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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS - BIBLIOTECA
Clique na imagem para ir à página principal desta sérieJosé Bonifácio (7)

A história do Patriarca da Independência e sua família

Esta é a transcrição da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, em seu capítulo III (José Bonifácio), com grafia atualizada (páginas 421 a 429):
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O amor dos Andradas ao torrão natal

Além do dever imperioso, que lhe prescrevia a própria consciência, de servir diretamente o seu país natal, fora dos entraves que a toda a hora lhe criava a sua elevada posição oficial na Côrte, arfava-lhe o saudoso peito na ansiedade de rever de novo o adorado torrão onde abrira os olhos à claridade da manhã da vida. Ardia no desejo de prontamente regressar a Santos.

Entre as mestas [*] recordações da puberdade, sorria-lhe

Do Itororó a náiade formosa [101]

banhando os róseos pezinhos na frescura da linfa [**] alvinitente, que do outeiro de São Jerônimo rolava, correndo em direção ao mar.

Ninguém ignora o quanto os Andradas amavam entusiasticamente o vilarinho que lhes fora berço. José Bonifácio, nas poesias compostas longe da pátria e nas epístolas confidenciais escritas a seus amigos mais íntimos, falava constantemente nas paisagens santistas e nos seus pitorescos Outeirinhos, acalentando o projeto de aí acabar tranqüilamente seus dias fadigosos, diante do mar, à sombra do arvoredo florido e copado, ao pé de suas afeições mais doces, ao lado de seus livros e opulentas coleções de Mineralogia, de Numismática e de Botânica.

Antes do exílio, mas quando já apeado do poder pela influência dos áulicos e das favoritas agrupadas em torno do imperador, escrevia na imprensa da época: "Acolher-me ao retiro dos campos e serras que me viram nascer, folhear ali algumas páginas do grande livro da natureza, que aprendi a decifrar com aturado e longo estudo, sempre foi uma das minhas mais doces e suspiradas esperanças" [102].

E depois, do exílio, em carta a Drummond, de 14 de novembro de 1825, repetia: "O que agora só desejo é ir acabar os meus cansados dias, de jaleco e bombachas, nos meus Outeirinhos". A frase anedótica que a tradição imputa a António Carlos - "Da América o Brasil; do Brasil, S. Paulo; de S. Paulo, Santos!" - dá bem uma idéia nítida do intenso amor que à sua terra dedicavam os três irmãos e do quanto era notório semelhante afeto.

Aliás, esse aferrado sentimento, que não deprime e antes nobilita quem o experimenta mesmo exageradamente, e dele faz oportuna ostentação, não é um característico exclusivo dos gloriosos Andradas.

O "bairrismo" dos santistas

O bairrismo é um sentimento nativo e generalizado no coração de todos os santistas, não só de antanho, como da atualidade. Eles têm orgulho de sua terra, que a Providência dotou magnificamente de belezas naturais incomparáveis e que o homem, com os impulsos de seu amor, com o brilho de sua inteligência e com a energia de sua atividade, ataviou de esplêndidas alfaias e custosos adereços, de todos os requintes da sociabilidade e de todos os confortos da civilização.

Mas não é somente o progresso material que os orgulhece e deslumbra: é a obra de solidariedade pessoal e coletiva que a todos reúne e congrega nos grandes transes de sua vida em comum. Têm eles sempre um amparo para cada queda, um consolo para cada dor, um esquecimento para cada falta. No tumulto, na vertigem quotidiana de sua assombrosa labutação comercial, ninguém, na pressa e na ânsia de ganhar seu pão, afasta brutalmente ou esmaga aos pés o companheiro da véspera que a desfortuna ou a fatalidade abateu e prostrou a meio do caminho.

Há sempre um braço que o levanta, uma palavra terna que o conforta, uma bolsa que com ele reparte um pouco dos seus haveres, um coração bondoso que o reconduz de novo à atividade; que o reconcilia, conforme o caso, com o dever, com o trabalho, ou com a honra.

