64], e em 1823 ainda ocupava esse cargo popular, conforme se vê do documento que publicamos na íntegra no lugar competente, pois foi um dos que compareceram perante o juiz de fora, dr. João de Sousa Pereira Bueno, para, na sua qualidade de edil, "jurar a Constituição arranjada por d. Pedro".

Nascido em 1785, e batizado a 20 de março desse ano, faleceu Francisco Xavier da Costa Aguiar Filho a 26 de dezembro de 1850, com 65 anos e 9 meses de idade, vitimado por uma apoplexia [65].

Os outros filhos de dona Bárbara, chamados Bento Francisco da Costa Aguiar, José Ricardo da Costa Aguiar e d. Rita da Costa Aguiar [66], não figuram no recenseamento em questão. Do primeiro conseguimos saber que ainda existia em 1810, e tinha então 12 anos, e residiu, por mais de uma vez, temporariamente, com seus pais, em S. Paulo, à Rua do Carmo, segundo vimos nos recenseamentos relativos a diversos anos.

Nada mais apuramos a seu respeito, a não ser que se casou com uma senhora dona Bárbara Pacheco e desse casamento nasceu, entre outros filhos, d. Josephina da Costa Aguiar de Andrada, que se maridou com Francisco Martins dos Santos, dando origem à conhecida família santista desse nome [67].

O segundo, como se sabe, encontrava-se na Europa, no brilhante desempenho de seu mandato de deputado por S. Paulo às Cortes Gerais do Reino, tendo tomado assento na sessão de 2 de julho de 1822 [68].

Quanto à dona Rita Olívia (ou Leocádia), o genealogista a que nos temos referido mais de uma vez [69] diz-nos que fora casada com o marechal-de-campo Cândido Xavier de Almeida e Sousa, de quem tivera quatro filhos. Ora, tendo este ilustre militar passado a residir em S. Paulo nesse ano, por ter sido nomeado para comandante das Armas da Província, nada mais lógico do que ter levado consigo sua mulher e sua prole.

O sargento-mor Torquato Teixeira de Carvalho

Mas, sabíamos nós, com plena certeza, que fora casado o marechal com dona Lourença Maria de Carvalho, mais velha que ele doze anos, viúva de Bento Francisco Lustosa e filha do sargento-mor Torquato Teixeira de Carvalho [70] e que desse consórcio não houvera descendência. Preocupamo-nos então em averiguar de qual dos casamentos enviuvara primeiro o marechal Cândido Xavier.

Dona Rita, se vivesse ainda em 1822, não poderia ter mais de 26 anos, porquanto era a quinta filha do casal, e seu irmão imediatamente mais velho numerava então 27 anos; contando seu esposo a bagatela de 73, estabelece-se uma diferença desproporcional de quase meio século entre os dois cônjuges.

Por outro lado, AZEVEDO MARQUES [71], laborioso e paciente investigador, afirma que o velho militar morreu em Santos, a 25 de dezembro de 1831, sem deixar descendência, no que é modernamente contrariado pelo autor dos Apontamentos Genealógicos que lhe dá nada menos de quatro filhos, conforme já notamos.

Tivemos, em vista disso, de proceder a indagações mais positivas e chegamos finalmente à conclusão de que ambos se equivocaram. O equívoco ou erro de Azevedo Marques é parcial, porque, se é verdade que o marechal não deixou descendência legítima, é também verdade que deixou um filho legitimado, António Cândido Xavier de Carvalho e Sousa, que foi justamente quem se casou com Dona Rita, conforme a certidão que transcrevemos na nota abaixo [72], tendo-se enganado completamente a respeito o dr. JOSÉ BONIFÁCIO, que confundiu o pai com o filho.

Este, que era de ofício escrivão da Alfândega, residiu no lar paterno até se casar, mesmo enquanto vivia a mulher de seu progenitor, conforme se verifica das relações nominais dos habitantes de Santos, organizadas nos diversos recenseamentos a que nos temos constantemente referido, como repositórios concretos de informações históricas fidedignas.

Pelos dados do censo de 1822, em cujo manuscrito original estamos forrageando bastantemente as nossas interessantes investigações [73], a seguinte ordem cronológica adotada pelo DR. JOSÉ BONIFÁCIO [74] em relação à descendência de d. Bárbara Joaquina: 1º) Francisco Xavier; 2º) Bento Francisco; 3º) António Carlos; 4º) José Ricardo; 5º) d. Rita e 6º) Joaquim Maria, deve, por errada e incompleta, ser substituída e completada por est'outra:

1º) Francisco Xavier da Costa Aguiar, batizado a 20 de março de 1785 [75];

2º) José Ricardo da Costa Aguiar, nascido a 15 de outubro de 1787 [76]. e batizado a 21 do mesmo mês e ano [77];

3º) Maria, batizada a 21 de junho de 1789 [78] e que provavelmente morreu em tenra idade, pois não encontramos o seu nome nos recenseamentos que consultamos;

4º) Rita Leocádia (ou Rita Olívia), batizada a 29 de maio de 1791 [79];

5º) António Carlos da Costa Aguiar, batizado a 25 de fevereiro de 1795 [80];

6º) Joaquim Justiniano [81], batizado a 27 de setembro de 1796 [82]. Casou-se a 21 de fevereiro de 1829 com dona Miquelina Solano, filha de Innocêncio Solano e sua mulher d. Maria Joaquina. Os noivos eram parentes no 3º grau de consangüinidade em linha transversal [83].

7º) Bento Francisco [84], batizado a 4 de dezembro de 1798;

8º) João Feliciano da Costa Aguiar de Andrada, batizado a 15 de junho de 1802 [85] e falecido "ético" a 2 de julho de 1828, contando, pois, 26 anos e 22 dias de existência. Era solteiro e foi sepultado na Igreja do Carmo [86];

9º) Viriato, nascido a 29 de abril e batizado a 8 de maio de 1804. Foram padrinhos seu tio Francisco Eugênio de Andrada e sua irmã d. Rita Leocádia [87]. Morreu no mesmo ano do seu nascimento, porquanto não consta o seu nome da lista censitária desse ano e dos subseqüentes. Por não existir o livro de óbitos respectivo não pudemos fazer averiguação direta do fato.

Eram, portanto, nove, e não apenas seis, os filhos do coronel Francisco Xavier e d. Bárbara Joaquina.

Mas não é só em tais pormenores que erra de contínuo o operoso genealogista mineiro. Em 1822, d. Bárbara contava 54 anos, e não podia mesmo ter menos disso, pois já era avó, seu filho mais velho, Francisco, tinha 38 anos e José Ricardo, seu segundo filho, 35, porquanto nascera a 15 de outubro de 1787, sendo batizado a 21 do mesmo mês e ano, na Igreja Matriz, pelo padre Luís José dos Reis, com beneplácito do vigário José Xavier de Toledo.

Todavia, o DR. JOSÉ BONIFÁCIO, no seu opúsculo, coloca a ilustre senhora em sexto lugar na descendência do casal Andrada, muito depois de António Carlos e Martim Francisco, que aí figuram como seus irmãos mais velhos.

Ora, se em 1822 António Carlos tinha 49 anos e Martim Francisco, 46, é claro que dona Bárbara era muito mais idosa que qualquer deles, pois com menos de 45 anos não podia ter um filho de 38, como Francisco Xavier, e outro de 35, como José Ricardo.

É evidente o engano em que incorreu o erudito genealogista andradino. Além disso, os recenseamentos locais do tempo, que compulsamos em seus manuscritos no Arquivo do Estado depois das nossas primeiras investigações, corroboraram plenamente as conclusões lógicas a que tínhamos anteriormente chegado.

Dona Bárbara vem logo após dona Maria Flora como se verá adiante, e é o 4º nome da lista, pela ordem cronológica, seguindo-se-lhe Bonifácio José de Andrada, de profissão lavrador, que residia também à Rua Direita, num prédio mais adiante da casa de sua irmã mais velha, e contava então 53 anos. Só depois é que vêm António Carlos e Martim Francisco, respectivamente no sétimo e no oitavo lugares [88].

