Antepassados portugueses
o
último quartel do século dezoito, que é a quando se referem os dados estatísticos de que estamos principalmente lançando mão
[1], a Rua Direita, localizada havia relativamente pouco tempo na parte baixa compreendida entre os dois
outeiros que primeiro se povoaram, era já bastante populosa, pois contava mais de quarenta casas, com uma população que orçava em cerca de 700
almas, o que dá uma média predial superior à do opulento Valongo.
Ao expirar o século, era ela a rua principal da Vila, já pelo número de casas ricas,
de residência ou mistas, já pela qualidade e posição social de seus moradores. Ao revés do núcleo do Valongo, onde o elemento comercial
preponderava; e o dos Quartéis, onde na massa geral da população prevaleciam os humildes ofícios operários, na zona intermédia habitavam de
preferência os que viviam de seus cabedais, rendas ou proventos resultantes de funções ou empregos de certa categoria e responsabilidade.
Nessa rua morou sempre a ilustre família Andrada, que haveria de aureolar-se mais
tarde em nossa História, pelos feitos com que alguns de seus mais dignos descendentes honrariam, à face da civilização, engrandecendo-os e
glorificando-os, o nome do Brasil e a terra de seu berço.
Era uma família oriunda da mais clara linhagem portuguesa, ramo tradicional dos
antigos condes de Bobadella e dos senhores de Entre-Homem e Cávado, na Província do Minho, outrora condes de Amares e marqueses de Montebello.
José Ribeiro de Andrada
O galho português que deu origem aos Andradas santistas viera transplantado para o
Brasil na pessoa de José Ribeiro de Andrada, avô paterno de nossos grandes patrícios, nascido em 1678 na Freguesia de S. Martinho, da Vila de
Cabeceira de Basto, Comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga e Província do Minho, em Portugal.
O sobrenome de Ribeiro provinha-lhe de seu pai, Gaspar Ribeiro
[2], e o de Andrada, de sua mãe, d. Felippa de Andrada Machado. Era costume do tempo, como se vê dos
documentos que nos restam, e se verificará no decorrer desta obra, pospor-se o sobrenome materno ao paterno, ao contrário do que hoje se pratica
geralmente.
Ocupações civis e postos militares
Pelos fins do século dezessete veio José Ribeiro de Andrada estabelecer-se na Vila de
Santos, onde se dedicou a vários ramos de atividade profissional, ocupando outrossim rendosos ofícios da República.
Administrou o contrato da dízima da Alfândega do Rio e da de Santos,
cargo em que o encontramos servindo em 1721 [3]; e desempenhou as funções de
Escrivão da Matrícula, Alfândega, Fazenda Real e Almoxarifado da última localidade, desde, pelo menos, o ano de 1727 a 1732, porquanto a 6 de maio
de 1728 o governador e capitão-general António da Silva Caldeira Pimentel, que serviu de 15 de agosto de 1727 a 14 de agosto de 1732, renovou por
seis meses a Provisão conferida a José Ribeiro de Andrada para exercer aquele cargo, em cujo desempenho se houvera "com
boa satisfação, inteligência e limpeza de mãos", o que indica que ele já o vinha exercendo de tempos atrás.
A Provisão foi ainda renovada pelo mesmo governador, e sempre por seis meses, em 18 de
agosto de 1729, 22 de abril de 1730, 8 de maio de 1731 e 18 de abril de 1732, devendo o provido pagar os emolumentos pelo tempo em que serviu sem a
legal prorrogação do prazo.
O emprego rendia, além de 40$000 réis fixos anuais, pagos
pela Real Fazenda, uma média também anual de 80$000 réis, de emolumentos a cargo das partes [4].
Por esse tempo, já era ele capitão de Infantaria da Ordenança de Santos, nomeado por Carta Patente de 11 de março de 1722
[5]. Não encontramos documentos que nos dissessem quando foi promovido a coronel da mesma milícia, posto
que de fato ocupou, segundo lemos, não só em vários biógrafos dos Andradas, mas em documentos oficiais contemporâneos.
Seu casamento com uma jovem santista
Entabulando amigáveis relações com a família de seu compatriota Balthazar da Silva
Borges, casado com d. Luísa dos Reis, natural de Santos, não tardou a enamorar-se da jovem filha do casal, senhorita Anna, que com seus pais vivia
viçosa de encantos, e carinhosamente cercada de todos os confortos que a relativa prosperidade do meio permitia a uma família regularmente abastada.
A 3 de fevereiro de 1704 realizou-se o casamento deles. Contava então a
desposada pouco mais de 23 anos, pois aqui nascera a 29 de agosto de 1680, sendo seus padrinhos de batismo Gaspar Gonçalves de Araújo e d. Maria
Álvares [6]. O celebrante do casamento foi o reverendo Luís Borges dos Reis
que, pelos sobrenomes, devia ser irmão da noiva, mas sobre cuja personalidade não encontramos em nenhum documento da época quaisquer dados ou
esclarecimentos.
Assim também, não sabemos em que ano morreram eles; é certo, porém, que
atingiram a idade muito avançada, porquanto ainda existiam em 31 de dezembro de 1765, o coronel com 87 anos e sua mulher com 85
[7].
Acompanhados de sua filha Anna Maria, nascida em dia e mês ignorados do ano
de 1710, moravam ainda na Rua Direita, ao pé da casa do filho mais novo, Bonifácio José de Andrada, e a expensas deste, porque já não possuíam então
nada de seu: estavam completamente pobres [8].
