SEGUNDA PARTE - INDEPENDÊNCIA OU MORTE!
Capítulo II - A jornada do Ipiranga
A bernarda de Francisco Ignácio. Causas reais e causas aparentes
nomeação de José Bonifácio para primeiro-ministro da Regência aumentara notavelmente, como é natural, o prestígio político dos Andradas em sua
província, e a preponderância que ele mantivera no seio da Junta Provisória - tanto por seu indiscutível renome como por ter orientado o povo no
movimento constitucionalista de junho de 1821 - passara toda para Martim Francisco, que, na administração da Pasta do Interior e Fazenda, era um
ríspido e meticuloso executor das leis e defensor dos públicos dinheiros.
Se a ascendência do ilustre sábio, seu irmão, já provocara dissidências, mais ou menos sérias, na
Junta e, portanto, na população de S. Paulo, que se dividira a favor de uma ou outra das facções em luta - imagine-se o que não aconteceria com o
predomínio exercido pelo mais jovem dos Andradas sobre o conjunto dos demais membros de que se compunha o governo local!
O elemento português da província sofrera uma grande decepção com o rumo que o vice-presidente
imprimira aos públicos negócios, dando à marcha dos acontecimentos uma feição pronunciadamente nacionalista, de modo tal que os que tinham aderido
ao movimento liberal do ano anterior, na esperança de se verem mantidos nas posições de comando que vinham exercendo discricionariamente havia
longos anos, viam-se agora relegados a um plano secundário, o que os exasperava sobremaneira contra José Bonifácio e Martim Francisco.
Já vimos, noutro lugar, que reinava patente desarmonia entre as duas figuras hierarquicamente
principais do governo - o presidente e o vice-presidente, José Bonifácio e Oeynhausen; e essa desarmonia, que não deixava de refletir-se nos
colegas, porque uns eram partidários e amigos deste, outros daquele - originara-se inicialmente dos atos de austeridade rude que o secretário da
Fazenda estava praticando na sua Pasta, sem considerações nem contemplações com quem quer que fosse e com o apoio moral valiosíssimo que lhe dava
seu egrégio irmão. A corrupção administrativa durante o período colonial chegara a seu auge no Brasil e não diminuíra com a transplantação da sede
da realeza para o Rio.
Em São Paulo, o relaxamento, a incúria, a concussão, a venalidade proliferavam assombrosamente
como nas demais províncias; e a índole de alguns governadores, amigos dos que os bajulavam, embora pessoalmente honestos, não era talhada para pôr
um cobro a tantos escândalos ou pelo menos para atenuá-los.
Martim Francisco, que havia longo tempo fixara residência na província, conhecia bem o que nas
altas esferas da administração e da burocracia se passava; e, ao aceitar os encargos da Pasta da Fazenda, fizera firmes votos de estabelecer a
moralidade nas repartições dependentes dela, principalmente que o miserável estado do Tesouro não permitia que se fechassem os olhos aos abusos que
particulares e funcionários de diversas categorias praticavam contra ele, em detrimento dos interesses fiscais.
A energia empregada na repressão de tais abusos determinou a sua impopularidade entre as classes
favorecidas pela benevolência do onipotente governador deposto em junho, o qual, habituado a ver-se obedecido sem protesto, indignou-se contra o
secretário da Fazenda, cujos atos não o poupavam, porque atingiam diretamente, visivelmente, a seus amigos, compatriotas e correligionários, cuja
oposição contra Martim se foi avolumando assustadoramente.
Com a saída de José Bonifácio, é provável que a severidade do irmão tivesse atingido o máximo de
seu rigor repressivo e punitivo, por faltar-lhe o contrapeso das serenas e ponderadas admoestações daquele. A diferença de temperamento entre o mais
velho e o mais novo dos Andradas é bastante conhecida.
José Bonifácio dispunha de uma certa dose de
relativa maleabilidade que lhe permitia ser "irascível e flexível ao mesmo tempo, conforme as
circunstâncias... Posto que conservasse sempre no desenvolvimento de suas idéias um vigor pouco comum, era, na execução delas, benevolente com os
homens, que ele tolerava, porque os não podia fazer melhores"
[1];
Martim, ao invés disso, "homem honradíssimo, de uma probidade draconiana, que não admitia
desmandos nem concedia favores, de uma natureza geralmente taciturna, era um temperamento explosivo"
[2];
e, segundo o rancoroso VARNHAGEN, cujo depoimento nossa imparcialidade não pode, entretanto, desprezar, excedia os "seus
dois irmãos mais velhos nos seus dois defeitos: falta de prudência e excesso de orgulho"
[3].
Os episódios que contamos, ocorridos com o regente, com José Bonifácio, com Vasconcellos de
Drummond, apenas servem para corroborar o juízo daqueles historiadores quanto à têmpera inflexível desse famoso paulista de outras eras, de antes
quebrar que torcer. Da mesma forma que desatendia rispidamente a uma ordem ilegal do príncipe, era impermeável à solicitação de amigos do quilate de
Drummond. Imagine-se, pois, a guerra surda e incessante, implacável e feroz, que lhe não fariam na administração da província os funcionários
contrariados em seus interesses ilegítimos, os parentes, os correligionários, os patrícios, os amigos, os apaniguados desses funcionários. A onda da
oposição, enturgescida de ódios, tinha de avolumar-se fatalmente à medida que as vociferações dos interessados se avolumassem também.
A severidade de Martim Francisco
Logo de princípio, pediu à Junta da Fazenda um balanço do seu estado atual; ao administrador da
Fábrica do Ipanema uma demonstração geral documentada de sua administração; e aos provedores de Ausentes, Capelas e Resíduos, juízes de órfãos,
câmaras e almoxarifes desta capital e de Santos, e ao inspetor da Casa do Trem, a respectiva prestação de contas; e determinou que os devedores
rebeldes do contrato dos Dízimos entrassem com a maior brevidade com o que estavam a dever aos cofres públicos, sob pena de ser-lhes aplicada
rigorosamente a lei.
Esta última providência não era de molde a atrair as simpatias dos interessados, em prol do
secretário insolente que lhes vinha pedir o pronto pagamento das dívidas atrasadas. Os Dízimos eram arrematados em licitação pública por quem mais
desse e maiores garantias oferecesse. O arrematante do contrato devia entrar para os cofres públicos com a importância por que o adjudicara e depois
cobrar dos contribuintes o imposto devido. Em geral, tais contratos só eram entregues a pessoas abonadas e de posição influente na sociedade. O ato
de Martim Francisco deixa bem claro o escandaloso abuso que havia a esse respeito; e os atingidos por ele deviam ter ficado alarmados, se não
indignados, com a extemporaneidade de seu grave gesto. Começaram as queixas, os desgostos, as murmurações, a apresentação dos empenhos não
atendidos, as prevenções, os ódios, a guerra, ao princípio oculta, e, depois, ostensivamente declarada...
Sabia Martim Francisco, ora por boatos que havia muito corriam, e ora por informações que obteve
depois de assumir as funções de secretário, que o Pagador Geral das Tropas da Província estava alcançado com os cofres públicos desde a
administração pretérita. Imediatamente chamou-o a rigorosa prestação de contas.
O funcionário criminoso escapou ao castigo, pela fuga, verificando-se que o seu
desfalque, acumulado através dos anos, graças à incúria ou à benevolência de seus superiores, montava à cifra de 11.007$338, importante para aquela
época. A inflexibilidade com que se portou o digno santista, a ponto de obrigar a retirar-se precipitadamente da província um homem bem posicionado
no meio social paulista, haveria, por força, de sublevar contra ele os amigos, os parentes, os partidários do peculatário foragido
[4].