Relação nominal, acrescida e correta, dos filhos do casal Andrada

Assim, pois, a ordem em que colocou os filhos do casal Andrada, encampando um erro antigo de AZEVEDO MARQUES, deve ser alterada conforme a lista nominal, rigorosamente certa, que damos de seguida, com as notas biográficas que coligimos e os respectivos acrescentamentos e retificações:

1º) Patrício Manuel Bueno de Andrada - Nasceu em Santos e foi batizado a 24 de março de 1760, sendo seus padrinhos José Alves da Costa, por procuração outorgada ao doutor, depois padre, José Bonifácio de Andrada, de quem já nos ocupamos; e Anna Maria, ambos seus tios, por serem filhos do coronel José Ribeiro de Andrada. (N.E.: o historiador José da Costa e Silva Sobrinho corrige a grafia do nome, que deveria ser Patrício Manuel de Andrada e Silva, conforme consta em vários documentos, inclusive em seu testamento).

Ordenação sacerdotal

A 22 de abril de 1779 requereu, com seus irmãos José Bonifácio, Bonifácio José, António Carlos e Martim Francisco, ao bispo diocesano, d. frei Manuel da Ressurreição [89], que, para o efeito de "seguirem o Estado Eclesiástico e nele serem promovidos a ordens menores e sacras, desejam ser admitidos a que se lhes façam as diligências de genere" [90].

O requerimento obteve despacho favorável e foi remetido, para os fins de direito, ao provisor dr. Gaspar de Sousa Leal [91]. Somente o jovem Patrício Manuel seguiu a carreira sacerdotal, recebendo ordens sacras por sentença de 1º de maio de 1783, quando contava apenas 23 anos incompletos. Seus irmãos tinham requerido as diligências de genere unicamente para justificarem documentalmente a pureza genealógica do seu sangue.

Seis anos depois estava o padre Patrício exercendo as funções de vigário encomendado da paróquia de Paranapanema, que era sede da Vigararia da Vara, à qual se achavam subordinadas as freguesias de Vila Nova da Faxina e Vila Nova de Apiahy [92].

Carreira eclesiástica

Não sabemos em que dia do ano de 1789 foi feita a sua nomeação e quanto tempo durou o seu mandato; o certo, porém, é que em 1801 já residia ele novamente em Santos, ao princípio em companhia de sua mãe e irmãos, na casa da Rua Direita e depois em prédio de sua propriedade, à Rua de Santo António.

De Santos não mais saiu até morrer, excetuando-se uma pequena residência que fez na Conceição de Itanhaém, onde, a 10 de junho de 1835, investido das atribuições de vigário pro-parocho, batizou a "inocente Rita, filha de Maria Joaquina" [93].

Vida civil

Na esfera da vida civil prestou não diminutos serviços à causa pública em Santos, aceitando, aos 69 anos de idade, o mandato de vereador nas primeiras eleições a que se procedeu depois da lei imperial de 1º de outubro de 1828, que reorganizou as Câmaras Municipais, marcou suas atribuições e deu outras providências.

As Instruções respectivas baixaram com o decreto do ministro do Império, de 1º de dezembro de 1828, autorizando os presidentes das províncias a designarem o dia para as referidas eleições.

Em conseqüência, o vice-presidente de S. Paulo, em exercício, dr. Manuel Joaquim de Ornellas, marcou-as, por ato de 16 do mesmo mês e ano, para 1º de fevereiro de 1829.

Câmara dos Padres

Em Santos, foram eleitos, e tomaram posse a 26, os seguintes cidadãos: reverendíssimos padre José Ignácio Rodrigues de Carvalho (escolhido para presidente), padre Manuel Ângelo Figueira de Aguiar, padre Patrício Manuel Bueno de Andrada e padre Joaquim José de Carvalho e António Manuel da Silva Bueno, Francisco Xavier da Costa Aguiar (filho) e António Martins dos Santos.

Como se vê, numa totalidade de sete membros, quatro eram sacerdotes, razão por que ficou essa câmara popularmente conhecida pelo nome de Câmara dos Padres.

Resignação de mandato. Um acidente

A 7 de outubro de 1831, padre Patrício, não só em virtude de sua idade proveta e achacosa, mas também pelos incômodos resultantes de "um desgraçado incidente" de que foi vítima, pediu dispensa de continuar servindo por mais tempo, segundo lemos na petição por ele enviada à Câmara, naquela data [94].

O acidente, de que se queixava, consistira na queda que levou ao descer uma escada. "Dessa queda - atestava o cirurgião-mor reformado do Corpo de Artilharia, Manuel José de Faria, que dele tratava - provieram dores sobre as costelas do lado direito, que se estendem à região lombar e que têm resistido a todos os remédios que se lhe têm aplicado, embaraçando-lhe o livre uso de certos movimentos" [95].

Não sabemos qual o despacho proferido, ou decisão tomada pela Câmara, porque do Arquivo Municipal de Santos de há muito desapareceram quase todos os documentos relativos à nossa história colonial e aos primeiros anos de nossa independência política.

Serviços à Philantrópica e à Santa Casa

Em 1832 foi suplente do Conselho Deliberativo da Sociedade Philantrópica, fundada, como expusemos no capítulo anterior, especial e exclusivamente para cobrir os déficits que anualmente se verificassem no orçamento da Santa Casa de Misericórdia; e de 25 de janeiro de 1837 a 10 de maio de 1840, ano em que desapareceu a mesma Sociedade, exerceu com dedicação exemplar a sua presidência [96].

Conhecidos, como fizemos, os importantíssimos serviços que à Misericórdia prestou em situação anormal a Philantrópica - é claro que aos sócios que ocupavam os postos superiores da sua administração é que se deve a maior parte de tais serviços. Além disso, trabalhou diretamente pelo engrandecimento da velha Irmandade, da qual foi tesoureiro no ano compromissal de 1828 [97].

Não se dedicou exclusivamente aos deveres de seu cargo sacerdotal. Aventurou-se à vida industrial, estabelecendo um engenho de açúcar "em terras de serra acima"; e em Santos fez-se comerciante, exportando por conta própria, e de terceiros, gêneros paulistas para outras províncias, e assim conseguiu acrescentar ao que herdara de seus pais uma grande fortuna, quase toda empregada em prédios para renda e terras lavradias.

Morte e testamento

Faleceu o padre Patrício, "de uma indigestão" [98], a 8 de fevereiro de 1847, pela meia noite, aos 87 anos de idade, sendo somente absolvido e ungido. Seu corpo foi acompanhado por todo o clero secular e regular da Cidade, desde a residência do morto, à Rua de Santo António nº 22, até a Igreja Matriz, em cuja capela-mor o sepultaram, ao lado da Epístola.

Deixou recomendado em testamento que lhe fizessem o enterro com a indispensável decência, mas fora de todo o luxo, vaidade ou pompa, pretendendo que revertessem aos pobres as importâncias que se tivessem de gastar com um funeral em tais condições.

Mandou rezar missas, de esmola de 640 réis cada uma, por intenção de todos os seus escravos falecidos; deixou 400$000 réis para serem distribuídos pelos pobres, preferindo-se famílias desamparadas e reconhecidamente honestas; 50$000 réis aos mendicantes; à Santa Casa de Misericórdia local a quantia de 400$000 réis, e instituiu dois dotes de 300$000 cada um em favor de duas órfãs de pai ou de mãe, que tivessem boa conduta e costumes puros, paga de sua terça a décima deste legado.

Foram contempladas com esses dotes, por escolha feita em vida pelo próprio testador, e por ele comunicada à sua primeira testamenteira, as senhoritas "Amélia, filha legítima do falecido António Cândido Xavier de Almeida e Sousa", casado, como se sabe, com uma sobrinha do padre Patrício; e "Teresa, filha legítima do falecido capitão Joaquim Custódio Rodrigues" [99].

Quando se procedeu à demolição do antigo templo paroquial santista, os ossos do velho sacerdote, que se achavam encerrados numa urna de jacarandá, obra sólida e elegante, numa de cujas faces está pregado um cartão de prata com o seu nome e a data de sua morte - foram removidos para a Igreja do Rosário, que serve de Matriz provisória (N.E.: na época desta publicação, 1922, a antiga Matriz já havia sido demolida - em 1908 -, mas a Catedral na Praça José Bonifácio só seria inaugurada dois anos depois, em 4/10/1924), onde jazeram por algum tempo atirados a um canto da sacristia, até que por iniciativa do padre dr. Martins Ladeira, ex-vigário de Santos e hoje secretário geral do Arcebispado de S. Paulo, a Prefeitura local mandou depositá-los na capela do Cemitério do Paquetá, e aí permanecem à espera de que o poder competente lhes designe um lugar condigno para seu perpétuo repouso.