Não há naquela terra valores humanos postos definitivamente à margem. Isto, sob o ponto-de-vista das meras relações de caráter individual. Na esfera da vida coletiva aí estão as suas numerosas escolas isoladas de instrução preliminar, os seus grupos escolares municipais, a sua Academia de Comércio, a sua assistência hospitalar, as suas associações de beneficência, os seus asilos, os seus albergues, onde todos, quer domiciliados no lugar, quer forasteiros, encontram recursos prontos nos momentos difíceis, onde todas as classes têm guarida e proteção, desde o mendigo que não mais pode trabalhar até o operário que recebe pouco; desde aqueles [que] não têm mais teto até aqueles que já não têm pão.

Nos seus principais institutos desempenham altas funções diretoras estrangeiros de todas as nacionalidades, e até do Governo Provisório, que se estabeleceu logo depois da proclamação da República, fez parte um cidadão da Norte-América. Os cargos públicos são ordinariamente exercidos por cidadãos de outros municípios, de outros estados e até os há de outros países. Por aí se vê que o bairrismo santista não é uma odiosa manifestação de exclusivismo, porém um sentimento construtor, orgânico e simpático, que se resume no constante esforço em prol do progressivo melhoramento do meio, sob o aspecto físico, social e moral.

Povo essencialmente cosmopolita por sua função eminentemente comercial - os santistas acolhem com o maior carinho todos quantos vão para lá se dedicar à obra da geral prosperidade comum. Dão eles uma excelente demonstração positiva de que o amor ao solo pátrio pode existir, e existe certamente, sem a prevenção estúpida e a hostilidade insensata aos que nasceram noutras regiões do globo e que são afinal nossos irmãos no grêmio universal da Humanidade.

Chegada a Santos

Tendo em vista a aguda sensibilidade de sua alma nesse particular, imagine-se com que alvorotada comoção moral não teria José Bonifácio contemplado de novo, após ausência tão longa, as enseadas quietas, o firmamento azulado, os vergeis olorosos, as níveas praias que pisara infante, as ondas a escumar contra os recifes, o alvacento campanário da igreja paroquial, cujos bronzes a repicar no céu da tarde revocavam-lhe à memória, num rebater pungente de saudades, imagens estremecidas, recordações melancólicas, sonhos dispersos na vastidão do passado...

Evocações do passado

Daí saíra com quatorze anos, alvo e loiro, refletindo na luz dos olhos pequenos e vivazes as graças e as ilusões da adolescência [103]. Voltava agora sexagenário, com o peito retalhado de acerbos ressentimentos pelas injustiças com que a maledicência e a inveja de rivais indignos tinham amargurado seus últimos anos de permanência na Metrópole.

Em meio século de doloroso apartamento, quantas modificações vinha encontrar! Desfeito pela morte o lar paterno; António Carlos, purgando nos cárceres da Bahia, os seus anelos pela liberdade; envelhecidos os companheiros joviais da puerícia. Apenas o seu bem fadado berço natalício havia ganhado em louçanias de mocidade e em primores de formosura e de riqueza. A área territorial se dilatara, multiplicara-se a população, novas ruas se tinham rasgado, e novas edificações tinham surgido para atender às exigentes necessidades do progresso.

O comércio por terra e por via marítima continuamente aumentava e o patrimônio privado e a fortuna pública se opulentava gradativamente. Pensou ele talvez, nesse grave momento, que os homens, as famílias, e as gerações passam e desaparecem e que somente fica o que resultou de suas lutas e de seus esforços - as cidades e as pátrias, com seus costumes e seus monumentos, com suas tradições e sua história.

Golpe de vista sobre o futuro

E alongando para mais além os olhos perscrutadores, galgou em pensamento as escarpas da serrania, extasiando-se na contemplação do velho burgo de Anchieta, em apreciável grau de aperfeiçoamento relativo; distendeu-o depois por toda a vasta capitania vicentina e pelas terras intermináveis do sertão bravio que a indômita coragem dos paulistas devassara para o Norte, para o Centro e para o Sul.

