Monumento funerário de José Bonifácio
Imagem: captura de tela, TV Mar, em 16/6/2003, 13h54
Homenagens da Marinha
Por força da Lei Municipal nº 699, de 6 de setembro de 1923, foi
o canal nº 4 da planta de Saturnino de Brito denominado Avenida Almirante Cochrane. Mas, quinze meses depois apareceu a Lei Municipal nº 735, de 30
de dezembro de 1924, que transferiu tal denominação para o canal nº 5, declarando, em seguida, que passaria a chamar-se Avenida Dino Bueno o aludido
canal nº 4. A revolução de 1930 entendeu, por sua vez, de trocar o nome de Dino Bueno pelo de Siqueira Campos, existente até hoje.
Nota-se, claramente, que a segunda lei revelava uma decisão, uma promessa do prefeito, ou de
alguma influência política daquele tempo.
O designativo Avenida Almirante Cochrane nasceu com a inauguração do Panteão dos Andradas.
Dimanou do papel desempenhado pelo Almirante Cochrane na luta em prol da Independência.
Alguns indivíduos ignorantes em coisas triviais de uma regular educação histórica
estranharam a nova nomenclatura:
- Para quê, agora, esse nome inglês, quando temos tantos nomes ilustres em nossa Pátria?
Se demorarmos um pouco a atenção nessa pergunta, veremos que ela é de todo em todo ociosa. A
história de uma nação não se faz só com heróis nacionais. O exemplo do almirante Cochrane frisa o nosso ponto com precisão.
Era ele primo-irmão do dr. Thomas Cochrane, médico no Rio de Janeiro e casado com Helena
Augusta Nogueira da Gama (vêde o excelente livro de Aroldo de Azevedo, Os Cochranes do Brasil, p. 108). Está ligado, portanto, a muitas
famílias brasileiras. Além disso, publicou ele, sob o título Narrative of Services on the Liberation, uma curiosa narrativa dos seus serviços
na América do Sul. Vamos consagrar, pois, algumas linhas a essa vida cuja divulgação pode ser deleitosa e útil.
Nascido em Annsfield, na Escócia, a 14 de dezembro de 1775, Thomas Cochrane era filho de
Archibald Cochrane, nono conde de Dundonald, e de sua mulher, Anne Gilchrist.
Na florescência dos 18 anos ingressara na Marinha inglesa, onde oito anos depois era
capitão-de-mar-e-guerra. Longe iríamos se tivéssemos de contar todas as peripécias de sua vida como homem do mar, como político, ou como simples
cidadão.
Foi ele o primeiro comandante que empregou, em guerra, navios a vapor.
Extremo defensor dos direitos do homem, da compostura parlamentar, da honestidade
administrativa, censurou no Parlamento os abusos do Almirantado, e foi, por isso, relegado para o Mediterrâneo; mas ali as suas increpações ainda
continuaram. Por haver combatido certas práticas navais erradas, esteve algum tempo compulsoriamente licenciado. Nunca lhe faltou porém a coragem do
seu dever contra os poderosos. Viu-se, enfim, por falsa acusação de conivência numa fraude, expulso da Armada e do Parlamento.
Tão bravia, entretanto, fora a injustiça que os demais países não hesitaram em recorrer aos
préstimos do experimentado e bravo navegador. Assim, em 1817 aceitava ele o comando da Marinha chilena e alcançava, em 1819 e 1822, várias vitórias
contra os espanhóis. Deixava garantida a independência do Chile e do Peru.
A Independência do Brasil não se cifrou no grito do Ipiranga. Para consegui-la houve lutas,
tivemos as denominadas Guerras da Independência. Alguns pontos do Brasil ainda continuavam ocupados por guarnições portuguesas. Urgia que D. Pedro I
tomasse conta quanto antes de todo o território nacional. Resolveu ele, então, por sugestão de José Bonifácio e elogio do marquês de Barbacena, que
se achava em Londres, contratar os serviços do almirante inglês Lorde Thomas Cochrane, décimo conde de Dundonald e depois marquês do Maranhão.
Aceitou Cochrane a proposta apresentada pelo governo do Brasil, e a 13 de março de 1823 chegava ao Rio de Janeiro. Vinha servir o Brasil com o posto
de 1º almirante, e permaneceria no País até que Portugal reconhecesse a Independência.