Sumária apreciação de seus méritos

Não foi o padre Patrício um varão eminente por suas virtudes, talentos ou feitos. Figura apagada, amesquinha-se completamente em face da estatura colossal de seus três irmãos imediatos. Mas amou sua terra natal dentro dos limitados recursos de seu temperamento apático e retraído; serviu, mesmo depois de quase octogenário, nas funções da vereança; trabalhou, ao lado de sua família, para levantar as depauperadas forças da Misericórdia em decadência; em suma, não foi indiferente de todo à sorte do triste vilarejo colonial em que nascera e onde residiu, quase ininterruptamente, cerca de noventa anos.

É justo, portanto, que se rendam homenagens proporcionais aos seus relativos méritos, assinalando-se-lhe um local em que fique definitivamente guardado o que resta do seu extinto organismo.

Não nos esqueçamos, afinal, que foi ele o primogênito dos Andradas e se não contribuiu diretamente para a glória destes, nada fez, nem mesmo indiretamente, que a mareasse ou denegrisse (N.E. após a publicação desta obra, em 7 de setembro de 1923, foi inaugurado o Panteão dos Andradas, que recebeu também os restos mortais do padre Patrício).

Prole que deixou

Deixou o padre Patrício duas filhas legitimadas pela Mesa do Desembargo do Paço, conforme narramos na nota 3 da página 297 deste volume, as quais ficaram como únicas e necessárias herdeiras de duas terças de seus bens [100].

2º) José Bonifácio de Andrada e Silva, de quem nos ocuparemos extensamente no capítulo imediato.

Dona Maria Flora. Pesquisas sobre o ano de seu nascimento

3º) Dona Maria Flora Ribeiro de Andrada - Segundo o recenseamento de Santos, do ano de 1765, Bonifácio José de Andrada tinha, nesse ano, os três seguintes filhos: 1º) Patrício, com 5 anos; 2º) José, com 2 anos e 3º) Maria, com 1 ano.

Pelos dados referentes aos dois primeiros, verifica-se logo que o recenseamento está exatíssimo, porquanto o padre Patrício nasceu, de fato, em 1760 e José Bonifácio, em 1763, conforme os documentos oficiais autênticos que mencionamos nesta obra. De dona Maria Flora não conseguimos a certidão de idade, por não existirem mais os livros respectivos, mas não é de crer que só em relação a ela o recenseamento que falou a verdade quanto a seus irmãos mais velhos, cometesse uma inadmissível inexatidão.

Tinha ela, em 31 de dezembro de 1765, um ano de idade; logo, nascera em 1764, e que ela era o terceiro rebento do casal é o que não resta dúvida alguma, diante do que diz o recenseamento em questão, que apenas registra a existência desses três filhos.

É certo que do assentamento de seu óbito consta que ela morreu com mais de 81 anos (quer dizer: cerca de 82); nesse caso, teria nascido em 1769, o que é absolutamente inaceitável, pois nesse ano exatamente nascia seu irmão Bonifácio, como se verificará do documento citado mais para diante.

O que pudemos observar, através dos vários recenseamentos que examinamos, é que, à proporção que avançava em idade e o seu estado de celibatismo se prolongava, d. Maria Flora, pagando um natural tributo à sua justa vaidade de mulher, diminuía certo número de anos na contagem do tempo transcorrido. Quando chegou à velhice, já estava habituada a esse desconto.

Funções que ocupou

Nascida, pois, em 1764, a ilustre senhora residiu sempre em Santos, em companhia de sua carinhosa e veneranda progenitora (N.E.: na verdade, genitora, mãe), enquanto esta viveu, e depois em companhia dos irmãos que lá se achavam, até que os acontecimentos políticos da Independência obrigaram-na a fixar-se na Corte, por ter sido chamada a desempenhar as altas funções de camareira-mor da primeira imperatriz do Brasil [101].

Após a queda política e expulsão dos Andradas, tendo solicitado e obtido exoneração de seu honroso cargo, transferiu-se de novo para sua terra, onde residiu definitivamente.

Serviços à sua terra natal

Aí, além de vários atos de beneficência privada, que praticou magnanimamente, ajudou a fundar, com outras senhoras da alta roda social daquele tempo, e a prestigiosa cooperação de cavalheiros estimáveis e igualmente generosos, a Sociedade Philantrópica Santista, de que já nos ocupamos, e na qual exerceu desveladamente as funções de suplente da promotora.

A sua polida educação moral e inteligência de quilate fino deram grande brilho e realce à agitada Corte do primeiro Império. A imperatriz d. Leopoldina votava-lhe a mais tocante afeição.

Falecimento

D. Maria Flora faleceu solteira, de um insulto apoplético, a 22 de julho de 1851, contando mais de 81 anos de idade, segundo o assentamento constante do Livro Parochial [102], mas na realidade tinha 87 anos de acordo com o que há pouco dissemos. Foi sepultada no cemitério público de sua terra natal [103], pois, desde 1850, em virtude do Aviso do ministro do Império, de 16 de março desse ano, estavam proibidos os enterramentos nos templos e fora aberto o cemitério do Paquetá.

Dona Bárbara Joaquina. Seu casamento com Francisco Xavier da Costa Aguiar. Biografia deste

4º) Dona Bárbara Joaquina de Andrada, nascida em 1766. Casou-se com o português Francisco Xavier da Costa Aguiar, natural da Vila de Penela, Bispado de Coimbra, filho do dr. Bento da Costa Reis, natural da Conraria, no mesmo bispado, e de dona Rita Maria Leocádia, também de Penela. Da prole que teve o casal, já falamos, por questão de método, em páginas anteriores deste mesmo capítulo.

Francisco Xavier vivia folgadamente de alguns artigos comerciais e das comissões que tinha de Lisboa [104]. Ocupou cargos públicos de maior destaque em nossa terra, como, por exemplo, o de capitão-mor, que exerceu durante longos vinte e um anos, de 1797 a 1818, a contento geral do povo e do governo, e para o qual fora indicado e proposto em primeiro lugar, em lista tríplice, pela Municipalidade reunida em sessão de 10 de agosto de 1797 [105]. Em 2º lugar, a indicação recaíra no sargento-mor, Caetano José da Silva, tenente-coronel de Milícias, agregado, e governador do Forte da Estacada.

Era negociante, casado, mas sua mulher vivia em Lisboa; e seu filho, Cypriano Proost da Silva, de 18 anos de idade, desempenhava as funções de ajudante do dito Forte [106].

O indicado em terceiro lugar fora o administrador do contrato do sal, Luís Pereira Machado, negociante, casado, morador à Rua de S. António, em companhia de sua mulher e três filhos [107].

Justificando a preferência dada a Francisco Xavier, assim se exprimia a Câmara Municipal: "...a razão de nomearem o capitão Aguiar em primeiro lugar, era por ser casado, e bem estabelecido em bens nesta Vila e ter servido com boa aceitação o posto de capitão de Auxiliares e ser de boa conduta e capacidade para poder ser empregado no cago em que o nomearam" [108].

E o governador da Capitania, Mello e Castro, aceitando a indicação da Edilidade santista, proveu-o no cargo porque, além das condições exigidas pelo Regulamento respectivo, tratava-se de um "homem que havia estudado Geometria", a fim de "seguir a profissão de engenheiro e poder com esses conhecimentos melhor defender-se e executar as ordens que receber", sendo "sem dúvida o mais apto daquela Vila", para exercer o emprego [109].

O cargo de capitão-mor era de maioríssima importância nos velhos tempos do absolutismo colonial. No regime das Donatarias, em que permaneceu dividido o Brasil na primeira fase de sua existência, os capitães-mores eram loco-tenentes dos donatários, em cujo nome exercitavam as respectivas funções, com jurisdição em toda a Capitania, sem outro limite que a sujeição aos governadores gerais do Estado, ouvidores e provedores gerais [110].

Depois que a Coroa incorporou ao seu patrimônio as capitanias hereditárias, mediante indenização aos seus antigos donatários, o posto de capitão-mor desapareceu, e só foi restabelecido muitos anos mais tarde [111].

Anexado ao Estado o que restava da Capitania de S. Vicente, por alvará de 31 de agosto de 1758 [112], pois que a maior porção territorial dela já fora comprada para a Coroa por Alvará de d. João V, de 22 de outubro de 1709, e escritura de 19 de setembro de 1711 [113], - somente em 1797 é que se criaram novamente as funções de capitão-mor da Vila de Santos, sendo, portanto, Francisco Xavier da Costa Aguiar o primeiro que nela serviu depois de extinta a donataria.