Na primorosa educação dada a seus filhos, que receberam a mais completa instrução
intelectual do tempo, e na constituição do patrimônio destinado aos que seguiram, com brilho e zelo apostólico, a carreira eclesiástica, esgotara o
velho coronel Andrada os lucros obtidos com o seu comércio e com os seus rendosos contratos oficiais. Bonifácio de Andrada, que mantinha seus pais
no fim da vida, era então mercador abastadíssimo, como veremos minuciosamente nos apontamentos biográficos que a seu respeito damos adiante. Era ele
o pai dos Andradas.
Filhos do casal
Do seu consórcio com d. Anna da Silva Borges, além da filha a que acima nos referimos,
houve o coronel Ribeiro de Andrada os seguintes filhos varões, na ordem cronológica dos respectivos nascimentos:
Padre dr. José Bonifácio de Andrada
1º José Bonifácio de Andrada - Nasceu em Santos e foi batizado na
Igreja Paroquial a 21 de maio de 1706, por frei Manuel da Purificação, religioso de Nossa Senhora do Monte do Carmo [9].
Estudou na Universidade de Coimbra, onde se bacharelou
em Ciências Físicas e Médicas. Não se sabe em que data conquistou o seu diploma; o certo, porém, é que em 1732, já casado, estudava em Coimbra,
segundo uma declaração que encontramos em documento de seu próprio punho - a petição que a 12 de fevereiro de 1752 dirigiu ao bispo diocesano, frei
António da Madre de Deus [10], requerendo que prosseguissem as diligências
para sua admissão aos estudos eclesiásticos [11].
Um outro documento esclarece-nos um pouco mais a esse respeito. É a Resolução Régia de
10 de outubro de 1733, em virtude da qual "o rendimento dos subsídios velho e novo imposto"
fora retirado da Câmara de Santos e incorporado à Fazenda Real; e dele mandou-se que o provedor da mesma Fazenda assistisse com o ordenado anual de
100$000 réis ao médico "que quisesse ter o partido e a obrigação de curar a infantaria da Praça",
mas nenhum profissional se sentiu atraído por vencimentos tão parcos.
Em vista de tal insucesso, a Câmara, três anos depois, a 12 de dezembro de 1776, em
representação dirigida ao rei, ponderava-lhe que seria conveniente aumentar os aludidos vencimentos para se poder conseguir um médico, atendendo não
só a que os serviços a prestar eram penosos, porquanto o número de soldados da guarnição excedia de trezentos, como também ao fato de receber quase
o dobro o cirurgião-mor "e ser o merecimento deste de menos atenção que o daquele", por
não poder tratar das "inúmeras e contínuas enfermidades" a que é estranha a sua
competência.
Sugeria ainda a Câmara, na dita representação, que se nomeasse para
o novo cargo o dr. José Bonifácio de Andrada, que então se achava na Universidade de Coimbra findando os seus estudos, o qual "como
nacional desta Vila, não só se acomodará com menos ordenado que outro qualquer, mas ainda curará a Infantaria com mais caridade, tanto pelo
conhecimento que tem da necessidade de cada um, como pela experiência do clima e remédios do País"
[12].
Médicos nos tempos coloniais
Se em 1736 achava-se ele prestes a concluir o seu curso, e já propunham a sua nomeação
para um cargo médico oficial, é de crer que a sua formatura se tivesse verificado nesse mesmo ano. Mas, diplomado em 1736, ou num dos anos
imediatamente posteriores, eis que vamos encontrá-lo em 1739 exercendo com grande sucesso a clínica em sua terra natal; e foi ele provavelmente o
primeiro filho de S. Paulo que se formou em Medicina [13].
Sua nomeação para médico do Presídio de Santos
O apelo da Municipalidade santista só foi atendido quinze anos depois, visto que
somente por despacho de 17 de dezembro de 1748, e provisão de 6 de novembro do ano seguinte, é que foi nomeado efetivamente para o cargo de médico
do Presídio e Guarnição da Praça, cujas funções, aliás, já vinha exercendo a título precário desde 1739.
Casamento e prole
Casou-se o dr. José Bonifácio na Capital de S. Paulo, no dia 1º de agosto
de 1732, com d. Rosa Ribeiro da Silva [14], filha legítima de José Dias da
Silva e D. Leonor Correia de Abreu e neta de Estêvão Raposo Boçarro e d. Maria de Abreu Pedroso Leme.
Desse casamento teve uma filha única que ainda na infância ficou cega, em
conseqüência dos estragos da varíola, segundo nos informa o dr. Alfredo de Toledo [15].
Mas o que nos não diz esse infatigável investigador é como se chamava ela e que destino levou.
Pois chamava-se Maria Rosa de Andrada e, posto que
cegasse de menina, casou-se com o português Manuel José da Silva, natural da Freguesia de S. Miguel, Comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga; e
de seu casamento teve uma filha que nasceu em Santos e aí foi batizada com o nome de Anna, a 3 de novembro de 1771, na Igreja Paroquial, sendo seus
padrinhos José Nunes de Carvalho, casado, e d. Francisca Teresa Baptista, solteira [16].
Foi celebrante o vigário encomendado padre Domingos Moreira da Silva [17].
Viuvez. Estado eclesiástico
Tendo enviuvado em 1748, resolveu o dr. José Bonifácio imitar o exemplo de seus dois
irmãos imediatos, seguindo como eles a carreira sacerdotal. Havia contra os seus propósitos e sua tardia vocação um obstáculo oposto pelos
princípios doutrinais da Teologia Canônica: a sua profissão de médico, que o tornava suspeito de impiedade aos olhos da Igreja em virtude da índole
essencialmente materialista dos estudos próprios daquela profissão.