Outros fatos de idêntica natureza fizeram levantar-se temerosa oposição, dentro e fora da Junta
Governativa, contra Martim Francisco e o brigadeiro Jordão, que era o tesoureiro da Fazenda e, como tal, o braço forte daquele na defesa dos
interesses da província.
O capitão de milícias António Cardoso Nogueira, amigo pessoal do coronel Francisco Ignácio de
Sousa Queirós e assaz relacionado entre os militares da província, propôs-se, em dado momento, a monopolizar o abastecimento de carne verde à
população da capital, mas em condições tão onerosas para os consumidores, que Martim Francisco e Jordão reputaram inaceitável a proposta e a
combateram no seio do governo, até verem-na rejeitada, apesar dos ingentes esforços desenvolvidos tenazmente pelo referido coronel para conseguir
sua aprovação, contrária, aliás, aos interesses dos habitantes da cidade.
O proponente voltou à carga, depois de ter adquirido todo o gado que vinha chegando ao mercado
paulista; dono dele, tentou exercer violenta pressão sobre o governo, ameaçando-o de privar de carne a população, caso sua proposta, com a qual
auferiria lucros exorbitantes, não fosse aprovada e aceita.
Martim Francisco - e isto era próprio de sua índole honrada e pervicaz - não se
dobrou à escandalosa pretensão do proponente audacioso, e obteve de um negociante de gado, que por S. Paulo passava em trânsito para o Rio, o
abastecimento do mercado da capital, medida que acarretou para o capitão Nogueira grandes prejuízos, pois teve depois de revender a preços
inferiores as rezes com que pretendia extorquir do povo lucros indevidos [5].
A vaga de queixas aumentava estuante, e as explosões de cólera contra os dois intransigentes
defensores dos direitos da população troavam retrovejantes nos conciliábulos diários que se faziam na loja de fazendas do coronel Francisco Ignácio,
à Rua Direita; na sua própria residência e nos Quartéis, entre a oficialidade despeitada com o merecido revés que sofrera seu graduado camarada.
Para atender ao pedido de Força, que fizera o príncipe regente, mandara o governo
provisório, em princípios de fevereiro de 1822, proceder à conscrição dos indivíduos aptos a servirem como soldados nos Corpos Milicianos que se iam
organizar; e desse importante serviço foram encarregados o brigadeiro Joaquim José Pinto de Moraes Leme, chefe do 2º Regimento de Milícias a Cavalo,
e o sargento-mor Francisco de Paula Macedo, do Regimento de Sertanejos [6].
Esses dois militares, não obstante a responsabilidade de suas funções e a
eminência de seus postos [7],
deixaram-se corromper pelo dinheiro dos jovens ricaços paulistas, isentando-os do serviço ilegalmente, mediante gordas remunerações pecuniárias.
Chegando ao conhecimento de Martim Francisco essas escandalosas negociações, levou-as, por sua
vez, ao conhecimento do governo, e exigiu a abertura de um rigoroso inquérito para se apurarem devidamente as acusações formuladas contra os
oficiais subornados, os quais tinham levado sua falta de escrúpulos ao pondo de isentarem do alistamento municípios inteiros, que não concorreram,
por isso, com um só recruta.
Muito embora tivesse encontrado forte oposição, foi aprovada sua proposta e ainda
mandou-se publicar um Bando, pelo qual eram convidados todos os milicianos que, mediante dinheiro, obtiveram dispensa de servir, a declararem
perante o governo qual ou quais a pessoa ou pessoas que tinham recebido as importâncias pagas; e em compensação de suas declarações, não somente se
lhes oferecia baixa das fileiras, como também o governo se prontificava a restituir-lhes o que seus infiéis agentes haviam recebido
[8], em
detrimento da honra militar e com prejuízo da defesa que a causa nacional exigia de todos os brasileiros verdadeiramente patriotas.
Francisco Ignácio insurgiu-se contra a proposta, por lhe parecer infamante para os oficiais
incumbidos da diligência; mas, apesar disso, foi ela aprovada, porque os fatos eram tão escandalosos e tinham-se tornado tão públicos que o governo
não poderia deixar de inquirir a respeito e punir os culpados, sob pena de ficar inteiramente desconceituado.
Por causa desse novo golpe, vibrado sem intenção contra seu prestígio de militar influente e homem
de sólidos cabedais, incrementou ele a sua propaganda demolitória da preponderância de Martim Francisco no seio da Junta e nas mais relações da vida
política e social de São Paulo.
Francisco Ignácio achava insultante e desonroso que se provasse ou não em
processo regular o vergonhoso delito de que eram acusados seus dois camaradas de armas, amigos diletos e correligionários firmes; mas não achava que
fosse ainda mais vergonhoso para o próprio governo não tomar conhecimento da denúncia, e passar, perante a opinião pública da província, como
conivente com os criminosos, fechando covardemente os olhos ao crime, para não melindrar o suscetível orgulho dos poderosos cheios de arrogância...
[9].
Mais ou menos pela mesma época, o brigadeiro Jordão, no exato cumprimento de
seus deveres como tesoureiro da Junta da Fazenda, exigiu que o coronel Francisco Álvares Ferreira do Amaral entrasse para os cofres da província com
certa elevada soma que lhe ficara a dever em virtude de transações efetuadas com o Tesouro, soma que, segundo parecia, não pensava ele em pagar
jamais ao seu até então benévolo credor [10].
Era igualmente um assunto que não poderia chamar sobre o secretário e o tesoureiro da Fazenda a simpatia do devedor impontual, que tinham resolvido
chamar a contas.
A província estava sobrecarregada de despesas inadiáveis e não era com semelhante processo que
haveria de desobrigar-se de suas efetivas responsabilidades. Tinha-se generalizado o mau costume, entre os governantes e seus favoritos, de
confundir a fortuna particular com a fortuna pública. Para eles, os cofres oficiais não passavam de um prolongamento dos cofres individuais. Amigo
em apertos, correligionário em apuros, tinha, para suas dificuldades, os recursos de um Tesouro depauperado, mas ainda assim bastante generoso.
Martim Francisco e o brigadeiro Jordão, a quem incumbia prover a tempo e a hora às necessidades da
Administração, entenderam que se fazia preciso acabar de vez com semelhante prática, que, além de imoral, pesava sobre uma receita inferior aos
gastos imprescindíveis.
Daí a guerra que se lhes moveu. Francisco Ignácio e seus dedicados asseclas compreenderam que
tinham perdido a partida, que os negócios públicos estavam mesmo entregues à direção de homens escrupulosos, e que o antigo regime crônico de
peculatos e de concessões, peculiar à administração passada, cessara definitivamente, ou, pelo menos, deixaria de vigorar enquanto a integridade de
Martim Francisco e do brigadeiro Jordão montasse vigilante guarda à porta dos cofres do Tesouro.
Era preciso, portanto, aniquilá-los ambos, antes que, à sombra do prestígio de José Bonifácio
junto ao príncipe, firmassem eles em São Paulo um predomínio que fosse depois difícil de abalar e que seria, com o correr dos tempos, fatalmente
desastroso para os orgulhosos políticos da facção contrária.