Nesta segunda fase, o mandato durava três anos, com direito a renovações sucessivas, enquanto o serventuário bem servisse, e a jurisdição era puramente local, não transpunha os limites das vilas, mas os poderes continuavam a ser totalmente discricionários, só se detendo ante a autoridade dos governadores da Capitania, dos quais eram prepostos [114].

Sendo, como já dissemos, um cargo da mais eminente importância e responsabilidade - o principal de cada localidade - pode-se por aí avaliar o grau de prestígio e consideração de que em Santos gozava Costa Aguiar, e do apreço que lhe tributavam os governantes, para que se mantivesse ininterruptamente por mais de quatro lustros à testa de tão elevadas funções.

No exercício delas, e demonstrando bem o zelo com que as preenchia, escreveu a 2 de fevereiro de 1809 uma resumida mas interessante Memória que mostra a origem da Villa de Santos e seu estado presente, e que a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo deu à estampa em seu volume XI, correspondente ao ano de 1906 (páginas 386 a 389), documento esse revelador não só da probidade com que se desempenhava de suas atribuições, como também de sua clara inteligência, de seu bom senso, espírito observador e índole progressista.

Naquele trabalho conciso e substancial, propugna ele por que se continue a estender o perímetro da Vila não mais para o Poente, abafado entre morros, e sim de ora em diante para os lados da Barra Grande, ampla e desafogada planície, que o refrigério das virações do mar tempera na estação calmosa, e dotada pela Natureza dos requisitos indispensáveis à fundação de magníficas chácaras e reverdejantes pomares.

Estimula o plantio de arrozais a que muito se adaptam e prestam as próprias condições do solo úmido, baixo e exposto a inundações periódicas na época das enchentes, fenômenos propícios ao cultivo, em grande escala, da saborosa gramínea suculenta; e alvitra a adoção de medidas tendentes a melhorar aos poucos as condições de habitabilidade da Vila.

Por proposta do referido capitão-general e governador da Capitania, António Manuel de Mello Castro e Mendonça, feita, em data de 2 de setembro de 1802, ao governo de Sua Alteza Real o Príncipe Regente, por intermédio do visconde de Anadia, ministro e secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, foi promovido a coronel agregado ao 1º Regimento de Artilharia Miliciana, com exercício efetivo de comandante do Forte de Nossa Senhora do Monte Serrate [115], fundado por Braz Cubas no início da Povoação e que, situado junto aos Quartéis Militares, disparava para o ancoradouro [116] e marcava o limite da Rua dos Quartéis, a qual, começando à entrada do canal, vinha morrer exatamente ao pé daquele forte.

Em virtude dessa proposta, ficou triplicemente acumulando os lugares de comandante da Praça, comandante das Ordenanças e comandante do 1º Regimento de Artilharia [117], nova demonstração exuberante e honrosa do quanto a administração da Capitania e o governo da Metrópole tinham na mais alta conta os seus méritos pessoais e o seu justo prestígio social na Vila.

Falecimento de Francisco Xavier, e dona Bárbara

Faleceu o coronel Francisco Xavier, conforme já dissemos em nota anterior, a 6 de janeiro de 1823; e dona Bárbara Joaquina dezessete anos depois, a 16 de agosto de 1840, de apoplexia fulminante; e foi enterrada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo de sua terra natal [118].

5º) Dona Anna Marcellina Ribeiro de Andrada - Nasceu em 1768, segundo se verifica dos recenseamentos locais de 1801 a 1808 [119], em dia e mês que se ignoram, porque os livros de batizados da Paróquia de Santos só existem a partir de 1771. Casou-se por volta de 1785 com o coronel de Milícias José de Carvalho e Silva, negociante, residente sem interrupção à Rua de Santo António, desde 1801 a 1822 [120], sempre na mesma casa, conforme se verifica das listas nominais dos referidos recenseamentos.

Do seu consórcio tiveram quatro filhos, que o DR. JOSÉ BONIFÁCIO [121] coloca na seguinte ordem cronológica: 1º) José Viriato; 2º) Anana Josephina; 3º) Maria Bárbara e 4º) Diogo José, mas que deve ser substituída por est'outra:

1º) José Viriato, nascido em 1787, em dia e mês ignorados. Folheamos os livros paroquiais de batizados, desde o seu início em 1776 até 1806, ano por ano, dia por dia, e nada encontramos. Como, porém, do livro que vai de 1771 a 1807, desapareceram nada menos de 10 páginas, acreditamos que o registro que se lhe refere conste de uma dessas páginas.

2º) Maria Bárbara, batizada a 25 de junho de 1798 [122].

3º) Diogo José, batizado a 6 de junho de 1799 [123].

4º) D. Anna Josephina, batizada a 24 de maio de 1807 [124] por seu tio, o padre Patrício, com licença especial do bispo diocesano, d. Matheus. Serviram-lhe de padrinhos sua tia d. Maria Flora e seu tio António Carlos, então juiz de fora de Santos, e com ele veio a casar-se a 13 de agosto de 1823 [125], contando pouco mais de 16 anos. O noivo, que já passava dos 49, era, portanto, mais velho que sua desposada cerca de 33 anos.

No momento achava-se ele em grande atividade legislativa, como relator do projeto de Constituição, no qual trabalhava assiduamente para apresentá-lo quanto antes à Assembléia Constituinte, o que efetivamente fez na sessão de 1º de setembro. Além disso, a agitação na capital do Império era intensíssima, pois o gabinete presidido por José Bonifácio fora demitido a 17 de julho, e a reação por parte do governo contra os Andradas começava a operar-se dentro e fora da Assembléia.

Por esses imperiosos motivos não podia afastar-se do Rio, e casou-se por procuração outorgada a seu futuro sogro, o tenente-coronel Carvalho. O bispo d. Matheus, por portaria de 12 de julho de 1823, dispensou-os "no segundo grau de consangüinidade misto ao primeiro, no impedimento de Cognação Espiritual, por ser o contraente padrinho da contraente no batismo, e em qualquer outro impedimento dispensável, assim como em todos os papéis do estilo".

Certidão de casamento de António Carlos

Celebrou o ato o revm. padre Patrício, irmão do noivo e tio da noiva, e testemunharam-no Bonifácio José de Andrada, também tio da noiva e irmão do noivo, e João de Sousa Pereira Bueno [126].

Bonifácio José

6º) Bonifácio José de Andrada [127] - Foi batizado em agosto de 1769, estando ilegível o dia no documento, que examinamos atentamente [128]. Em 1822 contava 53 anos e morava à Rua Direita no mesmo prédio em que residiu sua mãe, a julgarmos pela ordem em que no recenseamento daquele ano vêm colocadas as diversas casas da mesma rua, pouco mais ou menos como nos censos anteriores. Vivia então da lavoura.

Cargos que ocupou

Em 20 de julho de 1807 [129] foi nomeado pela Câmara Municipal para juiz almotacé, cargo que seria equivalente ao dos nossos fiscais de hoje, se não tivesse atribuições muito mais latas, previstas e determinadas nas Ordenações Filipinas [130].

Em 1823 [131] ocupou de novo esse lugar, tendo tomado posse perante a Câmara reunida, em sessão de 10 de maio [132]. Era pouco instruído e um tanto quanto atolambado. Não sabemos, por falta de documentos quaisquer, até quando se manteve no seu emprego e se nele foi reconduzido, porquanto a duração do mandato de juiz almotacé era temporária e a prazos certos que mensalmente se renovavam. Dada a natureza das funções do cargo, essa providência era tomada talvez com o fim de evitar que o serventuário entrasse em conluios prejudiciais ao bem geral.

Falecimento

Bonifácio José de Andrada morreu solteiro, "de uma grande debilidade nervosa", a 17 de março de 1840, contando 70 anos e 9 meses de idade, e foi enterrado no jazigo da Irmandade do Santíssimo Sacramento [133].

7º e 8º) António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada, dos quais falaremos mais adiante, respectivamente no 4º e no 5º capítulos deste volume.

Úrsula

9º) Úrsula - Batizada logo depois de nascer, no dia 28 de outubro de 1776. Foram seus padrinhos Braz Carneiro Leão e sua mulher d. Anna Francisca Rosa Maciel, que compareceram por seus procuradores, o sargento-mor Manuel Angelo Figueira de Aguiar e sua mulher d. Rosa Jacintha da Silva [134].

Esta menina, à qual se não refere nenhum biógrafo andradino, morreu nos primeiros meses de existência, porque do recenseamento feito no dia 31 de dezembro do ano de seu nascimento não consta o seu nome, e nem ele aparece nas listas nominais subseqüentes [135].