E ele não podia abandoná-la de repente, não só pela imensa falta que faria ao povo de
sua terra, como também porque de sua arte é que tirava a maior parte dos recursos com que se mantinha.
Primeiro bispo de S. Paulo. Diocese de S. Paulo
Conseguiu então, por intermédio e
influência da Autoridade Metropolitana, d. Bernardo Rodrigues Nogueira [18],
primeiro bispo da nova Diocese de S. Paulo [19], que o papa Bento XIV, pelo
Breve Apostólico de 28 de agosto de 1749, o dispensasse de tão grave impedimento [20].
O processo de habilitação prosseguiu nos seus termos de direito e o habilitando obteve
sentença favorável em 15 de março de 1752, data em que finalmente se ordenou.
Morte
Não temos dado algum relativo ao dia e à causa de sua
morte, e ao lugar onde seus restos repousam. É certo, contudo, que em 1765 já ele não existia, pois o seu nome não consta do recenseamento local
desse ano, nem dos que se lhe seguiram regularmente, e o dr. Alfredo de Toledo [21]
diz-nos que, por Provisão de 7 de abril de 1766, foi nomeado para substituí-lo efetivamente no lugar de médico da Guarnição o dr. Joaquim José
Freire da Silva, pormenor que reforça a nossa hipótese [22].
Padre dr. Tobias Ribeiro de Andrada
II - Tobias Ribeiro de Andrada - Nasceu em Santos, e foi batizado
na respectiva Igreja Paroquial a 27 de outubro de 1709. A certidão juntada ao processo de habilitação para se ordenar está quase ilegível, razão por
que não pudemos copiar ouros detalhes pessoais que se encontram nela [23].
Formado em cânones, na Universidade de Coimbra, ganhou reputação de grande sabedor dessa matéria; e exerceu o cargo de tesoureiro-mor da Sé
Episcopal de S. Paulo.
Não conseguimos dados minuciosos a respeito de sua vida, nem pudemos averiguar onde,
quando e de que morreu esse ilustre membro da família Andrada.
Padre João Floriano
III - João Floriano Ribeiro de Andrada - Nasceu e foi batizado a 30 de março de
1721, "nesta Paróquia de Todos os Santos, da Vila de Santos", pelo padre custódio, frei
Francisco do Desterro, com licença do vigário Francisco Barbosa.
Em 1750, na petição dirigida ao prelado paulista, requerendo para
ser admitido a fazer estudos eclesiásticos, alegava em abono de sua pretensão o fato de ser ele suplicante "suficiente
gramático e filósofo" e a circunstância de que seus pais, já decrépitos, morreriam consolados ao verem-no habilitado em
ordens sacras [24].
Dizem biógrafos que o padre João Floriano cultivou com grande sucesso as
letras e deixou fragmentos de um poema intitulado Vida de S. João Nepomuceno, que muito abona sua eloqüente inspiração poética, e cabedais
correspondentes [25].
Também nada sabemos quanto a particularidades de sua vida pessoal e pública, a não ser
os resumidos e escassos apontamentos que acabamos de dar a seu respeito. Ignora-se o ano em que faleceu e o lugar onde jaz sepultado.
Bonifácio José
IV - Bonifácio José Ribeiro de Andrada
[26] - Nasceu em Santos a 14 de maio de 1726 e recebeu os santos óleos batismais na
Igreja Matriz da mesma Vila, a 24 do referido mês. Foram seus padrinhos o juiz de fora de Santos, dr. Bernardino Rodrigues do Valle, por procuração
passada de S. Paulo, onde no momento se achava; e d. Theodósia da Silva Borges, mulher de Bento de Castro Carvalho, e tia materna do batizando, por
ser irmã de sua mãe, d. Anna da Silva Borges [27].
Como seus irmãos mais velhos, fez os estudos preliminares na própria terra natal,
suprindo com a espontaneidade de sua viva inteligência as grandes lacunas da instrução da época. Seu pai destinou-o a seguir na vida uma carreira
prática, bastando para a Religião, para o Direito e para a Medicina os outros irmãos que nesses ramos do saber teórico se encarreiraram.
Seu casamento com dona Maria Bárbara da Silva. Antepassados
desta
Aos trinta e dois anos de idade, em agosto de
1758, em dia que se não pode ler no documento consultado, já muito desmerecido pelo tempo [28],
casou-se com d. Maria Bárbara da Silva, filha legítima de Gonçalo Fernandes Souto e sua mulher d. Rosa de Viterbo da Silva, nascida em Santos a 27
de agosto de 1740 e batizada a 3 de setembro do mesmo ano [29].
Este Gonçalo Fernandes Souto era português, natural de S. Tiago da Torre do Pinhão,
Câmara de Vila Real de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, onde foi batizado a 1º de fevereiro de 1669, pelo padre Francisco Nunes de Balça. Seu
pai, Gonçalo Fernandes, era do lugar do Souto, provindo daí o apelido que o filho incorporou depois ao nome da família, e sua mãe chamava-se Luísa
Gonçalves.
A 6 de julho de 1733, casava-se Gonçalo Souto, à tarde, na Matriz de
Santos, com a referida d. Rosa de Viterbo da Silva, filha legítima de Silvestre da Costa Almeida, natural da Freguesia de S. Miguel do Mato, no
Bispado de Vizeu, e de sua mulher d. Maria de Araújo da Silva, já falecida ao tempo do matrimônio. "Natural desta Vila
de Todos os Santos", e batizada "nesta Igreja Paroquial de Todos os Santos",
a 12 de setembro de 1710, pelo padre custódio, frei Francisco do Desterro, d. Rosa teve como padrinhos o coronel José Ribeiro de Andrada e d. Luísa
dos Reis, pai e avó materna daquele que vinte e cinco anos depois seria seu genro [30].