Coronel Francisco Ignácio de Sousa
Queirós
Imagem publicada com o texto
Francisco Ignácio e Oeynhausen
O coronel Francisco Ignácio, conquanto paulista de nascimento, era partidário dedicado aos
elementos retrógrados existentes na província, quer por velhas relações pessoais de recíproca estimação, e por laços de parentesco, quer por ser
negociante forte na praça da Capital e ligado aos portugueses pelas transações comerciais que com eles vantajosamente mantinha. Além disso, ao tempo
do governador e capitão-general, sempre fora considerado como um repúblico da maior influência perante as autoridades constituídas e perante a
população que o acatava pelo seu dinheiro, pela sua posição social e pelo posto que ocupava de coronel de milícias. Por sua inteligência pouco
desenvolvida, não era o homem talhado para as circunstâncias, não obstante seu gênio desabrido e resoluto.
João Carlos Oeynhausen, que presidia in nomine o Governo Provisório, pois a presidência de
fato foi sempre desempenhada por José Bonifácio e depois por Martim Francisco, seus substitutos naturais na ordem da sucessão legal, também não era
o homem que a luta, prestes a travar-se, estava pedindo: inteligente e instruído, faltava-lhe, entretanto, a vontade enérgica que é indispensável em
certos críticos momentos da vida humana, individual ou coletiva.
Aliás, para enfrentar o gênio de José Bonifácio e o caráter indomável de seu irmão e companheiro
de jornada política, precisava-se de uma individualidade capaz de emparelhar com eles no saber, no talento, na moralidade e na energia. Com esse
conjunto excepcional de predicados não existia na província, nem talvez mesmo no Brasil, um só homem, pelo menos no que diz respeito às notáveis
qualidades que concorriam no mais velho dos Andradas.
Para derrubá-lo, pois, ou a Martim Francisco, que era com ele plenamente solidário em todos os
atos da administração e da política, tornava-se mister lançar mão de outros recursos e de outros indivíduos, deslocando-se a luta, do campo aberto
das competições à luz do dia, para as emboscadas misteriosas da intriga, para as surpresas anônimas dos golpes desfechados na sombra.
Costa Carvalho e o Pharol Paulistano
Tinha vindo para São Paulo por essa época um jovem baiano,
recentemente formado em Coimbra, na Faculdade de Leis - o dr. José da Costa Carvalho, nascido na cidade de São Salvador a 7 de fevereiro de 1796
[11].
Contava, portanto, pouco mais de 20 anos quando emigrou para S. Paulo com uma dupla idéia fixa no pensamento - arranjar casamento rico e fazer, à
custa do dote respectivo, fácil carreira política; e como a segunda aspiração dependia essencialmente da realização da primeira, não esteve com
meias medias e tratou logo de casar-se com uma excelente viúva abastadíssima de bens pecuniários e que podia ser sua mãe, tanto era mais velha que
ele - dona Genebra de Barros Leite, viúva do brigadeiro Luís António de Sousa, e sogra, portanto, do coronel Francisco Ignácio de Sousa Queirós, de
quem era tia por ser ele casado com sua prima dona Francisca Miquelina de Sousa [12].
Como fazer para conseguir seus fins utilitarista? Nada mais fácil a um jovem cheio de audácia e de
ambições. Fez-se desde logo partidário político de Francisco Ignácio, a quem, nas horas mais graves, assistiu com suas luzes, com seus conselhos,
com seus serviços, com sua dedicação ilimitada. Conquistou assim sua confiança, sua inteira simpatia, sua prestigiosa amizade.
Impondo-se decisivamente ao coração e ao espírito do generoso mas inculto coronel, encontrou,
através das agitações da vida política, o caminho que o levaria a obter a mão da cobiçada e opulenta sogra de Francisco Ignácio, o que veio a
conseguir quase nas vésperas de seu embarque para o Rio, quando para lá seguiu por ordem do príncipe regente, como nocivo à ordem pública da
província.
Quem sabe mesmo, se esse chamado de d. Pedro, que os corifeus de Francisco Ignácio taxavam de ato
de vil despotismo emanado dos Andradas, aureolando-lhe de uns longes de martírio a fronte sofredora - não contribuiu mais depressa para que a
próspera viúva, tocada da mais emocionante simpatia, lhe desse finalmente o suspirado sim?
Posto que oriundo de pais humildes e pobres
[13], de
uma só cajadada matava o astucioso Costa Carvalho dois excelentes coelhos: dote avultado e posição política, mediante a importância social que a
fortuna da esposa lhe garantia na sociedade paulistana e em qualquer outro centro brasileiro. A política dera-lhe a riqueza; a riqueza iria depois
reconduzi-lo à política onde teria que triunfar, como, de fato, triunfou. Enfeixara nas mãos os melhores trunfos para ganhar a partida,
principalmente que, à falta de espontâneos talentos literários, sobejavam-lhe predicados que sempre foram proveitosos na política de todos os tempos
- o sangue frio inalterável, a índole pertinaz, a propensão para as manobras enredadiças, a capacidade especial para agir sob a capa da
responsabilidade alheia, o mérito de esconder, sob a aparente cordialidade das palavras cândidas e melífluas, propósitos negregandos...
Tornou-se Costa Carvalho o diretor mental de Francisco Ignácio, e, portanto, o instigador dos
elementos descontentadiços que na sociedade de S. Paulo suspiravam por ver-se libertados da preponderância dos irmãos Andradas, funesta a seus
planos de dominação coletiva sem contraste, aos seus interesses individuais, e ao insaciável apetite de suas desbalisadas ambições.
Se, num meio social como o de hoje, mais vasto, mais populoso e mais polido, nós vemos dentro de
que círculo de estreitas competições se agitam os partidos na ânsia de conquistar o Poder - imagine-se o que não seria então naquela grosseira
sociedade meio colonial ainda, cuja população mal instruída não tinha aptidão para reagir contra os que a exploravam, nem meios de fazer sentir
livremente sua vontade nas matérias que mais de perto dissessem respeito à sua felicidade, ao seu bem-estar e ao seu progresso.
Dividia-se o povo em tribos submissas, que os diferentes caciques dominavam discricionariamente;
sujeitas a toda a casta de espoliações, a injustiças revoltantes, a perseguições afrontosas, a vexames insuportáveis, se acaso tentassem escapar-se
à obediência que lhes era imposta. Os chefes decidiam dos destinos dos povos à revelia deles - e ainda bem quando esses chefes possuíam, como José
Bonifácio, além de uma grande inteligência e de um caráter honradíssimo, um coração repleto de bondade, pulsando pelo bem de seus semelhantes,
fossem eles pobres índios rechaçados de sua terra natal, infelizes negros votados à mais dolorosa das servidões domésticas, ou homens livres que de
sua liberdade não podiam usar vantajosamente, porque lhes faltava uma instrução básica suficiente que os aparelhasse para a luta desigual de cada
dia.
Projetos conspiratórios
Inspirados por Costa Carvalho, começaram os conspiradores a reunir-se para deliberar, ora em casa
de uns, ora em casa de outros. Tornava-se urgente apear do poder Martim Francisco, tarefa que lhes parecia sobremodo fácil, como de fato o foi.
Havia numerosas pessoas da mais alta influência desgostosas com a sua inquebrantável atuação no seio do Governo; e essas pessoas, que o parentesco
entrelaçara com famílias não menos numerosas nem menos influentes, engrossavam o espírito de oposição e preparavam o ambiente em que deveriam
desenrolar-se os acontecimentos em elaboração.
Essas pessoas, esses parentes, essas famílias simbolizariam a opinião civil da Capital e também a
da Província; quanto ao apoio militar, indispensável ao êxito de tentativas de tal natureza, além de estar a classe respectiva sobremodo exacerbada
com o secretário da Fazenda, pelos motivos que há pouco esclarecemos, servia às ordens de Francisco Ignácio, que era o chefe supremo das Forças
Armadas da Província.