Francisco Eugênio de Andrada. Breve biografia

10º) Francisco Eugênio de Andrada - Foi batizado na Matriz de Santos a 11 de agosto de 1778, tendo como padrinhos o sargento-mor comandante da Praça, Francisco Aranha Barreto e sua mulher dona Mônica Maria de Camargo [136]. Viveu até 1810 na casa paterna [137]. Ausentando-se dela de 1811 a 1814, fixou residência no Rio de Janeiro, onde, segundo informa o DR. JOSÉ BONIFÁCIO, estabeleceu-se como comerciante [138].

Voltando a Santos em 1815, aí morreu solteiro, a 20 de agosto de 1818, de uma síncope que o acometeu subitamente aos 40 anos completos. Seu corpo, amortalhado em hábito de Cavaleiro, foi dado à sepultura na Matriz, depois de um ofício de corpo presente rezado por todo o clero da paróquia, e mais cerimônias [139].

Seu posto militar era de ajudante das Ordenanças [140]. Francisco Eugênio de Andrada deixou um filho bastardo de igual nome, nascido no Rio de Janeiro, e que se casou com sua prima dona Narcisa Cândida de Andrada [141], filha natural e legalmente legitimada de José Bonifácio, o Patriarca [142].

Dona Narcisa casou-se em segundas núpcias com António Augusto da Costa Aguiar [143], filho de João Xavier da Costa Aguiar e sua mulher d. Anna Josephina de Barros. O ato se realizou às 5 horas da tarde de 26 de dezembro de 1847, na Matriz de Santos, sendo testemunhas o comendador Diogo José de Carvalho e o conselheiro dr. Martim Francisco. De ambos os casamentos houve descendência, conforme se verá no terceiro volume [144].

Outeirinhos

Não consta do pormenorizado recenseamento - o último que se fez na transição do regime antigo para o novo estado político independente - a existência do pitoresco sítio dos Outeirinhos, que figura, aliás, com 7 habitantes, num recenseamento anterior, o de 1772. Noutros aparece reunido ao bairro do Embaré, mas então José Bonifácio lá não morava.

Dar-se-á acaso que, ao retirar-se para as decisivas lutas públicas em que ia ser magna parte, desempenhar a principal função, tivesse José Bonifácio deixado o seu bucólico retiro à beira-mar sem viva alma que dele tratasse com o carinho que se tornava mister na sua ausência? É isso muito pouco provável em homem tão regular nos seus hábitos, tão cuidadoso do seu e do alheio, tão disposto e propenso à classificação ordenada e metódica de cada coisa; e sobretudo, tão amante do seu umbroso e plácido retiro, na convivência de cujas árvores, rochas, fontes, pássaros, atenuava e temperava as horas agras de seu espírito de pensador e de patriota, simultaneamente preocupado com os problemas da natureza de seu país e as aspirações do jovem povo que o habitava.

Além disso, lá estava a sua volumosa e preciosa livraria, os manuscritos originais de muitas de suas obras, as cópias manuscritas que ele próprio tirara, nas bibliotecas e arquivos de Lisboa, de documentos relativos ao Brasil e sua história, a importantíssima coleção de minerais, de plantas e de medalhas que formara durante as suas viagens científicas pela Europa e as cartas autógrafas que recebera dos vultos notáveis com quem mantivera permanente correspondência mesmo depois de seu regresso à Pátria [145].

Seria fruto da desídia oficial a não inclusão dos pitorescos Outeirinhos no recenseamento de 1822? Custa-nos igualmente a crê-lo, sabido como é que tal serviço naqueles tempos de duro absolutismo era executado debaixo de penas severas sumariamente aplicadas, e que o governador das Armas da Vila de Santos era o implacável coronel Aranha, que de seu autoritarismo e rispidez deixou fama eterna nos anais da dita Vila.

Mas já é tempo de nos ocuparmos, com os necessários pormenores, dos três Andradas, a cujos altos feitos e memória insigne é especialmente consagrado este trabalho.


NOTAS:

[55] Lista geral dos habitantes que existem na Villa e Praça de Santos, e seus Distritos, no presente ano de 1822, suas occupações, empregos, géneros, que cultivam e em que negocciam (Originais no Arquivo do Estado).

[56] HOMEM DE MELLO - História Política do Brasil, páginas 128 e 129.

[57] Original existente no Arquivo da Câmara Municipal de Santos.

[58] HOMEM DE MELLO - Obra citada, página 128.

[59] Documentos interessantes, Volume 1º, páginas 48 e 49.

[60] Original existente no Arquivo da Câmara de Santos. O governador Aranha era santista e faleceu na terra do seu berço a 24 de setembro de 1844, "de doença do peito", e contando mais de 70 anos (Livro Parochial de Óbitos, de 1841 a 1852).

[61] Assim está declarado no Recenseamento a que nos reportamos. Entretanto, o coronel Costa Aguiar só veio a falecer no ano seguinte, a 6 de janeiro, vitimado por uma "afecção nervosa", confortado com os "Sacramentos da Penitência e Unção", e sem deixar testamento. (Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, 1823, folha 119, existente no Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).

Esta incongruência mais fortalece a nossa convicção de que o censo foi executado no último dia de dezembro. Como a apuração respectiva começasse em janeiro, o empregado incumbido de tal serviço, tendo conhecimento da morte do coronel Aguiar no dia 6, entendeu que, para ser escrupulosamente exato, deveria suprimi-lo da lista geral e alterar o estado civil de d. Bárbara. Não vemos outra explicação para o fato.

[62] O DR. JOSÉ BONIFÁCIO, nos seus Apontamentos Genealógicos (páginas 53 a 55) não faz menção deste sobrinho dos Andradas, e também se não refere a outros dois filhos do casal, uma menina e um menino, dos quais falaremos no texto mais adiante.

[63] O casamento efetuou-se a 26 de setembro de 1818, às 9 horas da noite. Do assentamento feito pelo vigário José António da Silva Barbosa consta que dona Maria Zelinda era filha de pais incógnitos. Não obstante, para poder casar-se com Francisco Xavier Filho foi preciso que o bispo d. Matheus dispensasse os contraentes, do segundo grau de consangüinidade em linha transversal; e do referido assentamento se verifica que a noiva se chamava Maria Zelinda de Andrada. Eram, portanto, primos, e não se fazia mistério desse parentesco. Razões decerto havia para se calar em documento público, e sobretudo, de caráter religioso, os nomes dos pais ilegítimos. (Livro parochial de casamentos, de Santos, 1818, folhas 19, verso).

Desde 1810 até 1817, d. Maria Zelinda, conforme se vê dos recenseamentos locais, viveu em casa do padre Patrício Manuel Bueno de Andrada, na modesta situação de agregada. Anos depois, tal situação se modificou, conforme se vê do testamento do mesmo padre, ditado por ele, a 5 de junho de 1846, a seu sobrinho, dr. Joaquim Octavio Nébias, que o escreveu; aprovado pelo tabelião vitalício do Público, Judicial e Notas, Firmino de Quadros Aranha, perante as testemunhas Manuel Ganâncio das Neves, Francisco Xavier dos Santos, José Maria da Costa Pinho, João Manuel Alfaya Rodriguez e Francisco José Barbosa; e aberto a 8 de janeiro de 1847, pelo juiz municipal, dr. Francisco Xavier de Barros (autos existentes no Cartório do 2º Ofício da Cidade de Santos, do qual é serventuário o sr. Augusto Mesquita).

Desse documento se verifica que o padre Patrício conseguira legitimar suas filhas Maria Zelinda de Andrada e Delfina Ribeiro de Andrada, por carta passada pela Mesa, do Desembargo do Paço, tribunal criado por d. João VI, então príncipe regente, com as atribuições que lhe outorgavam as Ordenações Filipinas (Livro I, Título III), abolido implicitamente pela Constituição Imperial de 25 de março de 1824 (GUIMARÃES CERNE, Ordenações em vigor, pág. 3, comentários ao § 10, do Título III, Livro I), mas que de fato e expressamente só se extinguiu em virtude da lei de 22 de setembro de 1828, que suprimiu não só aquele Tribunal como também o da Mesa da Consciência e Ordens (Leis e Decisões do Império do Brasil, Ano de 1828, 1ª Parte, pág. 47). A legitimação se deu, portanto, antes do ano de 1828.