D. Maria Bárbara da Silva, esposa de Bonifácio José de Andrada, não era
filha única. Tinha um irmão, o dr. Manuel Fernandes Souto, médico, também santista, mais velho que ela, pois que nascido em 1734, o qual, entre
outros empregos públicos, exerceu o de escrivão da Alfândega de sua terra natal; e dos respectivos ordenados vivia, segundo se lê num documento da
época [31].
De seu consórcio com d. Margarida Rosa
de Castro, sua conterrânea, teve cinco filhos, entre os quais o reverendo padre Manuel Gonçalves Souto, que se ordenara a 3 de outubro de 1797
[32] e era, desde 1808, capelão do Regimento de Tropas de Linha; e o padre
João Nepomuceno [33], mais moço que ele, e que em sua companhia morava, logo
no começo da Rua Direita, a contar dos Quatro Cantos [34].
Era D. Maria Bárbara uma senhora primorosamente dotada de virtudes insignes.
Companheira carinhosa e inteligente de Bonifácio José de Andrada, muito contribuiu para a esplêndida educação que tiveram todos os filhos do casal;
e os pendores de sua alma bondosa e benfazeja não se manifestavam exclusivamente dentro do lar, assistindo com seus amorosos conselhos o chefe da
família e sua prole, para que direitamente cumprissem na sociedade em que nasceram, e viviam, os deveres a que eram obrigados por sua alta posição.
Fora de sua casa, foi d. Maria Bárbara a consolação de todos os infelizes
que apelavam para a inexcedível generosidade e seu coração magnânimo, aberto sempre a todas as solicitações dos desgraçados. Por isso lhe deu o povo
de Santos reconhecido o expressivo cognome de Mãe da Pobreza [35].
Posição social de Bonifácio José. Suas ocupações e haveres
Além das rendas que auferia de vários empregos públicos, que em épocas diversas
exerceu com inteligência e zelo, Bonifácio José de Andrada dedicava-se à exploração de diferentes gêneros de comércio, cujos lucros, adicionados
àquelas rendas, lhe permitiam não somente viver em grande abastança, como adquirir imóveis que, com o correr dos anos, se valorizaram, e deixar à
família, por sua morte, um patrimônio suficiente para se ela manter com a mesma largueza, dignidade e lustro do tempo de seu chefe.
Das terras que possuía, e que os escravos da casa lavravam e plantavam, colhia café,
cana, arroz - além do fabrico de farinha e aguardente - frutos que, depois de retirado o necessário para o abastecimento doméstico, eram vendidos na
Praça local a preços remuneradores.
As principais fortunas da Praça
Em 1765 era ele a segunda fortuna da Praça, avaliada
oficialmente em 8.000$000 de réis, que correspondem a mais de 300.000$ de réis em moeda atual. Superior à dele só havia, calculada exatamente no
dobro - 16.000$000 de réis, a do sargento-mor de Ordenanças, João Ferreira de Oliveira, que era o negociante atacadista mais forte daquele tempo
[36]; igual, apenas uma: a do negociante António Gonçalves Ribas, Familiar do
Santo Ofício, o que constituía prova segura de sangue fidalgo [37].
Abaixo havia as seguintes grandes fortunas: António José
de Carvalho, também Familiar do Santo Ofício, solteiro, estabelecido com loja de mercador, à Rua de S. Francisco, depois de Santo António, lado
esquerdo a contar do Convento (6.000$000); João Corrêa de Oliveira, casado, capitão de Ordenanças, negociante à Rua da Praia
[38], lado esquerdo principiando do mar (6.000$000); Sebastião de Alvarenga Braga,
solteiro, comerciante à Rua S. Francisco, principiando da parte do mar (6.000$000); Carlos Ferreira Gomes, solteiro, negociante à Rua Direita,
primeira casa do lado esquerdo, a contar dos Quatro Cantos (5.600$000); Octavio de Alvarenga Braga, solteiro, comerciante à Rua de S. Francisco,
lado esquerdo (4.800$000); sargento-mor de Infantaria Manuel Martins dos Santos, casado com d. Maria do Couto, e residente à Rua Direita, lado
direito (4.000$000) e outras de 2.000$000 a 500$000 [39].
Outros documentos falam claramente da abastança em que vivia a família Andrada, como,
por exemplo, a subscrição, a que noutro lugar já nos referimos, aberta na Praça de Santos, em 1767, com o fim de se incorporarem uma ou mais
Companhias do Comércio, destinadas a estabelecer diretas relações entre aquela Praça e a de Lisboa, Porto e Ilhas, subscrição na qual assinou
Bonifácio José a importante soma de 800$000 réis, que hoje equivale aproximadamente a 30.000$000 de réis.
Acima, só houve uma assinatura: a do sargento-mor João Ferreira de
Oliveira, que era de fato mais rico, e subscreveu fabulosamente 1.200$000 réis; iguais, só houve três; as outras oscilavam entre a importância
máxima de 600$000 réis e a mínima de 200$000 réis [40].
Outro documento abonatório de sua abastança é a informação que ao
secretário d'Estado Martinho de Mello e Castro mandou 10 anos depois, a 5 de abril de 1777, o governador e capitão-general Martim Lopes, relativa à
promoção de Bonifácio de Andrada, do posto de capitão de Infantaria ao de coronel do Estado-Maior dos Dragões Auxiliares, por ser "paulista
das principais famílias da Vila de Santos, filho do coronel José Ribeiro de Andrada, com posses para sustentar o posto com luzimento, muito
ágil, desembaraçado e inteligente" [41].