Tinham todos os elementos em mão para derrocar o prestígio dos santistas
ilustres que a todo o transe queriam "mandar absolutamente nesta Província",
principalmente Martim Francisco, "que, na qualidade de membro do Governo, queria governar só
por si e pisar a todos" - segundo afirmava Francisco Ignácio, na espontaneidade de seu
desabafo, em epístola endereçada para o Rio, a 21 de junho de 1822, ao desembargador Estêvão Ribeiro de Rezende
[14] -
desabafo demonstrativo de que toda a oposição aos Andradas se resumia simplesmente numa questão de penacho: o que não podiam admitir é que eles
exercessem na administração provincial a preponderância que exerciam e que era a resultante de sua capacidade para o desempenho das mais altas
funções da vida pública.
A superioridade dos egrégios varões sobre os outros elementos da Junta Provisória evidenciava-se
esmagadora a todos os respeitos; daí as indignações dos que se levantavam para combatê-los, estimulados pela inveja, pelo despeito e pelo
reconhecimento da própria inferioridade. Como, porém, atacá-los com sucesso, se eles tinham a seu favor talentos vários, cultura sólida, moral
austera e caráter inquebrantável como o diamante?
O mais letrado dos oposicionistas - Costa Carvalho - nesse particular ficava a
enorme distância deles. Faltava-lhe, entre outros, o predicado de exprimir-se oralmente com facilidade e brilho: a sua elocução era retardada,
confusa, descolorida, sem vigor [15],
e numa quadra como aquela, em que não havia periódicos, nem a arte tipográfica se estabelecera ainda entre nós, à palavra falada cabia a
função primordial da propaganda das idéias, a tarefa de levar às diversas classes da sociedade a convicção dos propagandistas e a orientação precisa
para todos se conduzirem nas emergências criadas pelos acontecimentos.
Foi necessariamente por compreender o quanto lhe era prejudicial essa deficiência que Costa
Carvalho, anos depois, fundou nesta Capital, em 1827, uma tipografia e um jornal - o primeiro que aqui apareceu - para poder falar a seus
concidadãos sem os entraves que o órgão da emissão vocal implacavelmente lhe antepunha.
A aludida carta de Francisco Ignácio é abundante de pormenores preciosos a
respeito de suas desinteligências com os Andradas, e por ela se verifica, sem grande esforço, que era com estes que estava realmente toda a força
política e todo o apoio da população. Ele confessa, em duas passagens diferentes [16],
que, no governo, José Bonifácio e Martim venciam sempre à pluralidade de votos, isto é, pela maioria, pis os homens bons que lá dentro existiam,
violentavam-se, coagiam-se, votavam com eles, "para não darem mau exemplo ao povo, que queriam
conservar nos limites da subordinação".
Mas, se a sua abnegação ia até esse ponto de renúncia de direitos e deveres imprescritíveis - para
não darem ao povo nefastos exemplos de insubordinação - como é que fizeram coisa pior do que votar contra os Andradas nas deliberações coletivas da
Junta, e apelaram para a indisciplina dos quartéis, e vieram tumultuosamente para a rua, e, de armas na mão, intimaram ao secretário da Fazenda a
sua imediata retirada do Governo e da Província? É que, de fato, nas reuniões da Junta, ficariam isolados da notável maioria que apoiava
solidariamente os projetos e os atos de Martim Francisco, tanto assim que, após a violenta expulsão dele, aquela Junta ficou reduzida aos quatro
partidários que Francisco Ignácio lá contava.
O que os fazia, portanto, aos díscolos, concordar hipocritamente com os Andradas nas deliberações
do governo, e guerreá-los fora dele, sem olhar à qualidade dos processos de que se serviam, era a consciência de sua manifesta inferioridade
numérica dentro da corporação administrativa e junto aos povos da Província.
Antes de apelarem para a Força armada, com a qual dominavam pelo terror a população paulistana
inerme, que não podia, assim oprimida e violentada, pronunciar-se livre e energicamente a favor de Martim Francisco, tentaram outros meios de
alijá-lo do Governo para então ficarem na prepotente posição que ao seu colega censuravam vivamente - a de absolutos dominadores, governando a
Província discricionariamente, sem contrastes, sem obstáculos, sem oposições quaisquer, sem que o tino, a moralidade e a energia indômita dos
Andradas criassem embaraços à sua administração, que se consagrava mais devotadamente a acudir às necessidades pessoais dos amigos que aos
respeitáveis interesses da população.
É assim que respiraram desafogadamente, quando José Bonifácio, escolhido para
ministro, teve que permanecer na Corte; e para se verem livres de Martim Francisco, que era mais importuno do que o irmão, trataram de elegê-lo
procurador da Província no conselho convocado pelo príncipe, a pretexto de renderem homenagem a seus méritos e serviços
[17].
Martim, porém, que estava a par de quanto se passava, porque os mexeriqueiros não escasseiam em
ocasiões tais, deu todas as providências necessárias para não ser eleito, porquanto de muito compreendera o perigo a que a administração da
província, e a própria causa brasileira, ficavam expostas, se o governo paulista passasse de novo aos que nele preponderaram nos tempos do regime
absolutista.
Francisco Ignácio, Oeynhausen e mais comparsas tinham aderido ao sistema constitucional
sinceramente, mas não queriam ver-se despojados de seus postos, de seus privilégios, de sua hierarquia, de suas imunidades. Estavam prontos a agir
em nome da Constituição e não mais em nome do rei, mas pretendiam que aquela os mantivesse nas posições em que os tinha encontrado.
Os Andradas assim o não entenderam, por lhes parecer que o novo regime, tendo de por um termo
final ao descalabro que ia pela Administração, em conseqüência dos censuráveis abusos que nela se cometiam, não podia, para essa prática
regenerativa, utilizar-se dos mesmos corruptos agentes que por tais desmandos eram responsáveis.
Não foi, portanto, o espírito de retrogradação que neles influiu, como pensam alguns comentadores
da história paulista, para moverem contra os Andradas a formidável guerra que moveram; eles estavam prontos a servir com dedicação à causa liberal,
mas sempre nos primeiros postos e não nos planos secundários a que tinham sido rebaixados.
Medidas preventivas
Martim Francisco, sabedor do que se tramava contra sua autoridade, e de quem
eram os autores da conjuração, interpelou-os um dia inesperadamente em plena sessão da Junta Provisória; e eles, como que surpreendidos com a
monstruosidade da imputação, protestaram contra ela e declararam que, se o vissem ameaçado de qualquer violência no desempenho de seu mandato,
colocar-se-iam prontamente a seu lado [18].
Entretanto, o vice-presidente da Junta não deixou de aprecatar-se contra possíveis surpresas,
apesar, ou talvez justamente por causa dos fementidos protestos de seus colegas de governação, comunicando para o Rio tudo quanto, com todas as
aparências de verossimilitude, chegava pormenorizadamente aos seus ouvidos.
Compreendeu logo José Bonifácio a que extremos de gravidade poderia atingir a
situação política de sua Província, caso não fossem adotadas prontas medidas de repressão contra os autores da tentativa em projeto; e, por portaria
de 10 de maio, mandou, de ordem do príncipe regente, que o presidente Oeynhausen embarcasse quanto antes para a Corte, por motivo de serviço
público, passando o exercício das funções presidenciais ao seu substituto legal, que era Martim Francisco
[19].