Voltou-lhe ao espírito a idéia que por mais de uma vez lhe acudira insistente nas horas de meditação patriótica, quando, ainda na velha Metrópole, sentia que as gastas fibras do coração português se relaxavam em síncopes sintomáticas de exaurimento da vitalidade, enquanto que a sua filha das brasílicas plagas se aprestava e surdia vigorosamente para cumprir em prazo não mui remoto a sua missão fatal no continente novo.

"A filha emancipada - dizia ele, referindo-se ao Brasil, no discurso de despedida da Academia de Ciências - precisa de pôr casa". E repisava, numa outra passagem da mesma notável oração histórica: "Que terra para um vasto e grande império!" [104].

Meditações patrióticas

Recolhendo-se com a família, em fins de 1819, à sua casa rústica dos Outeirinhos, tais idéias, que tão intensamente o vinham impressionando e preocupando desde os derradeiros tempos de sua residência na Mãe-Pátria, começaram a corporalizar, mais nítida e vigorosamente, os respectivos contornos em seu grande cérebro: e aí os prós e os contras são medidos, estudadas as dificuldades do projeto, pesadas, avaliadas suas possibilidades.

Surgem as dúvidas, desanimam-no as incertezas, dá-lhe novos alentos a esperança. O debate íntimo se trava, entre severas apreensões e expectativas risonhas. Planos se esboçam, planos se apagam, para daí a instantes se refazerem, tornarem a desfazer-se e esboçarem-se de novo.

Apesar e através dessas constantes oscilações do pensamento, a idéia capital ganha terreno. A chama, extinta na aparência, do ardor cívico que pela vez primeira o inflamara na guerra peninsular, reacende-se agora, num suave clarão apaixonado que dentro de pouco se transformará em impetuosa e ardente labareda...

***

Viagem mineralógica na província de S. Paulo

Enquanto, porém, ainda não soa a hora oportuna, continua ele pacificamente os seus trabalhos de naturalista. O desejo de conhecer a composição e a qualidade do solo de sua província e as condições atuais de seus jazigos matalíferos, leva-o, aos sessenta anos, a empreender com Martim Francisco uma excursão montanhística pelo interior de S. Paulo, que ambos percorreram em parte.

A 23 de março de 1820 partem de Santos, depois de terem estudado a estrutura geralmente granítica de sua região montuosa e a tríplice formação aluvial de seu terreno plano, composto de argila, areia e seixos rolados, maiores ou menores [105].

Em canoa foram até ao Cubatão, de onde subiram a Serra de Paranapiacaba, aí pernoitando no seu ponto mais alto, num pouso destinado aos viajantes. A 24 recomeçaram a viagem, percorrendo a Borda do Campo até chegar a S. Paulo, onde se demoraram até 5 do mês seguinte, sempre trabalhando, investigando e explorando os terrenos dos arredores, como Santo Amaro, Sant'Anna (antiga Fazenda dos Jesuítas que já então tinha passado para o domínio nacional), e Pinheiros, cujo rio reputaram navegável e em cujas margens descobriram vestígios de antigas forjas de ferro.

As minas de ouro do Jaraguá

A 6 deixaram S. Paulo, foram ver os montes e as minas de ouro existentes no Jaraguá, pico mais alto da Serra da Cantareira, a 1.100 metros acima do nível do mar. Foi aí que se deu a primeira descoberta de jazidas daquele precioso metal, em 1590, pelo famoso paulista Affonso Sardinha e seu filho Pedro Sardinha e tão abundante foi a sua extração na época que o lugar se tornou conhecido com o nome de Peru do Brasil.

Achou José Bonifácio que o trabalho da lavra e de apuração nessas minas era muito imperfeito e ensinou aos mineiros, corrigindo-lhes um velho erro comum entre eles, como era possível extrair da segunda camada do cascalho inferior, que reputavam estéril, uma porção de ouro superior à da primeira.

Seguiram depois para Parnaíba, "vila situada no centro de um distrito aurífero"; foram até Pirapora, Piracicaba, Itu, Sorocaba, "vila assentada em lugar bem arejado".