Isso, aliás, não impediu que o incompetente e irrequieto
capitão-general, numa informação mais ampla enviada posteriormente à rainha, a 28 de setembro do ano seguinte - dissesse de seu compadre e amigo o
contrário do que informara antes; e sugerisse à Coroa a não confirmação do Ato, em virtude do qual ele mesmo fizera a promoção de Bonifácio, dantes
cheio de predicados pessoais e sociais, e agora "o único oficial que, esquecido de seus deveres, se não aprontou...
pelo que me parece não é digno de que Vossa Majestade lhe confirme a Patente que lhe conferi, além de outros motivos que a modéstia cala"
[42].
Empregos civis
AZEVEDO MARQUES [43]
informa que foi ele "distinguido em 1746 com o emprego de Fiscal da Intendência das Minas de
Paranapanema", informação que outros biógrafos reproduzem, inclusive o ilustre genealogista dos Andradas, no seu
moderno e interessante opúsculo [44].
Nós não logramos descobrir em documento algum do tempo, que certamente haverá, a prova
de que Bonifácio tenha servido naquele posto; o que podemos contudo é duvidar ou mesmo contestar que a sua nomeação fosse lavrada em 1746, ano em
que ele contava apenas 20 anos de idade, não nos parecendo crível ou razoável que em tão verde quadra lhe confiassem um cargo cheio de
responsabilidades e que requeria tanta experiência da matéria que ia fiscalizar.
O mesmo AZEVEDO MARQUES, sempre transcrito literalmente pelos demais biógrafos,
conta-nos que, depois de fiscal das referidas minas, "passou ao cargo de almoxarife da Fazenda Real de Santos, pelos
anos de 1759 a 1764".
Ainda neste pormenor há engano de datas, pois a sua nomeação para aquele
cargo foi feita ao tempo do governador da Praça de Santos, Alexandre Luís de Sousa Menezes, em 1758, ano em que sucedeu ao antigo almoxarife João
José da Silva; e serviu apenas até 1761, visto como de 1762 a 1764 o lugar esteve ocupado por João Corrêa de Oliveira [45],
capitão dos Ordenanças e mercador importante.
Naqueles tempos, os governos só nomeavam para empregos públicos de certa ordem os
republicanos abonados que pudessem responder pessoalmente com seus bens por quaisquer desvios, irregularidades ou fraudes verificadas no exercício
de suas funções.
Diz ainda o mesmo ilustre escavador histórico do passado paulista que Bonifácio passou
"finalmente, a escrivão da Junta da Real Fazenda da Cidade de S. Paulo, pelos anos de 1768 a 1772".
Também nada achamos quanto à sua nomeação para tal emprego anteriormente a 1771. Neste ano, o citado governador proveu-o interinamente no
lugar, a 4 de julho, em substituição do serventuário efetivo, José Anastácio de Oliveira, que fora mandado para Santos, "por
conveniência do serviço de sua Majestade".
Ao "Capitam Bonifácio José de Andrada,
que tem os requisitos necessários e cumprirá com suas obrigações" foi arbitrado um vencimento anual de 200$000 réis,
durante o tempo em que exercesse o emprego [46].
O que parece ter motivado o erro de datas é uma simples semelhança de
nomes. Quem desempenhava, em 1768, as funções de escrivão daquela Junta não era Bonifácio José de Andrada, e sim José Bonifácio Ribas
[47], e daí a confusão dos biógrafos e cronologistas.
Em 15 de fevereiro de 1773, ainda estava o capitão Bonifácio no exercício
do cargo [48] para o qual fora, como dissemos, nomeado interinamente. Depois
dessa data, nada mais encontramos a esse respeito nos documentos que pudemos examinar.
Três anos antes de seu falecimento, arrematou ele, por
um triênio, o contrato das passagens do Cubatão e do Rio Mogi do Pilar, a 15 de abril de 1786, pela quantia de 5:560$000 réis, ou sejam mais 260$000
réis que o preço do contrato anterior [49]; assim como obteve pelo prazo de
um ano - 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1765 - e também por arrematação, o contrato dos subsídios, entregando à Provedoria da Real Fazenda, em
Santos, por saldo de contas, a 11 de fevereiro do ano seguinte, a quantia de 1.210$000 réis [50].
Postos militares
Em 1766, em dia e mês que se ignoram, foi ele nomeado para o posto de
capitão de Infantaria Auxiliar da Praça de Santos; e promovido, a 4 de abril de 1777, pelo governador e capitão-general Martim Lopes, a coronel do
Estado Maior do Regimento de Dragões Auxiliares da Capitania de S. Paulo [51].
Falecimento de Bonifácio José e sua esposa
Faleceu Bonifácio José de Andrada em Santos, a 16 de setembro de 1789, mas não achamos
documento algum relativo ao seu trespasse e causa determinante, e a outros pormenores ligados ao acontecimento, porque os livros paroquiais de
óbitos de nossa terra natal, referentes àquele ano, desapareceram do Arquivo da Matriz.
Sua dedicada esposa ainda lhe sobreviveu cerca de trinta e três anos, pois
somente veio a sucumbir, de um insulto apopléctico, a 28 de agosto de 1821, contando 83 anos de idade. Em seu testamento, legou ela deixas aos
pobres; houve ofício solene na Igreja Matriz por intenção de sua alma; e o seu corpo, depois de recomendado pelo vigário da Paróquia, José António
da Silva Barbosa, foi dado à sepultura na Igreja do Carmo [52]. Não teve
portanto a veneranda matrona santista a ventura incomparável de testemunhar a glória política de seus três filhos mais notáveis.