Para os partidários de Francisco Ignácio piorava notavelmente a situação, desde que a ordem
regencial fosse cumprida, porque ficaria seu inquebrantável adversário, cuja força política procuravam abater, à testa do Governo, e, portanto, com
sua autoridade mais robustecida do que dantes. Urgia, pois, saírem do terreno das conspirações platônicas para a realidade da luta. E assim o
fizeram, de armas na mão, depois de terem mandado sair à rua as tropas que tinham sido convidadas para o levante.
Não consta dos documentos da época o dia exato em que chegou a S. Paulo a portaria, mas o governo
tomou conhecimento dela na sessão extraordinária de 23, mandando cumpri-la e registrá-la. Estiveram presentes Oeynhausen, Martim Francisco, Oliveira
Pinto, coronel Müller, António Maria Quartim, Rodrigues Jordão, Oliveira Bueno, Paula e Oliveira e Silva Gomes - nove membros, dos quais estavam
quatro dentro da conspirata prestes a rebentar.
Ficou então resolvido que, enquanto Oeynhausen não partisse, se lhe entregassem
todos os papéis que se fossem recebendo e se lhe desse pleno conhecimento de todos os acontecimentos que ocorressem; e que Martim Francisco
acumulasse com a presidência interina do Governo e da Junta da Fazenda todas as Pastas em cujo exercício se achava
[20].
Explosão do movimento
Isto se passava entre as 10 horas da manhã - que era a hora em que se realizavam as sessões da
Junta - e 1 hora da tarde, quando terminavam. Francisco Ignácio, que não tinha comparecido, estava por fora aparelhando os elementos civis e
militares ao bom êxito do pronunciamento combinado. Efetivamente, por volta das 4 horas, começou a Capital a agitar-se. Eram oficiais a cavalo que
galopavam deste para aquele ponto; grupos de populares que estacionavam aqui, ali e acolá; prontidão das Forças nos respectivos quartéis, até que no
sino da Cadeia, ao Largo de São Gonçalo, tocou-se a rebate, e os Tambores da Tropa Miliciana puseram-se a percorrer as ruas centrais, rufando
marcialmente seus estrondosos instrumentos.
O ouvidor José da Costa Carvalho, chefe espiritual do movimento, dirigiu-se para a Casa da Câmara,
como quem, no cumprimento de um dever imperioso, a sindicar do que se passava, mas na realidade para imprimir a indispensável unidade à ação
iniciada e estimular com o prestígio de sua presença pessoal e de seus autorizados conselhos os fautores principais da conspiração.
Por esse tempo, já a Força Pública - sublevada pelos sargentos-mores José Rodrigues Pereira de
Oliveira Neto e Francisco de Paula Macedo, pelo capitão António Cardoso Nogueira e pelo coronel Ferreira do Amaral (os três últimos, como expusemos,
tinham sido alvejados por Martim Francisco na repressão dos atos escandalosos aos quais nos referimos) - afluíra para o Pátio de São Gonçalo.
Ferreira do Amaral, embora não fosse comandante dos milicianos, assumiu o
respectivo comando, por ser mais graduado que os outros oficiais [21].
Quando chegaram àquele pátio, já estava reunida no Paço do Conselho, em vereança, a Câmara Municipal, embora sem aparência ou forma alguma de
legalidade.
Um engano de António Piza
O presidente, capitão Bento José Leite Penteado
[22],
abastado cidadão, natural de Parnaíba, e muito conceituado por sua honradez e circunspeção, comparecera, obrigado pelo capitão Pedro Taques de
Almeida Alvim, que, a cavalo e ostentando armas, o procurara por diversas vezes em sua residência, levando-o, pela força, à Casa da Câmara
[23].
Os outros vereadores, para não serem violentados na integridade de sua consciência, negaram-se a
comparecer, desaparecendo da Capital. Foram, então, convidados, para fazer número, dois membros da Câmara transacta, os capitães António de Siqueira
e Moraes e Caetano Pinto Homem, os quais, nessa qualidade, eram suplentes natos dos que faltavam, além de partidários da revolta.
O Governo, logo que os acontecimentos assumiram gravemente o aspecto de
intimação à mão armada, reuniu extraordinariamente pelo cair da tarde; e, mandando chamar à sua presença o coronel Francisco Ignácio, recomendou-lhe
que fosse acomodar as tropas, na qualidade de seu supremo chefe [24].
Hipócrita era a ordem passada pelo Governo, porque a minoria, que por ela
votara, tomava parte na traiçoeira conjuração; e hipócrita era também a insidiosa conduta de Francisco Ignácio, aceitando a melindrosa incumbência,
quando eles não queriam mais que o pronunciamento militar contra os poderosos elementos andradinos existentes no seio da Junta
[25].
Depois de ter ido a quartéis, pró fórmula, pois bem sabia que a Força se achava toda congregada em
frente ao Paço do Conselho, para aí se dirigiu, desempenhando-se, com aparente neutralidade, da comissão de que fora incumbido junto aos seus
próprios companheiros de revolta. Voltou a palácio, conferenciou com os colegas reunidos, declarou-lhes que a tropa e o povo exigiam que o
presidente João Carlos não se retirasse para o Rio, deixando-se de cumprir a portaria do príncipe, e que era conveniente mandar aos amotinados uma
deputação que se entendesse francamente com eles.
Determinou-lhe o Governo que se tornasse para junto das tropas a fim de
contê-las, enquanto se deliberava a respeito da ida de uma deputação, a qual não tardou a aparecer aos sublevados, e compunha-se do brigadeiro João
Jácomo de Bauman e do tenente-coronel João de Castro [26].
Declarou-lhes ela em nome da Junta, que a esta não era lícito deixar de cumprir uma ordem de Sua Alteza Real.
Já nesse momento, o povo e a tropa tinham representado à Câmara par que solicitasse do governo não
só a permanência de João Carlos à sua frente, como também a deposição de Martim Francisco e do brigadeiro Jordão, por serem ambos perniciosos à
Província.
Deposição de Martim e Jordão
O auto de vereança não diz quem foi o intérprete dos insurgentes perante a
Câmara, mas o dr. JOÃO ROMEIRO [27]
conta-nos que foi o próprio coronel Francisco Ignácio. Ele, porém, na sua longa epístola a Estêvão de Rezende, escrita a 1º de junho, guarda
discreto e cauteloso silêncio a respeito de tão interessante pormenor.
A Câmara, inspirada sempre por Costa Carvalho, que assessorava os vereadores, teve a petulância de
mandar intimar, por seu procurador Luís Manuel da Cunha Bastos e escrivão João Nepomuceno de Almeida, o Governo Provisório a que comparecesse à sua
presença nos Paços do Conselho, a fim de tomar conhecimento do que verbalmente reclamava o povo e tropa.
Coube a Martim Francisco protestar energicamente contra semelhante desrespeito à autoridade legal,
respondendo, com destemerosa altivez, à audaz intimação. A Junta era, na Província, o Poder supremo, ao qual estavam estritamente subordinados todos
os outros poderes, inclusive as Câmaras Municipais; que a da Capital, se tinha algo que representar ou requerer ao Governo, fosse a palácio onde
este se achava reunido e que pessoa alguma, destituída de qualquer parcela de autoridade como eram o procurador e o escrivão do Conselho, tivesse
mais o desaforo de subir aquelas escadas para levar ordens incompetentes a seus superiores.
Apesar da irritação, cada vez maior, contra o vice-presidente da Junta, a Câmara submeteu-se
porque reconheceu facilmente que não podia exigir do Governo tão absurda submissão; e mandou-lhe dizer, por escrito, o que é que populares e
militares exigiam, sendo portador do ofício o escrivão municipal.