Na primeira das duas últimas vilas, contam-lhe que alguns habitantes preparavam uma expedição para escravizar índios Caiapós, aldeados às margens do Paraná. Revolta-se diante desse projeto criminoso o seu justiceiro coração e contra o atentado em perspectiva protesta energicamente. "A sorte daqueles índios, assim como a dos Guarapuavas, no Distrito de Curitiba, merece toda a nossa atenção, para que não ajuntemos ao tráfico vergonhoso e desumano dos desgraçados filhos da África, o ainda mais horrível dos infelizes índios, de quem usurpamos as terras, e que são livres, não só conforme a razão, mas também pelas leis".

É o mesmo sentimento generoso que o preocupou entre os seus lazeres de estudante em Coimbra; que mais tarde lhe inspirou, no seu regresso ao Brasil, uma das mais belas estrofes de sua ode a d. João VI, por nós citada; que pouco depois, em 1821, quando vice-presidente do Governo Provisório de S. Paulo, recomendava, nas Instrucções que redigiu para os deputados paulistas se conduzirem na conformidade delas perante as Cortes de Lisboa, "providências sábias e enérgicas sobre a civilização geral e progressiva dos índios e a emancipação gradual dos escravos"; e que, finalmente, se cristalizou nos dois projetos apresentados à primeira Constituinte sobre essas matérias relevantes.

Têm-se aí, em tais manifestações, as provas contínuas de que semelhantes providências, que se tornaram pontos substanciais de seu programa de estadista, já lhe preocupavam o espírito, quer entre as estouvanices dos tempos universitários, quer em meio de suas árduas labutações e explorações de caráter puramente científico.

A beleza das sorocabanas

Em Sorocaba, já não é a generosa visão do futuro estadista que se revela; é a vibração artística de sua alma de poeta. A encantadora beleza das mulheres sorocabanas deslumbra-o e ele não hesita em mesclar às suas áridas observações montanhísticas, suavizando-as e atenuando-lhes a secura e prosaísmo, o tributo de sua admiração àquelas formosas patrícias, "verdadeiros tipos de beleza, que fazem o sexo paulista citado em todo o Brasil, por sua figura esbelta e cor de jasmim e sobretudo pela amabilidade e bondade de seu coração e caráter".

Daí, depois de terem visitado a Fábrica de Ferro do Ipanema, voltaram para S. Paulo, a 28 de abril, por S. Roque e Cotia, de onde saíram a 30, chegando à capital após um mês e oito dias de penosa excursão, ao fim da qual concluiu José Bonifácio, pelo exame da região percorrida e atentamente explorada, que os montes e colinas da Província de S. Paulo são rochas primitivas e que o país não é privado de pedra calcária, como se supunha e afirmava.

Concluída a viagem, os dois irmãos que tinham lançado em pedaços de papel não numerados os apontamentos respectivos, ora pelo punho de um, ora pelo de outro, não tiveram tempo para descrevê-la, absorvidos por outros afazeres e logo depois pelos eventos em que teriam de tomar parte importante e ativa.

Só mais tarde, quando se achava exilado, é que José Bonifácio confiou esses apontamentos a Vasconcellos de Drummond, que lhes deu a indispensável redação definitiva, apesar de que as notas escritas por aquele, muito desordenadas, tornavam assaz difícil a sua tarefa. As de Martim Francisco estavam lançadas com mais método e clareza.

Redigida a memória, traduziu-a Drummond para o francês, publicando-a em seguida no Journal des Voyages, onde fez grande impressão entre os especialistas, sendo logo depois traduzida e publicada na Alemanha e na Inglaterra; e por ela ficou a Europa conhecendo exatamente os terrenos mineralógicos de S. Paulo.

No segundo volume reproduzimos integralmente esse trabalho, servindo-nos da cuidadosa reimpressão que dele fez em 1892 o sr. M. Barbosa, no seu Roteiro das jazidas e minas de ouro e outros metais e pedras preciosas existentes no Estado de S. Paulo [106].

