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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS
Panteão dos Andradas (7)

Em 1970, José da Costa e Silva Sobrinho, reuniu em livro uma série de artigos sobre um monumento santista, o Panteão dos Andradas, que havia publicado no ano anterior no jornal A Tribuna, fruto de minucioso trabalho desse pesquisador da história de Santos. Vinte e dois anos depois, a Prefeitura santista reimprimiu em livrete esse material, já que a obra original estava esgotada. Agora, Novo Milênio coloca pela primeira vez em forma digital essas informações:

Monumento funerário de José Bonifácio
Imagem: captura de tela, TV Mar, em 16/6/2003, 13h54

Os painéis de Bronze e o dr. Antonio Carlos
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Quando, em 7 de setembro de 1923, foi inaugurado o Panteão dos Andradas, concorreram às solenidades inúmeras pessoas de fora. Muitas eram sobretudo de S. Paulo e do Rio. Tornou-se digno de atenção o grande comparecimento de deputados federais Apontaremos alguns deles: César Lacerda de Vergueiro, Efigênio Sales, Costa Rêgo, Domingos Barbosa, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Dionísio Bentes e outros.

Destacava-se, proeminentemente, no meio daqueles parlamentares, o nome de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. É que nele estava um bisneto do Patriarca, que viera representar os seus ilustres ascendentes. Era magro, esgalgado, elegante no vestir e nas maneiras. Fazia lembrar o primeiro Antônio Carlos, em especial pela cabeça volumosa, testa escampada, nariz pontudo, olhos vivos e sagazes, sorriso voltaireano. No físico, um perfeito Andrada.

A assistência começou a retirar-se pouco depois da inauguração e, meia hora mais tarde, só duas pessoas permaneciam naquele pequeno templo: César Lacerda de Vergueiro e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Primeiro que saíssem, procuraram examinar detidamente tudo. As inscrições em bronze mereceram-lhes especial atenção. Assim, a sala que se seguia ao vestíbulo tinha o seu chão de mármore de diferentes cores e formosos desenhos, com as paredes revestidas de mármore verde, onde se abriam três nichos com as urnas das cinzas dos três irmãos Andradas.

Ao alto do paramento de mármore salientavam-se vários painéis de bronze, em baixo-relevo. Representavam o seguinte:

1) Partida dos Andradas para o exílio (1823). Numa canoa, são transportados os três irmãos para o velho navio português Luconia, que os levou, com outros patriotas, para o exílio.

2) Antônio Carlos e os rebeldes de 1817 chegam à Bahia (10 de junho de 1817). Antônio Carlos desembarca à noite, com lanternas, ao lado dos companheiros de desdita - Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e o padre Miguelinho - sob assuadas, insultos e ameaças da multidão furiosa.

3) José Bonifácio no acampamento da Praia Grande (Rio de Janeiro). A divisão lusitana de tropas, comandada por Jorge Avilez, insurgira-se em janeiro de 1822. Ao fundo, o morro do Castelo, ocupado pelas aludidas tropas. José Bonifácio, seguido de Gonçalves Ledo, Frei Sampaio, José Clemente Pereira e José Joaquim da Rocha, adianta-se ao encontro do príncipe regente, que está acompanhado dos marechais Cutado e Oliveira Álvares.

4) A carta de 7 de setembro. José Bonifácio entrega a carta que determina a cena de 7 de setembro, no Ipiranga (agosto de 1822), ao correio Paulo de Bregaro, que está de poncho, ao lado do cavalo, prestes a partir, na presença da princesa Leopoldina, de Martim Francisco e Gonçalves Ledo.

5) José Bonifácio combatendo os franceses (1808). O capitão José Bonifácio comanda um batalhão de estudantes de Coimbra, ao lado de José Clemente e Fernandes Pinheiro, incitando os seus comandados a combater os soldados de Junot. Pelos seus feitos em Nazareth e Ponte da Figueira, José Bonifácio foi promovido a major e depois a tenente-coronel.

6) Aclamação do Governo Provisório de São Paulo (1821). No fundo, o edifício da velha Câmara Municipal de S. Paulo e a igreja de S. Gonçalo, José Bonifácio, Martim Francisco e o brigadeiro Jordão caminham sob as aclamações do povo, indo à frente o cônego Ildefonso Xavier Ferreira e outros patriotas. A um canto, os chefes reacionários Francisco Inácio de Souza Ferraz e Daniel Pedro Muller contemplam a cena.