Terminada a leitura desse papel, conta-se que Martim limitara-se a comentar
simplesmente: "Nem tanto aparato era preciso para se conseguir a minha demissão. Estou
demitido". O brigadeiro Jordão fez idêntica declaração, e ambos imediatamente se retiraram
para suas casas [28].
O coronel Francisco Ignácio, na carta que a cada passo estamos citando, afirma que a resposta da
Junta foi levada verbalmente aos rebeldes pela mesma deputação militar que lhes participara a primeira resolução; e que essa forma de despacho à
petição da Câmara fora recebida com desagrado formal. Só depois disso é que o Governo deliberara responder por escrito ao ofício da Edilidade.
Não nos parece que a verdade esteja com ele, pois a ata que dos acontecimentos a Câmara fez lavrar
não alude a tais fatos, e nem se refere à deputação. Reza ela, mui laconicamente, o seguinte: "Este
ofício que a Câmara fez apresentar na forma acima ao mesmo exmo. Governo, por mim escrivão, foi respondido e lido pela portaria seguinte"
(segue-se a resposta na qual se declara que Martim e Jordão, em vista da vontade manifestada pelo povo e tropas, e não desejando perturbar o sossego
da Província, "deram imediatamente e voluntariamente sua demissão").
O aludido escrivão foi encarregado de tornar pública aos amotinados a resposta
do governo; no ardor de seu entusiasmo pela fácil vitória, queriam eles ir até palácio para aclamá-lo, mas, obedecendo a ordens do seu comandante, a
Força recolheu-se a quartéis, e o povo, aconselhado pelos chefes civis do movimento, dissolveu-se em paz. Nas três noites seguintes a cidade
iluminou-se festivamente [29].
Martim Francisco e o brigadeiro Jordão não dispunham de meios materiais para sufocar a revolta,
porque todas as Forças estavam ao lado de seus adversários, os quais, graças à sua ascendência social e relevante posição de fortuna, conseguiram
não somente a adesão de centenares de pessoas qualificadas, como também aliciar na escumalha da mais ignara ralé, o quanto podia haver de sórdido e
desprezível entre os repugnantes elementos dessa natureza. Aos dois dignos paulistas outro recurso não sobrava senão ceder à fatalidade das
circunstâncias; e aguardar que do Rio viesse o oportuno remédio para o mal. Na informação epistolar dos sucessos a Estêvão de Rezende, frisava
Francisco Ignácio o sossego em que jouvera a Capital nas três noites consecutivas aos tumultos, isto é, até 26 de maio.
Erros. Anacronismos. Retificações
Tais foram os fatos ocorridos em S. Paulo, no dia 23, segundo cuidadosamente os colhemos nas atas
da Câmara Municipal, nas do Governo Provisório, na correspondência do coronel Francisco Ignácio e noutros documentos que se nos depararam no Arquivo
Público deste Estado.
Por eles, reconstituímos fiel, posto que sumariamente, os acontecimentos que convulsivaram
extraordinariamente a alma da população paulopolitana e não tardaram a repercutir intensamente em várias localidades do interior da Província; e por
eles vamos retificar agora diversos enganos em que incorreram historiadores, aliás conscienciosos, entre os quais MACHADO DE OLIVEIRA, ANTÓNIO PIZA
e JOÃO ROMEIRO, que da interessante matéria se ocuparam mais particularmente que outros analistas anteriores ou posteriores.
Tentando corrigir um suposto erro do dr. PAULO DO VALLE, o dr. PIZA esclarece em
nota à Bernarda de Francisco Ignácio, a respeito da causa imediata da sedição, que houve dois avisos ou portarias, um de 10 de maio
chamando João Carlos ao Rio e outro de 21 chamando à mesma Corte o ouvidor Costa Carvalho
[30]. PAULO DO VALLE sustentava que o aviso do
regente, de 10 de maio, lido em sessão do governo a 23, chamando Oeynhausen à sua presença, ocasionara grande agitação pública, que logo se
manifestou pelo fechamento dos armazéns e lojas do centro comercial, pelo rebate dado no sino da Cadeia e pela movimentação das tropas que se
dirigiam para o Pátio de São Gonçalo.
E tinha razão o falecido lente de Retórica do extinto Curso Anexo à nossa Faculdade de Direito. O
que deu motivo ao pronunciamento foi só o aviso de 10 de maio, porquanto o do dia 21 não podia ter chegado a S. Paulo na manhã de 23.
A correspondência vinha por terra; e a viagem mais curta que, pela época da
Independência, se realizou entre o Rio e S. Paulo, foi a do príncipe d. Pedro depois do Grito do Ipiranga - cinco dias, porquanto, saindo ele desta
Capital pela madrugada de 9 de setembro, chegou ao cair da tarde de 14 ao Paço de São Cristóvão, apesar das chuvas torrenciais que apanhou pelos
caminhos [31].
Se isto aconteceu com d. Pedro - o qual, além da mania da velocidade, que se transmitiu ao segundo
imperador, tinha urgência em vencer a distância que o separava da Corte -, compreende-se que um correio vindo calmamente do Rio, e em sentido
contrário, isto é, subindo a serra em vez de descê-la, o que é mais fatigante e torna menos rápida a jornada, não chegaria a S. Paulo em menos de
uma semana. O aviso de 21 de maio não entrou em nada nos acontecimentos de 23 e só influiu nos que ulteriormente se passaram, como daqui a pouco se
verá.
Lendo-se a ata da sessão do Governo Provisório e a da Vereança, ambas de 23, em nenhuma delas se
encontra referência alguma ao aviso ou portaria de 21 chamando Costa Carvalho ao Rio.
Efetivamente, na sessão da Junta, "leram-se
e mandaram-se cumprir e registrar as portarias, expedidas pelo Ministério, entre as quais foi a de 10 do corrente, pela qual Sua Alteza manda chamar
ao Rio de Janeiro o excelentíssimo senhor conselheiro João Carlos Oeynhausen, presidente deste Governo, para objeto de serviço do Estado..."
[32].
Nada consta sobre o chamamento de Costa Carvalho, nem se faz
alusão alguma a qualquer portaria ou aviso em tal sentido. Também na ata da vereança extraordinária da mesma data, só se faz menção da ordem
intimando a Oeynhausen para partir; e requer-se, ao contrário, que ele fique [33];
e o próprio coronel Francisco Ignácio conta a Estêvão de Rezende que o motivo da sedição foi "ter-se
divulgado à uma hora da tarde... que o sr. João Carlos era chamado a essa Corte por uma portaria passada pelo sr. José Bonifácio"
[34].
Dos termos desse período - através do qual se percebe que o fato de ter assinado José Bonifácio a
aludida portaria não contribuiu pouco para melindrar as suscetibilidades de seus antagonistas - resulta claramente que a causa determinante da
sedição foi apenas a destituição de Oeynhausen da presidência do Governo e a sua conseqüente substituição por Martim Francisco.
Assim, pois, incorreu no mesmo erro, antes do dr. PIZA, o brigadeiro MACHADO DE OLIVEIRA, que diz
ter-se lido na sessão de 23 de maio o aviso chamando Oeynhausen e Costa Carvalho, como se se tratasse de um só aviso, abrangendo os dois
nomes. A verdade é que houve dois avisos - um de 10 de maio, concernente ao chefe do Governo e a cuja leitura se procedeu então, e outro de 21 do
mesmo mês, relativo ao ouvidor, e que só chegou mais tarde.
