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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS
Panteão dos Andradas (5)

Em 1970, José da Costa e Silva Sobrinho, reuniu em livro uma série de artigos sobre um monumento santista, o Panteão dos Andradas, que havia publicado no ano anterior no jornal A Tribuna, fruto de minucioso trabalho desse pesquisador da história de Santos. Vinte e dois anos depois, a Prefeitura santista reimprimiu em livrete esse material, já que a obra original estava esgotada. Agora, Novo Milênio coloca pela primeira vez em forma digital essas informações:

Monumento funerário de José Bonifácio
Imagem: captura de tela, TV Mar, em 16/6/2003, 13h54

Patrício Manuel de Andrada e Silva: um santista pouco conhecido
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Quem visitar hoje em dia o Panteão dos Andradas verificará logo ao entrar, pois o recinto é pequeno, que no centro está a estátua jacente de José Bonifácio, o Patriarca. Encontra-se à direita deste, num nicho, a urna de Antônio Carlos, e à esquerda outro nicho com a de Martim Francisco. As urnas são de mármore branco e em cada uma delas brilha uma lâmpada colorida.

Outra, que se acha, como a de Antônio Carlos, à direita do Patriarca, leva desde logo os olhos do visitante. Difere muito das outras. É de jacarandá preto e feita com bastante esmero, sendo pouco mais ou menos de cinco palmos de altura. Acha-se em cima de uma pequena mesa, igualmente de madeira. Numa das faces tem um cartão de prata de formato oval, com a seguinte inscrição: "Aqui jazem os restos mortais do reverendo Patrício Manuel de Andrada, falecido a 8 de janeiro de 1847".

Trata-se do primogênito dos Andradas, cujos despojos ali estão. Foi a última recolhida naquele templo cívico, sem qualquer solenidade, tudo correndo "fora de todo luxo, vaidade ou pompa", do mesmo modo que o falecido recomendara que fosse o seu funeral. Falta-lhe, provavelmente por esse motivo, a lâmpada mortuária.

Razão é que digamos onde estiveram antes as cinzas do velho Andrada. Para conhecimento perfeito do assunto, fomos ao precioso livro de D. Paulo de Tarso Campos, "Anuário da Diocese de Santos de 1936 a 1942, pág. 129, onde se encontra este informe: o padre Patrício "foi sepultado na capela-mor da Igreja Matriz. Demolido o velho templo santista, em 1908, suas cinzas foram trasladadas para a Igreja do Rosário e finalmente para o cemitério do Paquetá". desta necrópole foram conduzidas vários anos depois para o Panteão, na Praça Barão do Rio Branco.

Cumpre-nos corrigir um erro de nome distraidamente perpetrado por Alberto Souza. No primeiro volume da sua obra sobre Os Andradas, escreveu o ilustre publicista, à página 305, da seguinte maneira, o nome do padre Patrício: Patrício Manuel Bueno de Andrada - quando a forma de grafar esse nome usada pelo velho sacerdote foi sempre esta: Patrício Manuel de Andrada e Silva. Assim a encontramos, até em seu testamento.

Como todos os seus irmãos, Patrício Manuel nasceu nesta cidade, tendo recebido os Santos Óleos do batismo a 24 de março de 1760, na antiga Matriz do Rosário.

Duas herdeiras tivera Patrício Manuel: Delfina, a mais velha, nascida em 1783, e Maria Zelinda, nascida em 1794. Em seu testamento, feito a 5 de junho de 1846, referiu-se a elas da seguinte maneira: "Tenho duas filhas legitimadas pelo extinto Tribunal de Desembargo do Paço, de nomes Delfina Henriqueta de Andrada, que vive solteira em minha companhia, e Maria Zelinda de Andrada, casada com meu sobrinho Francisco Xavier da Costa Aguiar, as quais são minhas únicas e universais herdeiras de duas terças partes de meus bens, e como tais, as instituo neste meu testamento".

Acerca da filha Delfina, disse ainda o testador: "Deixo à minha filha d. Delfina, durante sua vida, o usufruto pleno da casa onde moro; e para isso quero que dita casa seja compreendida na minha terça".