7) Coroação de Pedro II (18 de julho de 1840). Neste ato e no primeiro plano, estão Antônio Carlos e Martim Francisco, ao lado de Bernardo de Vasconcelos, Sepetiba, Paraná, Itaboraí, Valença e outros.

8) Projetos de Repressão do Tráfico (maio de 1823). Conferência dos três irmãos Andradas com o embaixador da Inglaterra sobre a extinção do Tráfico. Numa sala do paço, sentados à mesa, Lord Anhers, José Bonifácio e Martim Francisco. De pé, à janela, Antônio Carlos aponta um navio negreiro que entra no porto.

Na primeira edição do festejado livro A Beneficência, do acadêmico santista Jaime Franco, encontram-se também as explicações dos painéis. Entretanto, cometeu ele uma ligeira distração quando copiou "maio de 1817", quando a data correta é 10 de junho de 1817.

O saudoso Hipólito do Rêgo, que foi representante de São Paulo na Constituinte de 1934, e amigo de Antônio Carlos, contava-nos certa vez que uma das grandes aspirações afetivas do inolvidável estadista era rever esta cidade, senti-la em todas as suas vibrações de terra fadada a ter influência decisiva nos destinos da nacionalidade.

Ao ilustre representante paulista, ele manifestara ainda o desejo intenso de passar aqui uma larga temporada. Mas, como dizia, queria hospedar-se nas proximidades do Panteão, conviver com estas grandes figuras e reforçar na meditação dos seus feitos memoráveis e seu devotado amor ao Brasil e particularmente a Santos.

Antônio Carlos, tão devoto das tradições avoengas, possuía grande amor à cultura e interessava-se imenso pelas coisas da nossa Pátria. Nele o senso amável da vida harmonizava-se admiravelmente com o gênio político. Por isso, na Câmara Federal, os seus colegas o apelidaram de Florentino, modo delicado de dizerem Maquiavélico. Político solerte, manhoso, gostava das belas frases e dos bons ditos.

Foi presidente de Minas de 1926 a 1930. Sobre a personalidade do presidente e a gênese da sua candidatura, assim se enunciou Passos Maia, médico e senador mineiro, nas suas interessantes Reminiscências, aparecidas em 1933:

"No fim do biênio Melo Viana, o senador João Pio mostrou-me uma carta do dr. Afonso Pena Júnior, pedindo-lhe para insinuar no seio do Congresso o nome do dr. Antônio Carlos para a presidência do Estado. Senti um frio no coração. Aquele homem era inteligente demais. Esses talentos que tangenciam pela fronteira do gênio são perigosos nas culminâncias do poder... O dr. Antônio Carlos era um gentleman, um aristocrata de raça. Oriundo de uma família que ajudara a Independência, credora, portanto, da estima de todos os brasileiros que se orgulham da trindade de Santos, tinha, há muito, conquistado a minha admiração, com a sua brilhante, corajosa e eficiente liderança da presidência Bernardes.

Foi eleito presidente. Ninguém subiu as escadas do Palácio da Liberdade cercado de uma nuvem mais espessa de incenso. Em Juiz de Fora, um septenário de festas brilhantes, e em Belo Horizonte, sua investidura, assistida por toda a alta prelazia do Estado, revestiu-se de um esplendor só comparável à coroação de um rei, ou à recepção de um general romano...

"O novo presidente era um feiticeiro emérito, conquistava todos os corações. A primeira vez que lhe falei, com os braços abertos e aquela maestria consumada em se dirigir aos visitantes, foi logo dizendo: 'Você é o meu homem do Sul de Minas. Entrego-lhe o Sul de Minas. Vigie-o'."

Nascido em Barbacena a 5 de setembro de 1870, desde menino os seus conterrâneos previam, para ele, os mais altos destinos. O notável Andrada, com efeito, foi tudo em seu país, até presidente da República, muito embora apenas por alguns dias, isto é, durante a visita de Getúlio Vargas ao Uruguai e Argentina.

Veio, enfim, a falecer no Rio de Janeiro em 1º de janeiro de 1946, aos 75 anos de idade, morte sempre prematura, como é a dos grandes homens.

Foi ele o único Andrada recolhido ao Panteão sem ser em urna; pois, está no bronze de uma herma oferecida pelo embaixador Macedo Soares e ali inaugurada no dia 25 de novembro de 1946. Modificou, destarte, a frase que está no alto da porta do Panteão: "Glória aos irmãos Andradas". Glória, pois, a mais um!Leva para a página seguinte da série