Uma curiosa incongruência que se observa nos censos referidos: o casamento de d. Maria Zelinda com Francisco Xavier efetuou-se a 26 de setembro de 1818; entretanto, na Lista censitária desse ano, já o casal aparece com uma filha, de 1 ano, Maria Bárbara, a qual, quatro anos depois - em 1822 -, figurava no censo respectivo apenas com 2 anos.

[64] No Arquivo da Câmara Municipal de Santos.

[65] Livro de Baptizados da paróquia de Santos, de 1771 a 1801; Livro de Óbitos da mesma paróquia, de 1840 a 1852 (No Arquivo da Cúria Metropolitana).

[66] Rita Olívia se chamava ela, segundo consta do Livro de Casamentos da Paróquia de Santos, existente no Arquivo da Cúria Metropolitana, folha 37; mas, segundo os recenseamentos locais (Arquivo do Estado) o seu nome era Rita Leocádia, tirado por certo de sua avó paterna - Rita Maria Leocádia, portuguesa da Vila de Penela, no Bispado de Coimbra.

[67] DR. JOSÉ BONIFÁCIO - Apontamentos citados, págs. 53 e 57.

[68] GOMES DE CARVALHO - Os Deputados Brasileiros nas Cortes Geraes de 1821, página 351.

[69] DR. JOSÉ BONIFÁCIO - Opús. cit. páginas 55 e 58.

[70] JOSÉ JACINTHO RIBEIRO - Chronologia Paulista, V. 1, páginas 654 a 656. O sargento-mor Torquato Teixeira de Carvalho, de quem ainda existe numerosa descendência em Santos, pois era bisavô do general José Olyntho de Carvalho, nasceu em Portugal, do consórcio de António Gaspar com dona Maria de Carvalho. Residiu primeiramente na Capitania de Minas Gerais, onde se distinguiu por serviços prestados ao rei, ocupando o posto de capitão de Infantaria de Ribeirão do Carmo, hoje cidade de Mariana, desde 27 de setembro de 1711 até 19 de agosto de 1718, dia em que passou a capitão de Auxiliares da mesma localidade.

Deste posto, que serviu até 29 de junho do mesmo ano, foi promovido a tenente-coronel da Companhia de privilegiados, reformados e mais nobreza das minas, funções que desempenhou até fins de 1721.

Rico explorador das veias auríferas daquela opulenta região serrana, distinguiu-se pela prontidão e probidade inexcedível com que satisfez sempre os quintos reais, circunstância que determinou a sua nomeação para tesoureiro do Ouro, cujos pesados encargos desempenhou por largos anos gratuitamente.

Transferindo para Santos sua residência em época não sabida, continuou prestando à Coroa assinalados serviços que lhe granjearam recompensadoras mercês por parte do Governo da Metrópole. É assim que, achando-se em estado de ruína e desmantelo bélico a Fortaleza de Vera-Cruz do Itapema, colocada do outro lado do canal e em sítio importantíssimo para a defesa da Vila, ofereceu-se ele para reedificá-la à sua própria custa, com a condição prévia de conceder-lhe o rei o comando da mesma fortaleza "para um filho que tem capaz, com o posto e o soldo de capitão de Infantaria, e o Hábito de Cristo", o que se fez, depois que as obras, que andavam em cerca de 40.000 cruzados, ficaram prontas e a contento do brigadeiro José da Silva Paes, que desenhou a planta respectiva, e dos engenheiros oficiais que do Rio de Janeiro seguiram para examiná-las, por ordem do governo (Documentos interessantes, V. 24, páginas 258 a 262).

AZEVEDO MARQUES (obr. cit. 1º V. pág. 153, 2ª c. e V. 2º pág. 184, 1ª c.) informa que o Alvará Régio de 24 (aliás 27) de setembro de 1738, confirmou as mercês pedidas, visto se acharem satisfeitas as condições propostas por Torquato e que essas mercês consistiam na concessão do comando "por três vidas em seus descendentes", com o posto, o soldo e a comenda de que já falamos.

Do Alvará em questão, o que consta é que Torquato pediu e obteve tais mercês unicamente para um filho e esse mesmo alvará não as confirma, promete apenas confirmá-las quando as obras estiverem prontas, de acordo com a resolução tomada a 24 de setembro do referido ano, depois de consulta feita ao Conselho Ultramarino.

O "filho capaz", João Teixeira de Carvalho, foi, de fato, nomeado comandante da Fortaleza, por morte de seu pai; mas as nomeações subseqüentes, recaídas nos dois sobrinhos de Torquato, chamados Francisco Olyntho de Carvalho e João Olyntho de Carvalho, filho deste, não o foram em vista de concessões que os não abrangiam, mas naturalmente por livre empenho do governo em testemunhar o apreço em que tinha os valiosos serviços e a intransigente fidelidade do velho e honesto tesoureiro do Ouro em Minas Gerais.

Atrás provamos, aliás, que quem substituiu João Teixeira de Carvalho no dito comando, depois de sua morte, não foi nenhum de seus sobrinhos, e sim o negociante José António Vieira de Carvalho.

Casou-se o sargento-mor Torquato Teixeira de Carvalho com dona Luísa dos Reis, jovem de 14 anos apenas, filha de João Francisco Coelho e de d. Lourença dos Reis, e teve os seguintes filhos: João Teixeira de Carvalho, que faleceu solteiro, em 1803, aos 84 anos de idade; António Gaspar Teixeira dos Reis, padre Luís José dos Reis, frei Torquato Teixeira de Sant'Anna Reis, carmelita; dona Lourença Maria de Carvalho, de quem nos ocupamos no texto; dona Gertrudes Euphrásia dos Reis, dona Anna Luísa de Carvalho, e dona Maria Blanda da Silva.

Em 1765, dona Luísa dos Reis, já viúva, morava na Rua Direita, da parte do mar, na sétima casa a partir dos Quatro Cantos; subsistia de suas lavouras e possuía bens no pequeno valor de 400$000 réis ou 16:000$000 em moeda corrente. Contava então 60 anos e com ela viviam o filho mais velho, a filha dona Maria Blanda e o terceiro filho padre Luís José dos Reis, de 30 anos (Recenseamento de Santos, 1765), mais tarde coadjutor da Paróquia, com a côngrua anual de 25$000 réis e mais as gratificações que lhe dava o vigário encomendado da Matriz e vigário da Vara da Comarca, bacharel em cânones por Coimbra, João Ferreira de Oliveira Bueno, "bom moralista, pregador, muito instruído, muito exemplar e muito zeloso do serviço de Deus" (FREI MANUEL, bispo de S. Paulo - Relação geral da Diocese, apresentada ao governo da Metrópole, em 14 de setembro de 1777. Na Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, V. IV páginas 357, 398 e 399).

[71] Apontamentos históricos, V. 1º página 85.

[72] "Certifico que revendo o livro de casamentos da Paróchia de Santos, do anno de 1821, existente nos Archivos da Cúria Metropolitana, a folhas 37, encontrei o assento do teor seguinte: António Candido X.er de Carv.º e Sz.ª com D. Rita Olivia de Ag.ar Andr.ª Aos desassete de Mayo de mil oitocentos e vinte e hum nesta Villa de onde os contraentes são Freguezes, com dispença das diligencias do costume em minha presença, e das testemunhas o marechal de campo Candido de Almeida e Sousa, e o reverendo Patrício Manoel de Andrada, pelas nove horas da noite em face do Oratório em Casa de Dona Maria Flora de Andrada se cazarão solemnemente por palavras de presente Antonio Candido Xavier de Carvalho e Sousa natural da Cidade de São Paulo, filho legitimado do Marechal Candido Xavier de Almeida e Sousa, com Dona Ritta Olivia de Aguiar e Andrada, natural desta villa; filha legítima do Coronel Francisco Xavier da Costa Aguiar e de sua mulher Dona Barbara Joaquina de Andrada, e logo receberão as bençãos nupciaes; de que para constar fiz este assento. José António da Sª. Barboza. Nada mais continha o sobredito assento a cujo original fielmente me reporto e dou fé. S. Paulo, 20 de maio 1921. F. de Salles Collet e Silva, Archivista da Cúria Metropolitana".

Por aí se vê que também um outro Andrada atual - o sr. dr. MARTIM FRANCISCO, no seu opúsculo - Contribuindo (páginas 171 e 178, nº 99) engana-se quando diz que António Cândido era filho adotivo do marechal Cândido Xavier. E que foi ele escrivão da Alfândega é o que não padece dúvida alguma; quanto, porém, ao seu exercício no cargo de inspetor da mesma repartição, não encontramos documento algum que nos habilite a perfilhar a informação biográfica do dr. MARTIM a esse respeito. Aliás, nesse tempo, o cargo era de administrador e não de inspetor - denominação que é de origem relativamente moderna.