Foi instituído com o maior acerto esse legado. A menina Delfina ficara completamente cega em tenra idade. Por esse motivo, não casou, viveu sempre em companhia do pai. Foi para ele uma pesada cruz carregada com extremos de amor durante a vida toda. Não há, para o coração de um pai, dor maior do que a de possuir uma filha irremediavelmente enferma. Um grande sofredor devia ter sido esse velho Andrada!

A outra filha, Maria Zelinda, nascida nesta cidade em 1794, casou em 26 de setembro de 1818 com seu primo-irmão Francisco Xavier da Costa Aguiar de Andrada. Foi esse enlace uma longa e risonha viagem. Uma felicidade segura e serena coroara aquelas duas vidas.

Francisco Xavier era filho do coronel Francisco Xavier da Costa Aguiar e d. Bárbara Joaquina de Andrada, irmã de José Bonifácio, o Patriarca.

Criou o casal Francisco Xavier e Maria Zelinda uma venturosa progênie, como se verifica em seguida: 1) Maria Bárbara veio à luz em 1821; 2) Francisco Xavier, 1822; 3) Carlota Emília, 1823; 4) Jesuína Augusta, 1824; 5) José Ricardo, 1827; 6) Leonor Flora, 1828; 7) Francisca Carolina, 1832.

Francisco Xavier tornou-se barão Aguiar de Andrada. D. Jesuína foi sogra do dr. Herculano Marques Inglês de Souza; d. Francisca Carolina casou com Leopoldo Diedericksen; d. Carlota Emília casou com o dr. Carvalho Moreira; d. Leonor Flora matrimoniou-se com Carlos Glennie, e assim por diante. Na tribo Andradas há hoje um sem-número de nomes estrangeiros. Há Diederiksens alemães, que são legítimos Andradas, por linha materna.

Foi o padre Patrício um filho extremosíssimo. Quando perdeu o pai, passou a residir com a mãe para melhor prestar-lhe assistência; e só a deixou dois ou três anos depois, indo residir em casa própria à Rua de Santo Antonio nº 22 (hoje Rua do Comércio).

O jovem Patrício Manuel, tendo seguido a carreira eclesiástica, concluiu o seu processo de habilitação a 1º de maio de 1783. Em 1789 era nomeado vigário da Vara e da Paróquia de Paranapanema.

Bastante visto e abalizado em matéria religiosa e filosófica, lia o padre Patrício com freqüência os sermões de Vieira. O saudoso Paulo Inglêz de Souza possuía dois volumes de tais sermões que haviam pertencido a seu trisavô Patrício Manuel. Eram impressos em Lisboa, na oficina de Miguel Deslandes, e continham anotações do punho daquele sacerdote.

Muitos conceitos vinham marcados apenas com um risco vertical na margem da página. Tivemos ensejo de copiar alguns deles. Reproduziremos, aqui, estes dois exemplos:

"Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros".

"Não há coisa que mais mude os homens que o descer ou subir, e o subir muito mais que o descer".

Prestou o padre Patrício, no setor civil, valiosos serviços à causa pública nesta cidade, onde foi vereador de 1829 a 1833. Compunha-se a Câmara, nesse período, de quatro padres e dois leigos. Denominaram-na por isso "Câmara dos Padres".

Em 1831, ao descer uma escada, levou o padre Patrício uma queda; e por causa desse acidente pediu ele dispensa de continuar a exercer o mandato. Vieram-lhe depois fortes dores nas costelas do lado direito e na região lombar. Os remédios mostraram-se improfícuos.

Foi ainda suplente, em 1832, no conselho deliberativo da Sociedade Filantrópica, especialmente fundada para pagar as dívidas anuais da Santa Casa, quando os orçamentos desta fossem deficitários. Exerceu afinal, em 1828, o cargo de Tesoureiro da Santa Casa. Bons serviços prestou ele, como vemos, à utilíssima e benemérita entidade assistencial santista.

Em conclusão: como comerciante e industrial, conseguiu, de mealha em mealha, formar um respeitável patrimônio.

A 8 de janeiro de 1847, expirava o padre Patrício vítima de uma indigestão, aos 87 anos de idade. Aquela fronte, coberta de gloriosa paz, tinha em si ensinamentos para todos aqueles que amam a vida.Leva para a página seguinte da série