Voltando a Santos os dois ilustres excursionistas, a sua atividade retomou pacificamente o anterior curso costumeiro. Mas, à sombra deleitosa e dileta de suas árvores frondíferas, José Bonifácio, no repouso dos estudos científicos ora menos imperiosos, continuava a meditar na gravidade do problema político de seu país, problema que dia a dia reclamava uma solução racional e prática.

O regresso de d. João VI à ex-Metrópole colocava o problema em situação tal que somente a separação poderia resolvê-lo de modo satisfatório.

É, porém, no segundo volume desta obra, consagrado especialmente à apreciação histórica do movimento emancipador, que estudaremos essa fase que foi sem contestação a mais gloriosa da carreira pública, longa, triunfante e fecunda, do nosso eminente conterrâneo.


NOTAS:

[101] Verso inicial de um conhecido e belo soneto de António Carlos.

[102] O Tamoyo, n. citado.

[103] "José Bonifácio era de estatura menos que ordinária, e figura regular, branco e louro na sua mocidade; de olhos pequenos e vivos" (Esboço biográphico, anônimo, atribuído a António Carlos).

[104] Discurso histórico na sessão pública de 24 de junho de 1819, da Academia de Ciências de Lisboa (Memórias da Academia, tomo VI, parte II).

[105] Viagem Mineralógica na Província de S. Paulo, em 1820 (Edição de 1892, tip. Montenegro, Rio de Janeiro).

[106] O sr. REMÍGIO DE BELLIDO, na sua Bibliographia Andradina (página 21) registra sob. n. 21, uma Excursão montanística em parte da Província de S. Paulo para determinar os seus terrenos metalliferos (em collaboração com Martim Francisco). E acrescenta que esse trabaho foi publicado no Journal des Mines, em 1820. À página 26, e sob nº 38, registra um Voyage mineralogique dans la Province de São Paulo du Brésil, escrita por José Bonifácio e Martim Francisco, traduzida para o francês pelo conselheiro Drummond, publicada em 1827 no Journal des Voyages e reproduzida em 1829 no Bulletin des Sciences Naturelles.

À página 28, e sob nº 46, registra ainda uma Viagem mineralógica na Província de São Paulo (em collaboração com Martim Francisco) e que se encontra na Geologia elementar applicada, de Nereu Boubée, publicada no Rio de Janeiro em 1846. Parece tratar-se de três Memórias diferentes, quando se trata de uma só com denominações um tanto quanto diversas entre si.

A única excursão montanhística ou viagem mineralógica que José Bonifácio e Martim Francisco fizeram juntamente, em parte da Província de S. Paulo, é a que começou a 23 de março de 1820 e terminou a 30 de abril do mesmo ano, e à qual nos referimos latamente no texto acima.

E nem é possível que esse trabalho fosse estampado ainda em 1820, no Journal des Mines, quando a verdade é que os próprios autores, nas páginas finais, declaram que não descrevem as fábricas do Ipanema, porque já o tinha feito José Bonifácio, em uma Memória que apresentara à Junta do novo Governo de S. Paulo, em 1821. Quer isso dizer que a Viagem só foi redigida depois desse ano, não podendo, pois, ter sido estampada no Journal des Mines no ano anterior.

Aliás, é o que nos diz o conselheiro Drummond, nas suas Annotações, quando afirma que a sua redação foi elaborada no exílio, portanto, depois de 1823. E, de fato, a primeira publicação é de 1827.

Não é certo também que esse trabalho fosse escrito pelos dois irmãos e apenas traduzido por Drummond para o francês, como pretende o sr. Bellido. Quem o redigiu, segundo consta fundadamente no nosso texto, foi o próprio Drummond, servindo-se de apontamentos, em parte confusos e desordenados, que lhe confiara José Bonifácio. Cumpre-nos, por fim, notar que o sr. Bellido deixou de indicar, na sua Bibliographia, a edição de 1892, de que nos temos servido, e anexa ao citado Roteiro do sr. M. Barbosa.

N. E.:
[*] mestas - tristes, que causam tristezas.

[**] linfa - humor aquoso das plantas. Aqui empregado na forma poética, com o sentido de: água.

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