[73] Recenseamento de Santos, em 1822 (No Arquivo do Estado).

[74] [76] Apontamentos citados, páginas 53 a 55.

[75] [77] [78] [79] [80] [82] [84] Livro de batizados da Paróquia de Santos, de 1771 a 1801.

[81] Com estes nomes é que foi batizado, trocando-os mais tarde por Joaquim Maria, segundo se lê no registro de seu casamento.

[83] Livro de Casamentos da Paróquia de Santos (1812-1850).

[85] [87] Livro de batizados da Paróquia de Santos, de 102 a 1832 (todos estes livros paroquiais acham-se guardados no Arquivo da Cúria Metropolitana, onde os consultamos com permissão especial e obsequiosa do exmo. sr. d. Duarte Leopoldo, ilustre prelado da Arquidiocese Paulista).

[86] Livro de Óbitos da mesma paróquia (1810-1840).

[88] A respeito deste e de outros manifestos equívocos, escrevemos ao autor dos Apontamentos Genealógicos duas cartas, uma para Barbacena, terra de sua residência habitual, e outra para o Rio, por se achar aberta a sessão legislativa federal de 1921. Não tivemos a honra de receber resposta de nenhuma delas, porém sabemo-las recebidas pelo destinatário.

[89] Este prelado governou a Diocese Paulopolitana por mais de 18 anos, com grande proveito para a comunhão religiosa e a sociedade política de seu tempo. Nomeado a 17 de junho de 1771, em substituição de frei António da Madre de Deus, fez sua entrada solene na Sé Catedral a 19 de março de 1774 e veio a falecer a 21 de outubro de 1789 (J. J. RIBEIRO - Chronologia Paulista, 1º volume página 451). Era clérigo da Ordem de S. Francisco. Apresentado bispo pela rainha d. Maria Primeira, foi confirmado no posto por bula de Clemente XIV, de 17 de junho de 1771, tomando posse por procuração a 17 de maio de 1772. Foi ele quem inaugurou o Recolhimento de Freiras da Luz, fundado em 1774 pela irmã Helena Maria do Sacramento, conferindo o hábito à fundadora e a sete noviças (DR. MANUEL DE ALVARENGA - O Episcopado Brasileiro, página 85).

[90] Processo de habilitação de "genere et moribus" de Patrício Manuel Bueno de Andrada e seus irmãos, 1779-1783 (No Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).

[91] Era natural do Porto, vindo para S. Paulo desde a criação do bispado e servindo em vários empregos com o primeiro bispo, d. Bernardo Nogueira. Foi vigário de Guaratinguetá, visitador do Bispado, cura da Sé, vigário geral, provisor, juiz dos casamentos e das justificações de genere. Era um sacerdote morigerado e exemplar (FREI MANUEL DA RESSURREIÇÃO, Relação Geral da Diocese de S. Paulo, já citada).

[92] A Freguesia de Paranapanema, muito importante pelas ricas minas de ouro em que abundava o seu território, foi primeiramente colocada, como capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, à margem do Rio Guapiara, sendo transferida mais tarde para o lugar conhecido até hoje com o título de Freguesia Velha, à margem direita do Rio das Almas, com o nome de Paranapanema, onde esteve durante 60 anos, mudando-se para a localidade atual em 1850, ainda como Freguesia (MOREIRA PINTO - Apontamentos para o Diccionário Geográphico do Brasil, 1º volume, pág. 437).

Do assentamento de batismo de Maria, filha do coronel Francisco Xavier da Costa Aguiar, a 21 de junho de 1789, é que consta que o padre Patrício estava então paroquiando a freguesia de Paranapanema, pois na qualidade de padrinho mandou daquele remoto lugar procuração para representá-lo ao coronel João Xavier, tio paterno da batizanda.

[93] Documento em poder do pintor Benedito Calixto, em S. Vicente.

[94] Existente no Arquivo da Câmara Municipal de Santos.

[95] Existente no Arquivo da Câmara Municipal de Santos.

[96] Livro de Actas da Sociedade Philantrópica de Santos (no Arquivo da Santa Casa local).

[97] Livro de Actas da  Irmandade da Misericórdia de Santos (no Arquivo da mesma).

[98] Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, de 1852, página 53 (No Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).

[99] Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, 1841-1852. Testamento existente no Cartório do 2º Ofício da mesma cidade.

[100] Autos existentes no Cartório do 2º Ofício de Santos.

[101] Damos em seguida a cópia de um documento a respeito, cujo original se encontra no arquivo particular do sr. Francisco de Sales Collet e Silva, arquivista da Cúria Metropolitana de S. Paulo: "Tendo Sua Magestade o Imperador Feito Mercê a D. Maria Flora Ribeiro de Andrada de a Nomear Camareira-Mór de Sua Magestade a Imperatriz: Manda o mesmo Augusto Senhor pela Secretaria d'Estado dos Negócios do Império que o Governo da Província de S. Paulo faça expedir as ordens e providências necessárias não só para que se facilite a sua partida para esta Corte com a possível brevidade, mas se lhe prestem todos os auxílios de qualquer qualidade que sejam afim de que a sua viágem se effectue com segurança, commodidade e decência. Palácio do Rio de Janeiro, em 12 de Dezembro de 1822 - José Bonifácio de Andrada e Silva. - Cumpra-se e registre-se. Palácio do Governo de S. Paulo, 31 de Dezembro de 1822. Bispo. Sousa. Pacheco."

Bispo era d. Matheus, Sousa era o brigadeiro Cândido Xavier de Almeida e Sousa, comandante das Armas, e Pacheco era o dr. José Correia Pacheco e Silva, ouvidor de S. Paulo e, pouco tempo antes, juiz de fora de Santos, cargo este que exerceu desde 3 de maio de 1819 a meados de 1822. Por decreto de 4 de maio de 1822 foi removido para idêntico cargo em S. Paulo, vago com a promoção do dr. José da Costa Carvalho (depois, e sucessivamente, barão, visconde e marquês de Monte Alegre) a ouvidor geral.

Chamado este, por portaria de 21 de maio do mesmo ano, a comparecer à presença do príncipe real, em virtude de razões políticas de que falaremos oportunamente, o dr. Pacheco acumulou interinamente suas funções, nas quais, com o correr do tempo, foi efetivado, desempenhando-as com zelo e probidade até março de 1825.

Dedicou-se mais tarde, exclusivamente, à carreira política, sendo eleito deputado suplente por S. Paulo, em 1823, com assento na Assembléia Constituinte e Legislativa e efetivo em três Legislaturas consecutivas - de 1826 a 1834; e em 1830 foi eleito membro do Conselho Geral da Província.

Era natural de Itu, membro da conhecida família Pacheco, e faleceu em 1835.  O Triunvirato Governativo de que fazia parte fora nomeado por Carta Régia de 25 de junho de 1822, em substituição do governo provisório, eleito pelo povo e tropas a 23 de junho de 1821, composto de 15 membros, e cujos mandatos o príncipe regente cassara por decreto de 25 de junho de 1822, em razão dos motins ocorridos em nossa Capital a 23 de maio do mesmo ano e dos quais trataremos circunstanciadamente no segundo volume (Documentos interessantes, V. 1º, pág. 59, V. 36º. págs; 155. 156 e 170. AZEVEDO MARQUES - Obr. cit. pág. 36, col. 1ª, v. 2º).

[102]/[103] Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, de 1841 a 1852 (No Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).

[104] "Ocupa-se do serviço de Sua Alteza e subsiste de alguns artigos de comércio" (Recenseamentos Coloniaes de Santos, vários anos, no Arquivo do Estado).

[105] Livro de Vereanças da Câmara de Santos, 1797.

[106]/[107] Recenseamentos de Santos, 1797.

[108] Livro de Vereanças da Câmara de Santos, 1797.

[109] Carta de 19 de novembro de 1797, ao secretário d'Estado, d. Rodrigo de Sousa Coutinho (Doc. ints. V. 29, pág. 31. Informação de 4 de fevereiro de 1800 ao Conselho Ultramarino (Idem, pág. 189).

[110] AZEVEDO MARQUES - Obr. cit. 1º V. pág. 85, 2ª col.

[111] FRANCISCO XAVIER DA COSTA AGUIAR - Memória que mostra a origem da Villa de Santos e seu estado presente (Ano de 1802. Na Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, V. XI, págs. 386 a 389).