Depois do dr. PIZA também incidiu no mesmo engano o dr. JOÃO ROMEIRO que, à página 101 de sua
estimada obrinha, alude a um ofício de José Bonifácio, recebido por Oeynhausen, na noite de 21 de maio, mandando-o recolher-se ao Rio, em nome de d.
Pedro, e fazendo idêntica intimação a Costa Carvalho. Basta recordarmos que o aviso chamando o último ao Rio é datado de 21 de maio, para se
compreender a absurdez de ter chegado tal aviso a S. Paulo na noite do próprio dia em que foi ele assinado pelo ministro. Aliás, o mesmo autor, na
página seguinte (102) reproduz, em sua integralidade, a ata da sessão de 23, na qual, como já mostramos, não se leu nenhum ofício ou aviso mandando
que o irrequieto ouvidor se recolhesse à Corte, só se tratando da intimação feita a Oeynhausen.
É lógico acreditar-se que José Bonifácio, já por não estar ainda no conhecimento
pleno da intervenção do ouvidor nos negócios políticos da Província, já por lhe parecer prudente ou suficiente a medida decretada, limitou-se a
chamar para junto do príncipe o presidente do Governo Paulista. Dias depois - refletindo melhor, ou quem sabe se melhor enfronhado sobre a verdade
do que aqui se passava -, entendeu de ampliar e completar a providência anterior pelas portarias de 21, ordenando a Costa Carvalho e Francisco
Ignácio que se recolhessem prontamente à capital do País [35].
Essa dupla ordem motivou as novas ocorrências que se seguiram aos acontecimentos de 23, conforme se verificará no decorrer desta fiel narrativa.
Não é também exato, como assevera o dr. ANTÓNIO PIZA
[36], que
a nomeação do marechal José Arouche de Toledo Rendon para comandante das Armas - função que era exercida desde o princípio da transformação
constitucionalista do velho regime em S. Paulo, pelo próprio governo - tivesse concorrido simultaneamente com aquelas portarias para a explosão do
movimento insurrecional de 23.
É certo que o decreto de nomeação de Arouche é de 10 de maio, mas só foi
comunicado à Junta, para que desse posse e exercício ao novo comandante, "não obstante a falta
de apresentação do competente título", por aviso escrito no Rio a 20 do mesmo mês
[37],
o que quer dizer que dele só se teve conhecimento nesta Capital quando chegaram as portarias referentes a Costa Carvalho e Francisco Ignácio, isto
é, alguns dias depois de consumada a violenta deposição de Martim Francisco e seu colega de governo, com jurisdição na Tesouraria da Fazenda - o
brigadeiro Jordão.
Eliminados estes, confiou o governo ao coronel Francisco Ignácio a incumbência
de policiar a cidade, evitando ajuntamentos, insultos ou agressões pessoais a quem quer que fosse ou ataques à propriedade pública ou privada -
incumbência que lhe foi outorgada na mesma sessão extraordinária do dia 23 [38].
O dr. JOÃO ROMEIRO assinala que por essa ocasião Francisco
Ignácio fora investido no Comando das Armas [39].
Os membros depostos, na mesma sessão em que tal se deu, demitiram-se, Martim Francisco, da Inspetoria de Minas e Matas, e Jordão, da Tesouraria de
Fazenda, demissões que não foram aceitas pelo Governo, reunido em sessão extraordinária no dia imediato e à qual, além dos conspiradores, só
compareceram André da Silva Gomes e Paula Oliveira [40].
À sessão ordinária havida no dia seguinte - 25 - somente compareceu André Gomes;
e às que se lhe sucederam não mais estiveram presentes os amigos e partidários dos Andradas, correndo todas as deliberações sob a exclusiva
responsabilidade da minoria, composta de Oeynhausen, Quartim, Oliveira Pinto, Müller e Francisco Ignácio, que se viram, como desejavam, na plenitude
do Poder supremo [41].
O padre Oliveira Bueno, o padre Paula
e Oliveira e o professor André da Silva Gomes, que também deviam ser depostos [42],
mas foram afinal conservados pela injuriosa clemência dos rebeldes vitoriosos, não quiseram, como se vê, prestar-se ao degradante papel de comparsas
do Governo, de cujo seio se retiraram definitivamente [43].
[...]
NOTAS:
[1] MELLO MORAES - Obr.
cit., 1º vol., pág. 372, col. 2ª.
[2] OLIVEIRA LIMA - Idem,
pág. 268.
[3] Obra citada, página 168.
[4] Correspondência do
Governo de S. Paulo com o do Rio (no Arquivo do Estado).
[5] Dr. JOÃO ROMEIRO - De
D. João VI à Independência, pág. 96.
[6] Idem, ibidem, pág. 97.
Actas do Govêrno Provisório de S. Paulo, págs. 112 a 118.
[7] O brigadeiro Paes Leme
era paulista, natural da Capital "e da mais esclarecida nobreza desta Capitania",
pois "descendia legitimamente, por seu pai, o coronel de Auxiliares Francisco Pinto do Rêgo, cavaleiro fidalgo
da Casa Real, da ilustríssima Casa dos Lemes, Guerras, Brittos, Monteiros, Regos, Peixotos e Pintos, e por sua mãe dona Escolástica da Ribeira Goes
Moraes... das esclarecidas Casas dos Laras, Cabraes, Ordonhes, Taques, Proenças, Almeidas, Moraes, Antas, Mellos, Velhos e Travassos, por ser
legítima descendente da antiga e ilustre Casa do Senhor de Belmonte e dos comendadores do Castelo de Almouroz" (Docs. Ints., vol. 1º,
pág. 72).
[8] Actas das Sessões do
Govêrno Provisório de S. Paulo, pág. 118.
[9] Dr. JOÃo ROMEIRO - Obr.
cit., págs. 97 e 98.
[10] Idem, ibidem, pág.
98.
[11] Mais tarde barão e
marquês de Monte Alegre. Foi o fundador do Pharol Paulistano, tendo por companheiro de redação António Mariano de Azevedo Marques, paulista,
filho do dr. José Euphrásio de Azevedo Marques e sua mulher dona Anna Gertrudes de Jesus. A Mariano chamavam-no Mestrinho, por ser de pequena
estatura e lecionar a língua latina, na qual se tornara provecto desde os 11 anos de idade.
O Pharol Paulistano foi o primeiro periódico que surgiu em São Paulo - acontecimento que se
realizou a 7 de fevereiro de 1827, data natalícia de seu fundador. Até então não se conhecia nesta Província a arte tipográfica. Trazia a
seguinte legenda por baixo do cabeçalho: La liberté est une euclume qui usera tous les marteaux. Era de pequeno formato e apenas tinha quatro
páginas, e sua parte material estava confiada ao artista Manuel Francisco da Costa Silveira, posteriormente oficial-contador da nossa Faculdade de
Direito.
Colaboraram nele, entre outros, Nicolau Vergueiro, padre dr. Amaral Gurgel e Odorico Mendes. José
da Costa Carvalho, que ocupou no primeiro reinado, e no segundo, altos postos na Administração e na política, faleceu a 18 de setembro de 1860, em
S. Paulo (JOAQUIM ROBERTO DE AZEVEDO MARQUES - Apontamentos para a História da Imprensa na Província de S. Paulo, manuscrito inédito e não
terminado, em nosso poder, págs. 2 e 3); ANTÓNIO EGYDIO MARTINS - São Paulo Antigo, 2º vol., págs. 94 a 95; J. M. P. DE VASCONCELLOS -
Selecta Brasiliense, vol. 1º, pág. 100; SACRAMENTO BLAKE - Diccionário Bio-bibliográphico, 4º vol., pág. 399; AZEVEDO MARQUES -
Apontamentos Históricos, vol. 2º, pág. 36, col. 1ª).