Recebeu ele, dessarte, o comando da esquadra brasileira. E hasteando na nau Pedro I o
pavilhão de almirante, partiu para a Bahia a 3 de abril de 1823. Com alguns dos oito vasos de guerra que comandava, bloqueou a Bahia em 4 de maio do
mesmo ano. O general Labatut, com a força trazida do Rio de Janeiro e uma brigada de Pernambuco, marchava ao mesmo tempo, por terra, para a Bahia,
estabelecendo o seu quartel-general no Engenho Novo, assumindo o comando das tropas. Desde os primeiros combates parciais e ataques, os soldados do
novo império, confiados afinal ao comando do coronel Lima e Silva, sempre se mostraram valorosos.
O general Madeira de Melo, apertado por mar e por terra, sentindo a escassez de víveres,
rendeu-se afinal. Dava-se, antes disso, a fuga precipitada dos oitenta e quatro navios da esquadra lusitana que chegava à metrópole em quase
completo desbarato. Foram perdidos alguns barcos, tomados por Cochrane. Fez ainda muitas presas a fragata brasileira Niterói, comandada por
João Taylor, tendo chegado até a foz do Tejo.
A 26 de julho de 1823 entrava Cochrane no Maranhão. A junta provisória entregou-lhe a praça
e em seguida aderiu à causa da Independência. No Maranhão apoderou-se Cochrane do brigue de guerra português D. Miguel e fez seguir nele para
o Pará o capitão John Pascoe Grenfell, que apreendeu a guarnição de Belém, hasteando a bandeira auriverde e mandando presos para Portugal os
generais, oficiais e soldados da guarnição lusitana.
D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo capitulava em Montevidéu em 18 de novembro de 1823,
embarcando para Lisboa com a divisão sob seu comando.
A 12 de outubro de 1823 a Assembléia Constituinte votava uma demonstração de reconhecimento
nacional ao almirante contratado. Regressava Cochrane triunfante a 9 de novembro do mesmo ano, sendo-lhe conferido o título de marquês do Maranhão.
Com a retirada das últimas tropas lusitanas, ficou restabelecida a calma e consolidada no Brasil inteiro a Independência.
A nossa Independência ficou devendo à Marinha de Guerra brasileira todas essas vitórias. Daí
as homenagens prestadas à memória do Patriarca em 1963, por ocasião do bicentenário do seu nascimento. Assim, às 11 horas do dia 13 de junho de
1963, o almirante-de-esquadra Pedro Paulo de Araújo Suzano, então ministro da Marinha, inaugurava no Panteão dos Andradas, nesta cidade, uma placa
de bronze com os seguintes dizeres:
"Ao seu fundador José Bonifácio de Andrada e Silva, em cuja excelsitude se congregaram todas
as grandezas para agigantar a Pátria - Homenagens da Marinha de Guerra Brasileira no bicentenário de seu nascimento - 13/06/1963".
Fez-se ouvir na ocasião, em nome da Marinha, o contra-almirante Norton Demaria Boiteux.
Vemos, ali, ainda hoje, num quadro de oitenta centímetros de altura por sessenta e cinco de largura, vários trechos da sua aplaudida oração.
A Marinha mandou fazer, na mesma data, trezentas plaquetas de bronze com estes dizeres:
"Ao seu fundador José Bonifácio de Andrada e Silva, no bicentenário do seu nascimento, a
Marinha agradecida, 13/6/1763 - 13/6/1963".
Foram as plaquetas distribuídas a altas autoridades e a diversas outras pessoas que
contribuíram para abrilhantar a efeméride andradina. Uma delas e algumas medalhas foram doadas ao Panteão dos Andradas. Revestiu-se, dessa maneira,
do maior esplendor a participação da Marinha Brasileira nos festejos comemorativos do bicentenário do nascimento de José Bonifácio. Desse
acontecimento conserva Santos uma grata e imorredoura recordação.
Nas solenidades realizadas na Praça da Independência, a 7 de setembro de 1923, os oficiais e
marinheiros, que então representavam a Marinha Brasileira, depositaram no monumento uma coroa de flores em cujas fitas se liam estas palavras: "Aos
irmãos Andradas, homenagem da guarnição do couraçado Minas Gerais".
Enfim, a Marinha também esteve presente na inauguração do Panteão dos Andradas.
Todas essas demonstrações de gratidão e entusiasmo constituem, sem dúvida, o mais justo
preito a José Bonifácio - o fundador da Marinha de Guerra do Brasil. |