[112] AZEVEDO MARQUES - Obr. cit. 1º V. pág. 87, 1ª col. A este propósito, o cronologista faz grande confusão de datas e fatos. Ora diz que foi em 1708 que a Coroa comprou ao último donatário a propriedade da donataria ainda não incorporada ao Patrimônio Real (V. 1º, pág. 85 c. 2ª); ora afirma que a Capitania de S. Paulo foi anexada por alvará de 31 de agosto de 1753 (V. 1º pág. 87, 1ª col.); e ora, finalmente, assevera que a Capitania de S. Vicente e a de Santo Amaro só passaram para a Coroa em 1712 (V. 1º pág. 130, 2ª col.). O padre GALANTI (obr. cit. pág. 147) diz que a Capitania de S. Vicente reverteu por compra à Coroa a 17 de novembro de 1791.

[113] FREI GASPAR - Memórias, 3ª edição, páginas 343 a 356.

[114] AZEVEDO MARQUES - Obr. cit. 1º Vol. pág. 85, 2ª col. A. DE TOLEDO PIZA - O militarismo em S. Paulo nos tempos coloniaes (Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, V, IV, pág. 296).

[115] Documentos interessantes, V. XXX, página 202.

[116] FCO. XAVIER DA COSTA AGUIAR - Memória citada, sobre Santos.

[117] Documentos interessantes, Volume XXX, página 202.

[118] Livro de Óbitos da Paróquia de Santos (Arquivo da Cúria).

[119] No Arquivo do Estado.

[120] Idem.

[121] Apontamentos citados, página 62.

[122]/[123] Livro de Baptizados da Paróchia de Santos, de 1771 a 1801.

[124] Idem, de 1802 a 1832.

[125] Livro de Casamentos da Paróquia de Santos, de 1823 (folha 39, v.).

[126] Damos, em seguida, o teor integral do registro, segundo consta da certidão passada, a requerimento nosso, pelo arquivista da Cúria Metropolitana: "Certifico que revendo o livro de Casamentos da Paróquia de Santos, do ano de 1823, existente nos Arquivos da Cúria Metropolitana, às folhas 39 verso encontrei o assento do teor seguinte: 

"O Illmo. e Exmo. Antonio Carlos Ribº. de Andrada Machado e D. Anna Josephina de Carvalho. Aos treze de Agosto de mil e oitocentos e vinte e tres, em observancia de hua Portaria do Excellentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo Diocesano, cujo theor he o seguinte: Dom Matheus de Abreu Pereira, por merce de Deos, e da Santa Sé Apostolica Bispo de São Paulo, do Concelho de Sua Magestade Imperial et coetera et coetera. 

O muito Reverendo Vigário Collado da Villa e Praça de Santos, ou quem suas vezes fizer, receberá em Matrimonio em casa particular a arbitrio dos Contrahentes ao Illustrissimo e Excellentissimo Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado Gram Cruz da Imperial Ordem do Cruzeiro, Deputado Actual das Cortes do Brasil, filho legitimo do Coronel Bonifácio José de Andrada, e de Dona Maria Barbora da Silva, e Dona Anna Joséphina de Carvalho, filha legitima do Tenente-Coronel José de Carvalho da Silva, e de Dona Anna Marcellina de Andrada ambos naturaes dessa villa, porquanto forão por mim dispençados no segundo grau de consanguinidade mixto ao primeiro, no impedimento de Cognação Espiritual, por ser o Contrahente Padrinho da Contrahente no Baptismo, e em qualquer outro impedimento dispençavel, assim como em todos os papeis do estillo.

O Contrahente se receberá em Matrimonio por Procuraçao bastante com poder especial para este Casamento, que apresentará ao Muito Reverendo Parocho, ou Sacerdote de sua licença. Antes do Casamento pagarão o sello competente da Dispença. Dado em São Paulo aos doze de Julho de mil oitocentos e vinte e tres - Matheus Bispo - Numero desasseis, pagou mil e seiscentos reis de sello Santos vinte e tres de Julho de mil oitocentos e vinte e trez. Bueno Bastos Oliveira - Se Cazarão solemnemente por palavras em casa do Pay da Contrahente, em presença do Muito Reverendo Patricio Manuel de Andrada e Silva, e das Testemunhas abaixo assignadas pelas sinco horas da tarde o Illustrissimo e Excellentissimo Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado, por procuração, que commetera ao Tenente Coronel José de Carvalho da Silva, filho legitimo do Coronel Bonifácio José de Andrada, e de Dona Maria Barbora da Silva, já fallecidos, com Dona Anna Josephina de Carvalho, filha legitima do Tenente Coronel José Carvalho da Silva, e de Dona Anna Marcellina de Andrada, já fallecida ambos naturaes desta Villa, donde a Contrahida he Fregueza. E logo receberão as bençães nupciaes, de que para constar fiz este assento José Antonio da Silva Barboza, João de Sousa Pereira Bueno, Bonifacio José de Andrada". Nada mais continha o sobredito assento a cujo original fielmente me reporto e dou fé. São Paulo, 20 de Maio 1921 - F. Salles Collet e Silva, Archivista da Cúria Metropolitana".

Do documento consta chamar-se Maria Bárbora e não Maria Bárbara a mãe de José Bonifácio, em desacordo com todas as referências biográficas que conhecemos, se excetuarmos as do barão Homem de Mello que na biografia de Martim Francisco e Antonio Carlos (Esboços citados, páginas 61 e 85) escreve Maria Barbosa e na do Patriarca (mesma obra, página 8) escreve Maria Bárbara.

No exemplar que possuímos, o nome Barbosa está emendado a pena para Bárbara (edição de 1862), mas não sabemos se a emenda foi feita pelo autor ou por algum dos antigos donos do volume, que adquirimos há muito tempo num belchior do Rio de Janeiro. Bárbora é grafia antiga de Bárbara.

O vigário José António da Silva Barbosa, que, com as testemunhas, assina o documento, morava, em 1822, à Rua Setentrional que era perto da Matriz, e que já não existe.

[127] Assinava-se Andrade.

[128] Certidão nos autos do processo de habilitação do padre Patrício e irmãos, já citado.

[129] Livro de Vereanças da Câmara de Santos, 1808 a 1812.

[130] Livro 1º, Título LXVIII, §§ 22 e 42. Os almotacés eram juízes eleitos mensalmente, com atribuições, a um só tempo, administrativas e judiciárias, cabendo-lhes conhecer das questões atinentes aos caminhos vicinais, aos aquedutos e servidões, à inspeção e limpeza dos edifícios, das ruas, das praças e mais logradouros públicos: à fiscalização dos pesos e medidas, à polícia do comércio, ao abastecimento de víveres e mercadorias, e à respectiva taxação de preços, à imposição de multas e ao julgamento das contravenções das Posturas (dr. JOÃO MARTINS DE CARVALHO MOURÃO - Os municípios, sua importância política no Brasil-Colônia e no Brasil-Reino. 7ª Tese oficial apresentada ao Primeiro Congresso de História Nacional).

[131] Livro de Vereanças da Câmara de Santos, 1798 a 1821.

[132] Livro de Actas da Câmara de Santos, 1822 a 1832.

[133] Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, 1810-1840, página 245 (Arquivo da Cúria Metropolitana).

[134] Livro de Baptizados da mesma paróquia, de 1771 a 1801.

[135] Recenseamento de Santos, de 1776, e subseqüentes.

[136] Livro de Baptizados da mesma paróquia, de 1771 a 1801.

[137] Recenseamento de Santos, de 1778 a 1810.

[138] Apontamentos citados, página 62.

[139] Livro de Óbitos da Paróchia de Santos, de 1810 a 1840.

[140] Recenseamento de Santos (vários anos).

[141] Dr. JOSÉ BONIFÁCIO - Opúsculo citado, página citada.

[142] Testamento do Patriarcha (J. J. RIBEIRO, obra citada, 1º vol. pág. 641, col. 1ª).

[143] Dr. JOSÉ BONIFÁCIO - Opúsculo citado, página  28.

[144] Livro de Casamentos da Paróchia de Santos (Anos de 1810-1840).

[145] CONSº. SILVA MAIA - Opúsc. citado. - A sua livraria, os seus códices manuscritos em português e alemão e a sua copiosa coleção de cartas autógrafas foram doados pelos seus herdeiros, em maio de 1838, à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Annaes da mesma biblioteca, V. IV, Introdução, 1877-1878).

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