Descendência do casal
Da sua união com o coronel Bonifácio nasceram os
seguintes filhos, segundo a ordem cronológica adotada por AZEVEDO MARQUES [53],
e seguida invariavelmente por outros pesquisadores, entre os quais destacaremos, por ser um dos descendentes atuais dos irmãos Andradas, o dr. JOSÉ
BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA [54], deputado federal pelo estado de Minas
Gerais:
1º - Patrício Manuel Bueno de Andrada, sacerdote, abastado proprietário em Santos,
falecido em 1847;
2º - José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência do Brasil, casado
com d. Narcisa O'Leary de Andrada, natural da Irlanda;
3º - António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, conselheiro, senador, casado
com sua sobrinha, d. Anna Josephina, filha de d. Anna Marcellina;
4º - Martim Francisco Ribeiro de Andrada, conselheiro, casado com sua sobrinha, d.
Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, filha de José Bonifácio;
5º - D. Maria Flora de Andrada, que foi camareira-mor da primeira imperatriz do
Brasil;
6º - D. Bárbara Joaquina de Andrada, casada com o capitão-mor, depois coronel
Francisco Xavier da Costa Aguiar;
7º - Bonifácio José de Andrada, que faleceu solteiro;
8º - Francisco Eugênio de Andrada, negociante;
9º - D. Anna Marcellina Ribeiro de Andrada, casada com o coronel José de Carvalho e
Silva.
Essa ordem cronológica que, como dissemos, tem sido seguida
invariavelmente por quantos escreveram da família Andrada, além de muito deficiente em relação aos pormenores respectivos, claudica por suas
numerosas inexatidões. Por questão de método não apresentamos agora as nossas documentadas retificações, o que faremos um pouco mais adiante, no
lugar e ocasião oportunos.
NOTAS:
[1] Recenseamentos da
Villa de Santos, 1765, 1772 e 1776 (Arquivo Público do Estado).
[2] Na certidão de casamento
de José Ribeiro de Andrada, juntada por cópia ao processo de habilitação de genere et de moribus, requerido por seus filhos Tobias e João
Floriano, lê-se: João Ribeiro, em vez de Gaspar Ribeiro, mas deve ser erro de cópia, pois noutros documentos é o último nome que
aparece. Nos autos desse mesmo processo o sobrenome da família encontra-se invariavelmente grafado Andrade e não Andrada. Já o outro
filho, o dr. José Bonifácio, quando, muitos anos depois de seus irmãos, requereu para ser admitido à carreira eclesiástica, assinava-se Andrada
em todos os documentos juntos aos autos do respectivo processo (originais existentes no Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).
[3] A dízima, imposto que
equivale à décima parte, era uma contribuição puramente civil; e o dízimo era o tributo, equivalendo também à décima parte, que se pagava dos frutos
naturais da terra à classe eclesiástica - aos párocos, aos bispos, aos cabidos etc. Ambas as contribuições se confundiram ao tempo do rei d. Manuel,
que incorporou à Coroa os rendimentos dos dízimos eclesiásticos, ficando ela obrigada ao pagamento da côngrua dos prelados, dos párocos e outras
dignidades da Igreja. Os contratos da dízima da Alfândega do Rio e da de Santos andaram sempre unidos - informa o dr. WASHINGTON LUÍS (Contribuição
para a História da Capitania de S. Paulo, Capítulo VIII, página 155).
[4] Documentos
Interessantes para a História e Costumes de S. Paulo (V. 12, pág. 11 e V. 33, pág. 105).
[5] Documentos
Interessantes para a História e Costumes de S. Paulo, Volume XXXVIII, páginas 60 a 61. Era capitão sem soldo, mas com "todas
as honras, privilégios, liberdades, isenções e franquezas, que em razão dele lhe socorrem".
[6] Era mulher de Francisco
Lourenço, cirurgião-mor do Presídio de Santos. De seu consórcio nasceram, entre outros, Alexandre de Gusmão, padre Bartholomeu Lourenço, clérigo
secular; padre Simão Alves, jesuíta; frei Patrício e Santa Maria, franciscano; padre Ignácio Rodrigues, jesuíta, e frei João de Santa Maria. O
sobrenome de Gusmão foi adotado por Alexandre de Gusmão, em protesto de amor ao padre jesuíta do mesmo nome, que lhe impusera o batismo, e ao qual
nos referimos já em diversos passos do capítulo primeiro.
[7] Listas Geraes da
Ordenança das Villas desta Capitania (1765), Villa de Santos (Originais no Arquivo do Estado).
[8] Idem, ibidem.
[9] Processo de habilitação
existente no Arquivo da Cúria Metropolitana, já citado. Não conseguimos ler os nomes dos padrinhos por estarem muito apagados.
[10] Este prelado, o
segundo que governou a diocese paulista, era religioso franciscano. Apresentado bispo por d. João V, foi confirmado pelo papa Bento XIV, a 17 de
março de 1750. Tomou posse do seu cargo, por procuração outorgada ao arcediago dr. Matheus Lourenço de Carvalho, a 18 de outubro do mesmo ano, e fez
sua entrada solene na diocese a 8 de junho de 1751. Faleceu a 19 de março de 1764 (DR. MANUEL DE ALVARENGA - O Episcopado Brasileiro, pág.
84).
[11] Processo de
habilitação sacerdotal, acima citado.
[12] Documentos
interessantes, V. 24, págs. 235 e 236.