[12] Dr. ANTÓNIO DE TOLEDO
PIZA - O Supplício do Chaguinhas, págs. 23 e 24.
[13] VASCONCELLOS DE
DRUMMOND - Obra citada, páginas 98 e 99.
[14] J. J. RIBEIRO -
Chronologia Paulista, 2º vol., 2ª parte, págs. 312 (2ª col.) e 313 (1ª e 2ª cols.).
[15] A. DE TOLEDO PIZA -
O Supplício do Chaguinhas, pág. 32.
[16] J. J. RIBEIRO - Obr.
cit., pág. 313, 1ª e 2ª cols.
[17] J. J. RIBEIRO - Obr.
cit., pág. 313, col. 1ª. Na representação do povo e tropa a S. A. R., dando-lhes contas dos motivos por que depuseram Martim Francisco e Jordão,
lê-se textualmente o que segue, em relação ao primeiro: "Os povos desta Província, naturalmente
pacíficos e amadores da ordem, pretenderam livrar-se deste seu ingrato compatriota, fazendo-o útil a si e à sua Pátria, reprimido pela presença e
vigilância de V. A. R., sendo nomeado Procurador desta Província, mas este fruto da vontade e pensar geral apenas foi sonhado, para logo o mais
vergonhoso suborno foi posto em prática, com temor de largar o cetro de ferro, com que esmagava seus patrícios, que tanto o haviam amimado".
(Registro Geral da Câmara de S. Paulo, vol. XVI, pág. 391).
[18] Dr. JOÃO ROMEIRO -
Obr. cit., pág. 100.
[19] ARQUIVO DO ESTADO -
A Bernarda de Francisco Ignácio, págs. 43 a 44.
[20] Actas do Govêrno
Provisório, pág. 142.
[21] Dr. JOÃO ROMEIRO -
Obr. cit., pág. 103.
[22] Actas da Câmara
Municipal de S. Paulo, vol. XXII, pág. 587. O dr. ANTÓNIO DE TOLEDO PIZA (A Bernarda de Francisco Ignácio, pág. 11, nota 2), engana-se
quando diz que o presidente convocado fora o dr. Nicolau de Siqueira Queirós, juiz de fora. Este magistrado serviu no seu posto desde 28 de agosto
de 1819 até 3 de agosto de 1821, seguindo para a Corte do Rio nos últimos dias desse mês. Veio para substituí-lo o dr. José da Costa Carvalho, que
tomou posse a 22 do referido mês e ano, servindo até 24 de setembro, por ter sido nomeado nessa data pelo Governo Provisório, para exercer o cargo
de ouvidor, interinamente, no impedimento do efetivo, d. Nuno Eugénio de Lócio e Seiblitz, que fora suspenso pelo referido Governo.
Costa Carvalho foi efetivado no cargo por decreto do príncipe, de 6 de março de 1822, entrando em
exercício a 15. Assim, pois, em 23 de maio de 1822, já não era mais juiz de fora presidente da Câmara o doutor Nicolau de Siqueira Queirós, que
partira para o Rio, definitivamente, em agosto do ano anterior.
Quem, nessa época, exercia suas funções, de conformidade com a Ordenação, era o juiz presidente da
Câmara Bento José Leite Penteado (Actas da Câmara Municipal de S. Paulo, vol. XXII, págs. 293, 499, 503, 504 e 517; Actas do Governo
Provisório, pág. 61).
Num trabalho posterior (Martim Francisco e a Bernarda, pág. 56), o dr. PIZA, querendo
justificar sua insubsistente hipótese relativa à não execução do Chaguinhas, reincide no erro que apontamos. Diz ele que, tendo Costa Carvalho
passado a substituir, desde 24 de setembro de 1821, o ouvidor d. Nuno, suspenso de suas funções, "o
presidente da Câmara, Nicolau de Siqueira Queirós, assumiu o exercício do cargo de juiz de fora".
Dessas linhas verifica-se que o saudoso historiógrafo penava que Nicolau de Siqueira Queirós era
leigo e viera a exercer as funções de juiz de fora, temporariamente, na sua qualidade de presidente eleito da Municipalidade. Ao contrário disso,
era ele juiz togado, e, como tal, incumbia-lhe presidir às reuniões da vereança; e longe de ter sido o substituto eventual de Costa Carvalho, foi
seu antecessor no cargo de juiz de fora de S. Paulo. Na época a que o dr. PIZA se refere, repetimo-lo: ele não se achava mais nesta província, de
onde se mudara de vez para o Rio.
[23] Depoimento do mesmo
presidente na Devassa mandada instaurar pelo príncipe, a 7 de setembro de 1822 (AZEVEDO MARQUES - Obr. cit., vol. 1►7, pág. 64, col. 2ª).
[24] Carta de Francisco
Ignácio a Estêvão de Rezende, em 1º de junho (Chronologia Paulista, 2ª parte do 2º vol, pág. 310, cols. 1ª e 2ª).
[25]
AZEVEDO MARQUES (obr. cit., vol. 1º, pág. 63, col. 2ª e 64, col. 1ª) dando balanço às forças políticas de cada facção, dá-nos o bispo d. Matheus
como partidário dos Andradas, o que é engano, pois o ilustre prelado assinou em primeiro lugar a representação de 30 de maio dirigida ao príncipe
regente contra Martim Francisco, que nesse documento é grosseiramente injuriado.
[26]
Carta de Francisco Ignácio, de 1º de junho, citada. O dr. A. DE TOLEDO PIZA (A Bernarda de Francisco Ignácio, pág. 11, nota 1) chama a este
oficial Machado de Castro. Seu nome inteiro era João de Castro Canto e Mello.
[27]
Obra citada, pág. 104.
[28]
Actas da Câmara Municipal de S. Paulo, vol. cit., pág. 587 a 590.
[29]
FRANCISCO IGNÁCIO - Carta citada, de 1º de junho.
[30]
A Bernarda de Francisco Ignácio, pág. 8, nota 1, e pág. 23.
[31]
OLIVEIRA LIMA - Obr. cit., pág. 323.
[32]
Actas do Govêrno Provisório, pág. 142.
[33]
Actas da Câmara Municipal, págs. 587 a 590.
[34]
Carta citada, de 1º de junho (Chronologia Paulista, 2ª parte do 2º vol., pág. 310, cols. 1ª e 2ª.
[35]
A Bernarda de Francisco Ignácio, pág. 45, 1ª edição.
[36]
Idem, pág. 23.
[37]
Idem, pág. 44.
[38]
Actas do Govêrno Provisório, pág. 144.
[39]
Obra citada, pág. 105.
[40]
Actas do Govêrno Provisório, pág. 145; Documentos Interessantes, vol. XXVII, pág. 315.
[41]
Actas do Govêrno Provisório, págs. 147 a 159.
[42]
Narrativa escrita por André da Silva Gomes, de seu próprio punho, e publicada por AZEVEDO MARQUES (Obr. cit., vol. 1º, pág. 65, col. 2ª).
[43]
O termo de 21 de julho de 1822, consignando que, por ordem do marechal Arouche, as Forças comandadas pelo marechal Cândido voltavam para Santos,
está assinado por André da Silva Gomes, mas ele não assinou a ata da sessão permanente durante a qual foi lavrado o referido termo, nem outras
quaisquer, a partir de 29 de maio. |