[13] O DR. GUILHERME
ÁLVARO (obr. cit. página 5) diz que houve alguns médicos formados, portugueses, no Norte do Brasil, dos meados do século dezessete em diante; mas
que para o Sul apareceram somente no século seguinte, e ainda assim no Rio de Janeiro. Do Rio para cá as populações, segundo assegura,
continuavam a recorrer ao tratamento empírico e às crendices dos curandeiros. S.S. está completamente enganado, pois já na Capitania de S. Paulo
existiam, pelo menos em Santos, exercendo a profissão, dois médicos formados; um, filho da própria terra, o dr. José Bonifácio de Andrada, logo nos
primeiros anos do século, e outro, o dr. Joaquim Pereira dos Santos Cardoso, em 1765. Era solteiro e contava 37 anos de idade (Recenseamento de
Santos, 1765).
[14] O DR. ALFREDO DE
TOLEDO chama-lhe erroneamente Rosa Maria da Silva (Os médicos nos tempos coloniaes, na Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, Vol. de
1915, págs. 372 a 374).
[15] Monografia citada.
[16] Livro de
Baptizados da Paróchia de Santos, de 1771, folha 8 (No Archivo da Cúria Metropolitana).
[17] Conquanto colada, a
Matriz de Santos, desde 1º de janeiro de 1750 até 14 de setembro de 1777, só teve párocos encomendados. O seu vigário colado, nomeado por d. João V
a 28 de fevereiro de 1732, passara-se para Portugal a 1º de janeiro de 1750, com intenção de voltar, o que não fez; e só depois de seu falecimento
em 1777 é que ela voltou à situação anterior (Relação das Igrejas da Diocese de S. Paulo, apresentada pelo governador d. Luís António de
Sousa à Mesa da Consciência de Lisboa, publicada nos Documentos interessantes, V. XIX, pág. 191. Relação Geral da Diocese de S. Paulo,
pelo bispo frei Manuel da Ressurreição, na Revista do Inst. Hist. de S. Paulo, V. IV, página 398).
[18] Apresentado bispo em
agosto de 1745, confirmado por Breve do papa Bento XIV, de 23 de dezembro do mesmo ano, foi sagrado em Lisboa a 13 de março de 1746, pelo cardeal
patriarca. Fez sua entrada solene em S. Paulo a 8 de dezembro de 1746, cerimônia que se realizou na Igreja do Colégio dos Jesuítas porque a nova Sé
estava apenas começada. Por Provisão Régia de 6 de maio de 1747, instituiu logo o Cabido, e prosseguia na sua tarefa de organizar a diocese, quando
veio a falecer inopinadamente, a 7 de novembro de 1748.
Era clérigo secular nascido em Santa Marinha, no bispado de Coimbra, e formado em
cânones. Fora arcipreste da Sé de Coimbra, arcediago na do Funchal, governador do bispado de Lamego e vigário geral do Arcebispado de Braga (DR.
MANUEL DE ALVARENGA - O Episcopado Brasileiro, página 84; AZEVEDO MARQUES - Apontamentos Históricos V. 1º, página 132, 1ª coluna; J.
J. RIBEIRO - Chronologia Paulista, V. 1º página 451). Os dois últimos dão a entrada de d. Bernardo em S. Paulo como realizada a 6 e não a 23
de dezembro; mas a indicação do dr. Alvarenga é que está certa, porque foi colhida em documentos oficiais existentes no Arquivo da nossa Cúria
Metropolitana.
[19] Criada por Carta
Régia de d. João V, a 22 de abril de 1745, e Bula de Bento XIV, de 6 de dezembro do mesmo ano. Abrangia então os territórios que hoje constituem os
estados de S. Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e parte do Sul de Minas (DR. MANUEL DE ALVARENGA - Obra cit. pág. 83. AZEVEDO MARQUES
- Obra cit. pág. 68 do 1º V., coluna 1ª).
[20] Quando este Breve
chegou a S. Paulo, já d. Bernardo tinha morrido, e administrava a diocese seu substituto Frei António da Madre de Deus, de quem já nos ocupamos.
[21] Monografia citada.
[22] Dr. Freire não
se apressou em tomar posse do cargo, porquanto até 1772 ainda se não achava em Santos (N.E.: o pesquisador
Costa e Silva Sobrinho desmente essa afirmação, com documentos). Não existem os recenseamentos
de 1773 e 1774, de maneira que é só em 1775 que o nome do novo médico do Presídio aparece pela primeira vez. Morava o dr. Freire à Rua Direita, em
companhia de uma agregada, um agregado e cinco escravos. Era solteiro e contava 33 anos. Serviu longamente no seu cargo, de cujos deveres árduos se
descurava nos últimos tempos, devido às fadigas da avançada idade e moléstias correlativas. "Só
vai ao Hospital quando pode ou quando há precisão urgente", informa ao conde de Linhares, em 16 de abril de 1811, o
físico-mor das Tropas da Capitania, João Álvares Fragoso; o cirurgião-mor supria as suas faltas (Documentos interessantes, V. XXI, pág. 324).
Morreu o dr. Freire a 3 de dezembro de 1818, contando 88 anos de idade (Livro de Óbitos da Paróchia de Santos).
[23] Processo de
habilitação, já citado.
[24] Idem. Seu pai contava
então 72 anos e sua mãe 70.
[25] Esboço
Biográphico de José Bonifácio (Revista do Inst. Hist. Brasileiro, 1891, V. LIV, parte 1ª, pág. 303). O autor é anônimo, mas Joaquim
Norberto, em curta nota que apensou à reprodução desse opúsculo naquela Revista, assevera que a sua autoria foi sempre geralmente atribuída a
ANTÓNIO CARLOS. Há também um Esboço biográfico e necrológico, imputado igualmente ao mesmo autor. O sr. REMÍGIO DE BELLIDO (Bibliographia
Andradina, pág. 37) refere que Eduardo Prado, em nota a lápis lançada no exemplar que possuía, deu a ANTÓNIO CARLOS a autoria do dito opúsculo e
que, no Catálogo da Exposição de História e Geographia do Brasil, realizada em 1822, o exemplar que lá figura pertencente a d. Pedro II
(N.E.: SIC: o ano possivelmente seria 1922), aparece como sendo da
lavra daquele eminente Andrada. O sr. Bellido acha, porém, que tal afirmativa é duvidosa, "devido aos termos em que o
mesmo (opúsculo) foi escrito, não dando a mínima idéia de ter sido obra do notável cidadão". É curioso que D. Pedro II
e Eduardo Prado não tivessem dado por isso!
[26] Todos os biógrafos de
José Bonifácio, sem exceção alguma, chamam a seu pai apenas Bonifácio José de Andrada. Mas, no seu testamento, o Patriarca escreve Bonifácio José
Ribeiro de Andrada, e assim o adotamos. O pai deste, e avô daquele, chamava-se José Ribeiro de Andrada.
[27] Autos de
habilitação sacerdotal do padre Patrício Manuel Bueno de Andrada (no Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).
[28] Autos de
habilitação, já referidos, do padre Patrício (original manuscrito no Arquivo da Cúria Metropolitana de S. Paulo).
[29] Idem.
[30] Idem.
[31] Mappa geral dos
habitantes existentes na Villa de Santos. 1801. (Original manuscrito no Arquivo do Estado de S. Paulo).
[32] Processo de
habilitação do Padre Manuel Gonçalves Souto (Original no Arquivo da Cúria Metropolita).
[33] Nos respectivos autos
de habilitação, que estão incompletos, só encontramos (Arquivo da Cúria Metropolitana) a data em que recebeu ordens de diácono - 24 de dezembro de
1801.
[34] Recenseamento de
Santos, 1807 (no Arquivo do Estado de S. Paulo).
[35] ANÔNIMO - Esboço
citado.
[36] PEDRO TAQUES - (Nobiliarchia
Paulistana - Rev. do Inst. Hist. do Brasil, V. 32, pág. 233 do Tomo 22).
[37] Do seu
casamento com d. Anna Dias teve diversos filhos, todos nascidos em Santos. Um deles, António Gonçalves Ribas, ordenou-se padre e em 1777 era vigário
encomendado da paróquia de S. Vicente, "clérigo sábio, bom pregador, zeloso e de louváveis
costumes" - informava ao Governo da Metrópole, a 14 de setembro de 1777, o bispo frei Manuel da Ressurreição (Revista
do Instituto Histórico de S. Paulo, Volume 4º, página 400).
[38] Como já vimos, a Rua
da Praia começava então na Alfândega, em frente à atual Rua Frei Gaspar e terminava onde a Rua José Ricardo faz canto com a de Santo António.
[39] Recenseamento dos
habitantes da Villa de Santos, em 1765 (Arquivo do Estado).
[40] Actas da Câmara
Municipal de S. Paulo, V. XV, página 236 (Publicação oficial do Arquivo Municipal de S. Paulo).
[41] Documentos
interessantes (Correspondência do capitão-general Martim Lopes Lobo de Saldanha, V. XXVIII, página 320).
[42] Documentos
interessantes, V. XXVIII, págs. 389 a 391.
[43] Obra cit. página 73,
coluna 2ª, V. 1º.
[44] Dr. José Bonifácio
- Apontamentos citados, página 24.
[45] Documentos
interessantes, V. XIX páginas 205 e 206.
[46] Docs. ints. V.
XXXIII, página 16.
[47] Idem, V. XIX, página
207.
[48] Idem, V. XXXIII,
página 84.
[49] Idem, V. XXXI, página
140.
[50] Contas da Receita e
Despesa do Almoxarife da Fazenda Real da Praça de Santos, Manuel Angelo Figueira de Aguiar (Doc. ints. V. 23, Anexo G).
[51] Idem, Volume XXVIII,
página 320.
[52]
"Certifico que revendo o livro de óbitos da Paróquia de Santos, do ano de 1821, existente nos Arquivos da Cúria Metropolitana,
à folha 108, verso, encontrei o assento do teor seguinte - D. Maria Bárbara da Silva. Aos vinte e oito de agosto de mil
oitocentos e vinte e um, nesta Vila, faleceu apopléctica, com todos os sacramentos, de idade de oitenta e tantos anos, dona Maria Bárbara da Silva,
viúva. Fez testamento em que declarou que deixava três Capelas de Missas, duas por sua alma, e uma pelas almas do Purgatório; e cinqüenta e um mil e
duzentos réis para se repartirem pelos pobres, e nada mais enquanto a pio. Fez-se nesta Matriz um ofício solene por sua alma. Seu corpo foi
amortalhado em hábito de Nossa Senhora do Carmo, por mim recomendado, e sepultado na Igreja do Carmo. José António da Silva Barbosa. Nada
mais continha o sobredito assento, a cujo original fielmente me reporto, e dou fé. S. Paulo, 23 de junho de 1921. F.
de Sales Collet e Silva, Arquivista da Cúria Metropolitana".
[53] Obra citada, V. 1ª,
pág. 74, coluna 1ª.
[54] Apontamentos
citados, página 24. |